Psicodélico: 2009

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Psicoterapia psicodélica

Psicoterapia psicodélica refere-se à prática de psicoterapia envolvendo o uso de drogas psicodélicas. Como uma alternativa para os sinônimos tais como "alucinógenos" ou "enteógenos" e outros nomes construídos funcionalmente, o uso do termo psicodélico enfatiza a habilidade que as drogas psicodélicas têm de facilitar a exploração da psique, que é fundamental para a maioria dos métodos de psicoterapia psicodélica.

Segundo Fontana (1969) essas substâncias devem ser consideradas como auxiliares da psicoterapia no sentido de aumentar o insight e favorecer a conexão e não como um uso per se, que pode remover ansiedades latentes que deveriam ser elaboradas no processo psicoterápico. Assinala a indicação para a maioria dos pacientes neuróticos e chama atenção do risco de surto psicótico em pacientes susceptíveis.


Peyote

História

Psicoterapia psicodélica, no mais amplo senso, confunde-se com o estudo e utilização de técnicas de meditação e êxtase religioso pela psicologia que é provavelmente tão antigo quanto o conhecimento humano sobre plantas alucinógenas. Embora predominantemente visto como espiritual por natureza, elementos da prática psicoterapêutica podem ser reconhecidos nos rituais enteogénicos que integram as práticas médicas de muitas culturas. Notavelmente em algumas regiões da América Central (integrantes das culturas Maia e Asteca) e América do Sul (Incas e alguns povos da Amazônia e Nordeste do Brasil) reúnem a maioria das substancias conhecidas como alucinógenos e Enteógenos.

Alguns estudos precursores poderiam ser citados entre estes o estudo sistemático do Peiote o cacto Anhalonium lewinii em 1886 utilizado pelos índios do México e Sudoeste dos Estados Unidos (atualmente integrantes da Native American Church) pelo farmacologiasta Ludwig Lewin que dele isolou a Mescalina a partir do que se iniciaram estudos realizados por psicólogos famosos como Havelock Ellis, Jaensch e Weir Mitchell (Huxley, 1953/ 1965) e os estdos e experiência de Richard Spruce (1817-1893) e Alfred Russel Wallace (1823-1913) com a Aya-huasca na Amazônia na segunda metade so séc. XIX.

O uso de agentes psicodélicos na psicoterapia ocidental se iniciou na década de 1950, depois da distribuição de LSD para pesquisadores, feita por seu fabricante, Sandoz Laboratories. Pesquisas extensivas quanto ao uso experimental, quimioterapêutico e psicoterapêutico de drogas psicodélicas em todo o mundo por 15 anos após sua descoberta. Muitos estudos descobriram que o uso das drogas psicodélicas facilitaram em muito os processos psicoterapêuticos, e provaram particular utilidade para pacientes com problemas que de outra forma seriam de difícil tratamento, incluindo sobretudo alcoólicos, viciados em drogas, pacientes terminais além de autistas, alguns tipos de enxaqueca (cefaléia em salvas), sociopatas e psicopatas.

Em meados da década de 1960, em resposta a interesses em relação a proliferação do uso desautorizado das drogas psicodélicas pelo público em geral (especialmente a contracultura), vários passos foram dados para cortar seu uso. Cedendo à pressão do governo, em 1965 a Sandoz suspendeu a produção de LSD, e em muitos países este foi banido, ou disponilbilizado tão limitadamente que tornou difícil a sua pesquisa. Em 1980 a pesquisa autorizada em aplicações psicoterapêuticas de drogas psicodélicas tinham sido essencialmente descontinuadas ao redor do mundo.

Uso terapêutico

Uma das intrigantes formas de uso de vegetais que contém substâncias alucinógenas é o caso da Ipomoea purpurea ou I. violácea conhecida como Glória da Manhã (Morning Glory) que para alguns autores corresponde ao ololiuhqui que contém ácido lisérgico e faz parte do sistema etnomédico nahuattl dos astecas/toltecas, com a qual se prepara uma essência floral diluída centenas ou milhares de vezes assim como os medicamentos homeopáticos. Observe-se que o seu elemento ativo básico é o LSA – Amida do Ácido Lisérgico (Lysergic Acid Amides) e não a Dietilamida do Ácido Lisérgico (lysergic acid diethylamide) ou LSD do qual ignora-se se contém frações e/ou se ocorre espontaneamente uma biotransformação.

Como essência floral a Ipoméia é comercializada em vários sistemas, como no Sistema Floral de Minas, com o nome de Ipomea, no Sistema Floral do Nordeste com o nome de Água Azul, no Sistema Florais da Califórnia com o nome de Morning Glory a sua indicação é segundo a Rio Flor a recuperação dos usuários de drogas e de todos aqueles que possuem estilos de vida desregrados, auxiliando a alma a se libertar dos vínculos e das dependências que as tiram a oportunidade de viver dentro do mundo real e alcançar seu propósito de vida.

As diferenças entre as distintas substâncias enteógenas ou mesmo sua presença em doses homeopáticas (independente dos questionamentos da sua presença material ou efeito placebo) reforçam a idéia que o efeito da substância e de sua função terapêutica têm que ser compreendidos na perspectiva de um conjunto (set) de expectativas e vivências simbólicas para o que o terapeuta precisa estar preparado para conduzir, pois não é apenas administrar a indicação e o risco de ingestão de um medicamento.

A formação de terapeutas com tal especialização no momento no Brasil, nos Estados Unidos da América do Norte, em alguns países da América do Sul e em muitos países ainda é apenas uma possibilidade teórica, pois a utilização de tais substâncias apenas é permitida no contexto de uso tradicional delimitada pela psiquiatria, psicologia antropologia da saúde da religião e controlada no Brasil pelo CONAD - Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas e nos EUA o é FDA - Food and Drug Administration e o DEA - Drug Enforcement Administration.

Perspectivas teóricas

Apesar de não legalmente instituída pelos órgãos de regulação e controle profissional do Brasil, no plano teórico já existem como referidas pesquisas de resultados terapêuticos de seu emprego na medicina tradicional e/ou segurança quanto a ser inofensivo à saúde o consumo dentro das práticas tradicionais. Contudo no plano teórico ainda não se formou um consenso quanto à forma do método terapêutico ou linha teórica de atuação. Sem dúvida esse conflito reflete a própria dificuldade de conceituação e intervenção das teorias e técnicas psicoterápicas.

Diversos protocolos de pesquisa vêm sendo desenvolvidos a exemplo Psicoterapia com LSD (LSD – assisted psychotherapy) em pessoas sofrendo de ansiedade associado à estágio avançados de doenças terminais, ou proposições de intervenção vem sendo desenvolvidas em centros para tratamento e recuperação de drogadição a exemplo do Takiwasi Centre. Já existem institutos que acompanham apóiam e desenvolvem pesquisas como o MAPS que é uma associação multidisciplinar para o estudo de substâncias psicodélicas e utilização medicinal da Cannabis sativa que tem como objeto de pesquisa o stress pós - traumático, drogadição; Sociedades médicas como a SÄPT - Sociedade suíça de médicos para terapia psicodélica criada por Peter Baumann e no Brasil o NEIP - Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre Psicoativos, entre outras associações.

Considerando então esse conjunto de pesquisas das áreas médicas e sociais o que se pode antever como proposição psicoterápica são a combinação das técnicas que possuem evidências clínicas no tratamento nos transtornos mentais já referidos a exemplo do emprego psicologia analítica jungniana com pacientes terminais, as proposições da psicologia transpessoal principalmente porque inclui pesquisadores de substancia psicodélicas como Stanislav Grof ou terapia cognitivo comportamental no controle da drogadição naturalmente além das intervenções que já se realizam a partir da psicofarmacologia e homeopatia como no caso da Morning Glory.

Numa lista provisória de pesquisadores com contribuições relevantes inclui-se:
- Gordon Wasson
- Rick Strassman
- Jonathan Ott
- Stanislav Grof
- Peter Baumann
- Albert Hofmann
- Rick Doblin
- Samuel Widmer
- Humphry Osmond
- Alberto E. Fontana

Contudo não se pode ignorar as contribuições dos principais centros urbanos de utilização da hoasca: o Santo Daime a União do Vegetal e a Igreja Nativa Americana que em função de sua legitimação social e convívio com pesquisadores vêm produzido uma nova interface entre a ciência terapêutica e a religião.

Referências

- FONTANA, ALBERTO E. (org.) Psicoterapia com LSD e outros alucinógenos. SP, Mestre Jou, 1969

- GROF, STANISLAV LSD Psychotherapy, 1980. (3ª ed., editora MAPS, ISBN 0-9660019-4-X [2001]). Em inglês.

- HUXLEY, ALDOUS. As portas da Percepção e O céu e o Inferno. RJ, Civilização Brasileira, 1965

- MYRON STOLAROFF, The Secret Chief: Conversations with a pioneer of the underground psychedelic therapy movement, Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (MAPS) 1997. ISBN 0-9660019-0-7 (hardcover) ISBN 0-9660019-1-5 (paperback). Em inglês.

