Psicodélico: janeiro 2008

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Entrevista com Marc Amiel - Sálvia Divinórum

Léo : Amiel, você é a pessoa que está pesquisando há mais tempo a Salvia Divinorum no Brasil, e quero parabenizar-lhe pelo site : http://plantadivina.vila.bol.com.br/ Fale um pouco sobre o Amiel e como tudo começou ?

Amiel: Amiel é um nome transpessoal, que indica alguém livre, alguém que quer a verdade sobre seu ser e sobre o universo. Ele não é necessariamente outra personalidade. Ao contrário, é uma atitude de rebelião contra falsas personalidades. Pertence a alguém que renasceu e que, portanto, poderia ter um outro nome. É também alguém que provoca e desafia um sistema dominante no planeta terra, que questiona as verdades impostas, e que não se contenta com a ignorância e falta de percepção do "ao redor". Desde muito jovem, sempre dei ênfase à busca de ferramentas para ampliar a percepção e para aprofundar
técnicas de meditação. As plantas medicinais foram criadas a partir da
inteligência da natureza e podem ser utilizadas em nosso benefício.
Meu primeiro contato com a Salvia Divinorum ocorreu somente em 2000.
Foi quando percebi que havia algo de valor ali.


Léo : O que você acha importante o leitor saber sobre a Sálvia Divinórum ? ( um breve histórico, fitoquímica, efeitos, legislação atual)

Amiel :O principal a ser dito é que as pessoas deveriam se aproximar de plantas de poder com cautela e respeito. Salvia Divinorum é uma cultura antiga de xamãs, que remonta à época de povos aztecas. Seu uso tem finalidade curativa e religiosa. Assim, não é algo recreativo. Se alguém quer fugir da realidade ou sentir um "barato", ela deveria assistir televisão ou beber cerveja. A Salvia Divinorum vai confundir essa pessoa; vai deixá-la sem chão pois haverá um encontro com o
desconhecido; haverá uma mudança drástica de referenciais então isso não vai ser divertido. E a pessoa vai fazer julgamentos precipitados, poderá dizer que é algo ruim, triste, satânico, que causa psicose, que causa isto ou aquilo, sem suspeitar que ela não está falando algo sobre a planta, mas comentando dela mesma... Portanto, Salvia Divinorum não é para todos. Pode ser um pensamento elitista, e é assim, pelo simples fato de que as pessoas são diferentes e têm objetivos diferentes. Outra questão é a responsabilidade. As pessoas deveriam se preocupar com seu direito de liberdade de uso da Salvia Divinorum, direito que está muito ameaçado. As autoridades civis estão monitorando situações inconvenientes. Mas se as pessoas utilizarem este medicamento espiritual com responsabilidade e a ciência comprovar os seus benefícios medicinais, não haverá razão legítima para se criminalizar seu uso.


Léo : Você já teve experiências com outras plantas de poder ? Como você compararia a Sálvia com as outras ?

Amiel : Há quem diga que a Salvia Divinorum teria semelhanças com o oliuliuqui, (sementes de ipomoeas) e com o DMT (hoasca, daime, vegetal). Já tive oportunidade de experimentar várias plantas de poder e sinto que os efeitos da Salvia não têm semelhança direta com nenhuma outra planta. É difícil antecipar o que se pode esperar de uma experiência com Salvia Divinorum, pois elas são tão distintas entre si que é difícil elaborar um padrão específico.

Léo : Como era, ou é o seu uso ritualístico ? Os mazatecas ainda a utilizam ? Ou ela foi resgatada pelo neo-xamanismo, pesquisadores de estados alterados de consciência, ou viajantes psicodélicos ?

Amiel : Sabe-se pouco a respeito do uso ritual da Salvia Divinorum. Toda literatura a respeito é muito recente, se comparada aos cogumelos e o ololiuqui, em que há registros de uso ritual pelo menos três séculos. Jean Johnson, um antropólogo americano, foi o primeiro a relatar o uso ritual da Salvia pelos povos mazatecas e cuicatecas e isso foi só em 1938. É tão limitado o que se sabe que, embora haja especialistas que afirmem o uso da Salvia remonta a povos de origem
milenar como os aztecas, nada foi absolutamente comprovado. Conforme se tem notícia, o uso tradicional mazateca ainda é realizado até hoje, por alguns poucos xamãs, chamados no México de curanderos. Geralmente, eles sobem a montanha acima, e depois de realizarem certas solenidades, que inclui rezas e posturas, fazem a colheita das folhas.
Após isso, se agrupam ao pôr-do-sol, em clareiras da floresta ou mesmo na residência do curandero, quando o paciente e o curandero ingerem uma poção feita com a planta. Então, o paciente entra em um estado alterado de consciência, ou transe, e conforme o que ele diz ou como se comporta, o curandero faz um diagnóstico do problema, terminando a sessão banhando o paciente com uma solução de Salvia preparada anteriormente. Há muitas formas de ritual, que geralmente incluem temas cristãos.


A utilização de salvia tem finalidadeterapêutica,sendo indicada no tratamento deanemias,diarréia,reumatismo, dor de cabeça, ansiedade e depressão, e como antibiótico para certas bactérias. Além disso, é utilizada por estes curanderos como ferramenta para adivinhação e revelação de realidades ocultas, cura de maldições, purificação do espírito, etc. Penso que estas cerimônias rituais têm validade pois criam um choque emocional e psicológico e correspondem às modernas catarses terapêuticas, como uma sessão de bioenergética, por exemplo.
Hoje em dia, os indígenas mazatecas se tornaram quase que totalmente urbanos, são gente muito simples, que não usa tecnologia, mas sua cultura de plantas de poder tornou-se mundialmente famosa. É inquestionável que os chamados neo-xamãs e pesquisadores ocidentais levaram a Salvia do México e a tornaram disponíveis em nível mundial. Ela já é conhecida e cultuada em quase todo o mundo.


Léo : Como obter a Sálvia e que conselho dá aos buscadores de primeira viagem ?

Amiel : Atualmente, a Salvia, assim como as inúmeras outras plantas de poder, é facilmente obtida pela internet, nos sites que vendem botânicos. Mas, no Brasil, há uma dificuldade crescente em encomendar estes produtos lá de fora, diante das inúmeras restrições legais na importação de produtos vegetais, e freqüentemente, há confisco pelos agentes da nossa alfândega. Como quase nada está sendo produzida aqui, atualmente está difícil obter Salvia Divinorum no Brasil. Por enquanto, é menos arriscado aguardar algum tempo até que haja oferta daqui, ao invés de importar de fora. Para quem deseja experimentar,
meu conselho é que reflita bem antes sobre o porquê de querer experimentar. Além disso, leia bastante sobre o assunto, e tome todas as precauções necessárias para sua segurança.


Léo : O seu uso, era inicialmente mascado ou na forma de chás. Como começou a ser fumada ? Porque é necessário um isqueiro maçarico ?

Amiel : Há registros de que, inicialmente, o consumo era feito na forma de chás ou poção feita através da moagem da folha dentro de um recipiente com água. Embora alguns especialistas afirmem que a mascagem é algo mais recente, aparentemente também é uma forma antiga de uso. Já fumar as folhas é algo definitivamente recente, é uma novidade surgida a menos de 15 anos atrás. A salvinorina existente na folha necessita um alto grau de temperatura para vaporizar. Então, para fumar esse elemento psicoativo, seria necessário manter uma chama direta e constante sobre as folhas moídas. Por este motivo que as
pessoas que fumam Salvia Divinorum não utilizam cigarros, mas sim, cachimbos com um isqueiro comum. Assim, não há porque dizer que o isqueiro maçarico seja absolutamente necessário, mas ele tornaria as coisas mais fáceis já que o calor é mais intenso e a vaporização ocorreria instantaneamente.


Léo : Qual é a diferença entre as folhas, o extrato e o óleo ?

Amiel : Fazer infusão ou mascar folhas é um método tradicional dos xamãs mexicanos. É o mais indicado e a forma mais segura de utilizar. Já os extratos são folhas comuns de Salvia Divinorum moídas e banhadas em solução de salvinorina, aumentando a quantidade deste elemento ativo muito mais do que uma folha normal. Tem extrato em que as folhas tem 25 vezes mais salvinorina que uma folha natural. Elas seriam para certas pessoas, denominadas "cabeças duras", que têm pouca sensibilidade à folha natural da Salvia. Mas é importante verificar a
sensibilidade de cada um, antes de utilizar isso, pois na maioria das vezes, não são necessárias. Quando as folhas são fumadas, os efeitos são quase que instantâneos e duram por cerca de vinte a trinta minutos, quando a pessoa estará se sentindo completamente normal. É desaconselhável fumar extratos, e é imprescindível que haja um assistente e estar em ambiente térreo com portas e janelas fechadas quando for usá-los, pois doses muito exageradas de salvinorina podem causar desmaios e sonambulismo, em que a pessoa sai andando
inconsciente pelo ambiente e isso realmente é muito perigoso. Ao fumar, as experiências tendem a ter duração bem curta, com cerca de 10 minutos mas, em geral, são muito intensas. Tinturas ou essências de Salvia Divinorum são um composto alcoólico com Salvinorina, ou uma espécie de essência floral administrada sublingualmente. Geralmente, dilui-se uma parte de essência em uma ou duas partes de água, para que a alta concentração de álcool não provoque muita ardência na boca. Os efeitos da essência sublingual e os provenientes da folha mascada são muito parecidos, tanto em duração de tempo, quanto em intensidade. Os efeitos demoram a chegar e podem durar cerca de 2 horas, quando então a pessoa sentirá que tudo voltou ao normal.


Léo : Você poderia narrar os detalhes da sua mais profunda viagem ?

Amiel : Nem todas as experiências podem ser narradas e o motivo disto é bem simples de ser explicado. Primeiro porque, assim como certas experiências místicas, elas são inexprimíveis, já que seus detalhes não são capturados pela memória como descrições e narrações cronológicas. Além disso, se eu uso palavras para transmitir idéias sobre o silêncio, as próprias palavras se tornam um problema. Segundo, porque há certas experiências que se fossem reveladas, criariam falsos
rumores e raciocínios equivocados sobre o experimentador, o que pode causar mal-entendidos e constrangimento. Às vezes, transmitir uma experiência é importante para a pessoa e ela deve fazer isso somente para alguém de sua absoluta confiança. A realidade é que vivemos em uma sociedade insana, em que quase todas as pessoas têm imensos problemas, são desinformadas sobre coisas essenciais e não têm consciência disso. Há muita contradição no que se considera um comportamento socialmente aceito. Veja, por exemplo, o quanto as pessoas classificam precipitadamente plantas e botânicos de "drogas", ou de "coisa perigosa" mas, ao mesmo tempo, se dopam com toda sorte de medicamentos farmacêuticos e consomem toda espécie de lixo, sem também saber a repercussão disso em seu corpo e em seu espírito. A maior experiência que alguém possa ter é perceber quem é si mesmo. Há várias realidades dentro de uma pessoa que ela mesma não conhece. De certa forma, não fomos apresentados a nós mesmos. E esse encontro entre a pessoa e a verdade sobre ela mesma é algo revolucionário. Isso é realmente relevante pois é algo que pertence ao processo evolutivo da
pessoa. A Salvia Divinorum cria condições, abre portas para essa possibilidade mas, por várias razões, não necessariamente proporcionará isso a todas as pessoas. Muitas vezes alguém experimenta Salvia e não sente nada, ou sente medo e não quer mais saber disso. Estou convicto de que o uso de plantas de poder não é imprescindível nessa busca por si mesmo, mas pode ajudar a pessoa a ter um vislumbre, ou um insight a respeito de si mesma e do quanto ainda existe para ser
conhecido sobre o ser humano, sobre sua consciência e sua realidade.

