Psicodélico: The Deep Self (John C. Lilly)

terça-feira, 3 de julho de 2012

The Deep Self (John C. Lilly)

Nos anos cinquenta, havia um certo número de neurofisiólogos (sobretudo dos que estudavam os fenómenos do sono, nomeadamente, Frédéric Bremer e Horace Magoun) que defendia que o cérebro humano apenas se mantém acordado devido aos estímulos incessantes do mundo exterior que lhe chegam através dos órgãos receptores do sistema nervoso periférico, ou seja, se cérebro deixasse de ser estimulado entraria num estado de adormecimento. John C. Lilly, um dos investigadores do National Institute of Mental Health, decidiu fazer uma experiência, em 1954, para falsificar a teoria daqueles cientistas, inventando um tanque de isolamento ou de privação sensorial onde o sujeito da experiência (na verdade ele próprio) ficava a flutuar em água isolado e com estímulos sensórios exteriores muito reduzidos. No início a experiência exigia o uso de máscaras e estratégias para que o corpo não se afundasse, mas mais tarde, começou a usar-se sulfato de magnésio ou sais de Epsom, tornando a solução aquosa densa o suficiente para manter os corpos a flutuar e com a cabeça à superfície, dispensando o uso de máscaras. Segundo o próprio inventor do dispositivo, a experiência provou que o cérebro se mantinha num estado de vigília, falsificando a teoria oposta, e que, para além disso e depois de se ultrapassarem os receios e preocupações iniciais, a flutuação num ambiente sem som, sem luz e quase sem gravidade, isto é, com um nível quase nulo de estimulação sensória, proporcionava estados alterados da consciência, viagens introspectivas de auto-descoberta, quase terapêuticas, onde a consciência apesar de se manter em controlo se deixava levar como que para fora do corpo e descobrir novas dimensões não exploradas da nossa inteligência, através de alucinações induzidas e conduzidas. 
 
John C. Lilly era um médico que estudou inicialmente física e biologia no California Institute of Technology, depois, para além do curso de medicina, teve uma formação em psicanálise, dedicou-se à neurofisiologia, no já referido NIMH, à biofísica, à informática e inteligência artificial, inventando as teorias sobre o biocomputador humano e a auto-metaprogramação e iniciando nas Ilhas Virgens uma série de experiências de comunicação com golfinhos, focando-se, durante toda a sua vida, nas questões da consciência e do cérebro. Conheceu Timothy Leary e cedo ficou familiarizado com as experiências com psicotrópicos, mas apenas começou a experimentar o LSD – “pure Sandoz”, como chamavam ao LSD25 puro criado pelo famoso laboratório suíço – no início dos anos 60. Registou essas experiências com o ácido lisérgico dietilamida num livro famoso, editado em 1973, chamado The Center of the Cyclone – an autobiography of the inner space, onde um dos capítulos relata o uso de LSD em sessões de meditação no tanque de isolamento, durante o seu período nas Ilhas Virgens. Como era de esperar, os efeitos alucinogénios foram potenciados pela indução da substância psicotrópica, mas alegadamente, devido ao seu treino prévio, tanto na área da psicanálise como nas outras áreas científicas, as experiências produziram resultados muito generosos no domínio da auto-descoberta, mas também no do auto-conhecimento dos limites da consciência através do contacto real ou alucinado com entidades de inteligência superior. Interessado ainda pela filosofia oriental, muito em voga na época, estou yoga e relacionou essas experiências com estados místicos de meditação avançada, denominadamente, o Satori-Samadhi que ele alega ter atingido.

Para além da sua invenção do tanque de isolamento, a qual se tornou bastante popular e foi experimentada por personalidades de áreas muito diversas, desde o físico Richard Feynmann, o filósofo Gregory Bateson, Robert Anton Wilson, o artista Alejandro Jodorowsky até ao co-piloto de Timothy Leary nas experiências com LSD Ralph Metzner, John C. Lilly ficou muito associado com o seu trabalho com golfinhos e a esperança na comunicação futura com esses mamíferos marinhos. Escutámos durante a crónica um excerto de um disco editado em 1994 sob o título E.C.C.O., que significa Earth. Coincidence. Control. Office. e consiste numa mistura de gravações feitas pela Sound Photosynthesis em homenagem a John Lilly e à sua crença numa força invisível, numa entidade superior que controla as coincidências da vida quotidiana, a noosfera e a evolução humana. Este vídeo contém precisamente a voz de John C. Lilly incluída nesse projecto.

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