- BLEWETT, D.B., PH.D; CHWELOS N., M.D., A Handbook for the Therapeutic use of LSD-25 [1]. Este texto está parcialmente desatualizado, mas ainda é um boa referência (em inglês).
- PiHKAL (ISBN: 096300965) e TiHKAL (ISBN: 0963009699), de Ann & Alexander Shulgin, incluem capítulos sobre psicoterapia psicodélica (em inglês).

- STOLAROFF, MYRON,Thanatos to Eros [2]. Apesar de não ser estritamente sobre psicoterapia, esse livro discute muitos aspectos da terapia psicodélica (em inglês).

Ligações externas

History of LSD Therapy (Ch. 1 of Grof's, LSD Psychotherapy)

Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (MAPS)

Free online books about psychedelic psychotherapy at MAPS, including The Secret Chief

Recent Psychedelic Research, summary at MAPS site

Athanasios Kafkalides, psychedelic therapist and researcher : biography, information and writings

Eleusis, Alcohol and Drug Addiction Treatment Center: Featuring the pioneering technique of Ketamine psychedelic psychotherapy

Documents for serious Psychonauts, Research papers and articles on the role of psychoactive substances in psychological and shamanic healing practices

Council on Spiritual Practices

Secretaria Nacional Antidrogas - SENAD

EROWID Documenting the Complex Relationship Between Humans & Psychoatives

Takiwasi Centre - Centro de Rehabilitación de Toxicómanos y de Investigación de Medicinas Tradicionales

LSD

Como funciona o LSD

A droga psicodélica LSD foi chamada de ácido, selo (blotter), sol da Califórnia, ponto, microponto, açúcar e incontáveis outros nomes coloridos desde que foi vendida pela primeira vez nas ruas, no começo dos anos 60. Faz sentido que o LSD fosse tão popular. Ele é fácil de tomar - sem cor, sem cheiro e sem gosto -, e ingerir apenas uma minúscula quantidade (25 microgramas, ou 0,000025 gramas, menos que o peso de dois grãos de sal) é o suficiente para sentir os efeitos. Ele também é fácil de ocultar, já que as doses de hoje são geralmente encontradas em minúsculos quadrados de papel absorvente. O LSD ainda é difícil de detectar devido à pequena quantidade ingerida e ao fato de que ele é rapidamente metabolizado pelo corpo. Finalmente, LSD é barato se comparado com outras drogas. Uma dose custa cerca de US$ 5, e frequentemente pode ser conseguida de graça.

Um "Ônibus Mágico" em exposição no The Museum at Bethel Woods Center of the Arts, que foi construído no lugar onde aconteceu o festival Woodstock, de 1969


As mesmas coisas que fazem o LSD tão popular também o tornam assustador, e nós somos avisados sobre seus muitos perigos de tempos em tempos. Por exemplo: você deve ter ouvido que o LSD pode fritar ou esburacar seu cérebro, ou pode deixá-lo louco, ou fazê-lo fazer coisas perigosas. Supostamente, pessoas pularam de prédios ou pontes enquanto estavam "viajando" ou se afogaram porque pensavam que poderiam andar sobre a água. Há histórias de pessoas que, querendo atrair crianças para o LSD, colocavam a droga nos selos postais ou em tatuagens de chiclete. Nada disso é verdade. Na verdade, muitas dessas coisas que ouvimos que o LSD faz, e o que a pessoa faz sob sua influência, são mitos ou exageros criados para assustar adolescentes impressionáveis.

A verdade é que, embora o LSD exista há mais de 60 anos e tenha sido tomado por milhares e milhares de pessoas, ele ainda não é bem compreendido pela maioria de nós. Ainda que esteja associado para sempre com os hippies e o movimento da contracultura dos anos 60, o LSD foi sintetizado pela primeira vez por pesquisadores procurando criar novos medicamentos. Vamos começar com o começo do LSD - em um laboratório na Suíça.


A história do LSD


O químico suíço Albert Hoffmann trabalhava em um laboratório da companhia farmacêutica Sandoz quando sintetizou o LSD pela primeira vez. A Sandoz estava trabalhando em um projeto de pesquisa envolvendo um fungo parasita chamado ergot que cresce no centeio, conhecido como Claviceps purpurea. Na Idade Média esse fungo envenenou milhares de pessoas que comeram pão de centeio infectado. O fungo também era usado por parteiras, que às vezes o davam a mulheres grávidas para acelerar o trabalho de parto. No século 19, a maioria dos médicos considerava a prática perigosa demais porque altas dosagens levavam a contrações muito fortes, colocando o bebê em perigo. Apesar disso, às vezes os médicos usavam o ergot para parar o sangramento após o nascimento da criança.


Albert Hoffman, que descobriu o LSD


Nos anos 30, pesquisadores do Instituto Rockefeller, em Nova York, isolaram o ácido lisérgico de um composto do ergot. Essa pesquisa foi a base para o trabalho de Hoffmann na Sandoz. Enquanto estava derivando diferentes compostos do ácido lisérgico, Hoffmann desenvolveu vários medicamentos, incluindo drogas que baixavam a pressão arterial e melhoravam as funções cerebrais em idosos. Em 1938, Hoffmann isolou o 25o composto em uma série desses experimentos. Era a dietilamida do ácido lisérgico, o LSD-25. Ele achava que o LSD-25 podia estimular a respiração e a circulação. Mas testes não mostraram nada de especial, e a Sandoz abandonou estudos adicionais.


Cinco anos depois, os pensamentos de Hoffmann voltaram para o potencial do LSD-25. Ele sentiu que o LSD-25 não tinha sido totalmente explorado, então deu um passo incomum ao sintetizar outro lote para testes adicionais. Durante o processo, contudo, Hoffmann começou a se sentir estranho. Ele parou seu trabalho e foi para casa cedo, "sendo afetado por uma inquietação memorável, combinada com uma leve tontura". Já em casa, ele estava em um "estado irreal" e percebeu um fluxo ininterrupto de imagens fantásticas, formas extraordinárias com um caleidoscópio de cores intenso". Naquele momento, Hoffman percebeu que tinha ficado com um pouco da solução nos dedos. (Mais tarde ficaria comprovado que ele colocou seu dedo na boca, já que o LSD não podia ser absorvido pela pele.)


No dia seguinte, Hoffman propositalmente tomou o LSD. Ele pegou 250 microgamas, dez vezes mais que a típica dose mínima de hoje. Hoffmann ficou delirante e mal podia falar. Inicialmente, ele entrou em pânico e pediu a seu assistente de laboratório para chamar um médico. O médico não encontrou nada errado com Hoffmann além do fato de suas pupilas estarem dilatadas - ele tinha a pressão arterial, batimentos cardíacos e respiração normais. Logo seu pânico deu lugar à euforia, e Hoffmann mais uma vez viu formas belas e coloridas. No dia seguinte, contou aos outros na Sandoz o que havia acontecido, e eles experimentaram resultados similares. Nenhuma outra droga conhecida tinha efeitos tão fortes em tão pequenas doses.


Após testes em animais, a Sandoz deu o LSD para institutos de pesquisas e médicos usarem em experimentos psiquiátricos, tanto em pacientes saudáveis quanto em mentalmente doentes. A pesquisa foi persuasiva o suficiente para convencer a Sandoz a patentear o LSD e levá-lo ao mercado como Delysid em 1947. Ele foi vendido em tabletes de 25 microgramas para uso na psicoterapia analítica. A Sandoz também sugeriu que psiquiatras tomassem a droga eles mesmos, assim poderiam entender melhor seus pacientes. Dois anos depois, médicos do Hospital Psicotrópico de Boston estavam usando o LSD em seus pacientes. Em 1960, havia centenas de pesquisas publicadas nos jornais médicos e científicos sobre os vários usos do LSD - era a palavra da comunidade psiquiátrica. Mas em 1966, a Sandoz parou de fabricar de vez o LSD.
Agora vamos ver como o LSD passou a ser ilegal.


Como fazer LSD


A Sandoz manteve a patente do LSD até 1963 e parou de fabricá-lo logo depois. A empresa alegou que estava preocupada com a falta de regulamentação e com as informações imprecisas sobre a droga que estavam sendo perpetuadas. Naturalmente, isso não impediu ninguém de fazer o seu próprio LSD - o que era permitido até 1965.


Fazer LSD requer um forte conhecimento de química orgânica, um laboratório completo montado (incluindo a capacidade de esterilizar equipamentos bem como acesso a uma sala escura), e várias substâncias químicas que estão atualmente ou com venda restrita ou têm suas vendas monitoradas de perto pela Agência Antidrogas dos EUA (DEA). Ao contrário das substâncias químicas usadas na fabricação de metanfetamina, as do LSD não podem ser encontradas nos costumeiros itens domésticos.