Em termos gerais, a salvia divinorum, tomada dentro de um contexto correto, deverá:

aguçar a percepção sobre determinados objetos do universo conhecido, ao mesmo tempo suprimindo ou amenizando a percepção de outros.

revelar e, ocasionalmente registrar na memória, um universo desconhecido.

cumprir uma "profecia".


A mente utilitária do homem sempre deseja encontrar utilidade ou vantagem para todas as coisas. Como, por exemplo, obtenção de cura para alguma enfermidade ou que traga prazer. Mas certas experiências como a vivência com salvia confundem esse tipo de mente pois o experimentador se depara com um "vazio" ou "absurdo" que ele interpreta como angustia ou ausência de sentido. A verdade é que a vida segue um caminho bem incompreensível para essa mente.
Mesmo assim, a salvia divinorum é muito indicada para céticos e materialistas. Minha experiência é que o encontro com o desconhecido faz uma pessoa materialista pôr em xeque seus próprios conceitos (em geral limitados), e passa a perceber que o universo é mais vasto do que ela imaginava.
Por isso considero que a salvia divinorum é uma iniciação espiritual ideal para mentes cartesianas, materialistas, ateus e analíticos. É um tapa colossal na cara de quem pensa que tem cara. Por isso a salvia divinorum, assim como outras plantas tende a ser mal compreendida. É inclusive equivocadamente taxada como despersonalizante ou causador de psicopatologias como a esquizofrenia. Mais uma vez é o ego utilitário esperneando e correndo atrás da cauda.
Também a salvia divinorum, em raras ocasiões especiais, realmente proporciona um vislumbre do estado de total integração, ou conhecimento da verdade sobre si e sobre o universo, denominado pelas tradições de samadhi ou iluminação. Já notei também que dependendo de quem vivencia, a iluminação pode ser encarada tanto como êxtase ou sofrimento. Mas gosto de enfatizar sempre que o estado de iluminação não é algo do qual você sente como "iluminação" ou que a pessoa diga:
"então é isto...". Imagine que não haverá mais aquela pessoa para dizer isso, pois na verdade, a pessoa não existe da forma que ela pensa que existe.


A portaria 344, da Anvisa, estabelece os conceitos de entorpecente, psicotrópico e arrola através do seu anexo I, as plantas e substancias controladas. Apenas o que está nesta lista será controlado pelas autoridades. Até a Resolução RDC 26-2005 (ultima atualização desta lista) não há inserção da planta Salvia ou a substancia Salvinorina. Portanto, até o momento, possuir uma Salvia Divinorum e seus
subprodutos é absolutamente legal e um direito legítimo.



Léo : Muito interessante a sua abordagem, me permita fazer alguns pitacos :

Em termos gerais, a salvia divinorum, tomada dentro de um contexto correto, deverá:

aguçar a percepção sobre determinados objetos do universo conhecido, ao mesmo tempo suprimindo ou amenizando a percepção de outros.
Gostaria que você explorasse mais essa acima .

revelar e, ocasionalmente registrar na memória, um universo desconhecido.

cumprir uma "profecia". Qual profecia ?

Amiel : A mente utilitária do homem sempre deseja encontrar utilidade ou vantagem para todas as coisas. Como, por exemplo, obtenção de cura para alguma enfermidade ou que traga prazer. Mas certas experiências como a vivência com salvia confundem esse tipo de mente pois o experimentador se depara com um "vazio" ou "absurdo" que ele interpreta como angustia ou ausência de sentido. A verdade é que a vida segue um caminho bem incompreensível para essa mente.
Mesmo assim, a salvia divinorum é muito indicada para céticos e materialistas. Minha experiência é que o encontro com o desconhecido faz uma pessoa materialista pôr em xeque seus próprios conceitos (em geral limitados), e passa a perceber que o universo é mais vasto do que elaimaginava.


Léo : Outra questão, esses céticos se conectaram com o Sagrado ? Ou que apenas ficaram fascinados pelo potencial da mente humana ? Tiveram uma experiência espiritual, psicodélica ou do tipo matrix ?

Amiel : Por isso considero que a salvia divinorum é uma iniciação espiritual ideal para mentes cartesianas, materialstas, ateus e analíticos. É um tapa colossal na cara de quem pensa que tem cara. Por isso a salvia divinorum, assim como outras plantas tende a ser mal compreendida. É inclusive equivocadamente taxada como
despersonalizante ou causador de psicopatologias como a esquizofrenia. Mais uma vez é o ego utilitário esperneando e correndo atrás da cauda.
Tratando da percepção, a Salvia altera a percepção de elementos do som e da luz como amplitude e volume. E creio firmemente que uma das causas dessa alteração é o distanciamento do corpo físico dos corpos sutis, provocado pela Salvia, quando estes migram para outros universos (interiores ou exteriores).
Certa vez, meu plano de observação foi ampliado para várias quadras de distância, embora o corpo físico estivesse localizado em uma sala, fenômeno comum com Ska Pastora. Então, um cinzeiro metálico caiu e seu barulho parecia poder ser ouvido até várias quadras de distância. Percebi que o cinzeiro pertencia às impressões do corpo físico, e as várias ruas da cidade pertenciam às impressões do corpo sutil. Há supressão da percepção quando, por exemplo, as paredes deixam de existir (outro tema comum com ska pastora). Ou quando o geral fica visível, então certos detalhes somem, como a parede, ou a casa, ou o
ponto de referência do corpo físico.
Também a falta de referenciais normais suprimem a percepção normal. Além disso, possuímos outras espécies de percepção, como olhos que percebem de outras maneiras. Por exemplo, se você está no espaço, longe da Terra, mesmo com olhos físicos não haverá embaixo e encima, atrás ou na frente mas ainda haverá tempo e coordenadas. Mas se o observador percebe eventos com olhos e ouvidos estranhos, num espaço desconhecido e na ausência de tempo, haverá confusão e supressão da percepção normal.


Pela razão de ocorrer uma momentânea dissociação entre corpos, creio ser importante não haver tumulto no lugar do corpo físico.

Sobre a questão da "profecia", gostaria de partir do pressuposto de que possam existir fatos e momentos da vida mais relevantes que outros. Aparentemente, o ritual com ska pastora tem inúmeras implicações, em vários níveis, sejam internos e externos. A ocorrência de uma percepção ampliada deste tipo certamente transforma o observador em uma espécie de vínculo ou "ponte" entre várias dimensões visíveis e invisíveis. Há ainda outros fatores de importância neste evento, como a possível ocorrência de fim do tempo e espaço (dissociação tempo-espacial), tomar conhecimento de informações inacessíveis (adivinhações), sintonia com outras consciências (telepatia), entre outras situações.
Assim, tenho suspeitas de que estes momentos cruciais, de uma forma misteriosa, estariam mais ou menos previstos. Sei que parece uma atitude determinista e radical mas esta é uma conclusão intuitiva, forçosa, que vai inclusive contra minha própria lógica intelectual. Tive este sentimento várias vezes naquele estado. Era como se aquilo estivesse destinado a acontecer ou como se aquilo tivesse sido previsto anteriormente.
"Profecia" refere-se a uma hipótese prevista antes de acontecer. Por isso usei este termo.


Léo :Outra coisa Amiel, você sabe sobre rituais ? A forma sacramental de uso ?

Amiel : Sobre o uso ritual tradicional, a primeira descrição do uso da planta em contexto ritual parece ser atribuído a Robert Weitlaner (Wasson 1962). Wasson mesmo afirmou que a planta era, para muitos shamans, um substituto para o cogumelo psilocibe (psilocybe spp) sendo que o ritual desse cogumelo parece ter sido, aos poucos, adaptado para a Salvia Divinorum.
Para certos líderes, a planta seria uma encarnação da virgem maria. Em geral, nomes e simbolismos são claramente influenciados pela iconografia católica. Contudo, há certas contradições como, por exemplo, a virgem Maria bíblica não era pastora nem nunca criou ovelhas. Então a questão lingüística é bastante enigmática (Epling-J.Tiva. 1962).
A Ska Pastora é historicamente usada pelos curandeiros para descobrir a causa de doenças dos pacientes, para adivinhar o futuro e responder a importantes questões. É usada também no tratamento de reumatismo, diarréia e dor de cabeça (Valdez 1983).
A dificuldade em fazer contatos e principalmente obter informações com curandeiros mazatecas, da região de Oaxaca, se deve ao fato deles serem muito arredios e temerem que "pessoas que perguntam muito" possam revelar certos segredos deles. Nota-se que o ritual ou cerimônia com ska pastora varia muito de
acordo com o xaman mazatlan ou mazateca. Há alguns que são dóceis e sorridentes, outros bastante selvagens, assim é variado seu modo de ação.
Também a motivação da pessoa que passa pelo ritual influencia o rito.
Por exemplo, se ela vai ser aprendiz de xamã ou se quer ser curada de uma doença. No caso de aprendiz, os mestres afirmam que a capacidade do xamã depende da sua vivência visionária e aumento de suas percepções. A Ska pastora seria a planta iniciatória, e o processo de aprendizado levaria entre 2 meses e 2 anos sempre sob os auspícios e a presença do mestre xamã. O aprendiz, entre outros desafios, inicialmente ingere quantidades cada vez maiores de Ska Pastora, para aprender o "Caminho para o céu" para então passar a receber doses
grandes de morning glory (Rivea Corymbosa L.) e então passar ao último estágio que é a ingestão dos cogumelos psilocybens. Estes três estágios ocorrem ao mesmo tempo que outras iniciações e desafios são apresentados ao aprendiz.
Apesar das variações, as preparações para a cerimônia são essencialmente as mesmas. A maioria dos xamãs tem aparato ritual como altares em lugares fechados, mas outros celebram a beira de montanhas ou lugares abertos.
Há uma dieta muitas vezes exigida, de 4 a 16 dias com apenas alimentos leves.
Apenas folhas frescas serviriam para adivinhação, para prever o futuro, encontrar as causas de doenças e encontrar respostas a perguntas sobre amigos, inimigos e parentes.
A cerimônia é sempre ao anoitecer, assim que o sol se põe (19:00h) e sempre é antecipada por conversas sobre o sentido da vida, o motivo pelo qual a pessoa está ali e sobre fundamentos religiosos que incluem santos e histórias, em geral, relativas ao cristianismo. É também nessa hora que o xamã faz a pergunta à pessoa se ela deseja realmente tomar a ska pastora e que esta é uma escolha pessoal. O xamã, então, começa a fazer infusão das folhas (método mais comum
entre eles), quebrando e esmagando folhas em pares dentro de um recipiente com pouca água, que vai se esverdeando a medida em que ele vai mergulhando as folhas. Já haverá também outros recipientes, já destinados a cada pessoa. A quantidade de poção e número de folhas para cada participante é decidido pelo mestre. O mestre coloca todo o conteúdo em uma jarra maior e enche com água.
Então pega a jarra no ar e inicia uma oração clamando a santíssima trindade, à virgem maria, à são pedro, e outros santos que cuide dos participantes e os ensine o caminho.


Uma oração, registrada a partir de uma cerimônia feita pelo Xamã Don alejandro:
"Em nome do Pai, do Filho e do Espírito santo,
Do sagrado senhor São Pedro,
Maria Pastora, mostre à (participante)
Que ele pode ver o que há no mundo
Por que ele deseja aprender sobre todas as espécies de plantas medicinais.
Senhor Jesus Cristo,
Possa ele (participante) aprender
Possa ele perceber todas as classes de plantas medicinais;
Altíssimo, Tu que tudo sabe, mostre a ele,
Permita mostrar a ele todas as classes de doenças e remédios que
existam no mundo;
Em pouco tempo ele aprenderá sobre sua própria história,
Em nome do espírito santo,
E do sagrado rosário,
Liberte-o, e que ele possa ver o que deve ser visto,
Mostre a ele como Tu mostraste a mim,
Possa ele reconhecer tudo o que é o universo e toda sua história,
Ele deseja aprender a partir do amor e da sinceridade;
Se há bem ou mal, salve-o, Ajude-o
Nesta data, neste exato momento,
Ele irá tomar isto (a infusão)
Em nome do espírito santo;
Eu (mestre) desejo mostrar a ele e peço seu favor,
A ti, à Maria, e à Jesus Cristo,
Amén".


