Psicodélico: outubro 2011

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

[DOWNLOAD] Irmão de Sangue - Leaves Of Grass


Norton interpreta papel duplo – de gêmeos idênticos. Um é professor de filosofia; o outro, um negociante e cultivador da querida maconha. Este envolve-se no assassinato de um traficante e acaba colocando o irmão intelectual na jogada.

É lindo ver o cultivo 'profissional' do cara !

Ainda mais logo no começo do filme quando pega uma enorme flor e diz :

"Como podem chamar isso de substância controlada ?

Olhe para sua estrutura imponente.

A densidade cristalina.

O cheiro de entorpecêndia.

Não se pode sintetizar isso.

É o sistema de distribuição de excelência da natureza, destilada da forma mais pura, desliza pela sua barriga e se irradia em sensação de paz, nesse mundo cheio de maldades. "

INFORMAÇÕES:

Áudio: Inglês
Legenda: Português
Tamanho: 699 MB
Formato: AVI
Qualidade: DVDRip

Release: Leaves.of.Grass.2009.LIMITED.DVDRip.XviD-AMIABLE

Ano de Lançamento: 2010
Gênero: Comédia, Drama

Direção: Tim Blake Nelson
Elenco: Edward Norton, Keri Russell e Henry Max Nelson

Filme -> http://www.fileserve.com/file/NV2JezM

Legenda -> http://filmeshunter.com/wp-content/uploads/Legendas/FilmesHunter.com-leaves.of.grass.zip

Trailler -> http://www.youtube.com/user/filmeshunter?feature=mhum#p/f/0/IvUS9515QhY

domingo, 16 de outubro de 2011

[DOWNLOAD] Liquid Sky - 1982




SINOPSE
Alienígenas invisíveis em um disco voador minúsculo vem para a Terra à procura de heroína. Eles pousam no topo de um apartamento em Nova York habitada por um traficante e sua mulher, andrógena, amante ninfomaníaca bissexual e modelo. Os alienígenas em breve encontram os feromônios humanos criados no cérebro durante o uso da heroína, e o modelo disso é o sexo casual, mas seus parceiros começam a desaparecer. Este cenário cada vez mais bizarro é observado por uma mulher sozinha no prédio do outro lado da rua, um cientista alemão que está seguindo os estrangeiros, e uma andrógena, viciada em drogas, do sexo masculino, igual ao outro andrégeno. (Ambos os modelos são interpretados por Anne Carlisle, em um duplo papel.) Enfim... Completamente estranho.

DADOS DO ARQUIVO
Diretor: Slava Tsukerman
Audio: Inglês
Legendas: PT-BR
Duração: 112 min
Tamanho: 370 MB
Formato: RMVB
Qualidade: DVDRip
Servidor: Megaupload

LINKS
Parte única

[DOWNLOAD] Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock'n'Roll


Photobucket
A união de dois dos mais respeitados – e bem humorados – talentos dos quadrinhos e da animação do país teve como resultado o divertido desenho animado gaúcho em longa-metragem Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock'n'Roll. O desenhista de animação Otto Guerra diretor de Rock & Hudson (longa que falou de caubóis gays muito antes de O Segredo de Brokeback Mountain), da vida aos personagens de Angeli, cartunista dos mais conhecidos em todo o país, criador de uma vasta galeria de personagens inesquecíveis. Com Otto na animação e na direção, e Angeli no desenvolvimento dos personagens, o longa é um imenso sucesso.

A trama mostra com muito bom humor um grupo de personagens que, como se diz, “foram até Woodstock a pé e estão voltando só agora”. Ou seja, aquelas pessoas que curtiram todas as loucuras do movimento hippie dos anos 60, mas ainda não perceberam que – infelizmente – o mundo mudou. Agora, gordos, velhos, e deprimidos, Wood, Stock, Rê Bordosa (dublada por Rita Lee) e Meiaoito, entre outros, não conseguem se adaptar ao século 21.

Baseado em personagens de Angeli, tem ares de crônica sobre o mundo urbano e é filme de uma personalidade: Otto Guerra. Ele é um diretor gaúcho, louco por desenho animado, autor de pencas de obras que só raramente saem do circuito underground. Portanto, esqueça as tirinhas publicadas nos jornais – o filme é outra coisa – e se prepare para ver o mais furioso e divertido ataque já feito por um brasileiro aos desenhos animados convencionais.

Deixa de lado, inclusive, os personagens de Angeli que você já conhece. A estrela do longa é o porco Sunshine, vocalista da banda Chiqueiro Elétrico, com participação modesta na trama mas que rouba a cena cada vez que aparece. O filme conta a história de Wood, um hippie que, por excessos, cai duro, numa festa, nos anos 1970, e acorda nos dias de hoje. Reencontra o amigo e também hippie Stock. Como a mulher sai em viagem de recuperação espiritual e, pressionados a fazer alguma coisa na vida, a dupla sai pela cidade em busca dos integrantes da banda que tinham quando jovens.

No caminho, cruzam com Rê Bordosa, o Rhalah Rikota, os Skrotinhos entre outros. Até chegam a tocar na televisão, mas depois de seqüestrarem Roberto Carlos, o que foi tramado por Nanico e Meia Oito, dupla de revolucionários herdeiros da esquerda armada dos anos 1960. É gibi audiovisual e com imagens em movimento, cuja trama tem ares de crônica sobre o mundo urbano (e um ousado curta antes do filme só aguça esse aspecto).

E, especialmente, coisa do Otto Guerra: cinema independente, animação de autor, com amplos espaços para o visual e gosto por desenho expressivo, seduzido por personagens e histórias que possibilitem fazer do desenho animado algo especial. Tudo é muito divertido mesmo quando o ritmo cai ou as piadas, verbalizadas, não rendem tanto quanto o esperado.

A graça vem mesmo das ações da maior tribo de malucos já reunida por centímetros de tela. É filme imperdível para quem gosta de cultura pop e afins. Em tempo: a dublagem de Rê Bordosa, quem faz é Rita Lee, e a voz de Raul Seixas, é de Tom Zé. O filme foi realizado com apoio de programas voltados para filmes de baixo orçamento. Consumiu cinco anos de trabalho, devido a dificuldades patrocínio para obra cujo tema é, digamos, sexo e orégano.

“Com todos seus defeitos, Wood & Stock vai ser um divisor de águas no cenário da animação feita no Brasil. Estamos finalmente entrando na segunda infância e buscando uma cara própria para nossos filmes, que são baratos e cheios de espírito. Já fazemos isso, há algum tempo, nos curtas, mas o longa é um passo adiante”, conta o diretor.

No espírito do filme como os realizadores afirmam no material de divulgação do longa, só faltaram mesmo os Mutantes (Sérgio Dias teria pedido os cobres para liberar as músicas) para a trilha de Wood & Stock ficar completa. Como quem não tem cão caça com gato, foram incluídas faixas de vários colegas de Tropicália.

Rita Lee não somente empresta a voz a Rê Bordosa (o que lhe rendeu um inusitado prêmio de melhor atriz no Festival de Recife) como comparece no CD com "Hulla-Hulla", tirado do disco Build up, lançada por ela logo ao sair do grupo e "Eu Vou Me Salvar", que abre o longa-metragem. Já Arnaldo Baptista em fase solo comparece com "Woody Woodpecker".

Tom Zé dá as caras com "Um Oh! E Um Ah!". Júpiter Maçã é o ponto alto da trilha, servindo de música de fundo em vários momentos, com músicas de momentos diferentes de sua carreira. Tem várias de A Sétima Efervescência, como "The Freaking Alice (Hippie Under groove)", quase uma lição sobre cogumelos psicodélicos, e "Querida Superhist x Mr. Frog", mas também tem a maravilhosa "A Marchinha Psicótica de Dr. Soup", herdeira direta da psicodelia de Ronnie Von e das marchinhas ingênuas de Abílio Manoel - isso sem falar no hino "Um lugar do caralho".