Há duas formas diferentes de fazer LSD. Algumas "receitas" podem começar com ácido lisérgico. Outras receitas online pedem por sementes de morning glory (Ipomoea violacea), que podem ser especialmente perigosas porque são frequentemente vendidas com uma cobertura tóxica para desencorajar o consumo. As sementes de morning glory e as sementes de algumas plantas relacionadas contêm LSA, ou amido de ácido lisérgico. O LSA pode ser extraído de sementes e produz um leve barato. Ele é considerado um precursor do LSD, embora a quantidade de LSA nas diferentes sementes varie tanto que a qualidade da droga feita dele também varia. Aqui, nós vamos ver uma receita que começa com o fungo ergot.


Um químico que faz LSD precisa ser extremamente cuidadoso e bem-informado sobre como trabalhar com o ergot devido à sua toxicidade. Lembra das pessoas envenenadas por pão de centeio na Idade Média? Uma vez que o químico obtém o fungo, tem que, cuidadosa e precisamente, fazer sua cultura para extrair o alcalóide de ergot (um alcalóide é um composto contendo átomos básicos de nitrogênio). A montagem da sala escura se torna necessária aqui, porque o fungo vai decompor sob luzes claras. Na realidade, o LSD em si pode entrar em dissolução rapidamente quando exposto à luz.


Como se trabalhar com o fungo tóxico não fosse suficiente, os solventes e reagentes (compostos usados para provocar reações químicas) também são incrivelmente perigosos. O solvente hidrazina anidra, por exemplo, pode explodir quando aquecido. É extremamente venenoso e um cancerígeno conhecido. Outro composto frequentemente usado no processo, o clorofórmio, também pode causar câncer, bem como danos severos ao rim e ao fígado. Ambos os compostos - a hidrazina e o clorofórmio - podem ser facilmente absorvidos pela pele ou inalados.

Uma folha de selos ácidos decorada com o Chapeleiro Maluco, de "Alice no País das Maravilhas"

O alcalóide do fungo é sintetizado em um composto lisérgico chamado hidrazida de ácido iso-lisérgico, por meio da adição de compostos químicos e processos de aquecimento. Em seguida, a hidrazida de ácido iso-lisérgico é isomerizada, o que significa que os átomos em suas moléculas são rearranjados por meio de processo químico. Ela é resfriada, misturada com um ácido e uma base e evaporada. O que resta é a dietilamida iso-lisérgica, que é isomerizada novamente para produzir o LSD ativo. O LSD é então purificado e cristalizado.

O que acontece depois? No passado, o LSD era feito em tabletes (micropontos), simplesmente dissolvido em água ou outros líquidos para ser transformado em gotas, ou em quadradinhos de gelatina. Contudo é raro ver o LSD nessas formas hoje. Em vez disso, ele é normalmente dissolvido em etanol. Folhas de papel para selo são, então, mergulhadas na solução de LSD e secas. Essas folhas de selo ácido são normalmente impressas com personagens de desenho animado ou outros gráficos coloridos. As folhas são perfuradas de modo a formar pequenos quadrados de cerca de 6,35 mm de largura. Cada quadrado é uma dose, e uma folha pode conter até 900 doses.

Esses quadrados são mastigados e engolidos. Embora o LSD possa ser injetado, especialmente em usos terapêuticos, isso não é necessário por a droga ser rapidamente absorvida pelo corpo quando ingerida. Então, como é a viagem do LSD? Descubra a seguir.

Viagens com o LSD

É comumente dito que o LSD provoca alucinações, mas isso não é bem verdade. Quando uma pessoa tem uma alucinação, acredita que tudo o que vê ou sente é real. O LSD muda a maneira como a pessoa percebe o mundo à sua volta, bem como o que ela pensa e sente, mas as pessoas sob efeito do LSD não veem coisas que não estão lá. Elas veem o que já está lá de forma diferente, e na maioria da vezes, estão conscientes de que as percepções alteradas são causadas pela droga.

Depois de tomar o LSD, os efeitos - conhecidos como "viagem"- começam normalmente em uma hora e podem durar até 12 horas, com um pico no meio da experiência. A maneira como o LSD afeta exatamente cada pessoa varia amplamente. Algumas mudanças físicas no corpo durante a viagem incluem pupilas dilatadas, aumento da pressão arterial e alta da temperatura do corpo. Pessoas sob efeito do LSD podem sentir-se tontas, suar, ter visão borrada e sentir formigamento nos pés e nas mãos. Podem sentir-se adormecidas, mas não sonolentas.

Os principais efeitos do LSD são visuais. As cores parecem mais fortes, e as luzes, mais brilhantes. Objetos que são fixos podem parecer mover-se ou ter um halo em torno deles. Às vezes, objetos têm trilhas de luz saindo deles ou parecem menores ou maiores do que realmente são. Usuários de LSD frequentemente veem padrões, formas, cores e texturas. Às vezes, parece que o tempo está andando para trás, ou se movendo rápida ou lentamente. Em ocasiões muito raras (embora muitas vezes seja colocada como comum), a viagem pode causar sinestesia - uma confusão de sensações entre diferentes tipos de estímulos. Algumas pessoas descreveram isso como ouvir cores e ver sons.

Há um senso geral de felicidade e euforia. Tudo é lindo, interessante e mágico. Pessoas sob LSD frequentemente tornam-se muito emotivas e sonhadoras. Grandes doses da droga podem fazê-las sentir-se especialmente contemplativas. Elas sentem que sua mente ultrapassou as fronteiras normais, e frequentemente alegam ter tido experiências que são espirituais ou religiosas, com um novo entendimento de como o mundo funciona.

Pessoas viajando no LSD são geralmente impulsivas e têm capacidade de julgamento muito pobre. Esta é parte da razão pela qual usuários de LSD preferem viajar em grupo, com pessoas que tenham experiência, e em lugares calmos, como em casa ou em um parque. Grandes amizades foram formadas entre pessoas que viajaram juntas. Para quem não está viajando, mas observando, usuários de LSD podem parecer assustadores: podem gastar muito tempo ponderando sobre algo que parece incrivelmente sem importância, e não são sempre fáceis de entender. Quando eles falam, falam rapidamente e pulam de um assunto para outro.

Viagens como as descritas acima são consideradas "good trip". A maioria das pessoas que usaram LSD sabe que há sempre a possibilidade de uma experiência desagradável, ou "bad trip". Não está realmente claro o que causa a bad trip, já que cada viagem pode ser muito diferente dependendo da pessoa. Usuários de LSD muitas vezes dizem que é devido ao "set and setting" (indivíduo e ambiente). Isso significa que se você já está de mau-humor, ou viaja em um ambiente altamente estruturado, que exige que você pense logicamente, pode ter uma bad trip. Isso pode incluir perder de vista o aspecto ilusório da viagem, o que resulta em medo e paranóia. A perda de controle é assustadora, e parece que a viagem nunca vai acabar. Muitas vezes quando alguém tem uma bad trip, é levado para o hospital. Contudo, não há muito o que os médicos possam fazer além de dar à pessoa um lugar calmo para restaurar a confiança. Eles podem administrar um ansiolítico ou um tranquilizante leve para acalmar o pânico do paciente. Quando a viagem termina, o paciente pode sentir-se tonto e nauseado, mas geralmente se recupera sem efeito colateral.

Para alguns, uma única bad trip é suficiente para amaldiçoar o LSD para sempre. Mesmo se os usuários de LSD não têm uma bad trip, o uso pesado da droga pode causar uma série de problemas. A seguir, vamos ver como o LSD funciona no corpo e seus efeitos na saúde mental e física.

Efeitos do LSD no corpo

Pesquisadores não estão 100% certos sobre o que o LSD faz no sistema nervoso central, ou exatamente o que provoca os efeitos alucinógenos. Isso é em parte porque nunca houve estudos científicos sobre como o LSD afeta o cérebro. Acredita-se que o LSD funcione de maneira similar à serotonina, o neurotransmissor responsável por regular o humor, o apetite, o controle muscular, a sexualidade, o sono e a percepção sensorial. O LSD parece interferir na maneira como os receptores de serotonina do cérebro funcionam. Ele pode inibir a neurotransmissão, estimulá-la, ou ambos. Ele também afeta a forma como a retina processa a informação e conduz essa informação ao cérebro.


Apenas 0,25 microgramas de LSD para 1 quilo de peso do nosso corpo pode produzir efeitos. Uma dose típica de hoje tem essa quantidade; nos anos 60, a dose era até quatro vezes maior. Quando uma pessoa toma LSD, a droga é rapidamente metabolizada no fígado e com o tempo excretada na urina. Uma pequena quantidade é deixada no corpo no final da viagem e provavelmente terá ido embora completamente semanas depois.

