Psicodélico: Cogumelos alucinógenos no México: uma visão geral

sexta-feira, 4 de março de 2011

Cogumelos alucinógenos no México: uma visão geral




Gáston Guzmán


Introdução:

Cogumelos alucinógenos, conhecidos também como enteogênicos, mágicos, medicinais, neutrópicos, psicodélicos, psicoativos, sagrados, santos ou visionários foram usados por diferentes grupos indígenas no México antes da conquista espanhola (fig. 1 - no final), mas eram desconhecidos da ciência até o século 20. Desde a década de 1950, quando seu uso cerimonial por povos indígenas foi redescoberto (Wasson 1957; Heim and Wasson 1958) , os cogumelos alucinógenos têm recebido grande atenção científica, médica e também popular. A explosão do uso recreativo desses cogumelos durante a década de 1960, e a consequente aplicação de medidas duras pelas agências legais de repressão, produziu consequências negativas e dificuldades legais tanto para os pesquisadores como para os os seguidores do uso tradicional de cogumelos (Guzmán 2003), contudo o uso cerimonial persiste entre certos povos do México. O presente artigo traça algumas das confusões históricas que circundam a identidade desses cogumelos e os comentários sobre a sua taxonomia, distribuição e uso tradicional no México.


A redescoberta dos cogumelos alucinógenos no México

As referências ao uso de cogumelos sagrados no México são encontradas nos mais antigos documentos ou códices produzidos no novo mundo espanhol. O frade franciscano Bernardino de Sahagún (1569–1582) menciona os cogumelos usados em cerimônias especiais pelos índios Nahuatl; ele chamou tais cogumelos de teonanácatl, o que significa “carne dos deuses”. No códice Magliabechiano Sahagún apresenta uma ilustração colorida de um índio comendo um cogumelo de coloração azul, provavelmente Psilocybe caerulescens (será discutido posteriormente). Os espanhóis, contudo, suprimiram o uso cerimonial de cogumelos, e toda menção dos cogumelos sagrados desapareceu da literatura, levando um botânico americano (Saffor 1915) a colocar que teonanácatl não era um cogumelo mas sim Lophophora williamsii (Lemaire) Coulter, o cacto aluginógeno peyote do México e sudoeste dos Estados Unidos.

A identidade de teonanácatl como um cogumelo foi afinal confirmada pelo renomado etnobotânico Richard Schultes (1939). Schultes se baseou em informações fornecidas a ele pelo médico austríaco Blas Pablo Reko, que realtou que os índios mazatecas na cidade montanhosa de Huautla de Jiménez, no norte de Oaxaca, usavam cogumelos em rituais religiosos. Reko recolheu espécimens dos cogumelos, os quais ele enviou para o antropólogo Roberto Weitlaner. O antropólogo norte-americano Jean Bassett Johnson, seguindo a orientação de Weitlaner, foi a Huautla de Jiménez em 1939 e foi, até onde sabemos, o primeiro cientista ocidental a observar uma cerimônia noturna de cogumelos sagrados, apesar de não ter ele próprio ingerido os cogumelos (Schultes 1940; Reko 1945; Wasson and Wasson 1957; Heim and Wasson 1958; Singer 1958).

Ambos, Schultes e Reko, retornaram a Huautla em 1938 e trouxeram duas espécies de “cogumelos sagrados”, porém Schultes recolheu no campo uma terceira amostra de cogumelos, e todas as três foram depositados no herbário Farlow na Universidade de Harvard. Somente uma das três amostras foi identificada naquela ocasião, como Panaeolus campanulatus var. sphinctrinus (Fr.) Bres., melhor conhecida como P. sphinctrinus (Fr.) Quél. Aparentemente subestimando a complexidade e diversidade do uso de cogumelos sagrados no México, Schultes (1939) assumiu que os P. Sphinctrinus coletados na área de Oaxaca era o teonanácatl dos Nahuatls (Davis 1996; Guzmán 1959).