FICHA TÉCNICA:

Gênero: Animação
Tempo de Duração: 81 minutos
Estúdio: Otto Desenhos Animados Ltda.
Distribuição: Downtown Filmes
Direção: Otto Guerra
Roteiro: Rodrigo John, com colaboração de Otto Guerra, Marta Machado, Tomás Creus e Lúcia Koch
Produção: Marta Machado

VOZES PRINCIPAIS
Zé Victor Castiel - WOOD
Sepé Tiaraju de Los Santos - STOCK
Rita Lee - RÊ BORDOSA
Tom Zé - RAULZITO
Michele Frantz - SUNSHINE
Felipe Mônaco - RAMPAL E RHALAH RIKOTA
Janaína Kremer - LADY JANE
Léo Machado - MEIAOITO
Antônio Falcão - SKROTINHOS
Otto Guerra - DR. KOSSERITZ
Heinz Limaverde - NANICO
Julio Andrade - OVERALL
Geórgia Reck - PURPURINA

VOZES ADICIONAIS
King Jim
Geórgia Reck
John’s
Getúlio da Boca do Disco
Antônio Falcão
Cláudia Meneghetti
Marta Machado
Cristiano Scherer
Frederico Eloy Messias
Bibiana Graeff
Rodrigo Rheinheimer
Matheus Walter
Cléo de Paris
Léo Machado

ARQUIVO:
Título: Wood e Stock Sexo Oregano e Rock n' Roll (Wood e Stock Sexo Oregano e Rock n' Roll)
Formato: AVI
Qualidade: DVD-Rip
Codec: XVID
Vídeo: 528 x 304, 29.970 fps
Áudio: 48.000 Hz, 134 kbps, Stereo
Tamanho: 800 MB
Idioma Áudio: Português

VIDEO









Parte 1




Parte 2




Parte 3




Parte 4





TRILHA SONORA:

(2006) Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock'n' Roll













01 - Um Lugar do Caralho - Júpiter Maçã
02 - Woody Woodpecker - Arnaldo Baptista
03 - Um Oh! E Um Ah! - Tom Zé
04 - Quando Você Me Disse Adeus
05 - Marchinha Psicótica de Dr. Soup - Júpiter Maçã
06 - Hulla-Hulla - Rita Lee
07 - Canção para Dormir - Júpiter Maçã
08 - Ferro na Boneca - Os Novos Baianos
09 - Paranormal - Matheus Walter
10 - Querida Superhist X Mr. Frog - Júpiter Maçã
11 - As Mesmas Coisas - Júpiter Maçã
12 - Chão de Estrelas - Panflute Simion Luca
13 - The Freaking Alice - Júpiter Maçã
14 - Eu Vou Me Salvar - Rita Lee


Nas Paredes da Pedra Encantada: psicodelia brasileira na tela grande!



Por Leonardo Lichote

Inscrições rupestres misteriosas, mitos indígenas, boas doses de psicodelia, uma busca para reconstruir as obscuras origens de uma lenda da música brasileira. O roteiro tem elementos que parecem moldados para a ficção, algo como um Indiana Jones lisérgico. Mas Nas Paredes da Pedra Encantada, filme de Cristiano Bastos e Leonardo Bonfim, é um documentário - um "road doc", como define Cristiano, que investiga a história do disco Paêbirú, de Zé Ramalho e Lula Côrtes, lançado em 1975.


"Há vários motivos para se falar de Paêbirú", defende Cristiano. É o disco mais caro do Brasil, sua última cotação está entre R$ 4 mil e R$ 5 mil, o dobro do Louco por Você, o primeiro de Roberto Carlos (existe uma edição pirata, em vinil, de Paêbirú, lançada na Europa, mas que não vem com o livro que acompanhava o original, trazendo estudos sobre a região e informações sobre a lenda do caminho da montanha do sol). "Mais que a raridade, ele é o fundador de uma psicodelia genuinamente brasileira, com elementos da cultura indígena. E sua história tem toda uma mística. Das únicas 1.300 cópias da prensagem original, 1.000 foram perdidas numa enchente no Recife", completa o cineasta.


Jornalista, Cristiano tomou contato com a fantástica história quando fez uma reportagem para a revista Rolling Stone sobre o disco. Quando percebeu que sua apuração poderia render um documentário, se lançou com Leonardo Bonfim na aventura de tentar reconstituir os fatores que permitiram o surgimento do álbum.

O termo aventura não é exagero. Cristiano morou entre Pernambuco e na Paraíba por três meses, investiu dinheiro do seu bolso no filme - atualmente em fase de montagem - e penou para encontrar seus personagens. Mais que isso, quase foi preso durante as filmagens. "Estávamos na cidade do Ingá do Bacamarte (município da Paraíba onde se localiza a Pedra do Ingá, onde estavam as inscrições que serviram de estopim para o processo criativo que gerou o disco), quando a polícia nos abordou, com vários carros e armas apontadas para nós. Estava havendo uma onda de assaltos a bancos na região, e eles acharam que éramos ladrões. Tivemos que ser libertados pelo prefeito, que sabia do projeto e colaborou com dinheiro para as filmagens".

O filme traz entrevistas com personagens como os músicos Lula Côrtes e Alceu Valença (que toca no disco), o arqueólogo Raul Córdula (que apresentou a Pedra do Ingá a Lula e a Zé Ramalho) e a cineasta Kátia Mesel (companheira de Lula então e sócia dele no selo Abrakadabra, que lançou o disco). As gravações registram muitos momentos musicais espontâneos e até cenas que reforçam as lendas do disco.


Zé Ramalho - que até hoje visita a Pedra e acredita que extraterrestres estão por trás de suas inscrições - não dá depoimento para o filme. Mas autorizou os diretores a usar todas as músicas para contar a história. "Existe uma rusga entre Zé e Lula, e ele preferiu não falar sobre o álbum. Mas todos no filme falam dele com muito carinho", nota Cristiano. "Apesar de negar a entrevista, Zé foi gente fina, fez um documento liberando a música".

Segundo os diretores, o cantor se pergunta por que não falaram do disco quando ele foi lançado (o álbum foi completamente ignorado na época). "Aquilo foi muito decepcionante. Além de tudo, Zé Ramalho considera a obra que ele fez solo, posteriormente, muito mais importante", emenda Cristiano. Como o disco tinha um aspecto coletivo, ele ali não tem o peso de ser o portador da mensagem, é só mais uma das vozes.

Mesmo antes da finalização, os diretores já receberam convites para apresentar o filme em festivais. "Nosso desejo é estrear no É Tudo Verdade", diz Cristiano. "Seria ótimo também ter a exibição na TV, num espaço como o Canal Brasil". Para tanto, eles contam com a força da história. E os poderes de Sumé.

(agradecimento especial ao leitor Izaias Arruda pela dica)

Surfista e mestre da videoarte, Gary Hill fala de sua mostra em SP e dos poderes do LSD


FONTE : Revista TRIP


Gary Hill, hoje à beira dos 60 anos, atribui ao LSD a sua carreira de artista. Preocupado em lidar com a imagem (apesar de se dizer contra ela), Hill dedicou-se a criar instalações e projeções que lidam com a relação entre texto, vídeo e as diferenças entre as pessoas.

Começou a carreira esculpindo e se voltou ao vídeo nos anos 70. Nos anos 1980 deu início ao ensino de vídeo na Cornish College of Arts, em Seatlle (estado de Washington). Mesclando linguagens, fez parte de uma performance com Damaged Goods (companhia de dança da coreógrafa e dançarina americana Meg Stuart).

Em São Paulo, o MIS (Museu da Imagem e do Som) inaugura a exposição Circunstâncias, que apresenta cinco trabalhos de Gary Hill. Californiano de nascença e surfista por hobby, Hill começou a entrevista com a Trip falando sobre a exposição, mas acabou indo além: revelou seu lugar preferido para surfar e contou que ainda tem vontade de experimentar com LSD.

O que as obras apresentadas no MIS têm em comum? Por que você as escolheu para essa exposição?
Bom, tem a ver com otherness [diferença], o outro, o estranho espaço do outro, seja o de alguma outra pessoa, seja em mim, e o outro desconhecido.


Foi por isso que escolheu trazer a obra sobre os latinos, os mexicanos?

São quase todos latinos, dois afro-americanos. É mais sobre estranhos, algo que você experimenta quando está andando na rua e vem alguém na direção oposta e muitas coisas vêm à nossa mente. Sim, [a obra] tem uma implicação social, não estou tentando evitá-la, mas se fosse fazer hoje, e fossem sobre pessoas que trabalham em Wall Street, haveria uma certa violência nisso [risos]. A atualidade dela depende do que está acontecendo no mundo política e socialmente, mas a noção fundamental para mim é o confronto com o desconhecido.

