Psicodélico: novembro 2007

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Peyote



O peyote é uma planta nativa da América Central, cientificamente chamado de Lopophora Williansi. É um cacto, que era utilizado pelos índios do México em rituais religiosos e por eles chamado de Hikuri. O caroço da planta é chamado de botão.

Supõe-se que o peyote já era conhecido e utilizado pelos índios da América Central há pelo menos 2000 anos. Acredita-se que o uso do peyote iniciou- se na tribo Tarahumara, que vivia aonde havia o peyote. Daí o uso do peyote se espalhou, sendo usado nas tribos Cora e Huichol.
Quando os colonizadores espanhóis chegaram na América Central, o hábito de usar o peyote nos rituais religiosos já era muito comum e foi por eles denominado “artifício satânico”, já que acreditavam que evocava espíritos malignos. Além de provocar grande controvérsia, o hábito foi fortemente condenado pelo governo local e por diversos grupos religiosos.

Os primeiros registros europeus sobre o peyote foram de Frei Bernardino Sahagún, que era crônico. Esses registros foram publicados somente no século XIX e neles Frei Bernardino descrevia o uso do peyote por uma tribo chamada Chichimeca.
Os índios sofreram repressões e perseguições, já que a Igreja Católica se opunha ao uso religioso do peyote e por isso algumas tribos foram para as montanhas se esconder dos espanhóis, onde o uso do cacto se difundiu ainda mais.

No final do século XIX, devido à tentativa européia de deter o uso do peyote, muitos dos povos que cultivavam esse hábito começaram a desfigurar-se, desintegrar-se. Tendo isso em vista, um grupo de líderes de vários povos indígenas se reuniram e começaram a difundir novamente o peiotismo, que agora se adaptava às novas necessidades dos índios. Esse novo peiotismo se difundiu principalmente entre as tribos Kiowa e Comanche.

O novo peiotismo, que havia voltado com mais força do que nunca, sofreu mais uma vez repressão do governo, que se opôs sem apresentar argumentos científicos e tampouco lógicos para defender sua posição. Para não perderem totalmente sua herança cultural, os índios viram-se obrigados a organizar o peiotismo dentro de uma religião reconhecida legalmente e formaram, em 1885, a Igreja Aborígine Americana.

Utilizado em rituais, o botão era mascado ou misturado com bebidas e seus efeitos duravam de dois a três dias. Os rituais, mesmo que diferissem entre as tribos, de uma maneira geral consistiam primeiro na colheita do peyote e depois na cerimônia.


A colheita do peyote envolvia toda uma preparação e podia ser considerada a primeira parte do ritual: os índios que iam em busca do cacto deveriam participar de uma reunião na qual havia a purificação e a confissão, onde eles relatavam seus encontros sexuais e nesse momento, nenhuma demonstração de ciúmes, vergonha ou até mesmo ressentimentos deveria ser feita. Os índios viajavam grandes distâncias a pé e durante o percurso o ritual continuava, com as histórias dos ancestrais contadas pelo xamã e com o pedido de proteção para o resto da jornada.
Quando o peyote era encontrado, era então colhido e levado para a tribo, que realizava a segunda parte do ritual, a cerimônia em si, que durava a noite inteira, envolvia a ingestão em grupo do peyote, músicas, cantigas e dança. As cantigas eram preces, que pediam proteção, poder e compreensão aos deuses. A participação das mulheres nas cerimônias é permitida, porém, elas normalmente não participam nas cantigas. As crianças acima de dez anos também podem assistir ao ritual, mas não podem participar ativamente até que se tornem adultos.
O peyote era considerado um protetor espiritual, pois fazia com que os índios não sentissem medo, fome ou sede. Era utilizado como amuleto sagrado, panacéia (remédio para todos os males) e para provocar visões, que permitiam fazer profecias. Também era utilizado pelos índios para a comunicação com Deus: eles acreditavam que o peyote era um intermediário que fazia o papel de um padre, que por isso não era necessário.Para os índios, o ritual era feito por diversos motivos: para trazer prosperidade e saúde para a tribo, para pedir uma boa colheita, para festejar nascimentos ou aniversários. Também eram feitas cerimônias funerais, como na tribo Kickapoo.

O peyote também era usado pelos índios na medicina, como registrou o Dr. Francisco Hernández, que foi mandado para América Central a serviço do rei Felipe II da Espanha: “É aplicado nas juntas, e é dito que alivia as dores.” Mas, mesmo na medicina, o peyote tinha certo misticismo: acreditava-se que ele colocava o médico em contato com os maus espíritos que provocavam as doenças e assim aconteciam as curas.

Atualmente, os rituais em que o peyote é utilizado ainda são bem semelhantes aos descritos no século XVII e embora tenham características do cristianismo, conservam seus propósitos e crenças.

Hoje em dia, algumas tribos percorrem parte do caminho para a colheita do peyote de carro e outras, como a tribo Tarahumara, por exemplo, compram o peyote de povos que conservam o ritual de colheita ou simplesmente o encomendam pelo correio. Porém, ainda existem alguns povos que conservam todo o ritual da colheita do cacto.

A importância do peiotismo é tal que os índios que não participam das cerimônias religiosas são considerados excluídos da sociedade.

Formas de consumo do peyote


A parte utilizada do peyote é o caroço, mais conhecido como botão, que contém a substância ativa do peyote, a mescalina. O botão é mascado nas cerimônias ou então é misturado com bebidas e então consumido.

Efeitos fisiológicos associados ao peyote

O peyote estimula o cérebro e por isso provoca alterações de consciência que causam visões. Dilata as pupilas, provoca suor excessivo e taquicardia. Sua ingestão pode causar tanto a sensação de bem-estar, como a sensação de mal-estar, que inclui náuseas e vômitos. Não induz à dependência e não há a síndrome de abstinência.