Na década de 1940 o micólogo Rolf Singer estudou a coleção de Scultes na Universidade de Harvard. Ele confirmou a identificação da amostra de Panaeolus sphinctrinus, e identificou as outras duas amostras como Psylocibe cubensis e Deconica sp. Singer (1949) publicou duas pequenas notas, uma sobre Panaeolus e outra sobre Psylocibe, nas quais ele se referia a eles como os cogumelos narcóticos usados pelos índios mexicanos. Apesar de Singer (1975) posteriormente retirar Panaeolus da lista de cogumelos usados no México baseado em informação fornecida por Guzmán (1959), a citação continuada da nota de Singer (1949) levou a uma persistente concepção errônea que espécies de Panaeolus estão entre os cogumelos sagrados do México.

Apesar de espécies alucinógenas de Panaeolus ocorrerem no México, por exemplo P. subbalteatus Berk. and Broome e P. cyanescens Berk. and Broome (=Copelandia cyanescens [Berk. and Bromme] Sacc.), nenhuma espécie de Panaeolus parece ter sido usada de alguma maneira pelos povos indígenas no México; de fato eles são comumente considerados venenosos (Guzmán 1959). Como foi então a amostra de Panaeolus de Schultes e Reko tomada de forma errada como um dos cogumelos sagrados mazatecas? Aparentemente uma amostra – a que foi identificada como Panaeolus – foi coletada pessoalmente por Schultes, enquanto as duas outras foram vendidas a Schultes por um índio mazateca (Davis 1996). É possível então que Schultes tenha confundido o cogumelo de esterco Panaeolus sphinctrinus com um dos cogumelos sagrados, por exemplo Psylocibe mexicana, que tem aparência muito parecida.

A verdadeira identidade dos cogumelos sagrados mazatecas e a natureza do seu uso foi finalmente reveladas por R. Gordon Wasson e sua esposa, Valentina Pavlovna. Eles vieram primeiro ao México em 1952, procurando pistas para entender os cogumelos esculpidos em pedra dos antigos Maias. Seguindo os passos de Schultes, eles chegaram a Huautla de Jiménez em 1953, acompanhados por Weitlaner, e então eles encontraram a xamã mazateca Maria Sabina. Dois anos depois Wasson retornou, acompanhado pelo fotógrafo Allan Richardson. Desta vez ele participou do ritual de cogumelos sagrados, com a direção de Maria Sabina, sendo o primeiro cientista a ingerir cogumelos sagrados em um contexto ritual (Wasson 1957; Wasson et al. 1974).

Wasson subsequentemente persuadiu o micólogo francês Roger Heim a acompanhá-lo a Huautla de Jiménez em 1956, quando eles ingeriram cogumelos sagrados com Maria Sabina (Heim and Wasson 1958). Heim (1956) foi o primeiro a identificar várias espécies de Psylocibe como os principais cogumelos sagrados do México. Heim forneceu ao químico suíço Albert Hofmann espécimens cultivados de Psylocibe mexicana coletados em Huautla de Jiménez, e a equipe de Hofmann (que isolou o alcalóide indol semelhante ao LSD) subsequentemente isolou o indol que eles chamaram de psilocibina.

Após trabalhar com as coleções iniciais de herbário de Schultes uma década antes (Singer 1949), Singer chegou ao México em 1957 para estudar os cogumelos alucinógenos, com Gáston Guzmán como seu assistente (Singer 1958). Singer também colaborou com o micólogo Alexander Smith para produzir a primeira monografia sobre as espécies aluginógenas de Psylocibe (Singer and Smith 1958). Guzmán, que também colaborou com Schultes, Wasson e Heim começou a trabalhar com Psylocibe nesta época (veja Guzmán 1959, 1960). Durante seus estudos no herbário Farlow na Universidade de Harvard Guzmán descobriu que o segundo pacote de cogumelos comprado por Schultes e identificado por Singer como Deconica sp. era na verdade Psilocybe caerulescens, um importante cogumelo sagrado entre os mazatecas (ver tabela 1 no final).

Heim e Wasson (1958) também relataram o uso cerimonial de Cordyceps capitata (Holms.:Fr.) Link e C. ophioglossoides (Fr.) Link assim como de Elaphomyces spp. pelos Nahuatls. Estes relatos foram confirmados, como descrito abaixo. Hofmann foi incapaz de detectar qualquer composto alucinógeno em C. Capitata, mas uma vez que os especimens que ele analisou estavam secos e envelhecidos investigações posteriores são necessárias.