Já foi dito que o LSD permanece para sempre no corpo em minúsculas quantidades no cérebro ou na medula espinhal, mas não há evidências que suportem essa afirmação. Quem acredita nisso, contudo, diz que o cérebro retém o LSD e pode liberar suas moléculas com o tempo, e isso pode causar "flashbacks". Um flashback ocorre quando a pessoa que usou LSD no passado tem uma experiência (durando de segundos a horas) de forma similar à de uma viagem de verdade. Alguns usuários de LSD gostam desses flashbacks e os consideram "viagem grátis", enquanto outros os acham extremamente chatos. A maioria dos usuários de LSD relata nunca ter tido flashbacks, e algumas pessoas defendem que eles nem sequer existem. Esse tópico é muito controverso entre usuários de LSD e pesquisadores.

Dos que relataram experiências de flashback, muitos são também mentalmente doentes. Alguns médicos sugerem que o que o usuário percebe como um flashback é, na verdade, uma forma de psicose ou doença mental que pode ter emergido devido ao uso do LSD. Há um transtorno reconhecido pelos médicos chamado Distúrbio de Percepção Alucinógena Persistente (Hallucinogen Persisting Perception Disorder, HPPD), em que algumas pessoas que tomaram LSD constantemente experimentam alucinações visuais (como oposição aos breves flashbacks). Ainda não se sabe exatamente o que faz algumas pessoas mais suceptíveis a isso que outras.
Na próxima página, vamos ver o pior dos cenários.

Perigos e abuso do LSD

Houve poucos relatos de overdoses de LSD que resultaram em morte ou problemas de saúde permanentes. Em 1973, um caso foi relatado pelo "The Western Journal of Medicine", em que oito pessoas tomaram overdoses massivas de LSD em uma festa. Elas pensaram que o pó branco sendo passado na festa era cocaína e cheiraram miligramas dele. A maioria desmaiou. No hospital, tiveram febre, vômito e hemorragia interna. Contudo, todos os pacientes se recuperaram em 12 horas e sem nenhum efeito duradouro. Cinco deles foram examinados regularmente durante um ano para problemas de longo prazo.

Houve relatos de ataques cardíacos (infartos), derrames e outras mortes associadas ao uso do LSD, mas muitos desses usuários também tinham outras drogas recreativas em seus sistemas, de modo que a culpa do LSD não foi provada.


Dirigir sob efeito de LSD pode não ser uma boa idéia

O dano físico real associado ao LSD vem do que pode acontecer quando alguém perde a inibição e tem alterações de comportamento, percepções distorcidas ou senso de imortalidade durante a viagem. Usuários de LSD mataram-se acidentalmente ao andar na frente de um carro, ou envolvendo-se em um acidente de carro durante a viagem, ou caindo de janelas ou edifícios.

Essas pessoas não enlouqueceram. O LSD não tem a tendência de fazer alguém enlouquecer ou tornar-se psicótico. Ele pode interagir com outras drogas e provocar sintomas psicóticos (especialmente outras drogas que atuam nos neurotransmissores). Algumas pessoas com histórico de certas doenças mentais, como esquizofrenia ou psicose, pode ter os sintomas exacerbados pelo LSD. A droga também pode acelerar o início dessas doenças se alguém já vai desenvolvê-la.

Usuários pesados de LSD também podem desenvolver problemas sociais profundos, arruinar completamente seu ciclo de sono e perder o interesse em comida e na higiene pessoal. Eles também perdem o interesse em participar do mundo à sua volta e sentem-se completamente desconectados de todo o mundo. O grande problema é que por estarem tomando o LSD com tanta frequência, eles pensam que o LSD está criando a ilusão de que sua vida é uma bagunça, em vez de reconhecer que ela é realmente uma bagunça.

Você não vai ouvir falar de alguém que esteja fazendo reabilitação por abuso de LSD, porque ele não é uma droga que vicia. Usar o LSD por dias seguidos pode levar a pessoa a desenvolver rapidamente uma tolerância, por isso, ele é raramente usado por mais de uma semana. Uma pessoa que usa LSD duas vezes por semana é considerada um usuário pesado. Fora isso, repetidas viagens tendem a perder sua novidade, e o que uma vez pareceu mágico se torna lugar comum. Os efeitos causados pelo LSD não são confiáveis como o são os efeitos de outras drogas - você nunca sabe como vai se sentir ou o que vai ver. Viciados anseiam por confiabilidade.

A seguir vamos dar uma olhada no LSD que é usado para outros fins que não recreativos.

LSD como medicamento

Antes de ser uma droga recreativa, o LSD era usado na terapia psiquiátrica. No começo, os psiquiatras esperavam que o LSD provasse ser a cura para algumas formas de doença mental. Acreditava-se que dar LSD a um paciente dispensaria a necessidade de anos de psicoterapia e provocaria mudanças permanentes no comportamento e na personalidade. Entre 1950 e 1965, aproximadamente 40 mil pacientes receberam tabletes de Delysid, da Sandoz [fonte: Henderson]. Isso incluiu esquizofrênicos, obsessivos-compulsivos, depressivos e autistas. Ele também foi administrado em pessoas consideradas mentalmente doentes com perversões sexuais, como homossexualidade.

Houve dois tipos principais de terapia que incorporaram o uso do LSD. Na Europa, a terapia psicolítica era comum. Psiquiatras davam aos pacientes doses baixas de LSD (50 microgramas ou menos) durante várias sesões e os encorajavam a se concentrar na infância e no subconsciente. Psiquiatras americanos tenderam a usar mais a terapia psicodélica. Eles davam aos seus pacientes altas doses de cerca de 200 microgramas por algumas poucas sessões. Em vez de trazer à tona memórias da infância, esses médicos esperavam que as altas doses de LSD provocassem um despertar espiritual positivo e encorajasse os pacientes a encontrar um significado em suas vidas e a querer melhorar.

A abordagem do despertar espiritual também foi usada em alcoólicos, que eram difíceis de tratar por outros tipos de terapia. Alguns psiquiatras tentavam induzir uma forma de delirium tremens, que podia levar os alcoólicos a "corrigir-se". O LSD também era dado a criminosos na esperança de que eles pudessem ser corrigidos. Embora muitos pisquiatras tenham relatado bons resultados, houve poucos estudos abrangentes. Os estudos em pequena escala são considerados falhos hoje porque eles não empregaram controles.

A Sandoz recomendava doses muito específicas de LSD e determinou que a droga só deveria ser administrada por um psiquiatra em um ambiente médico controlado. Claro que houve um mercado negro da droga em 1962. Como o uso recreativo cresceu, o governo federal ficou progressivamente preocupado com os efeitos do LSD e tomou providências para restringir seu uso oficial. Muitos pesquisadores sentiram que seus estudos foram abortados antes que eles pudessem chegar a uma conclusão definitiva sobre os efeitos terapêuticos do LSD. Em 1965, bem poucos pesquisadores nos EUA ainda tinham permissão para possuir LSD. Havia apenas seis projetos conduzidos em 1969, e, em 1974, o Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH) declarou que o LSD não tinha valor terapêutico real.

O último estudo terapêutico com LSD nos EUA aconteceu nos anos 80. Os pesquisadores acreditavam que o LSD poderia ser benéfico para pacientes terminais porque os ajudava a ter consciência de seu ambiente, aliviava suas dores e fazia-os sentir-se mais conectados com seus familiares. O estudo terminou, contudo, antes de a idéia ser completamente explorada.

Atualmente há estudos usando o LSD em humanos em outros países, como Suíça e Reino Unido. Em setembro de 2008, a Food and Drugs Administration (FDA) abriu as portas novamente para pesquisas clínicas com pacientes terminais usando LSD. Isso pode sinalizar um interesse renovado em outros usos terapêuticos da droga.

Na próxima página, vamos falar sobre um grupo de pessoas comumente associado com o LSD: os hippies.

História cultural do LSD

O LSD teve um papel importante no movimento da contracultura dos anos 60. À medida que o uso saiu dos projetos de pesquisa das universidades e foi para as ruas, o LSD ganhou o mérito de expandir as mentes de jovens que estavam desiludidos com o status quo. Vamos dar uma olhada em algumas pessoas e seus meios para difundir e popularizar a droga.

Os hippies representaram o movimento da contracultura nos anos 60 e estão associados ao uso de LSD

Dr. Timothy Leary era professor de psicologia em Harvard quando experimentou a psilocibina de cogumelos pela primeira vez em 1960. Ele ficou tão mexido pela experiência, que criou, junto com o colega de Harvard Richard Alpert, um estudo para testar os efeitos de drogas psicodélicas. Leary acreditava que eles poderiam tratar um grande número de doenças mentais e modificar profundamente aqueles que as tomassem. Reclamações de pais e outros, contudo, levaram Harvard a demitir Leary em 1963.

Em 1964, ele co-escreveu um livro sobre drogas psicodélicas e, no ano seguinte, fundou a Liga da Descoberta Espiritual. Esta religião declarou o LSD um sacramento sagrado que deveria ser mantido legalizado para a liberdade religiosa. Leary viajou o país com uma apresentação que tentava demonstrar a experiência de viajar. Ele cunhou a frase que viria exemplificar o movimento LSD, "turn on, tune in, drop out", durante um discurso em 1967 em São Francisco diante de 30 mil hippies. Mais tarde Leary declarou em sua bografia que "'turn on' significava ativar o equipamento genético e neural [..] 'Tune in' significava interagir harmoniosamente com o mundo à sua volta [...] e 'Drop out' queria dizer só depende de você mesmo"[fonte: Leary]. Ele ficou desapontado por as pessoas pensarem que ele quis dizer "Fique chapado e abandone toda a atividade construtiva".