O xamã insiste para que todas as visões sejam contadas e que ele está ali para ajudar. A fim de aprender ou compreender o que tudo isto significa, é necessário falar a respeito. A infusão é então tomada cerca de uma hora após a ordem do xamã para todos se silenciarem para uma introspecção individual.
Segundo o costume mazateca, pelo menos uma pessoa não deverá "partir" (tomar a infusão), para cuidar dos outros. O xamã em geral também não toma a infusão ou toma bem pouco. Como última proteção contra os "perigos da viagem", o xamã passa a queimar incenso, em geral o "copal" e faz um ritual de limpeza em volta dos participantes.


Então é tomada a infusão e apagam-se todas as lanternas e lampiões. O ritual não deve ser feito sob iluminação nem muito próximo ou em volta de fogueiras. Em todos os rituais que coordenei, procurei seguir ao máximo a cautela e solenidade dos mestres mexicanos, adaptando-os às circunstâncias de tempo e lugar. O mais importante é a segurança física dos participantes, manter o sossego do lugar e o relaxamento da mente. É importante fazer a experiência dentro de 4 paredes ou em lugares absolutamente seguros, sem barrancos, quedas e grades pontiagudas. Às vezes, certas pessoas se levantam, insistem querer se deslocar sob o efeito, mas estão inaptas para cuidarem de si. Este é o perigo.

Também antes deve-se responder todas as perguntas possíveis de serem respondidas e levantar mais perguntas. E sempre, mas sempre mesmo, fazer a pergunta final: "você realmente deseja experimentar?", ficando claro desde o início que tomar Salvia Divinorum será uma escolha unicamente pessoal, pela minha própria experiência de haver pessoas que se arrependem depois e que culpam aqueles que lhe proporcionam a chance.

Christian Scherf : Qual é o método que vc utiliza a Salvia: mascada - fumada?

Amiel : Ambos os métodos. Porém, para as pessoas que desejam experimentar, sempre aconselho apenas mascar as folhas simplesmente.

Christian : Gosta dos extratos ou acha eles muito agressivos (com respeito ao transe)

Amiel : Eles são agressivos principalmente os acima de 5X. A maioria das pessoas não precisam de tanto para uma experiência profunda. Para certas pessoas resistentes aos efeitos, um extrato 5X pode ser de auxílio mas, neste caso, sempre deve haver alguém supervisionando a experiência.

Christian : Já tentou fazer o Chá?

Amiel : Já tentei mas só funciona preparando-o com muitas folhas e o efeito é sentido de forma suave. O chá funciona sim e guardado na geladeira, de preferencia protegido da exposição à luz, pode ser estocado por um médio período de tempo.

Caio : Na sua iniciação com a Sálvia Divinorum você teve esta cumplicidade e confiança no grupo ou na pessoa que estava junto a você ?

Amiel : Ao menos naquela época, sim. Estes são sentimentos que você pode possuir por alguém, independentemente da verdadeira intenção da outra pessoa. É algo que parte do coração. Se depois você percebe que os propósitos dos outros eram diferentes, pelo menos você e o seu sentimento foram autênticos, foram puros. É isso é o que realmente conta no final.

Caio : Qual foi o impacto que a Sálvia causou na sua vida ?

Amiel : Há certas coisas que mudam instantaneamente através de uma experiência profunda com Salvia, mas, geralmente, essas mudanças se resumiriam a convicções intelectuais, ou crenças, etc. E isso ainda depende muito da situação. Mas na vida prática, creio que um grande impacto que a Salvia me causou foi descobrir que ela não era a solução de todos os problemas do mundo. Francamente, criar muita expectativa na Salvia é um erro e a decepção pode ser inevitável. A Salvia, olhada de forma realista, é só um primeiro passo para um vislumbre de espiritualidade, que pode permitir um momento de ampla percepção, ou iluminação, indicativos do que grandes homens como buda ou jesus podem sentir ou perceber sobre a vida. Se a Salvia faz parte de mim, ainda assim será uma ferramenta de trabalho. Minha experiência é que Eu Sou o grande impacto em minha própria vida, não importa as circunstâncias, nem plantas, nem as outras pessoas. A Salvia pode ajudar. Ela me deu certos empurrões. Ela ordena: vai, anda pra frente!! Mas, se eu ando em frente ou fico parado, isso só depende unicamente de mim mesmo.

Caio : Você considera que estava maduro na sua caminhada espiritual para conhecer uma planta com este poder ?

Amiel : É uma pergunta que requer muita reflexão.Tenho duas respostas, uma rápida e outra demorada. A rápida: Eu não sei. A resposta demorada: Temos que definir bem o que se entende por maturidade espiritual pois isto pode ter duplo sentido. Se maturidade é sinônimo de resistência física ou psicológica, esqueça a maturidade, pois a Salvia repercute naquilo que está além do seu corpo, ou da sua
psicologia, e além da sua mente e memória.


Maturidade espiritual pode ser a qualidade de estar pronto para tudo.
Mas é difícil estar preparado para tudo. Acidentes acontecem e uma pessoa pode não estar madura para morrer embaixo de um trem. A Salvia Divinorum é um trem, mas ela não mata o corpo físico ou causa um transtorno irreversível. Não há registros disso ter acontecido.Maturidade como uma qualidade espiritual, pode ser vista em termos de pureza de coração ou de total amorosidade. Então talvez este espírito não se precise mais de Salvia e nem de mais nada. Tudo foi alcançado e ela talvez seja desnecessária neste caso. É temerário fazer um escalonamento de maturidade espiritual. Questiono até que ponto é viável medir-se isso em termos analíticos.


Caio : Como é ser responsável ao utilizar esta planta em si mesmo? Como é ser responsável ao apresentar esta planta a outras pessoas ?

Amiel : Responsabilidade é capacidade. Neste caso, capacidade de ser cauteloso, cuidadoso, ético. É ser adequado com os procedimentos, atento com os ensinamentos e conselhos dado por pessoas que experimentaram e que verificaram potenciais riscos advindos do mau uso. Ao apresentar a planta a outros, você pode ser responsável até o ponto em que o outro passa a agir. Então, é minha responsabilidade selecionar criteriosamente quem vai obter e em que circunstâncias. Então, a responsabilidade se torna limitada à ação de cada um. Eu dou uma caixinha de fósforos a alguém com um mínimo de sanidade mental. Eu oportunizei a ele o fogo. O que ele vai fazer com o fogo, e como vai utilizá-lo, se vai cozinhar sua comida com segurança ou atear fogo em um posto de gasolina, isso passa a ser responsabilidade dele.

domingo, 13 de janeiro de 2008

PLANTAS ADIVINHATÓRIAS


PLANTAS ADIVINHATÓRIAS
por: ARADIA


No exercício do xamanismo, a experiência mostra que a substância psicodélica, (atualmente chamada pisicoativa) atua como um ajudante, um aliado, num movimento que, para o sujeito, não é mais que o retorno às suas próprias origens. É certo que tal acontecimento transtorna as categorias da razão e, inclusive, às vezes exige, como veremos, que se vigiem as funções normais do corpo. Podemos agora encarar sem desvio a realidade dos poderes do espírito e o caminho da sabedoria que conduz até lá.

Certamente, não são raros os caminhos transversais que desviam daquele caminho do meio, e por isso mesmo, do equilíbrio que representa. Porque, se encararmos as coisas de frente, se tivermos esse trabalho, essa paciência infinita, somos levados a reconhecer que a realidade, o fenômeno, que chamamos de adivinhatório, está inserido na própria trama da nossa vida quotidiana, e que, se manifesta na nossa própria experiência da existência, por pouca, por menor que seja, a atenção dada.

Aqui, trata-se de dar um salto no desconhecido, para além das técnicas que, em suma, tem por objetivo ativar a receptividade psíquica adivinhatória. Para além das ervas de beberagens e da fumaça. Para além de rituais de todos os tipos, sejam conscientes ou não. Para além de toda idéia preconcebida do que ocorre aqui e agora. Einstein dizia que 80% do nosso cérebro são "silent zone". Energias misteriosas, reprimidas, desempregada ou subempregada. As camadas profundas, subcorticais do cérebro pensante e, sobretudo a parte posterior, são estas zonas silenciosas. É preciso mencionar também, o tálamo e hipotálamo, que desempenham uma função essencial na regulação do sistema central e parecem tê-la também nos "estados de atenção". De resto, mesmo as regiões e as conexões cervicais que usamos habitualmente são submetidas a uma atividade rotineira, monótona e ilusória. Temos olhos e não vemos, ouvidos e não escutamos...

As substâncias que falarei são os produtos da terra virgem: ervas, cogumelos, lianas, cactos. Desde a aurora dos tempos, e por toda a superfície do planeta, a humanidade tem associado a absorção do princípio ativo dessas plantas para obter certos estados e consciência onde o ser descobre sua verdadeira fisionomia, ao unissono das vibrações do cosmos que o cerca. A grande abertura provocada pela planta sagrada procura, entre outras coisas e como simples efeito, o exercício das faculdades adivinhatórias porque o sistema nervoso central e o conjunto de zonas profundas do cérebro são plenamente despertadas. A realidade não ordinária, o fantástico, o sagrado, a magia, são vivas desde que o ser, misteriosamente ativado por uma planta humilde, um pequeno cogumelo, ou um cactos amargo, vibre plenamente em seu meio.

Destas substâncias vegetais conhecemos mais de uma centena no Novo Mundo e muito menos na velha Europa, onde as tradições as perderam; mas não há duvida alguma de que elas também estiveram presentes ali em grande número. Escolhi para examinar o uso, cinco destas plantas adivinhatórias, notadamente através das informações que me pode dar as práticas xamânicas, ainda vivas hoje. São elas: uma folha, o tabaco (muito usado pelos índios), uma liana, o yage, um cactos, o peyote, e dois cogumelos, o psilobeo e a amanita muscaia (mata-moscas).

É preciso citar para lembrar a vasta panóplia de plantas adivinhatórias à disposição da farmacopéia medieval e que era bem conhecida dos sábios, bruxas, mágicos, feiticeiros, etc... As plantas mais citadas nos velhos formulários de bruxas, mágicos, etc...são a datura, o meiodentro, a mandrágora, e a beladona (da família das solanáceas), mas também o visco, a éfedra, o acônito, a arruda e a erva dos loucos.

Todas estas plantas eram mais freqüentemente usadas na forma de ungüentos, cuja preparação era guardada em segredo, também em consideração dos riscos que o usuário corria. Acrescentemos que, foi preciso esperar por Sigmund Freud para que alguns dos efeitos da coca fossem conhecidos na Europa através do seu alcalóide, a cocaína, isolado em meados do séc XIX. A papoula já é conhecida do Ocidente desde os tempos dos gregos antigos. Existem, por último, duas substâncias que, sem duvida, são as drogas mais utilizadas no mundo, juntamente com o tabaco, o chá, e o café: são a planta, canabis sativa, e o álcool.

O Psilocibo
A redescoberta do cogumelo sagrado dos Maias - e o acesso à sua consumação ritual - por R. Gordon Wasson e sua esposa, a partir de 1953, na Sierra Mazateca, depois a colheita sistemática, a cultura em laboratório e a análise detalhada das diferentes espécies de cogumelos lamelares do gênero Psilocybe, sob os auspícios do Prof: Roger Heim, do museu de História Natural de Paris, representam um acontecimento primordial para todas as pessoas interessadas numa abordagem ao domínio complexo das plantas adivinhatórias. Elas dão acesso às experiências iniciáticas que remontam a mais alta antiguidade e, sem dúvida, até mesmo à pré-história.