Como esse tema, o outro, apareceu para você, como ele chamou sua atenção?
Veio com a experiência dentro de mim e a habilidade de verbalizar veio da leitura do filósofo e escritor [francês] Maurice Blanchot. Você já se olhou no espelho e houve uma separação entre tempo e espaço e parece que é outra pessoa [no reflexo]? Não é uma ideia tão estranha assim, eu penso.

Imagem: Cortesia do artista e da Donald Young Gallery, Chicago

Imagem da instalação Viewer (1996)

Imagem da instalação Viewer (1996)

Vivemos em um mundo com muitos estímulos visuais, vindos da internet, da rua. Qual é o papel que a videoarte ocupa nesse contexto onde existem tantas fontes de imagens?
Para deixar claro: eu não me associo à categoria de videoarte. Mas, do jeito que você descreve, penso que a situação é um fluxo sem mediação, de aumento exponencial de imagens que, para mim, soa como um vírus. A maioria dessa imagens, metade delas, eu imagino, servem para vender. Vender pessoas, produtos, o que seja. E há também pessoas que se reúnem em comunidades virtuais e usam ferramentas baratas para criar coisas e ideias. Diferenciar um do outro é o que é difícil. Eu tendo a fazer o oposto disso, simplificar, desacelerar, minimalizar, usar pouca tecnologia.É assim que intervenho no fluxo de imagens. Num certo sentido, muito do meu trabalho é contra a imagem.

O que significa ser contra a imagem?
Em muitas obras as imagens são interrompidas, elas não ficam paradas em um lugar, são cortadas pela linguagem. Numa obra específica, Unconditional surrender, um trabalho minimal, há momentos em que a imagem de uma roda genérica, quase ideal, desaparece por causa de luzes muito brilhantes. Nesse sentido, toda a construção de um alguém olhando para uma imagem projetada, todo esse processo, é interrompido violentamente.

Você acha que a internet tornou os artistas mais visíveis ou banalizou a ideia do que é arte?
Provavelmente as duas coisas. Eu vi algumas das minhas obras no Youtube. É interessante 100, 200 mil pessoas vendo seu trabalho, fora de contexto, sem necessariamente saber de onde vêm, as intenções; elas fazem comentários, assistem. Por outro lado, elas [as obras] podem estar ao lado de virtualmente qualquer coisa, alguém cozinhando ou algo do tipo, então o contexto é um pouco distorcido dependendo de como alguém chega ali [na obra]. Não é como ir ao museu ou outro espaço onde sua intenção é olhar para algo, você se prepara sua mente para aquilo. Não é a mesma experiência.

Qual é a função da internet, então? Vi que você tem um canal no Vimeo com seus trabalhos.
A razão para eu ter esse canal é que recentemente dois amigos terminaram um livro sobre a minha obra. É um lugar para colocar algumas coisas às quais o livro se refere. Vou usar enquanto não tenho meu próprio site. Não gosto da natureza do Vimeo, do jeito que ele se enquadra, não me interessa muito.



Que tipo de equipamento você usa nas suas obras?

Geralmente, uso pequenas câmeras amadoras, algumas vezes semiprofissionais. Ocasionalmente uso alta definição, mas nunca profissionais. Eu gosto de coisas pequenas para poder executar as [obras] rapidamente. Gosto da habilidade de poder me mover rapidamente.

Então você deve gostar das câmeras menores, como a Flip

[Risos] Não é uma obsessão tentar ser "low-tech"! Não é uma questão de usar as melhores ou piores [câmeras]. Não se trata de resolução, de tecnologia. Trata-se de ideias.

A arte serve para alguma coisa?
Para a sobrevivência [risos]. Para a minha sobrevivência [risos]. Serve para as pessoas poderem brincar num campo de mistérios e coisas desconhecidas, com questões que talvez não possam ser respondidas. Acho que isso é a arte.

Alguma forma nova de arte vai surgir?
A forma da arte não é mais a questão. Desde a arte conceitual e da mistura entre performance e conceito que ocorreu nos anos 60, a ideia de arte de forma única e individual foi destruída. O que vai acontecer, basicamente é que vai haver mais interatividade, coisas com bio-nano-tecnologia, robôs... Acho que a tecnologia será mais usada como ferramenta para as ideias.

Você é um praticante de surf. Esse esporte serviu de inspiração para você?
Sim. Fiz dois trabalhos que foram baseados no surf [não estão na mostra do MIS]. Um se chamava "Learning curve" [Curva de aprendizado] e outro "Learning curve (still point)" [Curva de aprendizado (ponto estático)]". Fiz carteiras escolares, nas quais a mesa ficava a cinco metros da cadeira e e tinha quatro metros de largura, com uma leve inclinação. Num lado [da sala] havia uma tela de quase um metro, curvada, que projetava uma onda quebrando sem parar, uma onda perfeita. A ideia era opor prática e teoria. Mas também, o quão rápido se pode aprender algo, as curvas da onda, da cadeira. Na outra ["Learning curve (still point)], era a mesma cadeira, mas para canhotos. Quando eu era jovem isso não existia porque tentavam fazer com que todos fossem destros. Nesta, a mesa ficava ainda mais longe da cadeira, seis ou sete metros e ao invés de ser larga, ela terminava em um monitor de quatro polegadas que tinha a foto de uma onda quebrando de lado. Eu também costumava fazer esculturas há muito tempo com tela de arame, e fiz duas que eram ondas quebrando. Chamava-se "Point Conception", que é o nome de um lugar de surf famoso no norte da Califórnia.

Você ainda surfa?
Sim.

Imagem: Jean-Baptiste Rodde, Musée d’art contemporain, Lyon, France, 1994

Learning curve (1993)

Learning curve (1993)

Com que frequência?
Depende. De cinco a dez vezes por ano. Gosto de ir a um lugar, Hobock, uma reserva indígena no norte do estado de Washington. Lá, acampamos na praia. Também [vou] à Costa Rica ou México uma ou duas vezes ao ano. Na Califórnia, vou a Santa Barbara.

Qual seu lugar favorito para surfar?
Se pudesse ser só meu, Rincon [em Santa Barbara].

Você disse que a revista para a qual você trabalha se chama Trip?
Isso, como em "trip de surf".

O eco-surfing também teve muita influência no meu trabalho, assim como o LSD. Se a revista se chama Trip [que em inglês quer dizer "viagem" também]...

Imagem: Richard Nicol, Henry Art Gallery, Seattle, WA, 1994 – 95

Learning Curve (stillpoint)

Learning Curve (stillpoint)

Bom, como o LSD influenciou sua arte?
Eu provavelmente não seria artista se eu não tivesse tomado quando era bem jovem, com 15 anos. Comecei a pensar de uma maneira diferente. Algumas complexidades das coisas, padrões e temas... Quem toma, sabe [risos]! Mesmo nas questões das diferenças que mencionei antes, onde sua mente começa e termina... Isso ainda está bem vivo. Alguém pode dizer que o LSD é uma muleta, mas por outro lado, ele te dá uma uma experiência fenomenológica da mente. Ele realmente expande... [risos] Não sei explicar de outro jeito.

Você ainda usa?
Faz alguns anos que não, mas estou pensando em usar de novo.

Por diversão?
Não. Para fazer um inventário da minha mente. Eu adoraria ter um suprimento de LSD líquido que eu soubesse o quanto forte é e experimentar controladamente.

Foto: Jean-Baptiste Rodde, Musée d’art contemporain, Lyon, France, 1994
Foto: Jean-Baptiste Rodde, Musée d’art contemporain, Lyon, France, 1994
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Learning curve (1993)

AYAHUASCA: O "CONTEXTO XAMÂNICO"


    Gonzalo Vargas - Wipala

Ser Xamã não é apenas botar uma pena na cabeça e ficar tocando bombo sob o efeito de alucinógenos. Mas, infelizmente, é essa a impressão que passa para o público leigo, que não viveu essa cultura e que não aprendeu na escola o contexto espiritual e social de uma época perdida há várias e várias gerações.

