Psicodélico: fevereiro 2009

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Timothy Leary's - Last Trip - 1997


Timothy Leary's - Last Trip


Autor, educador e filósofo Dr. Timothy Leary foi muito polêmico ao longo de sua vida, por isso não foi nenhuma surpresa da forma que escolheu morrer. Last Trip é um documentário de sua vida e carreira, de seus dias em West Point através de seus anos como um guru do LSD.
Formato: Rmvb
Áudio: Inglês
Legenda: S/Legenda
Tamanho: 264 Mb
Duração: 56 Minutos

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Entrevista com Govert Derix, holandês autor de livro sobre a UDV




Alto das Estrelas - Onde você fez a sua pesquisa para o seu livro “Ayahuasca, uma crítica da razão psicodélica“?


Govert - Estive no Brasil em 2001 e em 2003, onde bebi vegetal no Centro Espíríta Beneficente da Ordem do Templo Universal de Salomão (OTUS), no Núcleo Cajueiro em Cascavel (Ceará), no Núcleo Estrela do Norte em Porto Velho (Rondônia), e em um pré-núcleo em Rio Branco (Acre).


Alto das Estrelas - O que é a OTUS?


Govert - Na época a OTUS era um grupo de mais ou menos 600 hoasqueiros ligado ao Mestre Gabriel mas independente da UDV [Centro Espírita Beneficente União do Vegetal - CEBUDV]. A OTUS se intregrou a UDV no ano 2004. Acho que o Núcleo Estrela do Norte virou o Pre-núcleo Templo de Salomão. Em 2001, também fiz entrevistas com mestres da UDV em Fortaleza (Ceará), do Núcleo Tucunacá. No mesmo ano frequentei também vários rituais do Santo Daime (Cefluris) no Céu da Flor da Canoa, em Canoa Quebrada (Ceará). E dois anos depois, pesquisei o grupo daimista Céu da Terra da Luz, em Cascavel (Ceará). Nesta época, também fiz entrevistas com Hans Bogers, o fundador de Santo Daime na Holanda, em La Haya, e com Arno Adelaars, que organizou rituais indígenas em vários lugares na Europa. Participei de sessões organizadas por Arno com xamãs da América do Sul na Holanda, como Hilario Chiriap do Equador (Shuar) e Kajuali Tsamani da Colômbia (Kofan).


Alto das Estrelas - Você chegou a se filiar em algum destes grupos?


Govert - Não. Tenho muita afinidade com a UDV mas também sinto que como filósofo e escritor tenho que manter uma certa distância. Mas quem sabe que um dia vou me filiar… Aliás, pessoalmente acho uma pena que a OTUS não exista mais na maneira que conheci, pois com eles me senti muito ‘em casa’.


Alto das Estrelas - Porquê?


Govert - Porque tinha a imagem que era uma coisa simples, bem próximo à União dos dias do fundador José Gabriel da Costa nos anos ‘60. Por outro lado, sei que é impossível retornar para o passado.


Alto das Estrelas - Quais as principais diferenças que você vê entre estes diversos contextos de uso da ayahuasca (UDV, daime, sessões com xamãs na Europa)?


Govert - Vejo os contextos da UDV e do Santo Daime como complementares. Na UDV há uma ênfase no auto-conhecimento e na auto-pesquisa. No Santo Daime a ênfase parecer ser o grupo, a ‘corrente’, o movimento do grupo na dança etc. Mas isso não quer dizer que a irmandade na UDV não é importante. Ao contrário: de certa maneira, a irmandade é o ponto mais crucial na União. Vejo a complementariedade da UDV e do Santo Daime como dois triângulos. Na UDV o ponto de partida é o indivíduo, e dali para a doutrina, a prática fiel, a irmandade, o plano superior, etc. No Santo Daime, o ponto de partida é o coletivo (base do triângulo) é dali para o indivíduo como ‘aparelho’ do divino.


Alto das Estrelas - E o xamanismo na Europa?


Govert - Contém muita coisa. É super interessante, mas tambem é impossível dizer o que é autêntico. O único critério que faz sentido é o da sinceridade. A gente pode sentir se um xamã (ou um mestre, um padrinho) tem uma relação verdadeira com a ayahuasca, ‘o professor dos professores’. Ao mesmo tempo, é uma ilusão pensar que existe um xamanismo ‘original’. Uma “volta para a natureza ou para o xamanismo” não faz sentido, mas o que pode ter um grande valor é o movimento pra frente, para uma nova relação com a ‘natureza’ e uma re-invenção de um xamanismo vital. Apesar dessa noção dinâmica, gosto de crer que existe por trás de tudo uma estrutura ou matriz eterna. Por um lado, às vezes sinto - ou até percebo - que nas camadas mais profundas da realidade tem um complexo de significações universais. Por outro lado, mesmo uma volta para estas camadas (seja na luz da ayahuasca ou como uma filosofia que se entende com “arqueologia”) sempre tem o ‘aqui e agora’ da minha mente como ponto de partida. Ver e perceber isso significa entrar em contato com a essência do fenômeno do tempo.


Alto das Estrelas - Qual é a principal importância da ayahuasca para a filosofia?