Os primeiros indícios arqueológicos foram descobertos por Wasson no sítio de Teotihuacan, não muito longe da Cidade do México. Trata-se, em particular, dos afrescos de Tempentitla, que representa o paraíso de Tlaloc, Deus do trovão e da chuva e onde estão reproduzidos os cogumelos sagrados - bem como um "Homem pequeno" (o gênio do cogumelo?), agachado debaixo de frondosa árvore, acima da qual paira uma serpente - o "dragão" que guarda tradicionalmente a Arvore da Vida.

Restava aos Wassons descobrirem que espécies de cogumelos eram adoradas. Informantes lhes disseram que o culto ainda era praticado na Sierra Mazateca, no Estado de Oaxaca. Além disso, viajaram até lá em 1953 e foram, sem dúvida, os primeiros estrangeiros convidados a participarem de um ágape de cogumelos sagrados. Este Ritual, durante o qual os cogumelos frescos, eram consumidos aos pares, após terem sido purificados na fumaça do copal, foi para eles uma verdadeira revelação, porque para Maria Sabina, a "curandeira", tratava-se de um elemento da existência quotidiana, mas também a morada do mistério da Vida.

É melhor dar lugar ao testemunho de R. Gordon Wasson:
"Está escuro. Todas as luzes foram apagadas. Brasas ardem nas pedras da lareira. Madeira de Copal perfumada se consome num caco de cerâmica. Tudo está calmo. A cabana, a choça, fica afastada da aldeia. A voz de Maria Sabina pira na cabana(...) Tudo o que se vê naquela noite se banha na claridade da origem: a paisagem, as casas, os utensílios de uso diário, os animais, tudo é calmamente irradiado pela luz primordial; dir-se-ia que as coisas apenas acabam de serem produzidas pelo criador! Esta novidade total - dir-se-ia a aurora da criação - o submerge e o envolve, o dissolve na sua beleza inexplicável (...) Seu espírito está livre, você vive uma eternidade numa noite, vê o infinito no grão de areia. O que você vê e escuta grava-se na sua memória, é gravada ali para sempre. Enfim, você conhece o inefável, sabe que o é o êxtase! (...) Uma simples planta abre as portas, libera o inefável, traz o êxtase. Não é a primeira vez na história da humanidade que as formas mais humildes de vida dão a luz ao divino. Por mais desconcertante que seja, a maravilha que anuncia merece ser ouvida pelos homens."