Um exemplo mais urbano e próximo do Xamã seria o padre da cidadezinha de interior: ele conhece praticamente todo mundo da cidade, não só de vista, mas os seus problemas e anseios (através do confessionário), é respeitado como líder espiritual, faz sermões onde analisa o rumo da cidade e aponta onde precisa melhorar, e também traz conforto e orientação espiritual para quem se sente perdido, desviado de seu grupo social. No caso de um Xamã verdadeiro ele, além disso tudo, consulta os espíritos em busca de um norte para poder guiar seu povo, e cura para os enfermos. Aí entra, em seu contexto original, a Ayahuasca, o tabaco, o peiote e outras plantas de poder.

para que não haja dúvidas, vamos analisar duas tribos que fazem uso tradicional do Ayahuasca:

Primeiro, os Yawanáwa.

...a ayahuasca é consumida tanto no processo de iniciação como nas cerimônias de cura ou de agressão. A execução das rezas com fins terapêuticos é feita em ritual celebrado à noite, quando as pessoas da aldeia já estão dormindo, de forma que acontece em ambiente restrito. A cerimônia pode ser realizada conjuntamente por um ou por vários xinaya. Normalmente, o doente não está presente ao ritual. Os xinaya, sob os efeitos da ayahuasca, cantam suas rezas sobre um pote cheio de uma bebida fermentada de mandioca (a caiçuma) que o paciente beberá depois.

É comum que, antes de ter decidido submeter-se à iniciação xamânica, a pessoa esteja familiarizada com as cerimônias, com certos conhecimentos e com algumas bebidas alucinógenas, em especial, a Ayahuasca. (...) Além disso, o iniciante deve reduzir no máximo suas relações sociais, evitando qualquer contato com as mulheres e isolando-se temporariamente na floresta, longe da aldeia. Ao mesmo tempo, começa a consumir Ayahuasca e tabaco diariamente, bem como passa a assistir sistematicamente às cerimônias de cura, durante as quais deve memorizar as rezas entoadas pelos outros xinaya e shuintia. O processo se completa com a superação de certas provas iniciatórias. (...) A memorização dos conhecimentos xamânicos requer sofrimento, e é através da abstinência alimentar e sexual, assim como das provas iniciáticas descritas, que esse estado ideal é alcançado. O iniciante deve chegar a um estado total de concentração e autocontrole para poder reter tal quantidade de saberes na memória. Ademais, a ingestão de substâncias alucinógenas - em particular, a Ayahuasca - exerce papel importante nesse processo de aprendizado das rezas e dos mitos. Dizem os Yawanáwa que, sob os efeitos dessa beberagem, o iniciando é capaz de visualizar mentalmente o conteúdo do narrado ou falado pelos xinaya que estão atuando em uma cerimônia e, assim, o conhece, memoriza e incorpora. Através dos estados alterados de consciência produzidos por estas substâncias o aprendiz entra em contato com o domínio dos yuxin, que transparece em mitos e rezas. O conhecimento deste meio é essencial à atividade xamanística, uma vez que o xamã, em qualquer de suas facetas, é mediador entre ambos os aspectos da realidade.

Agora, a tribo Harakmbet:

A principal função do Xamã é curar. E os espíritos das plantas possuem uma informação imprescindível que só pode ser captada por experts em interpretar o que acontece no "além". Uma vez que o Xamã "" o que deseja, através das substâncias de origem vegetal, ele as abandona paulatinamente e recorerá ao tabaco (paimba), que é a planta principal do Xamã. Qualquer Harakmbet, passada a iniciação, pode consumir drogas, mas só o Xamã capta a realidade diferente. É ele que consegue ver e interpretar os sinais do além e transformá-los em símbolos, desenhos ou mandalas que devem ser feitos em cima do corpo do paciente, e estudados por eles no sentido de permitir o diagnóstico e a cura das enfermidades para aquela pessoa, que pode estar numa certa planta medicinal que o Xamã intui ser a adequada para aquele caso.

Apesar do uso da Ayahuasca estar intimamente ligado à cura, ele é apenas a FERRAMENTA de acesso do Xamã a outros mundos, para que ELE vá em busca da cura. A deturpação de que a bebida SEJA a cura começou com os Xamãs da cidade. O antropólogo Jean-Pierre Chaumeil fala, em seu texto Curandeirismo do Amazonas, que o uso de alucinógenos no âmbito indígena parece essencialmente ligado a uma iniciação xamânica, já que, nas curas, o tabaco (fumado, mastigado ou bebido) é que assume papel preponderante.

Segundo os conceitos indígenas, os alucinógenos são entidades que "ensinam", mais do que atuam por si mesmas e para si mesmas. Os alucinógenos entraram paulatinamente na parafernália terapêutica dos Xamãs mestiços que atuam nas cidades, e, em consequência, retroativamente este uso se difundiu entre alguns Xamãs indígenas. A extensão dos alucinógenas a um âmbito de aplicação estritamente terapêutica (diagnóstico e cura) parece ser um fenômeno relativamente recente, se levados em conta os dados da etnografia indígena, que os associam mais a um modo específico de aprendizagem e conhecimento.

Cabe dizer que o uso de alucinógenos não é de uso reservado dos Xamãs. A maioria dos indivíduos, homens e mulheres, seja no meio indígena ou mestiço, podem viver esta experiência guiados por Xamãs treinados. Neste caso, as ingestões são orientadas no sentido de auto-cura ou de efeitos telepáticos. Em todo caso, as ingestões nunca são anárquicas ou de forma indiferente.


Agora eu pergunto: é o Xamã ou a Ayahuasca que "cura"?
Com que objetivo e contexto era usada originalmente a Ayahuasca? Fazer uma "viagem a passeio" ou acessar informações de "mais além" para ajudar aos necessitados?

O uso da Ayahuasca foi se deturpando com a modernidade, e virou um passatempo para a população cabocla da região Amazônica. Até que chegou Irineu.

A HISTÓRIA DO DAIME

Adaptado do site Santodaime.info

Descendente de escravos, Raimundo Irineu Serra deixou o Maranhão para trabalhar no Acre como seringueiro, nas regiões do Xapurí, Brasiléia e Sena Madureira. Também trabalhou como funcionário na Comissão de Limites na delimitação da fronteira do Acre com a Bolívia e o Peru. Foi na cidade de Cobija, na Bolívia (fronteira com o Acre, na cidade de Brasiléia) que Irineu, convidado por dois amigos a participar de uma sessão de Ayahuasca, ministrada por um caboclo peruano de nome D. Crescêncio Pisango, também conhecido por Huascar.

De primeiro Irineu não aceitou, mas depois pensou e disse: "Eu vou. Se for uma coisa boa vou levar pro meu Brasil, pois de coisa ruim o meu Brasil já está cheio". Da primeira e segunda vez que tomou a bebida nada sentiu, só na terceira é que chegaram as "mirações". Estava sentado numa roda de 12 pessoas quando D. Pisango se aproximou e "entrou" na cuia grande onde era servida a Ayahuasca, sendo percebido apenas por Irineu. O caboclo pediu que ele convidasse o grupo a olhar dentro da cuia e que dissessem o que estavam vendo. Responderam que viam apenas a bebida. Então o caboclo Pisango explicou ao Mestre Irineu que só ele tinha condições de trabalhar com aquela bebida e que ninguém mais conseguia ver o que ele via com a Ayahuasca.

Numa outra noite voltaram a tomar a infusão. Um amigo, Antônio, que estava no quarto, chamou Irineu, que olhava encantado para a lua, e disse:
- Raimundo, aqui tem uma senhora chamada Clara que quer falar com você.
- Por que ela não fala contigo mesmo?
- Não sei não, mas diz ter te acompanhado desde o Maranhão. Ela tem uma laranja na cabeça para lhe entregar. Fala que vai te procurar na próxima sessão.