Fora Cordyceps e Elaphomyces, e o hipotético uso ancestral de Amanita muscaria (L.:Fr.) Pers. ex Hook. (veja Lowy 1974; Schultes and Hofmann 1979; Mapes et al 1981), definitivamente Psilocybe é o único gênero de cogumelos sagrados usado no México. Todavia, vários outros cogumelos “narcóticos” tem sido dubiamente ou erroneamente relatados no México (Schultes 1939, 1940, 1976; Reko 1945; Heim and Wasson 1958; Schultes and Hofmann 1979). Estes incluem espécies de Conocybe, Clavariadelphus (como Clavaria), Dictyophora, Gomphus (como Nevrophyllum), Lycoperdon, Panaeolus (como descrito anteriormente), e Psathyrella. O motivo da confusão difere em cada caso. Com Lycoperdon, por exemplo, o erro pode ser traçado a um único informante ébrio (Ott et al. 1975), enquanto Clavariadelphus e Gomphus foram falsamente implicados porquê compartilham com Cordyceps o nome popular de hongo amarillo (cogumelo amarelo).


Os Psylocibes alucinógenos do México

Guzmán (1983) demonstrou que espécies alucinógenas de Psylocibe ocorrem em todos os continentes. Todavia, somente no México e talvez na Nova Guiné (ver Heim et al. 1967) eles foram confirmados serem tradicionalmente usados como cogumelos visonários ou “sagrados”. Há também algumas evidências que sugerem uso cerimonial de Psylocibe na Colômbia e na África (Samorini 2001; Guzmán et al. 2004). Uma revisão recente de todos os taxa conhecidos de Psylocibe (Guzmán 2005) levantou cerca de 250 espécies, das quais 150 são alucinógenas. Destas, 53 espécies alucinógenas foram identificadas no México (Guzmán 2005), apesar de que pelo que se conhece menos de um terço delas são utilizadas cerimonialmente (ver tabela 1).

Via de regra, as espécies alucinógenas de Psylocibe podem ser distinguidas das não alucinógenas pela sua tendência (em quase todos os casos) a oxidarem assumindo uma cor azulada, e pelo seu odor e sabor farináceos. As espécies alucinógenas do México podem ser divididas em três amplos grupos correspondendo a diferentes áreas ecológicas-geográficas (fig. 1 no final). O primeiro grupo é encontrado em áreas montanhosas com clima temperado, tipicamente em prados ou áreas abertas de florestas de coníferas com cobertura de capim. Psilocybe aztecorum, P. muliercula, e P. sanctorum são membros proeminentes deste grupo. O segundo grupo é encontrado emtípicas terras baixas, e inclui espécies pouco conhecidas como P. uxpanapensis Guzmán, P. weldenii Guzmán, P. singeri Guzmán, e P. veraecrucis Guzmán e Pérez-Ortiz, assim como as espécies cosmopolitas que ocorrem em esterco P. cubensis e P. subcubensis. O terceiro grupo, compreendendo a vasta maioria das espécies alucinógenas do México, é encontrada em áreas intermediárias onde um clima chuvoso e subtropical e terreno montanhoso promove a formação de florestas mesofíticas úmidas em elevações de de 1.000 a 1.600 metros. Psilocybe yungensis, o grupo de P. fagicola e P. candidipes são espécies comuns nesta área, enquanto P. mexicana e P. cubensis são encontrados nos prados, e P. zapotecorum, P. subzapotecorum Guzmán, P. caerulescens, e P. hoogshagenii são encontrados em barrancos de solo erodido e lamacento, frequentemente sem vegetação (Guzmán 1978, 1983, 1990).


Uso de cogumelos sagrados no México Moderno

Vários grupos indígenas foram confirmados como praticantes de uso cerimonial de cogumelos sagrados no México: os Nahuatls nos estados do México, Morelos e Puebla; os Matlazincs no estado do México; os Totonacs no estado de Veracruz; e os Mazatecas. Mixes, Zapotecas e Chatins no estado de Oaxaca.

