Como funciona o LSDA droga psicodélica LSD foi chamada de ácido, selo (blotter), sol da Califórnia, ponto, microponto, açúcar e incontáveis outros nomes coloridos desde que foi vendida pela primeira vez nas ruas, no começo dos anos 60. Faz sentido que o LSD fosse tão popular. Ele é fácil de tomar - sem cor, sem cheiro e sem gosto -, e ingerir apenas uma minúscula quantidade (25 microgramas, ou 0,000025 gramas, menos que o peso de dois grãos de sal) é o suficiente para sentir os efeitos. Ele também é fácil de ocultar, já que as doses de hoje são geralmente encontradas em minúsculos quadrados de papel absorvente. O LSD ainda é difícil de detectar devido à pequena quantidade ingerida e ao fato de que ele é rapidamente metabolizado pelo
corpo. Finalmente, LSD é barato se comparado com outras drogas. Uma dose custa cerca de US$ 5, e frequentemente pode ser conseguida de graça.
Um "Ônibus Mágico" em exposição no The Museum at Bethel Woods Center of the Arts, que foi construído no lugar onde aconteceu o festival Woodstock, de 1969
As mesmas coisas que fazem o LSD tão popular também o tornam assustador, e nós somos avisados sobre seus muitos perigos de tempos em tempos. Por exemplo: você deve ter ouvido que o LSD pode fritar ou esburacar seu
cérebro, ou pode deixá-lo louco, ou fazê-lo fazer coisas perigosas. Supostamente, pessoas pularam de prédios ou pontes enquanto estavam "viajando" ou se afogaram porque pensavam que poderiam andar sobre a água. Há histórias de pessoas que, querendo atrair crianças para o LSD, colocavam a droga nos selos postais ou em
tatuagens de chiclete. Nada disso é verdade. Na verdade, muitas dessas coisas que ouvimos que o LSD faz, e o que a pessoa faz sob sua influência, são mitos ou exageros criados para assustar adolescentes impressionáveis.
A verdade é que, embora o LSD exista há mais de 60 anos e tenha sido tomado por milhares e milhares de pessoas, ele ainda não é bem compreendido pela maioria de nós. Ainda que esteja associado para sempre com os hippies e o movimento da contracultura dos anos 60, o LSD foi sintetizado pela primeira vez por pesquisadores procurando criar novos
medicamentos. Vamos começar com o começo do LSD - em um laboratório na Suíça.
A história do LSD
O químico suíço Albert Hoffmann trabalhava em um laboratório da companhia farmacêutica Sandoz quando sintetizou o LSD pela primeira vez. A Sandoz estava trabalhando em um projeto de pesquisa envolvendo um
fungo parasita chamado ergot que cresce no centeio, conhecido como Claviceps purpurea. Na Idade Média esse fungo envenenou milhares de pessoas que comeram pão de centeio infectado. O fungo também era usado por parteiras, que às vezes o davam a mulheres grávidas para acelerar o trabalho de parto. No século 19, a maioria dos médicos considerava a prática perigosa demais porque altas dosagens levavam a contrações muito fortes, colocando o bebê em perigo. Apesar disso, às vezes os médicos usavam o ergot para parar o sangramento após o nascimento da criança.
Albert Hoffman, que descobriu o LSD Nos anos 30, pesquisadores do Instituto Rockefeller, em Nova York, isolaram o ácido lisérgico de um composto do ergot. Essa pesquisa foi a base para o trabalho de Hoffmann na Sandoz. Enquanto estava derivando diferentes compostos do ácido lisérgico, Hoffmann desenvolveu vários medicamentos, incluindo drogas que baixavam a pressão arterial e melhoravam as funções cerebrais em idosos. Em 1938, Hoffmann isolou o 25o composto em uma série desses experimentos. Era a dietilamida do ácido lisérgico, o LSD-25. Ele achava que o LSD-25 podia estimular a
respiração e a circulação. Mas testes não mostraram nada de especial, e a Sandoz abandonou estudos adicionais.