Ken Kesey era um escritor cuja primeira experiência com LSD aconteceu quando foi voluntário em um estudo da CIA sobre os efeitos das drogas psicodélicas. Como experimento social, ele e seus amigos, conhecidos como "The Merry Pranksters", viajaram pelo país em um ônibus escolar chamado "Furthur". Suas aventuras foram documentadas pelo jornalista Tom Wolfe no livro "The Electric Kool-Aid Acid Test".

Enquanto Timothy Leary defendia um uso mais sério e controlado do LSD, Kesey era um populista do ácido, que acreditava que se pessoas suficientes usassem a droga, a sociedade como um todo poderia ser transformada. Em 1965, ele começou a organizar festas divulgadas com cartazes em que se lia "Você pode passar no teste do ácido?". Kesey acreditava que os testes do ácido expandiriam a consciência e começariam uma revolução.

Garota com olhos de caleidoscópio"Lucy in the Sky with Diamonds", dos Beatles, é a música do LSD? John Lennon não negou que a letra foi inspirada pela experiência com drogas, mas afirmou que ele não notou, até que alguém mostrasse, que o título formava a sigla LSD. Ele disse que o título foi dado por seu filho Julian, que pintou um quadro de sua colega de classe Lucy cercada por estrelas cintilantes. Quando Lennon perguntou a Julian como se chamava a pintura, este respondeu "Lucy in the sky with diamonds". Lennon mostrou a pintura e sustentou até a sua morte que ela era a origem do título.

Owsley Stanley era um químico auto-didata que ajudou a tornar o LSD popular e acessível na influente seção Haight-Ashbury, de San Francisco. Quando estudante na Universidade da Califórnia, em Berkeley, Stanley experimentou LSD, mas foi frustrado pelas amplas diferenças em qualidade e pureza. Ele, então, montou seu próprio laboratório para fazer o LSD puro, de alta qualidade, que ficou conhecido como "Owsley LSD", ou simplesmente "Owsley". O Owsley se tornou o padrão pelo qual outros LSD eram medidos depois que a Sandoz parou de fabricar a droga e esta se tornou ilegal. Stanley frequentemente distribuía seu LSD gratuitamente, e calcula-se que ele tenha preparado meio quilo de LSD - suficiente para 10 milhões de tiras de 50 microgramas. Ele também criou uma síntese de LSD que era 99 porcento puro chamado White Lightning, bem como a droga psicodélica STP.

Stanley também se tornou amigo da banda Grateful Dead (que tocou nos testes ácidos de Kesey) e trabalhou como seu engenheiro de som. Ele não apenas influenciou pesado o som da banda, como também desenhou o logo de caveira com raio e foi a inspiração para o logo dos ursos dançantes, em razão de seu apelido "The Bear". Então, o que aconteceu entre os anos 60 e hoje?

As leis da droga LSD hoje

Nos Estados Unidos de hoje, o LSD é uma substância controlada da Tabela 1 da Lei de Substâncias Controladas (CSA). Isso quer dizer que o governo federal acredita que o LSD tem alto potencial de abuso, uso com ausência de segurança aceitável quando ingerido sob supervisão médica e nenhum uso médico atual. O último critério é importante; LSD é uma droga da Tabela 1, mas a cocaína é da Tabela 2, devido a alguns usos médicos (como anestesia local). Há maiores ramificações legais, em outras palavras, para o LSD do que para a cocaína.

O guitarrista dos Rolling Stones, Keith Richards, foi processado por porte de LSD e cocaína em 1977

A penalidade federal para o primeiro delito por posse de LSD é no máximo um ano na prisão ou no mínimo multa de US$ 1.000. Novas transgressões podem aumentar o tempo de prisão até três anos.

As penas por fazer ou vender LSD são baseadas não apenas no número de delitos, mas na quantidade envolvida. Assim, mesmo se for a primeira transgressão, se a quantidade é até 10 gramas, o infrator pode passar de 5 a 40 anos na cadeia e ainda pagar uma multa de US$ 2 milhões. Quantidades maiores podem resultar em prisão perpétua. Decisão da Suprema Corte em 1991 determinou que quando da pesagem do ácido blotter, o peso do papel pode ser incluído. Já que a verdadeira quantidade do LSD no papel é tão pequena, algumas pessoas alegaram que isso resulta em sentenças injustamente duras. Há poucas prisões federais por LSD, contudo - menos de 2% de todas as prisões da DEA.

E quem são esses usuários de LSD? De acordo com a 2007 National Household Survey on Drug Use & Health, cerca de 9% de americanos acima de 12 anos usaram LSD ao menos uma vez na vida.

Este é o perfil do usuário médio de LSD:
- Homem branco entre 18 e 22 anos que experimentou pela primeira vez a droga entre 15 e 19 anos.
- Mora mais provavelmente no Oeste dos EUA, vem de família abastada e tem pais educados.
- Usou LSD apenas algumas vezes, mas também tende a usar álcool, maconha e cocaína.

À medida que a faixa etária na pesquisa aumenta, o uso de LSD geralmente cai, significando que usuários de LSD têm carreira curta. Houve um leve aumento do uso do LSD entre formandos do high school (curso equivalente ao ensino médio brasileiro) no comeco dos anos 90, mas isso se manteve entre 8% e 10% desde que a pesquisa começou, em 1975.

Mais informações sobre LSD

Artigos relacionados:
A CIA testou LSD em americanos inocentes? (em inglês)
Os casos de bruxaria em Salém teriam tido influência de drogas?
Como funcionam as lendas urbanas
Como funciona a viagem de sabores (em inglês)
Os Beatles introduziram a ioga no mundo ocidental? (em inglês)
Como funcionam os sonhos lúcidos
Existem mesmo sapos alucinógenos?
O álcool é mais perigoso que o êxtase? (em inglês)
Como funciona a maconha?
Como funciona a maconha para uso médico? (em inglês)
Como funciona o crack
Como funciona o tráfico de drogas

Mais links interessantes:
The Albert Hofmann Foundation
Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies
National Institute on Drug Abuse: Hallucinogens
U.S. Drug Enforcement Administration: LSD


Fontes

- The Albert Hofmann Foundation
- Cavallo, Dominick. "A Fiction of the Past: The Sixties in American History." St. Martin's Press, 1999.
- Henderson, Leigh A. and William J. Glass. "LSD: Still With Us After All These Years." Jossey-Bass, 1998.
- "The Hippies: Philosophy of a Subculture." Time Magazine, July 7, 1967.
- Hofmann, Albert. "LSD: My Problem Child." McGraw-Hill, 1980.
- Klock, John C., et al. "Coma, Hyperthermia and Bleeding Associated with Massive LSD Overdose: A Report of Eight Cases." Western Journal of Medicine, Vol. 120, issue 3, March 1974.
- Leary, Timothy. "Flashbacks." Tarcher, 1997.
- Lee, Martin. "Acid Dreams: The CIA, LSD, and the Sixties Rebellion." Grove Press, 1985.
- Lewisohn, Mark. "The Complete Beatles Chronicle." Hamlyn, 2006.
- "LSD." U.S. Drug Enforcement Administration, August 2006.
- Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies
- "NIDA Info Facts: Hallucinogens." National Institutes on Drug Abuse, July 2008.
- "Safety Data for Hydrazine (Anhydrous)." Physical and Theoretical Chemistry Laboratory, Oxford University, November 12, 2008.
- Solomon, David. "LSD: The Consciousness Expanding Drug." Berkley, 1965.





terça-feira, 29 de dezembro de 2009

DMT

O que é o DMT?


O DMT é um sólido cristalino branco de cheiro pungente, que derrete aos 49-50 graus Celsius, em sal higroscópico hidroclorido aos 171-172 graus Celsius, e em metiodida aos 215-216 graus Celsius. É insolúvel em água, mas dissolve em solventes orgânicos ou ácidos aquosos.


O DMT é o maior constituinte da raiz da planta brasileira epená (Virola calophylla), mas também se encontra nas:


1 – sementes de angico-branco (Anadenanthera peregina)
2 – sementes de jurema-preta (Mimosa hostilis), usadas no Nordeste brasileiro para preparar uma bebida chamada ajuca ou ajurema
3 – folhas de chaliponga (Diplopterys cabrerana), as quais se misturam com bebidas harmalinas derivadas de outras plantas do género Banisteriopsis para preparar ayahuasca
4 – folhas de chacrona (Psychotria viridis), que também se misturam nas bebidas de ayahuasca.


O DMT deve ser misturado com inibidores da monoamina oxidase (MAO) para se tornar activo por ingestão e causar alucinações. Este é o caso da poção xamã da ayahuasca. Vê a nossa página sobre ayahuasca para mais informação.