E assim foi. Era uma quarta-feira duma noite linda de luar. Irineu se deitou na rede de modo a apreciar a lua e, pouco a pouco, a "força" da Ayahuasca foi chegando, intensificando as mirações e, neste momento, é que viu a lua se aproximando pra bem pertinho dele. Uma Senhora, sentada ao centro da lua com uma águia na cabeça em ponto de voar lhe disse:
- Quem tu achas que sou?
- Pra mim é uma Deusa.
- Tu tens coragem de me chamar de Satanás?
- Ave Maria, minha Senhora, de jeito nenhum.
- Você está pensando que sou uma princesa, mas não, eu sou a Rainha Universal.
- Tu achas que o que tu estás vendo agora alguém já viu?
- Acho que sim, minha senhora (Irineu julgava que outros tantos que já haviam bebido a ayahuasca também já podiam ter tido aquela visão).
- Tu estás enganado. O que vês agora, ninguém jamais viu, só tu. Eu vou te entregar este mundo para tu governar, mas isso não é agora, primeiro tens que te preparar. Agora que tu já é homem, tu vais trabalhar e vais ficar com teu cabresto assim bem curtinho. Vais ter uma preparação para ver se tu tens merecer verdadeiramente. Tu vais passar oito dias comendo só macaxeira (mandioca) cozida e insossa, com água e mais nada, nem ver e nem ouvir mulher alguma.

Irineu, no dia seguinte, se retirou para a mata com o propósito de cumprir as ordens da Rainha. Conta-se que no quarto dia ele foi tentado com várias visões, com intenção de lhe amedrontar. Os paus na sua frente criavam vida, parecia que estavam todos rindo dele, caboclinhos surgiam de todos os lados, fazendo contato com os animais que chegavam bem próximo. Com sua espingarda dava tiros para o alto, pois os estampidos o confortavam naquela situação. (Até hoje, nos trabalhos feitos na Doutrina do Santo Daime, se costuma soltar foguetes durante a sessão espiritual, para que seja lembrada aquela passagem da vida do Mestre Irineu).

Outro fato interessante que se conta é que, certo dia, Antônio Costa estava em casa, preparando a mandioca insossa do amigo, quando pensou em botar um pouquinho de sal, mas imediatamente mudou de idéia e quando, mais tarde, Irineu voltou das matas, disse a Antônio que viu que ele ia colocando sal na macaxeira mas resolveu não por. Antônio se espantou com o amigo:
- Mas rapaz, como é que tu fez pra saber? Então já sei que tu tá aprendendo.

No oitavo dia de iniciação nas matas, a Rainha voltou a aparecer para Irineu e lhe entregou a laranja como símbolo do globo universal. Ele pediu que o fizesse um curador e ela respondeu:
- Já está feito e tudo está em tuas mãos.

Também o advertiu de que teria muito trabalho com aquela missão, e que nada poderia tirar em proveito próprio (Assim como hoje o Daime não pode ser comercializado, pois desta forma estariam em desobediência às ordens da Rainha). Logo Irineu entendeu que aquela senhora era a Virgem Mãe Santíssima, a Virgem da Conceição, e que tudo aquilo que ele havia ouvido e visto não eram suficientes para ele ser (curador). Ele havia recebido sim aquela missão e a partir daí ele tinha que dar prova e se fazer ser.

Durante alguns anos, Irineu percorreu caminhos espirituais difíceis entre a dúvida e a certeza, a verdade e a mentira, pois quem anda nesta estrada sabe que uma linha muito fina separa estes princípios, o que é certo do que é errado. Mas a Virgem Soberana continuou a aparecer muitas outras vezes para Irineu lhe dando força, conforto e fé, e numa destas aparições foi revelado ao Mestre o nome da bebida. O verbo "dar" originou a palavra "Daime". Em alguns hinos da Doutrina se encontram as expressões "dai-me amor", "dai-me fé", "dai-me cura", pois quem toma Daime deve estar pronto a receber as dádivas vindas de Deus, contidas nesta bebida sagrada.

Também recebeu da Virgem o título de Chefe Império Juramidam, e os fundamentos do ritual do Santo Daime. A Mãe Divina o instruiu a cantar hinos que iria receber do Céu, que seriam o testamento de sua missão e estariam reunidos em um hinário ao qual ele chamou "O Cruzeiro". Mas Irineu era um homem muito simples e humilde e não se achava capaz de cantar. Até o dia em que a Rainha da Floresta lhe disse:
- Olha, vou te dar uns hinos e tu vais deixar de assobiar pra aprender a cantar.
- Ah! Faça isso não minha Senhora, que eu não canto nada.
- Mas eu ensino! Afirmou ela.

E como Irineu sempre contemplava a lua, Ela falou:
- Agora você vai cantar.
- Mas como? Insistiu.
- Abra a boca, não estou mandando?

Irineu obedeceu e deslanchou a cantar "Lua Branca", seu primeiro hino, onde também recordaria a primeira miração da Rainha.

Na década de 20, Irineu e os irmãos Costa fundaram um centro chamado Círculo de Regeneração e Fé (CRF), na cidade de Brasiléia, no Acre. Reuniram-se naquele lugar algumas pessoas que, apesar de poucas, chegaram a fundar uma associação. Alguns desentendimentos com Antônio Costa e outros integrantes fizeram Irineu deixar aquele centro, mudando-se para Sena Madureira e depois para Rio Branco. Em 1930, como tinha feito muitos conhecidos, doaram a ele uma colônia na Vila Ivonete, bairro rural próximo a Rio Branco. Foi quando Irineu deu início aos trabalhos públicos com o Daime. Nessa época Irineu foi perseguido, chegando mesmo a ser chamado na delegacia, porém nunca sendo preso. Resolveu então adentrar um pouco mais na floresta e foi nesta época que recebeu uma doação por parte do ex-governador Guiomar Santos, que lhe arranjou uma colocação chamada Espalhado, com uma colônia, a Custódio de Freitas. Neste lugar fundou o Centro de Iluminação Cristã Luz Universal (CICLU), a Igreja-Sede, e levantou também um cruzeiro de 5 metros de altura, todo em cimento armado.

No Alto Santo abrigou mais de quarenta famílias, que trabalhavam em sistema de mutirão, muito comum no Acre. Viviam do que plantavam, conseguindo assim sustentar sua comunidade.

PÓS-IRINEU

Mestre Irineu faleceu no dia 6 de julho de 1971, deixando vários seguidores. Um deles se destacou dos demais: Sebastião Mota de Melo, o Padrinho Sebastião. Segundo o site, "Foi considerado o pai dos alternativos por ter acolhido mendigos, mochileiros, maconheiros sem rumo e desenganados em sua comunidade. Nunca teve preconceito contra ninguém e por isso foi muito incompreendido. Padrinho Sebastião chegou a ter problemas com a polícia pois até traficante ele recebeu, acreditando na cura e encaminhando-os para o trabalho honesto, despertando a consciência espiritual e fazendo-os acreditar nas leis de Deus." Após sair do Alto Santo, Sebastião fundou 3 comunidades, mas fixou-se em definitivo no Céu de Mapiá, na cidade de Boca do Acre, um lugar de difícil acesso no meio da floresta. Coincidência ou não, as denúncias de associação do Ayahuasca com drogas ilícitas surgiram nas comunidades que seguem a linha de Sebastião.


O que podemos depreender disso tudo?

1 - Que as tribos indígenas usavam a Ayahuasca, em certas cerimônias, mas nada na antropologia sugere um uso indiscriminado ou mesmo regular da substância. Ou seja, mesmo na milenar cultura indígena seu uso é restrito, sob a supervisão do Xamã (que conhecia a todos) e a vida na tribo não girava em torno disso, sendo a Ayahuasca apenas uma ferramenta (que nem era tão importante quanto o tabaco!) no contexto religioso.

2 - Que a bebida não pode ser vendida, nem mesmo pra cobrir os custos de produção ou de transporte. Ou seja, numa instituição séria, você, visitante, nao deveria pagar NADA pra tomar. Segundo o que ficou acordado (pelas principais instituições) no relatório final do GMT de 2006 (base do que foi liberado pelo CONAD), apenas os SÓCIOS arcam com as eventuais despesas, justamente pra de$encorajar esse "turismo" de gente que vai lá só pra dar uma "calibrada no nível de alucinógeno".

Me pergunto o que Mestre Irineu pensaria da conduta das doutrinas urbanas de hoje... Se ele, homem sério e íntegro (que, pelo que lemos, parece ter sido) aprovaria o uso ritual de maconha e cocaína, como tem - segundo denúncias e até apreensões da Polícia Federal - acontecido com certas denominações. Me pergunto também se ele deixaria o oba-oba de jovens descompromissados com a doutrina ir minando (por dentro e por fora) a reputação do que ele construiu ao longo de décadas. Onde está a instituição recomendada pelo GMT ao CONAD para representar as entidades religiosas, no sentido de impor controle social ao cumprimento dos princípios acordados? Onde estão os mecanismos de controle, também recomendado ao CONAD pelo mesmo GMT?