Cinco anos depois, os pensamentos de Hoffmann voltaram para o potencial do LSD-25. Ele sentiu que o LSD-25 não tinha sido totalmente explorado, então deu um passo incomum ao sintetizar outro lote para testes adicionais. Durante o processo, contudo, Hoffmann começou a se sentir estranho. Ele parou seu trabalho e foi para casa cedo, "sendo afetado por uma inquietação memorável, combinada com uma leve tontura". Já em casa, ele estava em um "estado irreal" e percebeu um fluxo ininterrupto de imagens fantásticas, formas extraordinárias com um
caleidoscópio de cores intenso". Naquele momento, Hoffman percebeu que tinha ficado com um pouco da solução nos dedos. (Mais tarde ficaria comprovado que ele colocou seu dedo na boca, já que o LSD não podia ser absorvido pela pele.)
No dia seguinte, Hoffman propositalmente tomou o LSD. Ele pegou 250 microgamas, dez vezes mais que a típica dose mínima de hoje. Hoffmann ficou delirante e mal podia falar. Inicialmente, ele entrou em pânico e pediu a seu assistente de laboratório para chamar um médico. O médico não encontrou nada errado com Hoffmann além do fato de suas pupilas estarem dilatadas - ele tinha a pressão arterial,
batimentos cardíacos e respiração normais. Logo seu pânico deu lugar à euforia, e Hoffmann mais uma vez viu formas belas e coloridas. No dia seguinte, contou aos outros na Sandoz o que havia acontecido, e eles experimentaram resultados similares. Nenhuma outra droga conhecida tinha efeitos tão fortes em tão pequenas doses.
Após testes em animais, a Sandoz deu o LSD para institutos de pesquisas e médicos usarem em experimentos psiquiátricos, tanto em pacientes saudáveis quanto em mentalmente doentes. A pesquisa foi persuasiva o suficiente para convencer a Sandoz a patentear o LSD e levá-lo ao mercado como Delysid em 1947. Ele foi vendido em tabletes de 25 microgramas para uso na psicoterapia analítica. A Sandoz também sugeriu que psiquiatras tomassem a droga eles mesmos, assim poderiam entender melhor seus pacientes. Dois anos depois, médicos do Hospital Psicotrópico de Boston estavam usando o LSD em seus pacientes. Em 1960, havia centenas de pesquisas publicadas nos jornais médicos e científicos sobre os vários usos do LSD - era a palavra da comunidade psiquiátrica. Mas em 1966, a Sandoz parou de fabricar de vez o LSD.
Agora vamos ver como o LSD passou a ser ilegal.
Como fazer LSD
A Sandoz manteve a patente do LSD até 1963 e parou de fabricá-lo logo depois. A empresa alegou que estava preocupada com a falta de regulamentação e com as informações imprecisas sobre a droga que estavam sendo perpetuadas. Naturalmente, isso não impediu ninguém de fazer o seu próprio LSD - o que era permitido até 1965.
Fazer LSD requer um forte conhecimento de química orgânica, um laboratório completo montado (incluindo a capacidade de esterilizar equipamentos bem como acesso a uma sala escura), e várias substâncias químicas que estão atualmente ou com venda restrita ou têm suas vendas monitoradas de perto pela Agência Antidrogas dos EUA (DEA). Ao contrário das substâncias químicas usadas na fabricação de metanfetamina, as do LSD não podem ser encontradas nos costumeiros itens domésticos.
Há duas formas diferentes de fazer LSD. Algumas "receitas" podem começar com ácido lisérgico. Outras receitas online pedem por sementes de morning glory (Ipomoea violacea), que podem ser especialmente perigosas porque são frequentemente vendidas com uma cobertura tóxica para desencorajar o consumo. As sementes de morning glory e as sementes de algumas plantas relacionadas contêm LSA, ou amido de ácido lisérgico. O LSA pode ser extraído de sementes e produz um leve barato. Ele é considerado um precursor do LSD, embora a quantidade de LSA nas diferentes sementes varie tanto que a qualidade da droga feita dele também varia. Aqui, nós vamos ver uma receita que começa com o fungo ergot.