História



O DMT foi sintetizado pela primeira vez em 1931, e demonstrou-se ser uma substância alucinogénia em 1956. Foi encontrado em muitos géneros de plantas (Acacia, Anadenanthera, Mimosa, Piptadenia, Virola) e é um componente principal de muitos “cheiros” alucinogénios (cohoba, paricá, angico), sementes e bebidas.



Química


Nome: N,N-dimetiltriptamina
Nome químico: N,N-dimetil-1H-indol-3-etanamina
Nomes químicos alternativos: 3-[2-(dimetilamina)etil]indol, DMT
Fórmula química: C12H16N2





O DMT é um derivado da triptamina formada pela substituição de grupos metil por dois átomos de hidrogénio anexados ao nitrogénio não aromático na molécula da triptamina. Tanto o composto original (triptamina) como o sistema N-metil transferase (o último é capaz de converter o primeiro em DMT) ocorrem nos seres humanos, mas não há ainda provas de que o DMT se forma in vivo.

Todavia o DMT foi identificado em pequenas quantidades no sangue e na urina tanto de pacientes normais como de pacientes esquizofrénicos, mas as suas origens e funções são desconhecidas.

Efeitos

Idênticos aos do LSD, mas geralmente mais intensos. Como não é ingerido, os efeitos são repentinos e podem ser demasiado fortes. O termo “mind blowing” (explosão mental) poderá ter sido inventado para esta droga. Pensamentos e visões acumulam-se a grande velocidade; uma sensação de abandono temporal ou transcendental e dos objectos perderem toda a forma e dissolverem-se numa dança de vibrações são características comuns. O efeito pode ser descrito como uma transportação instantânea para outro universo.

Uma característica invulgar da intoxicação induzida é a rapidez do começo e a curta duração da trip. Dentro de 5 minutos após a administração as pupílas dilatam-se (midríase), os batimentos cardíacos aceleram (taquicardia), a tenção arterial aumenta consideravelmente, e dão-se distúrbios vegetativos relacionados, os quais normalmente continuam durante a experiência.Dentro de 10 a15 minutos dá-se a intoxicação, e esta caracteriza-se geralmente por alucinações de olhos fechados ou abertos, e grande movimentação no campo visual.

Há dificuldade na expressão dos pensamentos, e na concentração em assuntos específicos. Normalmente dá-se uma mudança de disposição para euforia e riso sem sentido, mas ocorreram casos em que a ideação paranóica promoveu ansiedades e pressentimentos que levaram ao estado de pânico.

Aos 60 minutos o sujeito está grandemente livre de sintomas, embora alguns efeitos restantes já tenham sido obervados na segunda hora.Com a administração por inalação a escala temporal contrai-se, e o começo dos efeitos nota-se em 10 minutos, dá-se um curto período de intoxicação em 2-3 minutos, e a completa libertação de qualquer efeito restante em 10 minutos.Em doses mais altas os sintomas vegetativos aumentam, e estes tomam o controlo da experiência psicadélica em doses de 150 mg.

Uso

O DMT não funciona por via oral; tem de ser fumado ou injectado. Com a injecção intramuscular os efeitos mínimos sentem-se a partir dos 30 mg, e uma experiência psicadélica completa resulta da administração de 50 a 70 mg (75 mg subcutaneamente, 30 mg por inalação).

O uso repetido não causa dependência física ou psicológica.

Quando tomares DMT certifica-te de que estás num ambiente confortável e familiar, de preferência numa sala iluminada onde te possas sentar ou deitar. Um xuto de DMT de pé quase de certeza te fará cair de rabo no chão assim que começares a sentir o efeito.A dose recomendada é cerca de 40 a 50 mg. A dose deve ser pesada para determinar o peso preciso. As doses inferiores a 25 mg surtem apenas efeitos físicos e psicadélicos mínimos. As doses entre 25 e 40 mg são geralmente insuficientes para causarem a totalidade dos efeitos únicos do DMT como descritos acima. As doses excessivas de 55 mg, especialmente se conseguires reter todo o vapor nos pulmões, podem ser MUITO fortes e não se recomendam a iniciantes.

A maneira mais comum de inalar o DMT é a seguinte: Arranja um cachimbo de ar para base-livre com o tubo mais largo que conseguires encontrar. Introduz o maior filtro de cachimbo de aço inoxidável com a rede mais fina que caiba no tubo. Depois espalha uniformemente o DMT por cima do centro da rede. Certifica-te de que manténs o DMT longe das pontas do filtro para que quando derreta não derrame por aí.Segura um fósforo ou maçarico por cima do filtro e inala profunda e vagarosamente. Não deixes que a chama toque no DMT, pois isto destruirá a maior parte da droga. O DMT derrete e vaporiza facilmente, por isso o objectivo é deixar o ar quente passar com a chama para dentro do cachimbo para vaporizar o DMT e conseguir que a câmara de ar fique cheia do vapor branco do DMT.A cada passa tenta manter a respiração o maior tempo possível. Expira e dá outra passa imediatamente. Os efeitos físicos, uma tremura ou vibração pelo corpo inteiro, dão-se primeiro.A intensidade dos efeitos não é um guia fiável para a dose de DMT que consumiste. Continua a dar passas profundas e a manter o fumo nos pulmões até teres consumido todo o DMT previamente pesado.

Avisos


Esta não é uma droga para festas; os efeitos são melhores quando experimentados num ambiente calmo. Certifica-te de que tens contigo um ou mais amigos que possam olhar por ti e retirar o cachimbo das tuas mãos (se escolheste esse meio de consumo), pois entrarás numa transe mais rápido do que esperas e a partir daí terás pouco controlo motor e provavelmente os olhos fechados.


Não te levantes. Não operes maquinaria pesada. Não conduzas. As pessoas que atravessam problemas emocionais ou psicológicos devem ter cuidado ao decidirem usar drogas psicadélicas como o N,N-DMT, pois estas podem causar ainda mais problemas. As pessoas com história familiar de esquizofrenia ou doenças mentais devem ter extremo cuidado, pois as substâncias psicadélicas podem despertar casos psicológicos e mentais latentes.

O DMT sintético tem sido extensivamente pesquisado por autoridades médicas na Europa e na América. É perfeitamente seguro e sem efeitos físicos permanentes nas doses indicadas. Todavia, como o DMT fumado causa um aumento abrupto da tensão arterial, é provavelmente desaconselhável às pessoas com uma tensão arterial muito elevada. Os efeitos do DMT aumentam muito se tomares inibidores da MAO. Estes encontram-se em alguns medicamentos e alimentos. Vê a nossa página sobre inibidores da MAO para mais informação! Esta mistura pode ser muito perigosa!

Substitutos


A brevidade da experiência torna a sua intensidade suportável e, para alguns, desejável. Pelo menos duas drogas sintéticas nas quais o grupo metil do DMT é substituído são psicadélicas.A droga DET actua com a mesma dose que o DMT, e os efeitos duram um pouco mais (cerca de hora e meia a duas horas). O DPT actua ainda durante mais tempo, e tem menos efeitos secundários autonómicos.

Fontes :

A1b2c3 on DMT

Erowids DMT Vault

Wikipedia on DMT

domingo, 20 de dezembro de 2009

Drogas & Magia na Grécia Antiga



A literatura clássica está cheia de histórias sobre feiticeiros, mágicos e bruxas. Mas as traduções raramente revelam que os seus poderes derivavam dos seus extensos conhecimentos sobre drogas. Os feiticeiros eram os antigos vendedores de drogas, e os efeitos destas eram considerados mágicos naqueles tempos.

David Hillman escreve no seu livro “The Chemical Muse (2008)” que “Os Gregos e os Romanos usavam ópio, anticolinérgicos (da família Solanaceae), e numerosas toxinas botânicas para induzirem estados de euforia mental, criarem alucinações, e para alterarem a sua própria consciência; isto é um facto indisputável”.

Hillman mostra como os tradutores se enganaram ao traduzirem polifármaco e fármaco como alguém com conhecimentos de “artes mágicas” e possuidor de “charmes”. Os feitceiros eram membros honrados e respeitados pela sociedade. Tinham de saber como extrair substâncias químicas necessárias das plantas e dos animais. Esta era uma ciência exata, pois quantidades ou extracções erradas podiam matar.

O método favorito de administração de drogas dos Gregos e dos Romanos era em misturas com vinho. Isto permitiu aos professores de História apresentarem os convivas dos festins antigos como consumidores de álcool – e não de “drogas ilegais”.

Como escreveu o professor Carl A.P. Ruck no seu livro "Sacred Mushrooms Of The Goddess": "O vinho antigo, tal como o vinho da maioria das primeiras culturas, não continha álcool como único inebriante, mas era geralmente uma infusão variável de toxinas naturais num líquido vinoso. Unguentos, especiarias e ervas, todos com propriedades psicotrópicas reconhecidas, podiam ser misturados no vinho”.