Govert - A ‘experiência’ é um dos conceitos mais problemáticos da filosofia ocidental, criando o abismo entre ciência e espiritualidade. Vejo a ayahuasca como veículo para re-ligar ciência, espiritualidade e filosofia. Era a antiga ambição do Rei Salomão. Para entender o sentido da vida tenho que me conhecer (ciência), entender (filosofia) e amar (religão).


Alto das Estrelas - Como você explica no seu país, a Holanda, o que é a ayahuasca?


Govert - Digo que é um espelho que mostra a você quem você é e pode ser. Ela dá a luz do conhecimento e a força de transformar o auto-conhecimento em ação e crescimento. A palavra chave de do filósofo Nietzsche (”Ser quem você é”) para mim tambem é a palavra chave da hoasca.


Alto das Estrelas - O que são as ‘pharmahuascas’ e qual é a sua disponibilidade nas smart shops de Amesterdã? É verdade que vendem também ayahausca aí?


Govert – Pharmahuascas são substâncias quimicamente parecidas com a ayahuasca, ou ao menos com o seu principal mecanismo químico: o transporte da DMT para o cérebro pela harmina e harmalina. Não sou especialista nessa área, mas através das palestras do pesquisador Jace Callaway entendo que esse mecanismo não é o único que determina o efeito do chá; o efeito é produto de uma complexa rede de relações que a ciência só agora está começando a vislumbrar. Segundo relatos que ouvi, o efeito das pharmahuascas — que nunca experimentei – parece ser radicalmente diferente da ‘burracheira’. No mundo atual, quase toda farmacopéia (natural é sintética) pode ser comprada pela internet or nos smart shops, não só em Amesterdã. Basta consultar o ‘google’ e você pode receber as plantas em casa. O que eu acho disso? Para mim, a ayahuasca está sempre conectada a um ritual e com pessoas de confiança. Sou a favor da acessibilidade para todos, mas também sou do tipo o ‘último romântico’ que não confia muito no espírito comercial no campo do espiritualidade.


Alto das Estrelas - Você afirma que a ayahuasca pode ser um poderoso agente de autoconhecimento e trazer mudanças significativas na vida das pessoas. Como você junta o reconhecimento destes benefícios com o dado de realidade das constantes ivalidades e disputas existentes no campo ayahuasqueiro?


Govert – O impulso principal para gerar uma eventual mudança é a descoberta da paisagem psicodélica: a mágica e o impacto da primeira vez, do primeiro momento no qual a pessoa vê que existe este território “maravilhoso”, que é em grande parte uma terra incógnita (para a pessoa, para a ciência, para a sociedade). Depois tudo depende de como você vai se orientar nessa paisagem, o que você vai fazer com os ‘insights’, como você vai transportar as descobertas do mundo interior para o seu comportamento no mundo exterior. O mundo da ayahuasca é tão rico, diverso e talvez contraditório como o panorama do ser humano. Aliás, muitas pessoas esperam (principalmente sob influência do impacto do primeiro contato) que a ayahuasca seja um agente com poder de melhorar o mundo. Muitos novatos sentem essa grande esperança, esse sentido de uma missão tremenda, mas muitos ayahuasqueiros descobrem ao longo da sua jornada que melhorar o mundo é uma coisa bem mais suti, que tem muito mais a ver com a tentativa de ser um ser humano sincero e integral no dia-a-dia. Para mim, o chá não é um ‘panacéia’ para transformação, mas si um aliado que mostra a você o que você poderia transformar. Então de onde surgem as rivalidades e as diferenças de interpretação? É um assunto difícil e delicado. Porque tem tantas derivações dentro do cristianismo? Talvez porque quando o homem tenta trazer o divino para o plano humano, o resultado muitas vezes é… humano.


Alto das Estrelas - Segundo seu livro, o ‘nothingness’ (o vazio, o ‘nada’) seria o centro dos mistérios religiosos, o ponto em que a realidade desaparece e surge a sabedoria. O que você quer dizer com isto?


Govert – Como acontece na meditação, na burracheira você pode descobrir e ver que a sua mente é principalmente um campo de manifestações mentais de diversas origens (pessoal, coletivo, animal, até vegetal e mineral). Existe a possibilidade de que o ‘ego’ temporariamente morra. Penso que este vazio, que é a fonte de todas as manifestações mentais e também de toda a criatividade, é no final das contas o eixo (abertamente ou escondido) de todas as religiões e de toda atividade que re-conecta o ego do dia-dia com esse centro. O ego é como um planeta que circula um sol e recebe sua vida da estrela central. Com a ayahuasca, e outras ‘tecnologias’ xamânicas ou religiosas você ganha um insight nesta constelação e pode ter a luz e a força de ‘calibrar’ a relação entre o ego e o ‘self’. O que é o ‘self’? É como o sol que eu não posso enxergar diretamente, mas que é necessário existir para que eu possa enxergar.


Alto das Estrelas - Como vê a expansão da UDV para o exterior, considerando que o grupo considera o português como uma espécie de idioma sagrado?