Só faço o que a Lei do meu país permite fazer
(Mestre Irineu)


O perigo da Ayahuasca é que ele pode servir como gatilho disparador de uma síndrome psicótica. Em pessoas "saudáveis", não causa problemas. Mas, o que é ser saudável psicologicamente no mundo de hoje? Vivemos num mundo cada vez mais neurotizante, vivemos relações familiares cada vez mais desintegradas, ironicamente com muito acesso a informação, mas com pouca COMUNICAÇÃO (especialmente dentro das famílias), e os psicólogos, psicanalistas e psiquiatras podem atestar as tendências da nossa sociedade melhor do que eu. Será que todos podem tomar a Ayahuasca?

A Ayahuasca é para todo mundo, mas nem todo mundo é para a Ayahuasca
(Padrinho Sebastião)

Como a doutrina saiu do contexto indígena pra se tornar essencialmente cristã (amalgamada ao espiritismo e umbanda), seria bom ter em mente os alertas de Jesus, em Mateus 7:

Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas, para não acontecer que as calquem aos pés e, voltando-se, vos despedacem
(Mat 7:6)

Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos são os que a encontram
(Mat 7:13-14)

Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores
(Mat 7:15)

Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática, será comparado a um homem prudente, que edificou a casa sobre a rocha
(Mat 7:24)

Há um mecanismo de controle dentro da própria Doutrina do Daime. Ele orienta as pessoas a, 3 dias antes de tomar o Daime, se abster de comer carne e fazer sexo. Mas aprendi aqui mesmo com os comentaristas que isso representa MAIS do que uma "limpeza" orgânica. Nesses 3 dias você deve procurar se limpar MENTALMENTE, canalizando suas energias e seus pensamentos para o alto, para uma experiência que é antes de tudo interna.

Por isso tenho uma sugestão para as entidades SÉRIAS que ministram Ayahuasca, e não sabem como controlar os visitantes sobre essa preparação pra bebida (como raios o padrinho vai saber se o cara transou, ou brigou no trânsito, ou em casa, no dia anterior?):

O RETIRO

O retiro é muito usado pelos budistas, pois a doutrina precisa de um ambiente tranquilo e isolado, para favorecer a meditação correta. Buda (Siddhartha) se isolou na floresta (olhaí) até conseguir a iluminação, e só depois, com o estado de plenitude alcançado, foi procurar ensiná-lo aos outros, nas cidades, nos campos... A idéia é que o estado meditativo seja conseguido até mesmo no trânsito caótico, mas como você vai ensinar alguém a correr sem antes saber andar?

É por isso que eu recomendaria ao neófito no Daime um retiro de 3 dias, num lugar afastado, sem celular, sem TV, onde a pessoa entra em contato com ela mesma, seus pensamentos, com a natureza, embarca (ainda que de forma limitada) no contexto original da Ayahuasca. E somente no fim do 3º dia tomaria o chá.

Vi num fórum o depoimento de uma pessoa que pegou dicas com um Xamã sobre a condução do Daime:

Eu vou te repassar a informação que me foi dada por um verdadeiro Xamã ao qual tive a sorte de conhecer 3 anos atrás. Pra resumir nossa conversa, vou colocar algumas questões que eu lembro para seu uso correto:
1. Restrito ao local e à cultura ancestral que sempre a usou, ou seja, nunca para urbanóides como nós
2. Extrema disciplina de uso e guarda, extrema, nunca numa sociedade que usa dinheiro nas relações, só isso já contamina tudo
3. O xamã deve conhecer a pessoa a tomar de longa data, ela e sua família (seus pais)
4. A beberagem deve ser produzida de forma customizada (ele não usou essa palavra), ou seja, pra cada indivíduo um preparado especial que pode conter os 2 princípios famosos e mais alguns pra deixar mais doce, ou mais amargo, ou etc... (mas esse etc não inclui santa porcaria nenhuma)
5. Vomitos e diarréia são pessimos sinais, quer dizer que a pessoa tomou a dose errada. No máximo um enjôo e isto serve para que a pessoa se limite.
6. Deve ser consagrada.
7. Deve ter um objetivo muito específico, um trabalho individual, ou até coletivo, desde que totalmente orientado de forma rígida, militar
8. O xamã deve ser sábio, velho, experiente, vocacionado, tem que ter curriculum pra isso, sendo a sua autoridade respeitada e indiscutível entre todos da "tribo"
9. Pode ser utilizada para "turistas" (nós) desde que os procurem e com todo o rigor e preparação.
10. Vc nunca pode falar de sua experiência com ninguém, é sua e individual, jamais fazer propaganda de capacidades. A "mágica" está em vc e só em vc. Falar disso é perigoso, pode induzir outros ao erro. Só o Xamã pode falar disso.

A Ayahuasca abre as portas de dentro de você. Se há algum conflito, ele poderá ser exorcizado, ou exarcebado. Vai depender de COMO você vai lidar com isso! Por isso concordo com o Maltz quando ele diz que o chá é um Boeing 747, mas nem todo mundo tem o manual pra pilotá-lo! Há perigos no Daime, assim como há perigos no desenvolvimento forçado da mediunidade dentro do espiritismo, ou constrangendo crianças a receber o espírito santo nas Igrejas Evangélicas, ou na abertura dos Chakras e desenvolvimento forçado da Kundalini em cursinhos da Nova Era.

Os místicos e os esquizofrênicos encontram-se no mesmo oceano; enquanto os místicos nadam, os esquizofrênicos se afogam
(Ronald Laing; psiquiatra inglês)


Eurípedes (poeta grego) aponta a origem da loucura como decorrente de conflitos internos; o homem não seria conduzido fatalmente à loucura, senão por uma parcela de responsabilidade. Porém, cabe aos deuses roubar a razão.

Sociedade Psicodélica - Terence McKenna






Baseado em uma fala dada em um encontro da ARUPA
no Instituto Esalen em junho de 1984.


Eu quero falar esta noite a respeito da noção de uma sociedade psicodélica. Quando eu falei em Santa Bárbara em uma conferência sobre psicodélicos em maio de 1983 minhas lentes de contato falharam em um ponto crítico na minha leitura e eu simplesmente tive que improvisar. Mais tarde quando eu ouvi a fita da gravação eu ouvi a frase “sociedade psicodélica.” Eu nunca usei este termo conscientemente em uma conversa. Mas porque eu havia dito, e porque havia acontecido uma ressonância através das pessoas que estavam lá, eu comecei a pensar sobre isso e esta noite irei especular sobre o que isto pode significar para nós.

Quando eu penso em sociedade psicodélica, esta noção implica em criar uma sociedade que vive à luz do Mistério da Existência. Em outras palavras, problemas e soluções deveríam ser retiradas de seu papel central nas organizações sociais, e Mistérios – Mistérios irredutíveis – deveriam estar em seu lugar. Nos anos 20 o entomologista britânico J.B.S. Haldane disse em um ensaio, “O universo pode não ser apenas mais estranho como supomos; ele pode ser mais estranho do que nós podemos supor.”

Eu sugiro que assim como nós olhamos para trás em cada ápice da civilização na história humana - seja ela Maia, ou Greco-Romana, ou a Dinastia Sung – temos acreditado que isso aconteceu graças à posse de uma descrição apurada do cosmos e da relação do homem com ele. Isto parece ir junto com o completo florescimento de uma civilização. Mas, a partir deste ponto de vista da nossa presente civilização, nós consideramos todas estas concepções como se fossem piores, de segunda mão. Nós nos orgulhamos que nossa civilização tem a última e real descrição sobre o que está acontecendo.

Eu considero isto um erro, e que atualmente nos cega, ou torna nosso progresso histórico muito difícil, é nossa falta de atenção que nossas crenças se tornaram obsoletas e deveríam ser colocadas de lado. Uma sociedade psicodélica abandonaria os sistemas de crenças pela experiência direta. É o que eu penso a respeito a do problema do dilema moderno: a experiência direta foi descontada, e no seu lugar todos os tipos de sistemas de crença foram criados.