Isto dá-nos uma visão completamente diferente do simpósio grego. Nessas “festas de bebida barulhentas” grandes mentes como Sócrates e Platão debateram e desenvolveram as suas teorias sobre as grandes questões filosóficas.

Outra pista diz-nos ainda mais. Os estados de consciência alterados eram vistos como loucura proveniente de fontes divinas. Platão escreveu: "Mas aquele que, sem loucura divina, alcança as portas das Musas, confiante de que será um bom poeta pela arte, não encontra o sucesso, e a poesia do homem são desfaz-se em nada perante a poesia do inspirado homem louco".

Lê mais (em inglês) aqui: Classical Drug Use: Greek and Roman Drug Freedom

Governo checo aprova posse de drogas

Fonte: http://www.ceskenoviny.cz

Praga – O governo checo aprovou hoje uma lista de plantas e cogumelos alucinogénios, incluindo canábis, coca, cactos com mescalina e cogumelos mágicos, que declara que as pessoas podem cultivar em casa até cinco especímenes dessas plantas e quarenta cogumelos mágicos.

O gabinete do primeiro-ministro iria discutir também as quantidades permitidas de drogas sintéticas na posse individual. Este debate foi todavia adiado por duas semanas.

O novo Código Penal, que entrará em vigor no dia 1 de Janeiro, está formulado para especificar a directriz do governo. Contém uma provisão sobre o cultivo de canábis e cogumelos mágicos.

A lei distingue entre a posse de marijuana e haxixe para uso pessoal, pela qual as pessoas arriscam até um ano de prisão, e a posse de outras drogas, pela qual podem receber até dois anos de prisão.

Segundo a proposta do ministro da justiça, que o governo ainda não aprovou, a posse de mais de 15 gramas de marijuana seca ou mais de duas gramas de metanfetamina, cocaína e heroína será punível por lei.

Até agora a quantidade tolerada de drogas que o indivíduo podia ter em posse legalmente era definida por directivas internas da polícia. Por isso ninguém sabia que quantidade seria considerada “maior que uma pequena quantidade da droga”, a posse da qual seria punível por lei.

Se o governo aprovar a proposta do ministro da justiça dentro de duas semanas, as pessoas poderão ter quatro comprimidos de ecstasy na sua posse e até cinco gramas de haxixe.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Alguns apontamentos sobre o consumo de substâncias psicoativas como objeto antropológico

Alguns apontamentos sobre o consumo de
substâncias psicoativas como objeto antropológico

por Maurício Fiore (*)

publicado em http://www.antropologia.com.br/, Coluna (ed. n. 51)

Dentre às ciências sociais, a Antropologia tem, nas últimas décadas, se destacado no estudo das questões relativas às substâncias psicoativas – aquelas que, de diversas formas, interferem nas atividades cerebrais humanas, alterando o comportamento e a consciência. Embora muitas substâncias possam ser consideradas psicoativas, algumas delas foram, ao longo do século XX, proibidas e consideradas problemas sociais, recebendo a alcunha cotidiana de “drogas”.

Desde os estudos pioneiros de Howard Becker, na década de 1950, muitos trabalhos foram realizados sobre o tema em diferentes perspectivas. Ainda que seja bastante arriscado, nesse curto espaço, sintetizá-los, é possível apontar algumas conclusões mais gerais que, de alguma maneira, configuram pressupostos para se compreender o tema:

1. Diferentemente do que uma análise superficial pode indicar, o estatuto legal e social das diversas substâncias não diz respeito somente às suas características farmacológicas, ou seja, sua produção e consumo foram e são permitidos, controlados ou proibidos por conta processos históricos complexos, que envolvem questões econômicas, políticas, religiosas, étnicas e morais. Desse ponto de vista, ainda que o consumo sistemático de substâncias psicoativas seja imemorial, a questão das “drogas”, enquanto problema social, é bastante recente, tendo pouco mais de um século.

2. Algumas substâncias psicoativas são utilizadas tradicionalmente ao redor do mundo, muitas vezes em rituais de origens milenares (como no caso da coca nos Andes). Embora sejam permanentemente “reiventadas”, como qualquer prática humana, essas formas de consumo tradicionais de substâncias psicoativas, entre as quais podemos citar o Ayahuasca como exemplo brasileiro, se inserem num estruturado e sofisticado repertório religioso.

3. O consumo de substâncias psicoativas não se esgota na interação entre um organismo humano genérico e determinadas moléculas: um amplo leque de fatores sociais, psicológicos e culturais confere formas e sentidos à ingestão de drogas. Não se trata de negar a objetividade farmacológica, mas colocá-la em questão frente aos mais diversos sentidos e dimensões que interferem, inclusive, nos efeitos esperados e obtidos no consumo de determinadas substâncias.

4. A relação entre consumo de algumas drogas e violência não deve ser tomada como intrínseca. Ainda que existam algumas evidências sobre o aumento da propensão para atitudes violentas sob o efeito de algumas drogas (álcool e crack, especialmente), é o tráfico e não o consumo o motivador da violência e da criminalidade nas últimas décadas.

Essas constatações são importantes para balizar não apenas o debate público sobre drogas, mas também uma pauta de pesquisa nas ciências sociais. Aliás, de maneira equivocada, a participação dos pesquisadores no debate público é considerada, por alguns, diminuidora da relevância científica dos trabalhos sobre o tema. Ora, o crescimento do interesse pelo tema nas ciências sociais é proporcional às expectativas para o subsídio do debate público e a sua presença deve ser comemorada, já que o debate tem sido conduzido, academicamente, sob a hegemonia biomédica.

No entanto, é importante que as pesquisas se apartem, do ponto de vista epistemológico, das controvérsias cotidianas do debate público. Por ser um tema polêmico, é comum que alguns pesquisadores confundam o posicionamento político com questões teóricas. Longe de defender a impossível e indesejada neutralidade científica, é importante que não se perca de vista as discussões teóricas, pois a questão do consumo de psicoativos além de ser um problema social candente, é uma via de acesso privilegiada a diversos desafios do conhecimento sócio-antropológico.

Exemplo de relevante discussão teórica, para ficar num único exemplo, é tensão que o consumo de psicoativos apresenta à dicotomia Natureza e Cultura. Diferentes abordagens vêm questionando a repartição do trabalho científico que confere às ciências sociais apenas os aspectos culturais do fenômeno. Ou seja, questiona-se o fato de se dividir o tema em aspecto que seria eminentemente natural e, assim, inquestionável, já que englobaria os efeitos farmacológicos das substâncias e um outro aspecto, que poderia ser definido como sócio-cultural. Aos antropólogos e outros cientistas humanos caberia apenas o estudo do segundo, sendo esse, conseqüência direta do primeiro. Essa discussão, que põe em questão conceitos fundamentais da sociologia e da antropologia, como indivíduo e sociedade, escapa aos propósitos desse pequeno texto, mas revela como o estudo do consumo de substâncias psicoativas não pode ser visto desimportante ou encerrado em si próprio.

Um marco importante, não apenas para as ciências sociais, mas para todas as humanidades, é o recente lançamento do livro Drogas e Cultura: novas perspectivas (EDUFBA/Ministério da Cultura/Fapesp). Independente de sua qualidade, que sou impedido de avaliar por ser um dos cinco organizadores do volume, o livro agrupa um conjunto de importante atores do conhecimento sobre o tema produzido no Brasil. Mesmo que a perspectiva antropológica seja, no livro, mais numerosa, reforçando minha convicção da importância crescente da disciplina no tema, sociólogos, cientistas políticos, historiadores e juristas contribuíram para fazer uma obra que tem como um de seus principais objetivos consolidar a importância da pesquisa e do debate acadêmico e político sobre o tema.

(*) Maurício Fiore é graduado em Ciências Sociais e mestre em Antropologia Social pela USP. Atualmente é doutorando em Ciências Sociais pela UNICAMP, pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) e do Núcleo de Estudos Interdisciplinar sobre Psicoativos (NEIP). É autor e organizador de livros e artigos sobre o tema, entre os quais Uso de “drogas”: controvérsias médicas e debate público (Mercado de Letras/Fapesp, 2006).
Atualizado em 24/11/09

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

MDMA (3,4-metilenodioximetanfetamina)

MDMA (3,4-metilenodioximetanfetamina) é o nome científico da substância atuante presente nos comprimidos de ecstasy. Droga de efeitos únicos, a cultura clubber popularizou o seu uso, sendo que atualmente o ecstasy é uma das drogas de abuso mais utilizadas no mundo inteiro. Até 2003 o ponto de vista dominante era de que poucas (até mesmo uma) doses podiam causar "danos cerebrais significativos a longo prazo, com consequências funcionais deletérias importantes". Novas pesquisas e retratações nos mostram uma realidade um tanto diferente; os riscos apresentados pelo MDMA podem ser balanceados, e os riscos apresentados no consumo de ecstasy podem ser reduzidos, com medidas simples. Enquanto que, porém, em vários países há uma quantidade de informações, uma simples pesquisa online é o suficiente para perceber que a maioria da informação em português disponível é desatualizada, incompleta ou cheia de vieses. O texto abaixo procura ser uma discussão atualizada e geral sobre os efeitos, usos e consequências desta droga ilegal.