Um químico que faz LSD precisa ser extremamente cuidadoso e bem-informado sobre como trabalhar com o ergot devido à sua toxicidade. Lembra das pessoas envenenadas por pão de centeio na Idade Média? Uma vez que o químico obtém o fungo, tem que, cuidadosa e precisamente, fazer sua cultura para extrair o alcalóide de ergot (um alcalóide é um composto contendo átomos básicos de nitrogênio). A montagem da sala escura se torna necessária aqui, porque o fungo vai decompor sob luzes claras. Na realidade, o LSD em si pode entrar em dissolução rapidamente quando exposto à luz.
Como se trabalhar com o fungo tóxico não fosse suficiente, os solventes e reagentes (compostos usados para provocar reações químicas) também são incrivelmente perigosos. O solvente hidrazina anidra, por exemplo, pode explodir quando aquecido. É extremamente venenoso e um cancerígeno conhecido. Outro composto frequentemente usado no processo, o clorofórmio, também pode causar câncer, bem como danos severos ao rim e ao fígado. Ambos os compostos - a hidrazina e o clorofórmio - podem ser facilmente absorvidos pela pele ou inalados.
Uma folha de selos ácidos decorada com o Chapeleiro Maluco, de "Alice no País das Maravilhas"
O alcalóide do fungo é sintetizado em um composto lisérgico chamado hidrazida de ácido iso-lisérgico, por meio da adição de compostos químicos e processos de aquecimento. Em seguida, a hidrazida de ácido iso-lisérgico é isomerizada, o que significa que os átomos em suas moléculas são rearranjados por meio de processo químico. Ela é resfriada, misturada com um ácido e uma base e evaporada. O que resta é a dietilamida iso-lisérgica, que é isomerizada novamente para produzir o LSD ativo. O LSD é então purificado e cristalizado.
O que acontece depois? No passado, o LSD era feito em tabletes (micropontos), simplesmente dissolvido em água ou outros líquidos para ser transformado em gotas, ou em quadradinhos de gelatina. Contudo é raro ver o LSD nessas formas hoje. Em vez disso, ele é normalmente dissolvido em etanol. Folhas de papel para selo são, então, mergulhadas na solução de LSD e secas. Essas folhas de selo ácido são normalmente impressas com personagens de desenho animado ou outros gráficos coloridos. As folhas são perfuradas de modo a formar pequenos quadrados de cerca de 6,35 mm de largura. Cada quadrado é uma dose, e uma folha pode conter até 900 doses.
Esses quadrados são mastigados e engolidos. Embora o LSD possa ser injetado, especialmente em usos terapêuticos, isso não é necessário por a droga ser rapidamente absorvida pelo corpo quando ingerida. Então, como é a viagem do LSD? Descubra a seguir.
Viagens com o LSD
É comumente dito que o LSD provoca alucinações, mas isso não é bem verdade. Quando uma pessoa tem uma alucinação, acredita que tudo o que vê ou sente é real. O LSD muda a maneira como a pessoa percebe o mundo à sua volta, bem como o que ela pensa e sente, mas as pessoas sob efeito do LSD não veem coisas que não estão lá. Elas veem o que já está lá de forma diferente, e na maioria da vezes, estão conscientes de que as percepções alteradas são causadas pela droga.
Depois de tomar o LSD, os efeitos - conhecidos como "viagem"- começam normalmente em uma hora e podem durar até 12 horas, com um pico no meio da experiência. A maneira como o LSD afeta exatamente cada pessoa varia amplamente. Algumas mudanças físicas no corpo durante a viagem incluem pupilas dilatadas, aumento da pressão arterial e alta da temperatura do corpo. Pessoas sob efeito do LSD podem sentir-se tontas, suar, ter visão borrada e sentir formigamento nos pés e nas mãos. Podem sentir-se adormecidas, mas não sonolentas.
Os principais efeitos do LSD são visuais. As cores parecem mais fortes, e as luzes, mais brilhantes. Objetos que são fixos podem parecer mover-se ou ter um halo em torno deles. Às vezes, objetos têm trilhas de luz saindo deles ou parecem menores ou maiores do que realmente são. Usuários de LSD frequentemente veem padrões, formas, cores e texturas. Às vezes, parece que o tempo está andando para trás, ou se movendo rápida ou lentamente. Em ocasiões muito raras (embora muitas vezes seja colocada como comum), a viagem pode causar sinestesia - uma confusão de sensações entre diferentes tipos de estímulos. Algumas pessoas descreveram isso como ouvir cores e ver sons.