Govert - O português é crucial para aprofundar o entendimento da UDV, como o alemão é crucial para entender Kant ou Heidegger ou o holandês para penetrar na poesia de Slauerhoff. Acho fascinante a ‘etimologia’ como praticada na UDV e vejo as chamadas como verdadeiras catedrais sinestésicas. Ao mesmo tempo penso que o significado da palavra “palavra” como é visto na UDV (qual seja: “pai”-“lavra”: a palavra como instrumento e manifestação do “pai divino”) também vale para outros idiomas. Na luz de ayahuasca, e na espiritualidade em geral, cada idioma pode e deve ser vivido como algo divino.


Alto das Estrelas - Porque a sua obra permanece desconhecida no Brasil?


Govert - Porque não tem uma tradução em Português - ainda não. A única coisa que publiquei em portugues é uma reportagem na Revista Planeta, algums anos atrás (clique aqui para ler). Parece que publicar no Brasil não é fácil; ouvi até dizer que é uma espécie de “ato heróico”… Mas, quem sabe, um dia conseguirei uma editora brasileira interessada em publicar meu livro no ‘idioma dos anjos’? Para facilitar, eventualmente poderia investir na tradução.


Alto das Estrelas - Espero que consiga. Seria muito bom.


Para entrar em contato com o autor: govert@derixhamerslag.nl

Livro em alemão e holandês sobre a ayahuasca



Divulgo aqui a obra de Govert Derix, que permance desconhecida no Brasil, “Ayahuasca. Uma critica da razão psicodélica. Aventura filosófica na região amazônica”. O livro aborda, entre outros, o Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (UDV).

Versão em alemão: Derix, Govert. Ayahuasca. Eine Kritik der psychedelischen Vernunft. Philosophisches Abenteuer am Amazonas. Solothurn, Nachtschatten Verlag, 2004.
Versão em holandês: Derix, Govert. Ayahuasca. Een kritiek van de psychedelische rede. Avontuur in het Amazonegebied. Amsterdam/Antwerpia, De Arbeiderspers, 2004.
Resumo:

Desde tempos imemorais os índios da Amazônia bebem o chá ayahuasca. Na nossa era o chá esta ficando mais e mais conhecido também fora da América Latina, não somente como a substância psicodélica ‘par excellence’, mas também como medicamento para tratar vícios e como ‘aliado’ no processo da procura de si. O filosófo Govert Derix bebeu a ayahuasca pela primeira vez em 1990, numa sessão da União do Vegetal, no Núcleo Tucunacá, em Icaraí, Fortaleza. As suas experiências com ayahuasca formam a inspiração da elaboração de uma crítica da filosofia racionalista.

Ayahuasca, uma crítica da razão psicodélica é o relato do seu processo de aprendizagem onde as grandes questões filosóficas sobre a posição do ser humano no universo (”O que posso saber?” “O que deve fazer?”, “O que posso esperar?”) - mais que 200 anos após a Crítica da razão pura de Immanuel Kant - ganham uma nova perspectiva à luz do ‘chá misterioso’. Tentando entender o universo de ayahuasca, o autor recorre também a outras pessoas (dentro e fora do Brasil) para quem a experiência com ayahuasca levou a uma signifiticativa mudança de vida.
Ayahuasca, uma crítica da razão psicodélica, é uma mistura de filosofia, jornalismo, autobiografia e crítica cultural.

Sobre o autor:
Govert Derix nasceu em 1962 nos Países Baixos. Em 1987 obteve o título de Mestre em Filosofia na Universidade Real de Utrecht. É filósofo, escritor, consultor de communicação e diretor de uma empresa de publicidade, a Derix*Hamerslag. Publicou diversos livros sobre as implicações filosóficas da economia de rede, e é especialista em ‘novos tipos de organização de empresas’, em parte inspirado pelas idéias do brasileiro Ricardo Semler. Também trabalha para o projeto ‘Hospital do Futuro’, na cidade Sittard, na Holanda, para qual escreveu três livros, construindo uma base filosófica para este projeto exemplar. Em 1980 visitou pela primeira vez o Brasil e desde 1989 é casado com a artista plástica brasileira Jacqueline Machado de Souza [veja sua exposição atual na Antwerpia, Holanda, aqui], com quem tem dois filhos. Em 1990 conheceu a ayahuasca através do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (UDV), em Fortaleza (CE). Desde então, começou a estudar a ayahuasca e principalmente as implicações filosóficas do estado da ‘burracheira’ [termo usado dentro da UDV para denominar o efeito da ‘hoasca’], sobre a qual escreveu artigos e deu palestras. Em 2004 foi lançado simultaneamente na Holanda e na Alemanha o seu livro Ayahuasca - uma crítica da razão psicodélica, para o qual entrevistou ayahuasqueiros no Brasil e na Holanda. A tese da obra é que a experiência com a ayahuasca pode dar uma nova base para entender e viver as grandes questões da filosofia como a identidade da pessoa, a base da moral (existência de um código universal), o fenômeno do tempo, a relação com o outro, a relação entre ciência, espiritualidade e filosofia, e o impacto de um ‘aliado’ (Mestre de Si) no processo da vida.
Para entrar em contato com o autor: govert@derixhamerslag.nl