Outra experiência de efeitos poderosos foi feita em uma tarde de Outubro de 1960, no jardim de uma casa de campo em Cuernavaca, um jovem e brilhante titular da Universidade de Harvard, come sete cogumelos sagrados que lhe haviam sido dados por um sábio da Universidade do México.
"Durante as cinco horas seguintes, encontrei-me arrastado pelo desfrutar de uma experiência que poderia tentar descrever graças à numerosas e extravagantes metáforas, mas que foi, antes de tudo e sem dúvida alguma, a mais profunda experiência religiosa da minha vida (...) Descobrir que o cérebro humano possui uma infinidade de potencialidades e pode operar em dimensões de espaço-tempoinesperadas me transfigurou por completo; convenci-me, sem qualquer sombra de dúvida, que acabava de despertar de um longo sono ontológico."
Quem fala assim se chama Timothy Leary. Agosto de 1960 assinala a data de nascimento do que se chamará mais tarde, movimento psicodélico, que trouxe à sociedade conseqüências verdadeiramente dramáticas, sobretudo entre a juventude americana...
O Peyote
"O Peyote deu um novo objetivo à minha existência. Antes de ingeri-lo, eu fingia ter um objetivo. Em meu íntimo, não sabia o que queria. Eu vivia numa vacilação contínua. Só o escrever me salvava da dissolução. Agora, sei pelo menos dar nome ao objeto da minha ambição. Sei que procuro a iluminação. Quero tornar-me no que se transformou o príncipe Sidarta sob a árvore da Boddhi". - Charles Duits
O Peyote, ou Lophophora Williamsii, é um pequeno cactos desprovido de espinhos que floresce nas regiões mais áridas do México. A planta se apresenta, rente ao solo pedregoso, na forma de cabeças arredondadas, de cor cinza-esverdeada, que mergulham profundamente no terreno as suas raízes em forma de cenoura.
Os índios mexicanos, consomem o "peyotl" fresco, ou então, pulverizado; neste caso, moem-no em almofariz de pedra, após te-lo secado ao sol e bebem-no com água. O Peyote contém quinze alcalóides, entre os quais a mescalina. O conjunto destes alcalóides atua sobre os centros cerebrais, provocando uma série complexa de manifestações psicofisiológicas. O interesse dos cientistas, médicos e filósofos centrou-se na mescalina, isolada no começo deste século. Essa substância foi a base de grande número de observações e pesquisas, sobretudo no domínio da psiquiatria experimental. Entre os grandes espíritos que fizeram experiências coma mescalina, cito Aldous Huxley, porque que ela abriu "As portas da percepção", (nome de um de seus livros), e Henri Michaux.
No ensaio O Inferno e o Paraíso, Aldous Huxley escreveu o seguinte: "Não conhecemos bem os efeitos fisiológicos da mescalina. É provável (mas ainda não estamos certos disso) que interfira no sistema produtor de enzimas que regulam o funcionamento do cérebro. Deste modo, diminui a eficiência do cérebro como instrumento que concentra o espírito nos problemas vitais na superfície do nosso planeta. A diminuição do que se pode, talvez, chamar de eficiência de acontecimentos mentais, que são normalmente excluídos, pois não oferecem valor à sobrevivência, entrem no campo da consciência... Pode tratar-se, neste caso, de percepções extra-sensoriais. Certas pessoas descobrem um mundo de beleza visionária. Outras, ainda, revelam-se a glória, o valor e o senso infinito da existência nua, do acontecimento dado, sem conceito. Num estado final de perda do ego, há um "obscuro saber", adivinhatório."
Aqui se encontram os segredos das artes sagradas, as chaves da comunicação miraculosa, com o mundo animal e com o dos espíritos, e outros segredos da antiga magia. Ainda hoje (e por quanto tempo), o peyote dá a algumas tribos indígenas das montanhas remotas do México, orientados pelos seus xamãs, estes mesmos animados pela chama da tradição, a sensação de viverem ao nível dos Deuses e de se abrigarem na morada luminosa da Mãe do todas as coisas. O Peyote dá a visão. Todas as energias da biosfera são capazes de transformações ricas em metamorfoses. Todos os fenômenos, cada um segundo sua forma ondulante, são pura vibração de energia cósmica - emanação do poder "sobrenatural".
Jikuri (o peyote) agirá como poderoso impulso, imprimindo à alma o elo necessário para entrar na órbita do sagrado. O Peyote modifica o tempo e o espaço: recria o Espaço Mítico e o Tempo Primordial, o Tempo da origem de todas as coisas. Nesta zona sagrada, impenetrável aos outros membros da comunidade, os mara'akame (xamãs) são iniciados nas grandes verdades transcendentes. Durante o transe eles assistem - às vezes vendo-os projetados num círculo mágico - ao desenrolar dos acontecimentos mitológicos que formam um núcleo da tradição da qual se tornarão depositários.
É preciso acrescentar que a consumação coletiva de Peyote nas comunidades Huicholes conserva todos os caracteres de uma eucaristia. Peyotl = Cervo = Milho. Essa é a trilogia mística, simbólica e operacional sobre a qual repousa a vida social desse povo e que é reativada pela experiência xamânica e pelas grandes festas da aldeia. Se possuir o equilíbrio, essa capacidade única e indizível de se aventurar pela "ponte estreita" que se transpõe o abismo que separa o mundo habitual da "realidade não ordinária", o xamã se realiza na busca do Peyote (aqui, realizar significa que, em si, as forças do Equilíbrio o arrebatam sobre as da matéria, até o ponto que se é transportado e espiritualmente transfigurado no espaço da viagem e do tempo do rito). Ele faz com que seus companheiros transponham sem embaraços, as barreiras do espaço e do tempo, atravessando a Porta das nuvens móveis e os faz subir as montanhas sagradas, nos confins do mundo a Leste, onde os esperam os Espíritos Ancestrais.
Amanita Muscaria
A Amanita mata-moscas, ou Amanita muscaria, é um cogumelo de bela aparência, com chapéu de 8 a 20 cm de diâmetro, de cor vermelho-alaranjada viva, salpicada de fragmentos esbranquiçados. Familiar na Europa, comum em toda Eurásia, e muito difundida, sobretudo na Sibéria, nasce nas charnecas e nas estepes de solo silicoso e brota livremente ao pé das coníferas e bétulas. Ligeiramente tóxica, contém a muscarina e a psilocina, mas a análise destes agentes psicodélicos (pisicoativos) na realidade não deu bons resultados. A Amanita, inicialmente, toma a forma de uma pequena bóia, do tamanho e aparência de um ovo, protegida por um invólucro penugento. Quando cresce, rebenta seu invólucro, surgindo sua pele vermelha e brilhante. Pedaços do invólucro permanecem presos no chapéu, semeando-o de pequenas manchas brancas. A Amanita muscaria, é o cogumelo vermelho de pontos brancos das lendas infantis onde fadas, gnomos e animais falantes povoam florestas mágicas.
Os grandes viajantes do séc XVIII que estiveram na Sibéria, por exemplo, o Abade Prèvost (autor não só de Manon Lescaut, mas também de uma História das Viagens) descrevem os xamãs presos da embriaguês amanítica. Deve-se notar que não apenas os humanos que a consomem pois, no Grande Norte, as renas - às quais a vida das tribos nômades está tão intimamente ligadas - apreciam muito as amanitas.
No começo de um estudo extremamente minucioso dos textos do Rig-Veda, que celebram os rituais e crenças dos primeiros invasores arianos do norte da Índia e foram a base da cultura brâname, R. Gordon Wasson, saído da sua experiência mazateca e das suas luzes sobre o xamanismo siberiano, resolveu o enigma no qual os comentaristas tradicionais e os sábios de todos os lugares destacaram: o da origem do Soma,aquela bebida sagrada e divinizante.
"Quando li o Rig-Veda, fiquei plenamente seguro de que os sacerdotes-xamãs arianos, com tons de um lirismo pungente, divinizavam a amanita muscaria da taipa siberiana, cogumelo alucinógeno de virtudes psicodélicas. A Amanita Muscaria era o ingrediente da poção mágica, a beberagem sagrada de toda a Eurásia". (Em Qu'etait le Soma des Aryens in:La chair des Dieux, ele, R. Wasson, tem a coragem de apostar que a ambrosia do Olimpo, composta de hidromel e néctar, recorria, para o segundo ingrediente, ao mesmo tipo de farmacopéia.) Estas não são mais a reunião lenta de indícios, o acúmulo de provas e o trabalho a resolver um problema até então obscuro.
Quem conhece os cogumelos sagrados compreenderá a mais famosa estrofe do Rig-Veda:
"Nós bebemos o Soma, nos tornamos imortais, nos transformamos em luz, encontramos os Deuses. Quem pode, doravante, nos prejudicar e que perigo nos atingir? Oh, Soma imortal!"
E Wasson termina seu ensaio Qu'était le Soma des Aryens com uma meditação muito audaciosa. Sugere que o arquétipo da Árvore da Vida, e o da planta mágica nasceram no cinturão florestal da Eurásia em tempos imemoriais - que se confundem, talvez, com os tempos originais da espécie humana. Em seguida, lembra que os homens da Suméria descendiam do Norte, que seu herói legendário, Gilgamesh, está envolvido numa história de planta maravilhosa guardada por uma Serpente. Por último, observa que os semitas do Crescente Fértil estavam intimamente mesclados com os sumerianos.
E pergunta: "A Serpente do Gênese não será o mesmo Espírito da Terra encontrado na Sibéria? A Árvore da Vida não será a lendária bétula, que não é senão o Soma, a Amanita Muscaria, a carne do Deus?"
O Yage
O Yage (Banisteriopsis caapi), é uma liana da família das malpigiáceas. A planta é consumida em toda a Amazônia e nas regiões montanhosas do Peru e do Equador, onde se chama Ayahuasca. Um alcalóide cristalino foi isolado do yage em 1923, recebendo o nome de telepatina.
Embora a existência do Yage fosse conhecida da ciência ocidental desde o século XIX, foi preciso esperar até o último decênio para se dispor de dados etnográficos provenientes de trabalhos realizados no local. A natureza desta planta mágica e a posição preponderante que ocupa no seio do "cosmos amazônico" são agora mais bem conhecidas.
Fascinante, alternativamente qualificada de paraíso terrestre e de inferno verde, a floresta amazônica oculta, sob estes chavões, uma terrível realidade: o aniquilamento físico e cultural de comunidades indígenas, sacrificadas aos interesses da civilização branca. A mensagem que nos enviam estes seres paramentados para a festa pode revelar-se muito mais preciosa: Testemunha uma certa perfeição da integração do homem com seu ecossistema e de um conhecimento íntimo dos segredos da matéria e da vida.
Os índios Tucano tomam o Yage de preferência em sua casa (maloca), onde a festa dura desde o crepúsculo até o amanhecer,à luz de uma tocha. A festa tem todas as características de um ato total, de um happening ritual. O corpo é pintado e ornado de plumas, os homens conversam e cantam, ou então dançam todos juntos. A música é obsecante, alucinante. A trompa de cortiça soa. Ingere-se a beberagem. Dança-se. Repousa-se por instantes. Sobrevêm as visões... Soa novamente a trompa e todo o processo recomeça... Toma-se, assim, de seis a oito taças numa noite, de diferentes liberações de cerveja e milho. À medida que o efeito do Yage aumenta, os movimentos dos dançarinos ganham em precisão e coordenação "até o ponto em que todo o grupo parece formar um só corpo que se move com uma precisão miraculosa num ritmo que ele controla". Nesta estrutura solene, tem lugar os transes e visões rituais. Aqui, a viagem psicodélica (pisicoativa), íntima a cada um, é ao mesmo tempo substancialmente a mesma para todos.
"Após uma fase de luz muito viva, na qual formas e cores estão em movimento, a visão se clarifica e toma sentido em certos detalhes reconhecíveis. A Via Láctea aparece e, longe, a luz solar, fonte da vida. A primeira mulher surge das águas do rio e o primeiro casal ancestral se forma. Vê-se o Senhor dos Animais da selva e das águas, os ancestrais gigantescos da caça, as origens da planta. O perigo original se manifesta: serpentes e jaguares, que ameaçam o caçador solitário, espíritos da selva que o acompanham. Ouvem-se vozes, percebe-se a música da aurora do mundo, vê-se os ancestrais dançarem na manhã da criação. Conhece-se a origem dos enfeites da dança, os instrumentos musicais e dos rituais (...) Para além destas visões abrem-se novas "portas". As portas da luz abrem-se na noite para outras dimensões." Le chair des Dieux (op. cit.).
O desenho feito sobre o vaso de Yage é chamado gorosiri: lugar de origem, matriz e também lugar do retorno, da morte. A pessoa se identifica com um falo que penetra na cavidade materna, refaz inversamente o caminho do embrião e se dissolve no cosmos. Bem mais que para o adivinho Édipo, o incesto é, aqui, iniciático. Simbólico, ou se quisermos sutil, o ato se cerca de regras que lhe garantem o caráter sagrado - e a segurança. O passo do iniciado neste universo pré-histórico parece ser o movimento primordial de onde surgirão o Tantra e o Tao nas grandes civilizações da Índia e da China. O retorno à origem é uma morte às avessas - que podem ter todas as aparências de morte, se houver um transe - seguida de um renascimento - "num estado de sabedoria", dizem os índios.
O Álcool
Seja qual for a sua forma, cerveja, cachaça, uísque, vinho, aguardente destilada, o álcool parece ser a droga mais importante do ocidente, onde seu uso às vezes toma a forma de verdadeira toxicomania. Mas nos esquecemos que as sessões de bebedeira dos guerreiros celtas ou escandinavos tinham sua ordenação. Eram sagradas e dedicadas aos Deuses. A cerveja, preparada em enormes caldeirões, era objeto de uma consagração ritual. Ernest Junguer nos dá uma abordagem profunda à bebedeira ritual dos antigos germanos. O grupo de guerreiros bebe no corne, que circula ao redor do fogo: "Agora, o mundo exterior também se torna mântico, pleno de presságios. Os ruídos que vem de fora se transformam em batidas, em anunciações. O ouvido escuta até por trás dos sons, o uivo dos cães, o grito das aves, adquirem um poder profético. O olhar se transforma, trespassa as paredes e até mesmo as do acontecimento, para penetrar bem longe no futuro".
Quanto ao vinho, basta evocarmos, ainda com Junger, as festas tradicionais da vidima e da poda da vinha. "A verdadeira virtude do vinho, sua força mágica, revela-se no retorno, nas festas periódicas dos paises vinículas. Elas são celebradas quando a vidima terminou e o sol se despede da Terra - e mais fogosamente ainda quando volta para expulsar o inverno. Inspiração e expiração imensas. O vinho não mais é retirado das adegas em garrafas ou em cântaros, corre em caudais dos tonéis, verte das fontes - o ar está repleto de fermentação.
O Louco passa a reinar sobre o mundo - eco, distante, reflete os tempos arcaicos em que os Deuses vinham à nossa casa para sentar-se à nossa mesa. O grande Pã se aproxima. Uma azáfama de gnomos, junto à terra, une-se às altas iluminações".
O Tabaco
O Tabaco é uma planta da família das solanáceas, de caule reto e folhas largas. O seu princípio ativo é um alcalóide, C-10, H-14, N-2 , a nicotina. Existem mais de dez espécies de tabaco. A Nicotiana Rustica era a mais difundida ao Novo Mundo na época da Conquista. Em todos os continentes, os índios consideram o Tabaco como uma das mais importantes entre as plantas mágicas e medicinais. Planta Sagrada, cujo uso também é ritual. "O ato de fumar lembra ao homem sua origem e celebra a unidade do cosmo harmonizando a Terra e o Céu." Em certas condições, aquele que fuma pode atingir estados de "realidade não ordinária", e uma ampliação do campo de sua consciência.
O Tabaco pode ser mascado, aspirado pelo nariz ou bebido em cocção. É consumido puro ou em associação com outras plantas; fumado em charutos e em cachimbo. Nos rituais indígenas, é bastante usado, puro ou em associação com outras plantas fumado em cachimbos bem grandes. Inútil discorrer sobre os malefícios que seu uso traz à humanidade... todos já sabemos isso atualmente. O cachimbo simboliza a harmonia do universo, é um instrumento ritual que permite a pessoa comunicar-se com as forças sobrenaturais, com os espíritos e com todos os seres do céu e da terra.
O Profeta Sioux Alce Negro, deu as chaves da magia ritual do cachimbo sagrado entre os índios da planície; as quatro fitas que pendem do tubo do cachimbo representam as quatro direções do universo. Enquanto a pena de águia representa a unidade do conjunto e o zênite, rumo ao qual o espírito dos homens deve ascender, como a fumaça azul sobe ao céu, ou como a águia ganha as alturas. O ato de fumar o cachimbo permite uma comunicação privilegiada com o céu e a terra, e todos os seres vivos, seus filhos, "tenham eles pés ou raízes". Ele instaura um elo sagrado entre os que o realizam em comum.
O charuto: As observações atualmente realizadas dentro de uma cultura indígena que pratica o xamanismo baseado no tabaco como um dos veículos da experiência estática, visionária e adivinhatória - e também como uma arma mágica e meio terapêutico - nos fazem ver que o mito e o ritual recobrem uma realidade que se grava em todas as células do corpo do experimentador e que a grande abertura do espírito é acompanhada da aquisição progressiva de faculdades "paranormais", ou poderes mágicos. Tomemos como exemplos os índios Warao do delta do Orenoco, na Venezuela, que fumam charutos de 50 a 75 cm de comprimento. O invólucro, feito de epiderme do caule da palmeira manacá contém, firmemente enrolados, várias folhas de tabaco preto aspergidas da resina perfumada do cucuray ou árvore shiburu. Não é raro misturar-se grãos de incenso ao tabaco.
No Brasil, nas sessões umbandísticas utilizam-se charutos como propriciador de estados adivinhatórios. Como acontece quando do consumo ritual de outras substâncias de efeito psicoativo, o êxtase xamânico é a resultante, por um lado, da ação conjugada da ascese e da planta e, por outro, da programação cultural comunicada pelo ensinamento tradicional. A iniciação representa a finalização de uma profunda relação de mestre para discípulo. Ao fim de uma longa instrução por um xamã experimentado, o neófito empreende o jejum decisivo: canta os cantos, que seu mestre lhe ensinou e, chegado o momento, fuma o charuto que este lhe estende - os próximos, ele próprio os enrolará.
Então, em estado de êxtase, o neófito aprende a subir ao zênite e, de lá, a caminhar ao longo de uma das rotas do arco-íres que conduzem à extremidade do cosmos (um dos pontos cardeais). Depois, num dos maciços de montanhas mágicas, que sustentam, como quatro pilares, a abóboda celeste, reencontra seu espírito aliado - e a casa de fumaça preparada para ele, por toda a eternidade... Daí por diante, sua vida será dupla: neste mundo, e do "outro lado" da realidade, sobre uma vertente visionária que não é menos real que este, e representa, ao mesmo tempo, a essência do espírito do seu povo e uma fonte inesgotável de energia mágica pessoal.
As viagens iniciáticas são iguais em toda a parte do planeta e certamente não é por acaso que, do Livro dos Mortos Tibetano às narrativas amazônicas, as aventuras do ser que estão descritos apresentam tantos pontos em comum. Simbolismo vivido do arco-íris e conhecimento da clara luz.
Por todo o território da América do Sul indígena, a viagem comporta, em geral, provas de equilíbrio acima de abismos aterradores, de reencontro com forças selvagens encarnadas por animais ferozes e, muitas vezes, passada a "porta que se fecha automaticamente com a rapidez do relâmpago, a revelação de Serpente Emplumada.
Entre os Warao, o mito da origem descreve a iniciação de um menino de quatro anos: "Um dia, um homem e uma mulher apareceram no centro da Terra. Eram bons mas seus espíritos eram toscos. Tiveram um filho, e que aos quatro anos mostrava uma inteligência prodigiosa. Pensava em muitas coisas. Nesta condição, acabou por pensar no lugar hoebo, que fica a oeste, com odor de cadáveres de sangue e de obscuridade. Portanto, devia haver qualquer coisa a leste, disse a criança para si mesma, alguma coisa de luz e de cores". E decidiu ir para o universo. "Se bem que o corpo do menino fosse bastante leve, ainda assim era pesado demais para voar. O menino pensou nisso longamente, até que um dia pediu ao pai que empilhasse lenha suficiente para o fogo sob sua rede. Durante quatro dias não comeu nem bebeu. Na noite do quinto dia, acendeu a lenha com um fogo virgem e adormeceu. Então, com o calor e a fumaça do fogo novo, o espírito do menino subiu ao zênite. Alguém se dirigiu a ele e disse: - "Segue-me, vou mostrar-te a ponte que conduz à Casa da Fumaça do leste".
Em breve o menino encontrou uma ponte feita de grossas cordas de fumaça de tabaco. Seguiu o invisível espírito conselheiro até à ponte onde, a pouca distância do centro da abóboda celeste, fileiras de flores maravilhosas começaram a vibrar ao longo da ponte num arco-íris de cores irradiantes - vermelho e amarelo à esquerda, azul e verde à direita. Uma doce brisa fazia ondular as flores. Como a ponte, as flores eram feitas de fumaça de tabaco solidificada. Tudo era brilhante e tranqüilo. O guia invisível impeliu o menino na direção da Casa de Fumaça. De longe, ele já ouvia o canto dos baharanao (espíritos). A ponte conduzia direto à porta da Casa de Fumaça a leste. O menino chegou ao umbral da casa, ouviu a música maravilhosa e sentiu-se transportado de alegria. Só queria entrar, imediatamente.
- Diz-me quem és, perguntou uma voz no interior.
- Sou eu o filho de Warao.
- Que idade tens?
- Quatro anos. (um número ritual e simbólico)
- Podes entrar, aquiesceu o Pássaro criador.
Fora o bahana (o espírito) supremo, que lhe fizera as perguntas.
Ele disse:
- Tu és puro e não conheceste mulher.
O menino entrou na Casa de Fumaça. Saudou o Criador pássaro da aurora e seus quatro companheiros que saíram de seus aposentos. Parou diante da mesa coberta de uma toalha branca e viu os quatro pratos do jogo de bahana e, colocadas em cima, as armas. Quis saber tudo sobre estas coisas:
- Qual delas gostaria de ter, perguntou o bahana supremo.
- Todas elas: o cristal, os cabelos brancos, as pedras, a fumaça e também o arco e as flechas.
O menino era, na verdade, muito inteligente.
- Todas serão suas.
- Agora, ensina-me teu belo canto.
Então, do chão da Casa de Fumaça, o menino viu surgir a cabeça de uma serpente, dotada de quatro plumas coloridas: branca, amarela, azul e verde. E as plumas emitiam uma nota musical como fazem os sinos. Projetando sua língua bifurcada, a Serpente Emplumada emitiu uma bola de fumaça de tabaco, de uma brancura irradiante.
- Eu conheço bahana! - bradou o menino.
- Agora o tens, disse o bahana. Tu és bahanarotu. A serpente se retirou, os insetos-companheiros retornaram aos seus aposentos e o menino saiu do transe estático".
O "abre-te sésamo" da casa mágica é o conhecimento de si. A mensagem dos Warao une-se à Sócrates e dos patriarcas Zen: "Conhece a ti mesmo", ou então "Qual é o teu rosto original"? Quer surja o "Criador pássaro da aurora", a Esfinge ou o Dragão, a mesma pergunta atravessa a humanidade de era em era: "Quem somos nós?" Da resposta a esta pergunta, do campo infinito de experiências de que ela se constituiu, jorram Como faíscas de um fogo, toda sorte de poderes, dentre os quais o de "ver", de apreender o mundo intuitivamente, como feiticeiros, como adivinho, como sábio.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Holanda lança licores de maconha