Há um senso geral de felicidade e euforia. Tudo é lindo, interessante e mágico. Pessoas sob LSD frequentemente tornam-se muito emotivas e sonhadoras. Grandes doses da droga podem fazê-las sentir-se especialmente contemplativas. Elas sentem que sua mente ultrapassou as fronteiras normais, e frequentemente alegam ter tido experiências que são espirituais ou religiosas, com um novo entendimento de como o mundo funciona.
Pessoas viajando no LSD são geralmente impulsivas e têm capacidade de julgamento muito pobre. Esta é parte da razão pela qual usuários de LSD preferem viajar em grupo, com pessoas que tenham experiência, e em lugares calmos, como em casa ou em um parque. Grandes amizades foram formadas entre pessoas que viajaram juntas. Para quem não está viajando, mas observando, usuários de LSD podem parecer assustadores: podem gastar muito tempo ponderando sobre algo que parece incrivelmente sem importância, e não são sempre fáceis de entender. Quando eles falam, falam rapidamente e pulam de um assunto para outro.
Viagens como as descritas acima são consideradas "good trip". A maioria das pessoas que usaram LSD sabe que há sempre a possibilidade de uma experiência desagradável, ou "bad trip". Não está realmente claro o que causa a bad trip, já que cada viagem pode ser muito diferente dependendo da pessoa. Usuários de LSD muitas vezes dizem que é devido ao "set and setting" (indivíduo e ambiente). Isso significa que se você já está de mau-humor, ou viaja em um ambiente altamente estruturado, que exige que você pense logicamente, pode ter uma bad trip. Isso pode incluir perder de vista o aspecto ilusório da viagem, o que resulta em medo e paranóia. A perda de controle é assustadora, e parece que a viagem nunca vai acabar. Muitas vezes quando alguém tem uma bad trip, é levado para o hospital. Contudo, não há muito o que os médicos possam fazer além de dar à pessoa um lugar calmo para restaurar a confiança. Eles podem administrar um ansiolítico ou um tranquilizante leve para acalmar o pânico do paciente. Quando a viagem termina, o paciente pode sentir-se tonto e nauseado, mas geralmente se recupera sem efeito colateral.
Para alguns, uma única bad trip é suficiente para amaldiçoar o LSD para sempre. Mesmo se os usuários de LSD não têm uma bad trip, o uso pesado da droga pode causar uma série de problemas. A seguir, vamos ver como o LSD funciona no corpo e seus efeitos na saúde mental e física.
Efeitos do LSD no corpo
Pesquisadores não estão 100% certos sobre o que o LSD faz no sistema nervoso central, ou exatamente o que provoca os efeitos alucinógenos. Isso é em parte porque nunca houve estudos científicos sobre como o LSD afeta o cérebro. Acredita-se que o LSD funcione de maneira similar à serotonina, o neurotransmissor responsável por regular o humor, o apetite, o controle muscular, a sexualidade, o sono e a percepção sensorial. O LSD parece interferir na maneira como os receptores de serotonina do cérebro funcionam. Ele pode inibir a neurotransmissão, estimulá-la, ou ambos. Ele também afeta a forma como a retina processa a informação e conduz essa informação ao cérebro.
Apenas 0,25 microgramas de LSD para 1 quilo de peso do nosso corpo pode produzir efeitos. Uma dose típica de hoje tem essa quantidade; nos anos 60, a dose era até quatro vezes maior. Quando uma pessoa toma LSD, a droga é rapidamente metabolizada no fígado e com o tempo excretada na urina. Uma pequena quantidade é deixada no corpo no final da viagem e provavelmente terá ido embora completamente semanas depois.