No oeste do vulcão Popocatépetl (estado do México) os Nahuatls consomem ritualmente Psilocybe aztecorum, que cresce nos prados montanhosos que se alternam com coníferas. O nome deles para eles, apipitzin (ou niño de las aguas em espanhol), significa criança das águas da chuva (Heim and Wasson 1958; Guzmán 1978). Na vertente sul do mesmo vulcão (mas no estados de Morelos), na floresta subtropical úmida que circunda Tetela del Volcán, os Nahuatls consideram Psilocybe muliercula, que eles chamam de siwatsitsintli ou mujercitas (pequenas mulheres), frequentemente aparecendo junto com Cordyceps capitata or C. ophioglossoides, conhecidos como hombrecitos (pequenos homens). Nas suas cerimônias com cogumelos sagrados algumas pessoas comem somente mujercitas e outras comem somente hombrecitos (aparentemente, ninguém come ambos, e o sexo do consumidor do cogumelo não determina o “sexo” dos cogumelos que ele come). Uma ou mais espécimens de Elaphomyces (o cogumelo hipógeo semelhante a trufa do qual Cordyceps cresce) tipicamente ocupa o centro do ambiente durante o ritual, normalmente no altar ou numa esteira no chão. No fim da cerimônia todo mundo reparte el gran mundo (“o grande mundo”), como Elaphomyces é chamado.

Também na região de Nevado de Toluca, mas a oeste dos Nahuatls, estão os Matlazincs. Seus cogumelos sagrados são Psilocybe muliercula e P. sanctorum (Guzmán and López-González 1970), que eles chamam santitos (“pequenos santos”).

Mais adiante para o leste, os Nahuatls de Necaxa usam Psilocybe caerulescens e P.mexicana como cogumelos sagrados (Guzmán, 1960). Eles chamam estes cogumelos de teotlaquilnanácatl, o que significa “sagrados cogumelos que desenham ou contam”. Como o cogumelo de coloração azul apresentado no códice Magliabechiano de Sahagún tem uma forte semelhança com P. caerulescens, e a palavra Nahuatl contemporânea tem uma evidente semelhança com o enigmático nome teonanácatl relatado originalmente por Sahágun no século 16, este autor hipotetiza que eles são um só e o mesmo.

Mais adiante para o leste os Totonacs (estado de Veracruz) usavam P. caerulescens assim como P. cordispora intensivamente no passado, apesar de que a tradição agora está quase extinta (Stresser-Péan and Heim 1960). Guzmán et al. (2005) também encontraram cogumelos alucinógenos do grupo de P. fagicola crescendo frequentemente na região dos Totonacs.

Finalmente, no estado de Oaxaca, o uso de cogumelos sagrados é bem documentado pelos Mazatecas de Huautla de Jimenez, pelos Mixes de Mazatlan, pelos Zapotecs de San Agustin Loxicha, e pelos Chatins de Yaitepec. As bem conhecidas espécies P. caerulescens, P. mexicana, P. cubensis e P. zapotecorum, assim como várias outras (ver tabela 1) são usadas nesta região.

Somando-se ao relatos confirmados listados acima, há evidência vestigial de uso de cogumelos em outro lugares do México. Pedaços de cerâmica encontrados em sopés montanhosos no leste de Nevado de Colima (estado de Colima) sugerem que os Capacha e talvez os Nahuatls usavam cogumelos sagrados. Uma peça (veja Schultes and Hofmann 1979) mostra quatro índios com olhos de espanto em torno de um cogumelo muito alto que é muito parecido com P. zapoteco. Outra peça (Doniz et al. 2001) mostra uma mulher com grandes olhos segurando um cogumelo alto na sua mão direita. Em ambos os casos os grandes olhos podem indicar pupilas dilatadas, enaqunto os cogumelos altos podem ilustrar a alteração de percepção conhecida como gigantismo; ambos são efeitos alucinógenos comumente notados no consumo de Psilocybe (e.g., Guzmán 1990). Ainda outros grupos indígenas podem ter usado cogumelos alucinógenos, como os Purepechas do estado de Michoacan, onde Guzmán (1983) encontrou Psilocybe caerulescens. Os Tzotil Mayas de Chiapas podem também ter sido usuários no passado distante, mas não há indícios de uso nos dias de hoje ou em tempos recentes (Laughlin 1975).