Holanda lança licores de maconha

Duas empresas de Amsterdã (Holanda) lançam dois licores - o Squeeze Hennep e o Kierewiet - feitos com extrato de maconha. As novidades foram reveladas durante a feira internacional de bebidas Horecava.

Os licores serão vendidos normalmente em supermercados e lojas especializadas.

O porte de até 5 gramas de maconha por pessoa, a venda em estabelecimentos autorizados e o consumo são permitidos no país desde a década de 70.

Uma pena é que a importação não está autorizada.


Entrevista com Patrick Druot - Isto É.

Matéria: Isto é - Luz no horizonte
O físico Patrick Druot, que já vendeu um milhão de livros sobre xamanismo, saber de culturas ancestrais, diz que vêm aí boas mudanças
Patrick Druot, 53 anos, pós-graduado na Universidade de Columbia, consegue enxergar a virada do milênio com um otimismo contagiante, apesar do quadro de guerras, desemprego e desigualdade social. Ele arrisca dizer que nos espera um tempo de mais tolerância, compreensão e amor. Esse otimismo é resultado de 20 anos de experiências com expansão da consciência e contatos com culturas antigas. Nesse período, conviveu com tribos indígenas e aborígenes na América do Norte e na Oceania, onde estudou o trabalho dos xamãs, líderes espirituais conectados com a natureza. Segundo Druot, em breve ocorrerá uma mudança porque as pessoas buscam cada vez mais respostas espirituais para dar sentido à existência. "Acho que o Brasil terá um papel importante neste despertar", ele anuncia. Até os 35 anos, ele mesmo acharia graça no que acredita hoje. De família católica, deixou de ir à missa aos 15 anos para tornar-se um cético convicto. Foi depois de se pós-graduar em Física que começou a ter contato com o fenômeno da expansão da consciência e especializou-se em Terapia de Vidas Passadas (TVP), que pesquisa e pratica no Instituto de Pesquisas Físicas e da Consciência, em Paris. "Essas experiências me reconectaram a Deus." Quanto a frequentar uma igreja, ele diz: "Sim. Uma floresta, uma praia, o mundo todo é uma catedral." Em sua sétima visita ao Brasil, para dar workshops sobre vidas passadas e lançar seu quinto livro, O físico, o xamã e o místico (Editora Nova Era), ele deu esta entrevista.
ISTOÉ – O que é um xamã?
Patrick Druot – É uma pessoa investida de dons de profecia, dons de cura, de percepção a distância. Os xamãs dizem que os primeiros professores nos tempos antigos eram as plantas e os animais. Eles foram os primeiros líderes religiosos, os artistas, os médicos. Sua herança enorme influenciou, milênios mais tarde, as primeiras religiões organizadas. Cristianismo, budismo, taoísmo, tudo isso tem origem xamânica.
ISTOÉ – O que levou um físico como o sr. se interessar pelo tema?
Druot – Há 20 anos, comecei a me interessar pelo que se costuma chamar de estados alterados de consciência. Conhecia-se a atividade da superfície do cérebro, mas nunca explicaram como ele funcionava e o que o fazia funcionar. Durante muitos anos, me interessei pelo fenômeno da vida antes do nascimento e tentei entender onde essa memória estava gravada. A ciência não respondia a essas indagações, então comecei a estudar diversas tradições orientais: as escolas de ioga, o budismo e, como morei dez anos nos Estados Unidos, trabalhei e vivi com índios americanos. Conheci suas cerimônias e seus rituais de cura e me interessei pela origem desses estados de consciência. E aí foi preciso voltar mais de 20 mil anos, ao tempo dos primeiros xamãs. Foram eles, no período paleolítico superior, os primeiros a passarem para o outro lado e a explicar como era estruturado o mundo xamânico.
ISTOÉ – O xamanismo faz parte da história de todos os povos?
Druot – Sim. O termo xamã foi adotado pelos antropólogos para definir todos os representantes religiosos e seres particulares de todas as raças. O termo tem origem siberiana. Saman, quer dizer aquele que sabe, aquele que é. Na tradição xamânica mundial, os xamãs são aqueles que vêem o mundo como um composto de três mundos. Um físico, povoado pelos espíritos da natureza, um mundo subterrâneo e um terceiro, sublimado. Em todos os grupos, seja na Sibéria ou na Nova Zelândia, as tradições sempre batem: são três mundos ligados por um eixo central. A imagem varia. Pode ser uma corda, uma escada, uma montanha. O dom do xamã é viajar pelo intermundo, ao longo dessa corda que atravessa os três mundos.
ISTOÉ – Em seu livro, o sr. afirma que a ciência moderna ainda não distingue psicose de despertar xamânico. Por quê?
Druot – Há um psiquiatra inglês que diz que o sábio e o psicótico estão no mesmo oceano. Mas enquanto o sábio nada, o psicótico se afoga. Eles têm percepções idênticas, mas o psicótico não sabe ordenar o saber. Até o fim dos anos 50, a ciência pensava que o xamã era um esquizofrênico. Foi preciso que o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss afirmasse que eles sabiam exatamente o que os xamãs faziam e que havia uma lógica em seus rituais. Não eram selvagens porque moravam na floresta, era o mundo deles.
ISTOÉ – O que é a física xamânica?
Druot – Eu queria saber como o xamã viajava pelos três mundos, onde estão esses mundos. Em física, sabemos que o universo é feito de vibrações. Supus que o xamã era capaz não apenas de se projetar num mundo de vibração, mas de mudar essa vibração. Na física quântica, diz-se que tudo está ligado ao chamado tecido subjacente do universo. No mundo do xamanismo dizem que estamos todos ligados. Os celtas e os druidas viam o mundo como uma teia de aranha tridimensional. Se puxarmos um pedacinho aqui, toda a teia vibra. Em física quântica diz-se que o universo está ligado por cordas supersensíveis. Para mim, havia uma ligação entre o xamanismo e a física quântica porque ambos trabalham com vibrações, oscilações, sons. E os xamãs sabem disso. Foram os primeiros físicos da história.
ISTOÉ – Por que as tradições xamânicas são apenas orais?
Druot – Nossa cultura ocidental privilegia o lado esquerdo do cérebro, lógico, racional, ligado ao tempo linear. E também é ligado à palavra escrita. Esse tipo de tradição xamânica funciona principalmente no lado direito do cérebro, ligado à tradição oral. No Taiti, encontramos os sacerdotes maoris que conservam a tradição do povo. Eles são capazes de contar a história de 20 gerações de sua família. Levam-se de 30 ou 40 anos para aprender a tradição oral, mas nada é deformado. É o mesmo motivo pelo qual a maioria dos povos tradicionais não acredita em reencarnação. Eles não têm a mesma concepção de tempo, que não é linear para eles. Esses povos vivem o agora.
ISTOÉ – E o que o sr. acha?
Druot – Buda tem uma boa resposta. Ele disse que não se pode dizer que existe, mas também não se pode dizer que não existe. Conheço um número enorme de pessoas que tiveram experiências de vida anterior. Não podemos provar cientificamente, mas há muitas evidências. E o potencial terapêutico da regressão é impressionante. Muita gente passa por diversos médicos sem conseguir se curar e, com duas ou três sessões de regressão, descobrem-se os motivos da doença e ela passa. Funciona em cerca de 80% dos casos.
ISTOÉ – Ainda há muitos xamãs hoje?
Druot – Com o expansionismo branco, a partir do século XVI, essas culturas tradicionais foram proibidas e seus territórios foram tomados. Nos Estados Unidos, o xamanismo desapareceu quase totalmente. Nos anos 60, no entanto, os índios americanos começaram a resgatar antigos ensinamentos. Só em 1978 o presidente Jimmy Carter assinou o American Indian Religious Freedom Act (lei da liberdade religiosa indígena). Atualmente, muitos americanos com problemas psicológicos vão se tratar com os índios. Esses xamãs são inacessíveis, não falam facilmente. Encontrei um xamã maori na Polinésia que disse: "Vocês tiraram nossa língua e nossa cultura e nossos filhos não falam mais taitiano. Não vamos ensinar nossas tradições." É um trabalho muito lento. Levamos muitos anos. Só se você começa a pensar com o lado direito do cérebro, consegue se comunicar com eles.
ISTOÉ – É possível desenvolver o lado direito do cérebro?
Druot – Sim. Mas leva algum tempo. Porque o mundo ocidental faz parte de uma cultura do lado esquerdo, enquanto os povos tradicionais têm uma cultura do lado direito. O ideal não é usar apenas um dos lados, mas conseguir sincronizar os dois. Viver no mundo material, mas com uma percepção diferente. Dessa maneira, o mundo torna-se um teatro mágico. Quando o lado esquerdo pára de bloquear, pode-se ir ao mundo dos sonhos. O escritor mexicano Carlos Castañeda já contava em seus livros como aprendeu com um xamã mexicano a ir ao mundo dos sonhos e disse que é tão real quanto este aqui.
ISTOÉ – Como foi a sua experiência com o Santo Daime?
Druot – Não era o Santo Daime que me interessava, mas a ayahuasca (planta que produz um chá alucinógeno utilizado pela seita amazônica). Mas eu não tinha contatos diretos. Não se pode ir à floresta buscar a planta sozinho. Em 1994, meu antigo editor brasileiro fez um contato com Alex Polari, um dos líderes da seita em Céu do Mapiá. Tenho respeito pelos rituais, pela igreja, mas não participei. Disse desde o início que me interessava pela planta que, no princípio, era uma planta xamânica. Em abril de 1995, eu e minha mulher, Liliane, passamos duas semanas na floresta e fizemos muitas experiências sob o efeito da ayahuasca. O cérebro funciona de forma totalmente diferente. Tudo se abre. Você pode ver espíritos, as auras. Fizemos até contato telepático. Por três ou quatro minutos, soubemos exatamente o que o outro pensava. Sentia e via a Terra respirar, num movimento claro. Tudo se organizava em fractais.
ISTOÉ – De que serviu a experiência?
Druot – A ayahuasca é usada para propósitos religiosos, alguns usam para curar, tirar pessoas da dependência de drogas, álcool. Mas em minha opinião, é muito mais do que isso. Acho que ainda não se sabe usá-la para conhecer o outro e a si. Com ela, se poderia descobrir muito sobre as causas de doenças físicas e emocionais. Essa experiência provou o que estudei por 15 anos: só utilizamos uma parte mínima do cérebro. Não tomamos mais a planta, mas ainda temos algumas vibrações e percepções que vêm dela. Não vemos mais uma floresta como antes. Nosso contato com a terra foi modificado. Há uma percepção mais aguçada. Traz sentimentos de tolerância, de respeito e de amor.
ISTOÉ – É possível passar por este tipo de experiência sem a ayahuasca?
Druot – Talvez. Eu já tinha percepções desde 1985, estimulando uma visão vibracional. Há um campo magnético ou vibracional que circunda todas as coisas vivas, até nós mesmos. E tudo o que acontece com você está escrito neste campo. É uma técnica. Tem de ser feito com sons, sobretudo com tambores, que são os batimentos cardíacos do criador. Quando se está em sincronia com uma batida de tambores, é possível fazer a viagem. Passei por essas experiências com os índios do Canadá, nas ilhas do Pacífico, nos EUA. O uso de plantas é específico da América do Sul e Central, onde se usa o peiote.
ISTOÉ – A experiência é similar?
Druot – A ayahuasca é mais imediata ao abrir as portas psíquicas, as portas da percepção. É como se o cérebro se abrisse. Tecnicamente falando: normalmente, vemos o mundo através de nossos olhos. Mas não vemos como o cérebro vê. O olho é um instrumento de análise de frequência, como o ouvido. Isso só foi descoberto nos anos 60. Isso significa que vemos e escutamos através dos olhos, mas não é como o cérebro vê e escuta. Com a ayahuasca, você vê e escuta como o cérebro. É uma percepção holográfica do mundo. Porque o cérebro é um holograma. Ele se abre para você. Mas acho que não se pode tomá-la de qualquer jeito, é preciso uma boa orientação, alguém que te ajude a passar pelos vários estágios da ayahuasca. E também é preciso estar junto à natureza. Não acho cabível tomá-la num lugar fechado, por exemplo. O que acontece é que a planta abre todos os canais, as pessoas vêem cores, caleidoscópios e ficam felizes. Mas é muito mais do que isso.
ISTOÉ – Como o sr. se preparou para a experiência?
Druot – Antes de tomar a ayahuasca, estudei o trabalho de um etnofarmacobiologista da Finlândia, desenvolvido durante seis anos. Eu sabia que não havia efeitos colaterais nem risco de dependência.
ISTOÉ – O sr. sentiu medo?
Druot – Sim, porque nunca tinha tomado nada parecido na vida, nenhuma outra substância alucinógena. Não sabia exatamente o que esperar. Quando comecei a sentir os efeitos, me senti mais confortável, entendi o que a planta me ensinava.
ISTOÉ – O sr. acha que há hoje uma maior abertura do mundo ocidental para estes ensinamentos?
Druot – Sim. Em 15 anos, vendi um milhão dos meus cinco livros, e recebi cerca de 60 mil cartas. Acho que estes números podem ser tomados como uma prova de um interesse crescente. As pessoas querem saber quem são, qual o seu lugar no mundo. Não somos robôs, somos seres humanos. Entre muitos povos índios, o próprio nome do povo significa seres humanos, como os cheyenes americanos. No Havaí, os locais chamam os brancos de haoles, que significa os que são mortos por dentro. Eles dizem que não estamos vivos, porque não estamos conectados com os espíritos e a natureza.
ISTOÉ – A que o sr. atribui esse interesse?
Druot – No século XVII, houve dois gênios que criaram os fundamentos da ciência moderna: René Descartes e Isaac Newton. Eles começaram a explicar muitos fenômenos que não se explicavam antes, mas o problema de suas visões foi ver o ser humano como uma máquina, um relógio. Desprezaram a consciência e o espírito. A ciência se pulverizou. Olha-se apenas o corpo, não o espírito. Acho que o terceiro milênio trará a reunião de tudo. Os xamãs dizem que as doenças entram quando a pessoa está separada dela mesma e do mundo. Os índios navajos americanos têm um sistema médico que reconecta a pessoa a ela mesma e ao universo. Agora, há na Universidade de Medicina de Phoenix, no Arizona, um departamento intercultural com xamãs navajos e médicos americanos, que tentam entender como eles curam pessoas desenganadas de câncer, por exemplo.