Já foi dito que o LSD permanece para sempre no corpo em minúsculas quantidades no cérebro ou na medula espinhal, mas não há evidências que suportem essa afirmação. Quem acredita nisso, contudo, diz que o cérebro retém o LSD e pode liberar suas moléculas com o tempo, e isso pode causar "flashbacks". Um flashback ocorre quando a pessoa que usou LSD no passado tem uma experiência (durando de segundos a horas) de forma similar à de uma viagem de verdade. Alguns usuários de LSD gostam desses flashbacks e os consideram "viagem grátis", enquanto outros os acham extremamente chatos. A maioria dos usuários de LSD relata nunca ter tido flashbacks, e algumas pessoas defendem que eles nem sequer existem. Esse tópico é muito controverso entre usuários de LSD e pesquisadores.
Dos que relataram experiências de flashback, muitos são também mentalmente doentes. Alguns médicos sugerem que o que o usuário percebe como um flashback é, na verdade, uma forma de psicose ou doença mental que pode ter emergido devido ao uso do LSD. Há um transtorno reconhecido pelos médicos chamado Distúrbio de Percepção Alucinógena Persistente (Hallucinogen Persisting Perception Disorder, HPPD), em que algumas pessoas que tomaram LSD constantemente experimentam alucinações visuais (como oposição aos breves flashbacks). Ainda não se sabe exatamente o que faz algumas pessoas mais suceptíveis a isso que outras.
Na próxima página, vamos ver o pior dos cenários.
Perigos e abuso do LSD
Houve poucos relatos de overdoses de LSD que resultaram em morte ou problemas de saúde permanentes. Em 1973, um caso foi relatado pelo "The Western Journal of Medicine", em que oito pessoas tomaram overdoses massivas de LSD em uma festa. Elas pensaram que o pó branco sendo passado na festa era cocaína e cheiraram miligramas dele. A maioria desmaiou. No hospital, tiveram febre, vômito e hemorragia interna. Contudo, todos os pacientes se recuperaram em 12 horas e sem nenhum efeito duradouro. Cinco deles foram examinados regularmente durante um ano para problemas de longo prazo.
Houve relatos de ataques cardíacos (infartos), derrames e outras mortes associadas ao uso do LSD, mas muitos desses usuários também tinham outras drogas recreativas em seus sistemas, de modo que a culpa do LSD não foi provada.
Dirigir sob efeito de LSD pode não ser uma boa idéia
O dano físico real associado ao LSD vem do que pode acontecer quando alguém perde a inibição e tem alterações de comportamento, percepções distorcidas ou senso de imortalidade durante a viagem. Usuários de LSD mataram-se acidentalmente ao andar na frente de um carro, ou envolvendo-se em um acidente de carro durante a viagem, ou caindo de janelas ou edifícios.
Essas pessoas não enlouqueceram. O LSD não tem a tendência de fazer alguém enlouquecer ou tornar-se psicótico. Ele pode interagir com outras drogas e provocar sintomas psicóticos (especialmente outras drogas que atuam nos neurotransmissores). Algumas pessoas com histórico de certas doenças mentais, como esquizofrenia ou psicose, pode ter os sintomas exacerbados pelo LSD. A droga também pode acelerar o início dessas doenças se alguém já vai desenvolvê-la.
Usuários pesados de LSD também podem desenvolver problemas sociais profundos, arruinar completamente seu ciclo de sono e perder o interesse em comida e na higiene pessoal. Eles também perdem o interesse em participar do mundo à sua volta e sentem-se completamente desconectados de todo o mundo. O grande problema é que por estarem tomando o LSD com tanta frequência, eles pensam que o LSD está criando a ilusão de que sua vida é uma bagunça, em vez de reconhecer que ela é realmente uma bagunça.
Você não vai ouvir falar de alguém que esteja fazendo reabilitação por abuso de LSD, porque ele não é uma droga que vicia. Usar o LSD por dias seguidos pode levar a pessoa a desenvolver rapidamente uma tolerância, por isso, ele é raramente usado por mais de uma semana. Uma pessoa que usa LSD duas vezes por semana é considerada um usuário pesado. Fora isso, repetidas viagens tendem a perder sua novidade, e o que uma vez pareceu mágico se torna lugar comum. Os efeitos causados pelo LSD não são confiáveis como o são os efeitos de outras drogas - você nunca sabe como vai se sentir ou o que vai ver. Viciados anseiam por confiabilidade.