A cerimônia do Cogumelo Sagrado

Quando Reko (1945), Schultes (1939, 1940), Wasson e Wasson (1957), e Guzmán (1959, 1960) conduziram suas pesquisas eles notaram como as cerimônias com cogumelos sagrados foram influenciadas por cinco séculos de contato com o catolicismo. Agora, após cinco décadas de contato com usuários de drogas recreativas e turistas, as cerimônias de cogumelos mais uma vez mudaram. Cogumelos sagrados são comumente comercializados, e até as próprias cerimônias viraram um tipo de atração turística. A despeito das diferenças regionais e de linguagem, além das diferentes espécies de cogumelos usadas, as cerimônias de cogumelos sagrados mostram alguns elementos comuns por todo o México.

A cerimônia é sempre realizada à noite, aparentemente para reduzir distrações e intensificar a concentração mental dos usuários dos cogumelos. A cerimônia é sempre realizada sobre a direção de um xamã ou de uma pessoa mais velha e experimentada, mulher ou homem, e é geralmente realizada no lar do guia em frente a um altar católico.

Tipicamente os cogumelos são colocados em uma cabaça de abóbora, ou jicara (Crescentia cujete L.), e perfurmados com resina de copal (na maioria das vezes de Protium spp.). As cerimônias mostram uma mistura de elementos nativos e católicos; as preces podem ser em espanhol e/ou em línguas indígenas. Os cogumelos são normalmente contados em pares de “macho-fêmea”, apesar de que somente uma espécie de cogumelo é usada para uma dad cerimônia (exceto na região de Nevado de Toluca, onde, como relatado acima, Cordyceps e Elaphomyces são usados juntos com Psilocybe. Aos participantes são normalmente oferecidos seis pares de cogumelos, apesar de que com o advento do turismo psicodélico podem ser oferecidos aos forasteiros somente um ou dois pares, e solicitado pagamento extra se eles quiserem um dose maior. Se acredita normalmente que doses excessivas (mais que doze cogumelos) podem produzir desordens mentais, e que diferentes espécies de Psilocybe não devem ser misturadas. Os cogumelos são ingeridos com o estômago vazio, e álcool e remédios são evitados antes e durante a cerimônia, e outras restrições (por exemplo, evitar viajar nos dias seguintes à cerimônia) podem ser colocadas (Guzmán 2003).


Conclusões

Apesar de uma grande confusão na literatura, é claro agora que os cogumelos alucinógenos do México são quase exclusivamente do gênero Psilocybe. Apesar de várias espécies de Psilocybe alucinógenos ocorrerem em baixas altitudes no México, o uso cerimonial tradicional sobrevive hoje somente em regiões de maior altitude (1.500 m e acima, ver figura 1). Isto provavlemente se deve à perseguição da adoração dos cogumelos pela Igreja Católica durante o período colonial espanhol, de modo que a cerimônia persistiu somente em ou restrita a áreas montanhosas remotas.

Um relato moderno sobre a “Igreja do Cogumelo” dos Nahuatls perto de Chignahuapan no estado de Puebla (Guzmán et al. 1975) é somente tangencialmente relacionada ao uso de cogumelos sagrados, contudo ilustra a tenacidade da adoração indígena dos cogumelos e os contínuos esforços da igreja para suprimi-lá.

A “Igreja do Cogumelo” foi construída em honra a um espécime do cogumelo de madeira Ganoderma lobatum (Schwein.) G.F. Atk. Que mostra uma imagem de Cristo desenhada em sua superfície inferior porosa e pálida. O cogumelo foi encontrado na floresta há mais de 200 anos por um nativo Nahuatl, um evento considerado como um milagre pela população local. Guzmán et al. (1975) sugerem que este “milagre” pode ter sido fabricado por algum padre criativo do século dezoito, como meio de atrair os Nahuatls para fora da sua oculta adoração e consumo de cogumelos alucinógenos, e redirecionar esta reverência ao cogumelo em direção a Cristo. Por dois séculos o cogumelo sagrado foi guardado e venerado em particular pelas famílias locais. Finalmente, na década de 1950 foi construída uma igreja em honra ao cogumelo milagroso. O cogumelo era exposto em uma caixa de cristal e a igreja era chamada de Nuestro Señor del Honguito ("Nosso Senhor do Pequeno Cogumelo"). Recentemente, todavia, as autoridades católicas, sempre vigilantes quanto a renascimentos pagãos, mudou o nome da igreja para Nuestra Señora del Sagrado Corazon de Jesús ("Nossa Senhora do Sagrado Coração de Jesus"), e mudou o cogumelo do cento de adoração para uma alcova de canto, onde eles o colocaram em uma caixa de metal com uma cruz. Contudo os Nahuatls continuam a adorar o cogumelo, orando em frente à caixa de metal antes de irem para o altar principal.