Cerimônias do chá


Cerimônias do chá
por Roberto de Oliveira

Freqüentadora da escola espiritual Caminho do Coração, em Nazaré Paulista, diante de altar que mescla imagens hinduístas ao lado de garrafões do Santo Daime

O altar é de Ganesh, deus hindu do sucesso e da superação de obstáculos. Mas não só dele. Ladeando a imagem, garrafões de plástico guardam um líquido marrom e espesso. Um cheiro de incenso se mistura ao de rosas e lírios. Descalço, um senhor de barba e cabelos grisalhos, roupa branca, serve a bebida. Cerca de 200 fiéis se aproximam em fila indiana. O som oriental das cítaras é substituído por chocalhos indígenas. Mantras em sânscrito são sucedidos por hinos em português, que exaltam Jesus, a Virgem e a floresta amazônica. A cerimônia é hindu; o transe, do Santo Daime.

A bebida é um dos ingredientes do ritual que acontece ao menos uma vez por mês na escola espiritual Caminho do Coração, em Nazaré Paulista (56 km de SP). Psicólogo de formação, Sri Prem Baba, 42, é o mestre da cerimônia. Dois mentores guiam seus passos: o guru Sri Sri Hans Raj Maharajji, que vive na Índia, e o seringueiro brasileiro, neto de escravos, Raimundo Irineu Serra (1892-1971), o mestre Irineu, fundador da doutrina do Santo Daime.

Na zona sul de São Paulo, no Centro Espírita Sete Pedreiras, a miscigenação de crenças se repete, com orixás da umbanda, santos católicos e retratos de daimistas posicionados em lugares estratégicos do terreiro. A fusão resulta na umbandaime, que promove a mistura entre a doutrina do daime com elementos da religião afro-brasileira.

Três vezes por mês, mulheres de um lado, homens do outro, fazem orações e entram na fila para tomar o daime. Ao som do atabaque, fiéis organizam uma roda de "gira". Começam a dançar e a cantar pontos de umbanda e hinários do Santo Daime.

O sincretismo que permeia as duas cenas pode ser encarado como um terceiro fenômeno de expansão do Santo Daime, diz Henrique Carneiro, professor no departamento de história da USP . Depois de ser "exportado" da floresta amazônica para os grandes centros urbanos brasileiros e, na seqüência, para o exterior, a bebida se transformou numa espécie de "cálice sagrado", entornado por outras religiões de cunho afro, cristão e oriental.

Prem Baba é um exemplo clássico do ecletismo religioso brasileiro. Passou pela umbanda, pelo candomblé e pelo budismo para, aos 19 anos, descobrir o daime. Em 1992, incorporou o chá em rituais religiosos orientais. "É uma coisa só. Pétalas de uma mesma flor", diz ele, que costuma repetir um preceito difundido entre os daimistas: "O daime é para todos. Mas nem todos são do daime".

Para fazer parte do grupo, não importam orientação espiritual, raça ou posição social, diz Prem Baba. Profissionais liberais, empresários, estudantes e donas-de-casa paulistanos se reúnem periodicamente para os rituais com chá no ashram (lugar de práticas) da escola espiritual Caminho do Coração. "Ele [o daime] é um instrumento de purificação do eu inferior e conexão com o superior. Permite relembrá-lo de sua natureza divina e abre as portas do ABC da espiritualidade."

Caboclos do chá
Para o antropólogo Edward MacRae, 61, da Universidade Federal da Bahia, assim como outras religiões, o Santo Daime também tem a propriedade de aglutinar elementos de outras crenças, como umbanda, traços indígenas, cristãos, afro e esotéricos, ocidentais ou orientais.

"A ayahuasca facilita a experiência mística. E é justamente essa experiência, sem a intermediação da figura de um sacerdote, que está colaborando para a sua expansão", diz ele, autor de "Guiado pela Lua - Xamanismo e Uso Ritual da Ayahuasca no Culto do Santo Daime" (ed. Brasiliense).

Cerca de 30 minutos depois da ingestão do chá, praticantes da umbandaime, vestidos de branco, começam a "abrir a banca", no momento das incorporações. É quando as entidades da umbanda começam a se manifestar, segundo a mãe-de-santo Maria Natalina, 57, a Madrinha.

A ayahuasca proporciona sensibilidade maior. É um instrumento de contato superior com os orixás", diz ela. No centro Sete Pedreiras, o culto dura oito horas -das 14h às 22h. Geralmente, aos domingos. Os freqüentadores chegam a participar de quatro "despachos de daime", servidos em copo plástico.

Coordenador do Conub (Conselho Nacional da Umbanda do Brasil) no Estado de São Paulo, Pai Medeiros, 39, não condena a mistura. Ele diz que a umbanda é inclusiva, abrange muitas vertentes e que a umbandaime é uma delas. "Qualquer forma de manifestação do sagrado é respeitada."

Freqüentadora da umbanda há seis anos, a produtora de eventos Bia de Souza, 24, passou a participar das sessões de umbandaime neste ano. "O chá propicia uma maior integração com a religião. Abriu meus canais de percepção e chakras", diz. Segundo ela, no começo, por conta de reações como vômitos e diarréia -as chamadas "peias"-, a experiência foi dolorosa. "Uma dor na alma que faz parte da limpeza", acha.

Outra etapa da conversão é pagar por ela. Afro, oriental ou cristão, onde o daime é servido cobra-se uma taxa de "contribuição" para custear a bebida, que pode variar de R$ 15 a R$ 100 (com alimentação e hospedagem).

"Os orixás do candomblé e da umbanda têm origem na natureza. O princípio do daime também vem dela", diz Madrinha, que realizou o primeiro ritual de umbandaime em seu centro há dois anos.

Preocupações ecológicas entre daimistas e fiéis de outras religiões que fazem uso da ayahuasca ganham, aqui, conotação religiosa. "É da floresta amazônica que vêm o cipó e as folhas, considerados sagrados, a ponte com Deus. Em tempos de aquecimento global, se o daimista não tem consciência ecológica, como vai atingir a sustentabilidade espiritual?", questiona Wladimyr Sena Araújo, 39, antropólogo e historiador, autor de ''Navegando sobre as Ondas do Daime - História, Cosmologia e Ritual da Barquinha'' (editora Unicamp).

Hare daimistas
Apesar de a ayahuasca ser classificada como substância psicoativa alucinógena, seu cultivo, preparo e uso religioso são garantidos pela Constituição Federal, que defende a liberdade de culto.