A seguir vamos dar uma olhada no LSD que é usado para outros fins que não recreativos.
LSD como medicamento
Antes de ser uma droga recreativa, o LSD era usado na terapia psiquiátrica. No começo, os psiquiatras esperavam que o LSD provasse ser a cura para algumas formas de doença mental. Acreditava-se que dar LSD a um paciente dispensaria a necessidade de anos de psicoterapia e provocaria mudanças permanentes no comportamento e na personalidade. Entre 1950 e 1965, aproximadamente 40 mil pacientes receberam tabletes de Delysid, da Sandoz [fonte: Henderson]. Isso incluiu esquizofrênicos, obsessivos-compulsivos, depressivos e autistas. Ele também foi administrado em pessoas consideradas mentalmente doentes com perversões sexuais, como homossexualidade.
Houve dois tipos principais de terapia que incorporaram o uso do LSD. Na Europa, a terapia psicolítica era comum. Psiquiatras davam aos pacientes doses baixas de LSD (50 microgramas ou menos) durante várias sesões e os encorajavam a se concentrar na infância e no subconsciente. Psiquiatras americanos tenderam a usar mais a terapia psicodélica. Eles davam aos seus pacientes altas doses de cerca de 200 microgramas por algumas poucas sessões. Em vez de trazer à tona memórias da infância, esses médicos esperavam que as altas doses de LSD provocassem um despertar espiritual positivo e encorajasse os pacientes a encontrar um significado em suas vidas e a querer melhorar.
A abordagem do despertar espiritual também foi usada em alcoólicos, que eram difíceis de tratar por outros tipos de terapia. Alguns psiquiatras tentavam induzir uma forma de delirium tremens, que podia levar os alcoólicos a "corrigir-se". O LSD também era dado a criminosos na esperança de que eles pudessem ser corrigidos. Embora muitos pisquiatras tenham relatado bons resultados, houve poucos estudos abrangentes. Os estudos em pequena escala são considerados falhos hoje porque eles não empregaram controles.
A Sandoz recomendava doses muito específicas de LSD e determinou que a droga só deveria ser administrada por um psiquiatra em um ambiente médico controlado. Claro que houve um mercado negro da droga em 1962. Como o uso recreativo cresceu, o governo federal ficou progressivamente preocupado com os efeitos do LSD e tomou providências para restringir seu uso oficial. Muitos pesquisadores sentiram que seus estudos foram abortados antes que eles pudessem chegar a uma conclusão definitiva sobre os efeitos terapêuticos do LSD. Em 1965, bem poucos pesquisadores nos EUA ainda tinham permissão para possuir LSD. Havia apenas seis projetos conduzidos em 1969, e, em 1974, o Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH) declarou que o LSD não tinha valor terapêutico real.
O último estudo terapêutico com LSD nos EUA aconteceu nos anos 80. Os pesquisadores acreditavam que o LSD poderia ser benéfico para pacientes terminais porque os ajudava a ter consciência de seu ambiente, aliviava suas dores e fazia-os sentir-se mais conectados com seus familiares. O estudo terminou, contudo, antes de a idéia ser completamente explorada.
Atualmente há estudos usando o LSD em humanos em outros países, como Suíça e Reino Unido. Em setembro de 2008, a Food and Drugs Administration (FDA) abriu as portas novamente para pesquisas clínicas com pacientes terminais usando LSD. Isso pode sinalizar um interesse renovado em outros usos terapêuticos da droga.
Na próxima página, vamos falar sobre um grupo de pessoas comumente associado com o LSD: os hippies.
História cultural do LSD
O LSD teve um papel importante no movimento da contracultura dos anos 60. À medida que o uso saiu dos projetos de pesquisa das universidades e foi para as ruas, o LSD ganhou o mérito de expandir as mentes de jovens que estavam desiludidos com o status quo. Vamos dar uma olhada em algumas pessoas e seus meios para difundir e popularizar a droga.