Figura nº 1

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Fig. 1 Distribution of sacred species of Psilocybe in Mexico and the indigenous peoples who use them. Each dot represents one locality, or several adjacent localities. The thick solid line delineates mountainous areas with a temperate climate (1,500 m altitude or higher). Dotted lines indicate state borders within Mexico. Thin solid lines encircle current territories of mushroom-using indigenous groups: I: Matlazincs; II: Nahuatls (a: Nevado de Toluca; b: Popocatépetl volcano; c: Necaxa); III: Mazatecs; IV: Mixes; V: Zapotecs; VI: Chatins; VII: Purepechas (Michoacan); VIII: Nahuatls (Colima); IX: Totonacs (Veracruz). All groups indicated have been confirmed to use ceremonial mushrooms through the present except for the Colima Nahuatls (VIII)

Tabela nº 01

The principal hallucinogenic species of psilocybe in mexico and the indigenous groups that use them

Species

Indigenous Group

Chatins

Matlazincs

Mazatecs

Mixes

Nahuatls

Purepechs

Totonacs

Zapotecs

P. aztecorum R. Heim emend. Guzmán

X

P. barrerae Cifuentes and Guzmán emend. Guzmán

X

P. caerulescens Murrill var. caerulescens P. caerulescens var. mazatecorum R. Heim = P. caerulescens var. nigripes R. Heim = P. caerulescens var. albida R. Heim

X

X

X

?

X

X

P. caerulescens var. ombrophila (R. Heim) Guzmán P. caerulescens var. mazatecorum f. ombrophila R. Heim = P. mixaeensis R. Heim

X

X

P. candidipes Singer and A.H. Smith

X

P. cordispora R. Heim

X

X

X

P. cubensis (Earle) Singer = Stropharia cubensis Earle

X

X

X

X

X

P. fagicola R. Heim emend. Guzmán = P. wassoniorum Guzmán and Pollock

?

?

P. hoogshagenii R. Heim var. hoogshagenii

X

X

P. mexicana R. Heim

X

X

X

X

X

P. muliercula Singer and A.H. Smith = P. wassonii R. Heim

X

X

P. sanctorum Guzmán

X

P. subcubensis Guzmán

X

X

X

X

X

P. yungensis Singer and A.H. Smith = P. acutissima R. Heim

X

P. zapotecorum R. Heim emend. Guzmán = P. zapotecorum f. elongata R. Heim

X

X

X

X

Heim and Wasson (1958) also reported the ceremonial usage of Cordyceps capitata (Holms.:Fr.) Link and C. ophioglossoides (Fr.) Link as well as Elaphomyces spp. by the Nahuatl. These reports have been confirmed, as described below. Hofmann was unable to detect any hallucinogenic compounds in C. capitata (see Heim and Wasson 1958), but since the specimens he assayed were dry and stale, further investigation is warranted.

Aside from Cordyceps and Elaphomyces, and the hypothesized ancient usage of Amanita muscaria (L.:Fr.) Pers. ex Hook. (see Lowy 1974; Schultes and Hofmann 1979; Mapes et al 1981), Psilocybe is the only genus of sacred mushroom definitely used in Mexico. However, a number of other “narcotic” mushrooms have been dubiously or erroneously reported from Mexico (Schultes 1939, 1940, 1976; Reko 1945; Heim and Wasson 1958; Schultes and Hofmann 1979). These include species of Conocybe, Clavariadelphus (as Clavaria), Dictyophora, Gomphus (as Nevrophyllum), Lycoperdon, Panaeolus (as already described), and Psathyrella. The causes of confusion differ in each case. With Lycoperdon, for instance, the error can be traced to a single inebriated informant (Ott et al. 1975), while Clavariadelphus and Gomphus were falsely implicated because they shared with Cordyceps the vernacular name hongo amarillo (“yellow mushroom”).


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