Eu preferiria um tipo de anarquia intelectual onde não importa o quê fosse pragmaticamente aplicável e fosse trazido de qualquer situação; onde crença fosse entendida como uma função auto-limitante. Porque, veja, se você acredita em alguma coisa você é automaticamente impedido a acreditar em seu oposto; que significa que um grau da liberdade humana foi coisificada no ato de se submeter à esta crença.

Eu insisto que é supérfluo ter crenças, porque o universo é realmente mais estranho do que nós supomos, precisamos retornar para o que no século XVI era chamado de método Baconiano; que não significa a elaboração fantástica de construções de pensamentos que explicam a natureza, mas somente uma catalogação dos fenômenos que nós experimentamos. Redes de computadores e drogas psicodélicas e a crescente disponibilidade de informação no mundo têm tornado possível a evolução de novos estados de informação que nunca existiram anteriormente. Estamos processando estas novas oportunidades em uma razão muito devagar porque estamos sendo impedidos pela ideologia.

Os modelos Freudianos e Junguianos enxergam a experiência psicodélica como um desmantelamento da resistência em revelar emoções, motivos e sistemas de crenças escondidas e complexas. Esta noção, há cinco ou dez anos, foi substituída pelo modelo de experiência alucinógena xamânica. Este modelo sustenta que pessoas arcaicas têm delegado membros especiais de uma sociedade para provar informações de domínio secreto usando drogas psicodélicas. A informação extraída destes domínios são então usadas para guiar e direcionar a sociedade.

Eu estou interessado neste segundo modelo. Tenho gastado algum tempo na Amazônia e estou familiarizado com os mecanismos operacionais do xamanismo e personalidades xamânicas. Acredito que a experiência psicodélica vai além da instituição do xamanismo. Estamos diante de uma oportunidade única de arremessar de lado a crise da cultura mundial.

Nossa habilidade de destruir a nós mesmos é a imagem espelhada da capacidade de nos salvarmos. O que está faltando é uma visão clara do quê deveria ser feito. O que deveria ser feito certamente não é a acumulação cada vez maior de arsenal termonuclear ou a promoção de todo o tipo espetáculos de primatas – que Tim Leary tem muito bem denunciado. O que precisa ser feito é que nossas concepções ontológicas fundamentais de realidade precisam ser refeitas. Precisamos de uma nova linguagem, de modo que para ter uma nova linguagem precisamos de uma nova realidade. É um tipo de equação urobórica, ou uma situação de desvencilhamento. Uma nova realidade gerará uma nova linguagem. Uma nova linguagem fará uma nova realidade se legitimar e ser uma parte desta realidade.

As substâncias psicodélicas podem ser imaginadas como pontos de uma grade de informações. Elas provêm novas perspectivas na realidade, e quando você reconecta todos os pontos de vista que você coletou considerando realidade, então um modelo aplicável de realidade e que faça sentido começa a surgir.

Eu penso que esta realidade aplicável e que faça sentido – o que Wittgenstein nomeou algo como “suficientemente verdadeiro” - é o que estamos procurando. O “suficientemente verdadeiro” mapeando por cima da teoria é o que estanos procurando, mas a experiência deve ser feita primeiro. A linguagem do Eu deve ser feita primeiro.

O que eu estou defendendo é que cada um de nós tome responsabilidade pela transformação cultural, que não é algo que seria disseminado de cima para baixo. É algo que cada um de nós podemos contribuir nos esforçando a viver tão para dentro do futuro quanto possível. Devemos nos livrar das concepções de anos 40, 50, 60, 70, 80, 90. Devemos transcender o momento histórico e tornarmos exemplares de humanidade no Fim do Tempo.

Alguns de vocês que acompanham minha leitura esta tarde se preocupam em saber que eu acredito que liberação – ou vamos dizer “decência” - como uma qualidade humana e antecipação deste estado perfeito da humanidade futura. Podemos ter vontade de aperfeiçoar o futuro nos tornando um microcosmo do futuro perfeito, não mais distribuir culpa para instituições ou hierarquias de responsabilidade ou controle, mas dar-nos conta que a oportunidade está aqui, a responsabilidade está aqui, e os dois nunca se tornem congruentes denovo. A salvação para o nosso espírito imortal depende do quê você faz com as oportunidades que a vida lhe dá.

Então, o que faremos com a oportunidade? O quê significa dizer, em termos operacionais, “Viva tão longe ao futuro quanto puder?” Significa tomar uma posição vís à vis da emergente realidade hiper-dimensional. Isto não significa necessariamente tornar-se um usuário de drogas psicodélicas; mas significa admitir esta possibilidade. Se você sente um potencial heróico dentro de você para ser um dos experimentadores – um dos pioneiros – então você sabe o que fazer. Se por outro lado você se sente perdido no abismo – se você se sente como William Blake chamou de “caindo para a eterna morte,” caindo do espiral da existência que conecta uma encarnação à outra – então oriente-se para a experiência psicodélica como uma fonte de informação.

Uma imagem espelhada da experiência psicodélica emergiu com o hardware e software integrados às redes de computadores. A internet e a www são, paradoxalmente suficientes, uma profunda influência feminilizante na sociedade. Isto está no desenvolvimento de hardware/software que inconscientemente está se tornando consciente. Esse é um pensamento que tomamos do bon mot platônico - “Se Deus não existisse, o homem deveria inventá-lo” - e disse, “se a inconsciência não existe, a humanidade a inventará na forma de vastas redes que serão capazes de transferir e transformar informação.”

Isto é, de fato, onde estamos presos: a transformação de informação. Nós não mudamos fisicamente nos últimos quarenta mil anos. O tipo humano está bem estabilizado antes do fim da última glaciação. Mudanças que foram feitas antigamente no âmbito biológico está acontecendo agora no âmbito cultural. Estamos abrigando presunções culturais e nos preocupando com nossa visão do mistério unitário em uma razão cada vez mais rápida, enquanto tentamos nos acomodar ao desdobrameno daquele mistério que se deita diante de nós no tempo. Este é o processo que está fundindo a vasta sombra de destruição por cima de toda a experiência da história humana.

Anterior à nossa própria era, a única palavra que poderia ser aplicada para esta força que faz as pessoas se unirem, causando nascimento e morte, levantando e derrubando civilizações, era Deus; e isso era imaginado como uma forna auto-consciente que estava aprendendo a respeito do mundo como um gato aprende a respeito do aquário e fazendo as coisas acontecerem. Agora temos uma noção diferente – a noção de um sistema vetor que força uma grande área que está sendo empurrada para um espaço muito pequeno, e este pequeno micro-setor de tempo/espaço é a história. É um ímpeto que os budistas chamam de “o reino densamente empacotado,” um reino onde os opostos estão unificados.

A história é este reino onde o corpo é finalmente interiorizado e a mente exteriorizada. Penso a mente como um órgão da quarta dimensão no nosso corpo. Você não pode vê-lo porque ele está na quarta dimensão, mas você experimenta uma baixa dimensão seccionando-a no fenômeno da consciência. Mas isto é somente uma secção parcial. assim como uma elipse é um desenho parcial de um cone.

O crescimento dos sistemas de informação é somente um reflexo do hardware masculino do que já existe na natureza como um fato. Agora nos resta afiar nossas intuições e nos tornarmos atentos a este sistema preexistente e ligá-lo para que possamos estar um passo a frente dos dualismos que nos separam dos outros e do mundo. Precisamos nos dar conta que há um enxame de genes – e não um grupo de espécies – no planeta; que metade do tempo você está pensando no que está escutando; que idéias são criaturas notavelmente escorregadias que são difíceis de traçar sua origem; e que estamos realmente no mano-a-mano e todos juntos em uma dimensão que não é tão acessível e sólida como você desejaria que fosse (como Joyce comenta em Finnegan's Wake).

Os psicodélicos são o red-hot, a edição social/ética porque eles são agente descondicionadores. Eles levantarão dúvidas se você é um rabino ortodoxo, um antropólogo marxista, ou um homem de altar porque o seu negócio é dissolver sistemas de crenças. Eles fazem isso muito bem, e depois eles deixam você com uma ferida na experiência, o que William James chamou – tomando uma experiência infantil – “uma confusão florida, barulhenta.”