Os hippies representaram o movimento da contracultura nos anos 60 e estão associados ao uso de LSD
Dr. Timothy Leary era professor de psicologia em Harvard quando experimentou a psilocibina de cogumelos pela primeira vez em 1960. Ele ficou tão mexido pela experiência, que criou, junto com o colega de Harvard Richard Alpert, um estudo para testar os efeitos de drogas psicodélicas. Leary acreditava que eles poderiam tratar um grande número de doenças mentais e modificar profundamente aqueles que as tomassem. Reclamações de pais e outros, contudo, levaram Harvard a demitir Leary em 1963.
Em 1964, ele co-escreveu um livro sobre drogas psicodélicas e, no ano seguinte, fundou a Liga da Descoberta Espiritual. Esta religião declarou o LSD um sacramento sagrado que deveria ser mantido legalizado para a liberdade religiosa. Leary viajou o país com uma apresentação que tentava demonstrar a experiência de viajar. Ele cunhou a frase que viria exemplificar o movimento LSD, "turn on, tune in, drop out", durante um discurso em 1967 em São Francisco diante de 30 mil hippies. Mais tarde Leary declarou em sua bografia que "'turn on' significava ativar o equipamento genético e neural [..] 'Tune in' significava interagir harmoniosamente com o mundo à sua volta [...] e 'Drop out' queria dizer só depende de você mesmo"[fonte: Leary]. Ele ficou desapontado por as pessoas pensarem que ele quis dizer "Fique chapado e abandone toda a atividade construtiva".
Ken Kesey era um escritor cuja primeira experiência com LSD aconteceu quando foi voluntário em um estudo da CIA sobre os efeitos das drogas psicodélicas. Como experimento social, ele e seus amigos, conhecidos como "The Merry Pranksters", viajaram pelo país em um ônibus escolar chamado "Furthur". Suas aventuras foram documentadas pelo jornalista Tom Wolfe no livro "The Electric Kool-Aid Acid Test".
Enquanto Timothy Leary defendia um uso mais sério e controlado do LSD, Kesey era um populista do ácido, que acreditava que se pessoas suficientes usassem a droga, a sociedade como um todo poderia ser transformada. Em 1965, ele começou a organizar festas divulgadas com cartazes em que se lia "Você pode passar no teste do ácido?". Kesey acreditava que os testes do ácido expandiriam a consciência e começariam uma revolução.
Garota com olhos de caleidoscópio"Lucy in the Sky with Diamonds", dos Beatles, é a música do LSD? John Lennon não negou que a letra foi inspirada pela experiência com drogas, mas afirmou que ele não notou, até que alguém mostrasse, que o título formava a sigla LSD. Ele disse que o título foi dado por seu filho Julian, que pintou um quadro de sua colega de classe Lucy cercada por estrelas cintilantes. Quando Lennon perguntou a Julian como se chamava a pintura, este respondeu "Lucy in the sky with diamonds". Lennon mostrou a pintura e sustentou até a sua morte que ela era a origem do título.
Owsley Stanley era um químico auto-didata que ajudou a tornar o LSD popular e acessível na influente seção Haight-Ashbury, de San Francisco. Quando estudante na Universidade da Califórnia, em Berkeley, Stanley experimentou LSD, mas foi frustrado pelas amplas diferenças em qualidade e pureza. Ele, então, montou seu próprio laboratório para fazer o LSD puro, de alta qualidade, que ficou conhecido como "Owsley LSD", ou simplesmente "Owsley". O Owsley se tornou o padrão pelo qual outros LSD eram medidos depois que a Sandoz parou de fabricar a droga e esta se tornou ilegal. Stanley frequentemente distribuía seu LSD gratuitamente, e calcula-se que ele tenha preparado meio quilo de LSD - suficiente para 10 milhões de tiras de 50 microgramas. Ele também criou uma síntese de LSD que era 99 porcento puro chamado White Lightning, bem como a droga psicodélica STP.
Stanley também se tornou amigo da banda Grateful Dead (que tocou nos testes ácidos de Kesey) e trabalhou como seu engenheiro de som. Ele não apenas influenciou pesado o som da banda, como também desenhou o logo de caveira com raio e foi a inspiração para o logo dos ursos dançantes, em razão de seu apelido "The Bear". Então, o que aconteceu entre os anos 60 e hoje?