Monja tibetana, Ani Sherab, 42, budista desde os 18, acha que o daime é "algo sagrado do qual muitos fazem uso profano". "As pessoas devem ter um preparo antes, durante e depois de tomar o chá", diz ela, que é usuária da bebida.

Ani coordena a escola de budismo tibetano Dag Shangpa Kagyu, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. Diz que não buscou o daime. "Conheci por intermédio de um daimista que fazia um trabalho de prática de budismo comigo."

Ela conta que viu na doutrina algo autêntico e decidiu investigá-la. "O Santo Daime se utiliza de uma linguagem teísta, enquanto o budismo é o contrário. Mas não enfrentei resistência", diz a monja. Ani descreve a experiência como uma "visão do passado, do futuro e dos sonhos".

Questionada sobre qual a colaboração do daime em sua busca espiritual, a monja diz que, para ela, o chá "oferece mais clareza para expressar e reconhecer a verdade". "Com o daime, recebo muitas bênçãos e ensinamentos dos budas."

Mas Ani está em dúvida se continuará a usá-lo. Por isso, diz que irá consultar o rinpoche (título que significa precioso e, geralmente, é dado aos grandes mestres do budismo tibetano) Nanka Norbu, que deve vir ao Brasil neste mês. O mestre decidirá por ela.

Lama Tsering, 53, do budismo vajrayana, coordenadora do templo Odsal Ling, em São Paulo, diz que "não há regras fixas no budismo, mas é fortemente sugerido que se evite qualquer substância que altere a percepção".

Apesar de ser comum entre as religiões orientais a reverência aos mestres, nem todas funcionam assim. Líderes das comunidade hare krishna, por exemplo, desaprovam o daime, mas não negam que alguns membros consumam o chá.

Chandramukha Swami, 50, autoridade espiritual dos hares em São Paulo e no Rio, diz que a crença exige padrão elevado de conduta e comportamento. Mas, no meio do percurso, alguns podem ter dificuldade e buscam alternativas, como uma "bengala".

Nem todos os fiéis concordam. Pariksit Dasa, 45, vendedor; Pandita, 51, professor de português; e o motorista Rama Parsua, 40, já participaram de rituais de daime fora dos templos hare krishna e fazem uso esporádico da bebida.

"O daime leva a um outro estágio de consciência. É uma comunhão com a natureza", diz Pariksit. "Ele reforçou a minha fé e compreensão."

Para o professor Pandita, Krishna se revela de formas diferentes, dependendo de cada povo e de cada cultura. "O daime pode ser uma delas." Pariksit diz que faz uso esporádico do chá em casa. "Busco a ayahuasca para cura física e emocional."

Rama Putra, 42, ex-administrador da fazenda Nova Gokula, a maior comunidade hare krishna do Brasil, explica que a prática de mantras e ioga entre os hares não requer nenhum elemento externo para complementá-la. Mas, se algum hare krishna, fora dos templos, resolver tomar o daime, ele não será excomungado nem excluído, afirma Rama.

Na cultura da Índia antiga, continua ele, métodos de elevação espiritual, tais como os shivaistas, seguidores do tantra, faziam uso da maconha. "O problema é que muitos se aproximam desses processos para uso pervertido. Não para elevação espiritual, mas para o gozo egoísta dos sentidos."

Uma das características das crenças que proliferam pelos grandes centros é a valorização da experiência individual como forma de negar as instituições. "É uma mudança até na percepção de Deus, que cada um pode buscar dentro de si", diz o antropólogo Silas Guerriero, 49, do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da PUC-SP. "Se a verdade está dentro dele, o uso de elementos simbólicos e importados é apenas um meio." O sociólogo Antônio Flávio Pierucci, professor da USP que pesquisa religião, avalia que, hoje, há uma tendência à imitação entre as religiões. Na tentativa de competirem umas com as outras, elas acabam se anulando, copiando fórmulas e formatos e, com isso, perdem sua verdadeira identidade. "É como ocorre no comércio alimentício. Tem o McDonald's e o Bob's", diz. "Isso ocorre porque é muito fácil mudar de religião hoje em dia, sob o marketing intenso na TV e, principalmente, na web."

Segundo o professor, por curiosidade, muitos fiéis acabam procurando essas novas religiões sem motivo e desconhecendo as distinções entre uma e outra. "No fundo, todas alegam que Deus é um só. Mas, na verdade, o que existe é uma guerra entre deuses."

Santo Daime

a origem
O movimento religioso do Santo Daime começou no interior da floresta amazônica na década de 30, com o maranhense neto de escravos Raimundo Irineu Serra (1892-1971). Ele teria passado por uma epifania e recebido a revelação de uma doutrina depois de tomar o chá de ayahuasca, chamado pelos índios de "vinho das almas" ou "vinho dos mortos", na língua quéchua .

O seringueiro, que ficaria conhecido como mestre Irineu, recebeu a revelação de uma senhora que ele identificou como a Rainha da Floresta, entendida mais tarde como a Virgem da Conceição ou Nossa Senhora da Conceição .

Ninguém sabe ao certo quem foi o primeiro povo a preparar e a beber o daime de forma ritualística. Há registro de seu uso por cerca de 80 tribos amazônicas. Ele também é usado no Peru, na Bolívia, no Equador, na Colômbia, na Venezuela, bem como por povos do México pré-colombiano .

No início dos anos 40, mestre Irineu fundou no Acre o Centro de Iluminação Cristã Luz Universal Alto Santo, pioneiro da doutrina do Santo Daime
O nome Santo Daime surgiu das invocações feitas antes de tomar o chá: "dai-me luz, dai-me força, dai-me amor" .

o preparo do chá
De origem indígena, a ayahuasca é preparada de forma ritualística. O chamado "feitio" é obtido a partir da mistura de duas plantas.

As mulheres colhem e limpam, uma a uma, as folhas de chacrona (Psychotria viridis), também conhecida como rainha, apresentada como a "energia feminina" do chá, que traz a luz para o daimista .

Os homens cortam, limpam e maceram o cipó jagube (Banisteriopsis caapi), a "energia masculina", para depois misturá-lo às folhas de chacrona. Durante todo o processo, todos entoam hinos .

Depois de misturados, cipó e folhas são fervidos por cerca de 12 horas em grandes panelas, numa fornalha, antes de serem acondicionados em garrafas, muitas vezes, expostas diante de fotos do fundador da comunidade .

O preparo pode durar semanas ou mais de um mês. É ininterrupto porque há turnos de fiéis trabalhando.

O Brasil permite o consumo da ayahuasca apenas em cerimônias religiosas. Apesar de ter seu cultivo, preparo e uso garantidos pela Constituição Federal, o daime é considerado uma substância psicoativa (ou alucinógena)

a doutrina
O Santo Daime é uma doutrina apoiada no catolicismo popular, mas também tem entre suas matrizes a pajelança indígena e cabocla, a presença espírita kardecista e elementos afro-brasileiros .

Os hinos do mestre Irineu têm forte ênfase nos ensinamentos cristãos e numa nova leitura dos Evangelhos à luz do Santo Daime, para afirmar, nos tempos de hoje, os mesmos princípios de amor, caridade e fraternidade. Antes e depois do ritual são rezados o pai-nosso, a ave-maria e a salve-rainha, além de orações de origem esotérica e espírita, entre outras rezas .

as propriedades
Os adeptos da doutrina afirmam que o chá tem propriedades que promovem a expansão da consciência. Atualmente, emprega-se o neologismo "enteógeno" ("aquilo que gera a experiência interna do Divino") para classificá-lo .

A idéia é que a maioria das pessoas está ''entupida'' demais com as preocupações cotidianas e materiais para ter uma experiência direta com o espírito .

O daime abriria essa porta, mas, muitas vezes, é necessário fazer antes uma "limpeza". Por isso, acreditam, é possível que, em algumas ocasiões, mesmo os adeptos mais experientes, vomitem ou tenham fortes diarréias durante os rituais, que podem se estender por até 15 horas. Também são freqüentes crises de choro ou de riso .

Fontes: Edward MacRae, antropólogo, professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia); Gê Marques, cientista da religião, do grupo de estudos religiosos da PUC-SP; e Wladimyr Sena Araújo, antropólogo e historiador, autor de "Navegando sobre as Ondas do Daime - Historia, Cosmologia e Ritual da Barquinha" (editora Unicamp)

Busca por Saberes da Selva tem Relação com a Crise Ecológica
por Henrique Carneiro
Muitos fenômenos religiosos atuais vêm se caracterizando por traços de purismo, fundamentalismo e intolerância. Nesse sentido, é reconfortante ver que no Brasil, como já ocorrera com o fermento do misticismo afro-brasileiro, repete-se nas últimas décadas, a partir de uma matriz de origem indígena amazônica -a dos cultos da ayahuasca-, um processo de mestiçagem cultural que vem dando origem a diversas formas híbridas de religiosidade, marcadas por grande permeabilidade e plasticidade, onde divindades diversas convivem sem maiores atritos.
O psicólogo William James, em 1902, já identificava na força da ebriedade o poder de estimular as faculdades místicas nos homens. Assim como o vinho de uva acompanhou a difusão da cristianização, um outro vinho, desta vez indígena, o ''cipó das almas'' (uma das traduções possíveis da palavra ayahuasca, de provável origem quéchua), vem sendo o veículo psicoativo sagrado de um xamanismo abrasileirado com traços caboclos que alcançou abrangência global. Não são apenas os cultos televangélicos das igrejas da prosperidade material que o nosso país tem exportado para todo o mundo, mas também as religiões ayahuasqueiras em suas múltiplas ramificações.
A mais conhecida é o Santo Daime, que, nascida no Acre na década de 1930, alcançou os centros urbanos desde os anos 80 e, uma década mais tarde, já possuía adeptos organizados em países que iam do Japão aos da Europa. A União do Vegetal (UDV) notabilizou-se ao obter um reconhecimento oficial da Suprema Corte dos Estados Unidos, em 2006, para a sua sucursal no Estado do Novo México.
A importação das religiões orientais, especialmente o budismo e o hinduísmo, já havia marcado a contracultura juvenil dos anos 60, trazendo uma ampliação da influência desses cultos que extravasou o campo de sua devoção estrita para incorporar elementos mais amplos na cultura de massas ocidental, tais como o vegetarianismo, a meditação, as técnicas de ioga, o uso de incensos e de substâncias psicodélicas.
Da mesma forma, também ocorreram processos de vulgarização e mercantilização desses cultos, que a escritora indiana Gita Mehta denominou ironicamente de ''carma-cola'', e uma próspera economia do êxtase, da meditação e da busca da salvação cresceu tanto na própria Índia como nos países ocidentais -o que deve servir como alerta para os espíritos mais céticos dos riscos de um reencantamento do mundo que também pode ser burocrático e mercantil.
Se o Brasil emerge hoje como nova meca de um impulso de devoção alternativa e de busca dos saberes arcaicos da selva, com o uso de plantas de poder descobertas pelo xamanismo amazônico, isso não é dissociável da expansão de uma nova consciência global diante da crise ecológica, da destruição da floresta e do esgotamento de um modelo agroindustrial insustentável.
O fato de essa cultura de origem xamânica estar hoje sincretizada com várias outras tradições religiosas e de ter como seu denominador comum o uso da ayahuasca pode ter uma rica influência na constituição de novas formas de religiosidade, com a esperança de que mantenham o apreço pela tolerância, algo que se enraíza na luta contra preconceitos, tabus e perseguições que essas religiões tiveram de travar, como também ocorreu em tempos não tão distantes com o candomblé e a umbanda, tanto diante do Estado como das grandes religiões, já consagradas.
Henrique Carneiro é professor no departamento de história da USP e autor de ''Pequena Enciclopédia da História das Drogas e Bebidas'' (Campus/Elsevier).