Fora isso você reconstrói o mundo e precisa entender que esta reconstrução é um diálogo onde suas decisões – a projeção de sua gramática no espaço intelectual em sua frente – irá formar um gel sobre o ser. Nós todos criamos nosso próprio universo porque estamos todos operando com a nossa própria linguagem privada que são somente traduzíveis através da linguagem de outra pessoa. Há ainda um análogo físico a isto que irá promover um reforço desta noção de separação e nossa singularidade.

A imagem do mundo que se forma em seus olhos é feita de fótons. Fótons são minúsculos pacotes de luz tão próximas que podem ser pensadas como partículas. Isto significa que cada fóton que toca o fundo dos seus olhos é diferente dos fótons que tocam o fundo dos olhos de qualquer outra pessoa. Isto significa que eu me baseio em uma seção do mundo 100% diferente da imagem que qualquer um de vocês estão se baseando. E ainda estamos sentados aqui com uma suposição ingênua de que nossas imagens do mundo diferem somente pela nossa perspectiva dentro do espaço desta sala.

Temos inúmeras suposições ingênuas como esta construção do nosso pensamento. Nosso mecanismo explanatório mais venerado – tal como “ciência” - surge também como nosso mecanismo explanatório mais velho. Portanto, eles têm se construídos como a mais ingênua e não-examinada suposição. “Ciência”, por exemplo, podemos demolir em trinta segundos. A “ciência” diz a você um grupo de condições que criará um efeito dado, e a cada momento que o grupo de condições estiver em seu lugar o efeito será obtido. O único lugar que isto acontece é dentro de um laboratório. Nossa experiência não é assim. O contato com uma pessoa é sempre diferente. A experiência de fazer sexo, comer uma refeição, tomar um ônibus – isto penetra no ser – e torna suportável de todo jeito. A “ciência” ainda deseja dizer a você que somente o valor das coisas descritas em um fenômeno podem ser disparadamente repeditas. Isto se dá porque estes são somente os fenômenos que a ciência pode descrever, e é o nome do jogo com o qual ela se preocupa.

Mas nós temos que reivindicar nossa liberdade – tomar vantagem do abismo minúsculo entre o imenso abismo do desconhecimento; seja talvez a morte, ou reencarnação, ou transições para outras formas de vida. Estas coisas nós não sabemos ou entendemos, mas no momento que somos humanos temos a rara oportunidade de descobri-las. E eu tenho fé de que isto é possível – em algum lugar ou em algum momento. Talvez nenhum progresso seria feito até a nona hora em que a realidade pudesse ser literalmente fragmentada em pedaços, para além do ponto de reconstrução.

Existe, definitivamente, uma tendência anti humanista em todos os sistemas, Ludwig von Bertalanfe, que foi o inventor da teoria dos sistemas gerais, disse, “pessoas não são máquinas, mas em toda situação que elas tiverem a oportunidade, elas irão agir como uma.” Estamos todos caindo em padrões. Nós seguramos estes padrôes cada vez mais forte. Eles não podem ser violados; e isto acontece no nível das idéias.

Estamos agora no crista da onda da história, em tipo de aperto que nos devolve ao passado. Espero que tenhamos chegado ao fim desta fase. Queira você comprar minha visão apocaliptica transformadora envolvendo 2012, ou queira você dizer que somente por olhar ao seu redor você tem certeza que, logo, logo, a merda vai ser atirada ao ventilador, eu acho que nós concordamos que estamos diante de um impasse. O que está para acontecer será ou um grande deslocamento da biosfera, causando uma invalidação da inteligência como uma adptação biológica e nossa extinção; ou iremos nos tornar – como James Joyce sonhou - “o homem auto governável;” em outras palavras, a exteriorização do espírito e a interiorização do corpo.

Neste processo, tudo terá de ser desafiado. Toda a noção de humanidade será desafiada. Estamos à beira da manipulação do DNA, ou de tomar controle da forma humana, de sermos capazes de extender a noção de arte para dentro do corpo humano. Somos clássicos? Deveríamos ser Adonis e Perséfone? Ou o que somos nós? Somos surrealistas? Deveria eu ser uma batata ou uma girafa em chamas? Estas são questões que terão de ser enfrentadas. Eu sorrio enquanto falo isto, mas estas questões são importantes.

E a noção de ganho vertical que vemos nas metáforas feitas em relação à experiência psicodélica: expansão da consciência, ficar chapado (getting high - a tradução seria “elevar-se”), viagem psicodélica, vôo xamânico. É como se os alucinógenos fossem o feminino, o software, o formador, o cabo condutor do que está ocorrendo. Seguindo por trás vem o hardware, a mentalidade construtora masculina.

Isto irá continuar até que o cabo condutor das longas distâncias da engenharia contrutora se rompa. Esta é a crença xamânica: que nós podemos encontrar uma maneira de usar químicos em nossos corpos, usar nossas vozes, nossos pensamentos e nossas mãos por sobre nós e sobre os outros; para tranformar nós mesmos sem nenhuma tecnologia; para nos movermos no reino da imaginação com uma tecnologia psicofarmacológica interiorizada que nos liberte dentro da nossa imaginação.

Ao mesmo tempo isto está acontecendo com a mentalidade construtora masculina, que irá colocar sociedades humanas na órbita da terra/lua e em planetas próximos. Mas há um porém para a mentalidade construtora, que é um vácuo que envolve os planetas e exemplifica este abismo e o elemento feminino. É o mistério da Mama matrix de Finnegan's Wake. A misteriosa Mama matrix é o universo, e não há como escapar deste fato. Mas eu penso que a mentalidade construtora, que irá tentar transformar o homem em suas máquinas será desestabilizado pelos psicodélicos, pelo pensamento voltado ao planeta, pelo lado voltado à imaginação de nossa consciência, que irá criar as bases para o casamento espiritual que será a incubação química de um novo formato da humanidade; e isto não está longe.

Não pode estar longe. Esta é uma responsabilidade inerente a todos nós que nos faz criá-la. Há uma obrigação definida para examinar as possibilidades de ação, e para pensar claramente sobre si e sobre o outro, sobre a linguagem e o mundo, sobre o passado e o presente. Por muito tempo nós vivemos em um mundo definido pela geografia. Se você nasceu na Índia, você achará que o cosmos é de uma maneira. Se você nasceu no Brooklyn, você achará de outra. Precisamos transcender estas grades do destino biológico, que nos torna aquilo que nós não queremos ser. Nós podemos clamar por este nível mais alto de liberdade através do simples ato de prestar atenção à existência.

Precisamos começar a exprimir nossas visões ideológicas antes que sejamos consumidores das próprias. Precisamos desligar a nossa TV interna que nos puxa para as suposições culturais ditadas pelo Pentágono, Madison Avenue, e pelo estado corporativo. Precisamos, ao invés disso, ligar nossos modems e começar a interagir como pessoas dotadas de mentalidade pelo mundo afora e estabelecer esta nova ordem intelectual que será a salvação da biosfera, eu acredito firmemente nisto. A internet finalmente concretiza nossa coletividade permitindo que pessoas sintam a interrelação de seus destinos; sentem a interrelação como uma coisa que transcende divisões nacionais, divisões ideológicas. A net permite que cada um de nós recupere a experiência de ser parte de uma família humana.

Nenhuma reconstrução de sociedade pode ser feita sem psicodélicos porquê nós perambulamos durante muito tempo sem eles. Certamente somos produtos de uma sociedade que foi longe demais sem psicodélicos como nenhuma outra cultura no mundo. Isto foi há dois mil anos desde que o Mistério foi real em Eleusis e nestes dois mil anos perambulamos longe na disfunção e na confusão. Mas nós somos filhos pródigos. Podemos reparar a idéia de xamanismo a partir do estase social pré-tecnológico e projetá-lo, aperfeiçoá-lo e viajar com ela para além das estrelas.

E se não fizermos, tudo estará perdido. Há somente riscos e comprometimentos nestas aspirações milenares e nestas metas culturais, metas que têm o potencial de restaurar o significado e a direção para nossa civilização. Se isto não for feito iremos fragmentar nossa oportunidade e deixar o horror e a destruição do típico cenário futuro.

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Anarquicamente copiado de:
FORTE, Robert. Entheogens And The Future Of Religion. San Francisco, CSP, 1997.

Humildemente traduzido por:
Waver

Versão copyleft – idéias não têm dono. Espalhe a palavra.