As leis da droga LSD hoje
Nos Estados Unidos de hoje, o LSD é uma substância controlada da Tabela 1 da Lei de Substâncias Controladas (CSA). Isso quer dizer que o governo federal acredita que o LSD tem alto potencial de abuso, uso com ausência de segurança aceitável quando ingerido sob supervisão médica e nenhum uso médico atual. O último critério é importante; LSD é uma droga da Tabela 1, mas a cocaína é da Tabela 2, devido a alguns usos médicos (como anestesia local). Há maiores ramificações legais, em outras palavras, para o LSD do que para a cocaína.
O guitarrista dos Rolling Stones, Keith Richards, foi processado por porte de LSD e cocaína em 1977
A penalidade federal para o primeiro delito por posse de LSD é no máximo um ano na prisão ou no mínimo multa de US$ 1.000. Novas transgressões podem aumentar o tempo de prisão até três anos.
As penas por fazer ou vender LSD são baseadas não apenas no número de delitos, mas na quantidade envolvida. Assim, mesmo se for a primeira transgressão, se a quantidade é até 10 gramas, o infrator pode passar de 5 a 40 anos na cadeia e ainda pagar uma multa de US$ 2 milhões. Quantidades maiores podem resultar em prisão perpétua. Decisão da Suprema Corte em 1991 determinou que quando da pesagem do ácido blotter, o peso do papel pode ser incluído. Já que a verdadeira quantidade do LSD no papel é tão pequena, algumas pessoas alegaram que isso resulta em sentenças injustamente duras. Há poucas prisões federais por LSD, contudo - menos de 2% de todas as prisões da DEA.
E quem são esses usuários de LSD? De acordo com a 2007 National Household Survey on Drug Use & Health, cerca de 9% de americanos acima de 12 anos usaram LSD ao menos uma vez na vida.
Este é o perfil do usuário médio de LSD:
- Homem branco entre 18 e 22 anos que experimentou pela primeira vez a droga entre 15 e 19 anos.
- Mora mais provavelmente no Oeste dos EUA, vem de família abastada e tem pais educados.
- Usou LSD apenas algumas vezes, mas também tende a usar álcool, maconha e cocaína.
À medida que a faixa etária na pesquisa aumenta, o uso de LSD geralmente cai, significando que usuários de LSD têm carreira curta. Houve um leve aumento do uso do LSD entre formandos do high school (curso equivalente ao ensino médio brasileiro) no comeco dos anos 90, mas isso se manteve entre 8% e 10% desde que a pesquisa começou, em 1975.
Mais informações sobre LSD
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Mais links interessantes:
The Albert Hofmann Foundation
Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies
National Institute on Drug Abuse: Hallucinogens
U.S. Drug Enforcement Administration: LSD
Fontes
- The Albert Hofmann Foundation
- Cavallo, Dominick. "A Fiction of the Past: The Sixties in American History." St. Martin's Press, 1999.
- Henderson, Leigh A. and William J. Glass. "LSD: Still With Us After All These Years." Jossey-Bass, 1998.
- "The Hippies: Philosophy of a Subculture." Time Magazine, July 7, 1967.
- Hofmann, Albert. "LSD: My Problem Child." McGraw-Hill, 1980.
- Klock, John C., et al. "Coma, Hyperthermia and Bleeding Associated with Massive LSD Overdose: A Report of Eight Cases." Western Journal of Medicine, Vol. 120, issue 3, March 1974.
- Leary, Timothy. "Flashbacks." Tarcher, 1997.
- Lee, Martin. "Acid Dreams: The CIA, LSD, and the Sixties Rebellion." Grove Press, 1985.
- Lewisohn, Mark. "The Complete Beatles Chronicle." Hamlyn, 2006.
- "LSD." U.S. Drug Enforcement Administration, August 2006.
- Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies
- "NIDA Info Facts: Hallucinogens." National Institutes on Drug Abuse, July 2008.
- "Safety Data for Hydrazine (Anhydrous)." Physical and Theoretical Chemistry Laboratory, Oxford University, November 12, 2008.
- Solomon, David. "LSD: The Consciousness Expanding Drug." Berkley, 1965.