A percepção das coisas e das pessoas não é alterada, ou mesmo intensificada, normalmente, mas as reações negativas que permeam a nossa vida cotidiana além do nosso conhecimento consciente são suspensas e substituídas por aceitação incondicional. Isto é parecido com o amor fati de Nietzsche, o amor pelo destino, o amor pelas circunstâncias particulares de uma pessoa. A realidade imediata parece ser acolhida, nestes estados induzidos pelo MDMA, sem dor ou apego; felicidade não parece depender da situação dada, mas na existência em si mesmo, e em tal estado de espírito tudo é amável da mesma forma...
Claudio Naranjo, The healing journey












Na sala de estar, os exemplos vêm com força e rapidez. "Você sabe o que é um estado de inflação?", Shulgin pergunta, enquanto Ann prepara o chá. Tal estado, ele explica, é como ser Michael Jordan ou o ditador de uma nação de terceiro mundo. É uma sensação que muita gente só pode experimentar artificialmente, embora os Shulgin crêem que há lições a ser aprendidas dali. O mais importante é como retornar ao mundo normal."A coisa mais importante sobre este estado é que, uma vez experimentado, você começa a entender, por contraste, o que é tão importante na sua vida normal, não-inflada", diz Ann.



Ann e "Sasha" Shulgin, entrevista









(com 120 mg) Quando o material começou a atuar eu senti que estava sendo envelopado, e a minha atenção teve de ser dirigida para isto. Fiquei bastante assustado, e a minha face estava fria e pálida. Senti que queria voltar, mas sabia que não havia como voltar atrás. Então o medo começou a me deixar, e eu podia tentar dar passinhos de bebê, como dar os primeiros passos depois de ter renascido. A pilha de lenha é tão bela, quase toda a felicidade e beleza que eu posso suportar. Estou com medo de me voltar e encarar as montanhas, medo de que elas me oprimirão. Mas eu olhei, e estou maravilhado. Todo mundo deve ter a experiência de um estado profundo como este. Sinto-me totalmente em paz. Vivi toda a minha vida para chegar até aqui, e eu sinto que cheguei ao lar. Estou completo.
Alexander Shulgin, PiHKAL: A Chemical Love Story









Generalidades


O MDMA é uma substância psicotrópica de uso proscrito no Brasil, de acordo com a lista F2 da Portaria SVS/MS 344 de 12/05/1998 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Seu uso, manufatura e tráfico são atividades ilegais, assim como em todos os países que seguem as indicações da Organização Mundial de Saúde.
Em laboratório, o MDMA ((±)-N, µ-dimetil-3,4-(metilendioxi)fenetilamina) é um pó cristalino branco, quimicamente bastante estável em condições ambientais normais. Resiste bem ao calor, luz e ao ar; dissolve-se na água, mas não absorve umidade. Tem um gosto amargo forte e distinto.
Há várias maneiras de síntese conhecidas. A produção clandestina ilegal é mais fácil quando parte do MDP2P, este um produto comercial usado na indústria de flavorizantes e fragrâncias. De outra forma, o MDMA precisa ser sintetizado do piperonal, do isosafrole ou do safrole. O óleo de safrole occorre naturalmente como um dos principais componentes do óleo de sassafrás; este óleo é encontrado na casca da raiz da Sassafras albidum (norte-americana, costa leste) e nas partes lenhosas da Ocotea pretiosa (América do Sul). O safrole também é encontrado na noz-moscada, endro, semente de salsinha, açafrão, açafrão-da-terra, sementes de baunilha e no cálamo.
Há hipóteses sobre o uso ritual de alguns compostos da mesma família do MDMA, como o MDA, ou o MDEA, por comunidades indígenas, através do óleo de sassafrás. Tais hipóteses são ainda muito especulativas.
Grande parte do ecstasy consumido ilegalmente é produzido na Holanda e na Bélgica, com um aparecimento maior recente da Rússia e de Israel, entre outros países.
O MDMA costuma se apresentar, na maioria das vezes, na forma de comprimidos com uma variedade quase infinita de cores e logotipos. É nestes termos que a maioria dos usuários costumam referir-se a eles (Blue Volkswagen, White Dove, etc). Também há outras formas que o MDMA pode assumir, como em pó, ou mesmo gel.
A dose média, para humanos, é em torno de 125 miligramas (aproximadamente 2 mg/kg), via oral. A quantidade encontrada nos comprimidos comercializados na rua, porém, varia muito, costumando ser um tanto menor do que isto, em média 70 mg por comprimido (quando presente, o que não é muito raro acontecer). O uso mais comum é o oral, embora o uso por inalação, da mesma forma que a cocaína, encontra um público razoável. Em pesquisas de laboratório, injeções e microinjeções cerebrais são utilizadas. O uso de injeção intravenosa é praticamente inexistente em usuários humanos, sendo descrita por alguns como muito "anfetamínica" e não-prazeirosa.
O começo da ação é em torno de meia hora depois da ingestão do comprimido. Os efeitos agudos duram por aproximadamente 3-5 horas, dependendo da dose, com os efeitos subjetivos alcançando um ápice entre 90-120 minutos depois da ingestão, declinando lentamente. Uma outra gama de efeitos dura até 24-48 horas depois. Com doses recreativas (aproximadamente 100 mg), a meia vida do MDMA no plasma sanguíneo é de 8 horas, sendo que a excreção completa ocorre em dois dias. Aproximadamente 1/3 do MDMA é excretado intacto com doses recreativas; o restante é metabolizado principalmente pelo fígado, mais especialmente pela enzima CYP2D6. Um dos principais metabólitos é o MDA (similar ao MDMA nos efeitos, mais estimulante e potencialmente neurotóxico).
Os efeitos "fisiológicos" são bem consistentes de pessoa para pessoa. A experiência também costuma ser bastante consistente; "ela pode ser mágica ou mística, mas não costuma ser estranha", como acontece com a grande parte dos psicodélicos. MDMA pode ser muitas coisas para muitas pessoas. Talvez pelo fato de se tratar de uma droga "suja" (os seus efeitos no cérebro são multifatoriais), pode-se encontrar na experiência uma gama variada de efeitos psicológicos.
Através do Atlântico, ida e volta
No meio dos anos noventa começam a aparecer, aqui no Brasil, os boatos de uma nova droga sendo utilizada, principalmente nos grandes centros urbanos. Já no início do século XXI o ecstasy aparece cada vez mais na mídia, como a droga das raves, festas de música eletrônica com profusão de luzes e sons; fotos de pessoas abraçando-se, relatos de apreensões de centenas ou milhares de comprimidos, reportagens sobre dezenas de efeitos adversos. Seu surgimento e o seu uso cada vez mais popularizado podem surpreender o cidadão médio; o Brasil, um país de maconha e cocaína, vê esta novidade aparecer, primeiro parte de uma cultura clubber incipiente, espalhando-se, aos poucos, pela classe média brasileira.
Mas o "cidadão médio" desconhece que o "ecstasy" tem uma longa história: aparece na Europa, antes da Grande Guerra, é redescoberto nos Estados Unidos, e volta para a Europa novamente, desta vez com uma cara bem diferente. O primeiro registro é a patente da companhia alemã Merck, em 1914; o MDMA fora sintetizado dois anos antes, na procura por uma substância com um bom efeito vaso-constritor. Pelo que parece, a proximidade da guerra e a sua aparente inutilidade fizeram com que esta droga fosse relegada a um esquecimento de mais de 30 anos; não consta, em sua patente, nenhuma informação sobre qualquer uso possível, a não ser como precursor para outros produtos mais utilizáveis.
Como sempre surgiu, então, o exército americano na sua busca por quaisquer substâncias que pudessem ser de uso na recém-inventada "guerra fria". O MDMA, contudo, foi utilizado somente em animais; rhesus, porquinhos-da-índia, cachorros e ratos souberam melhor do que ninguém os efeitos, embora não o pudessem dizer. Houve, porém, experimentos humanos com o metabólito mais próximo do MDMA, o MDA, em "voluntários" do exército, inclusive com um caso de overdose.
Depois da sua passagem incólume pelo exército, o MDMA começa a interessar os pesquisadores nas universidades e da indústria química americana. É neste momento que o MDMA conhece o seu "pai adotivo", Alexander Shulgin.
Um químico da Dow Chemicals, ele cria um inseticida muito lucrativo; como recompensa, a Dow dá carta branca para que ele utilize a infra-estrutura para pesquisar o que quer que lhe agradasse. Depois de uma experiência com a mescalina, ele se volta para os psicodélicos, sintetizando e experimentando vários deles; quando a companhia se vê tendo as patentes de várias drogas populares e o bota pra fora, Shulgin continuou sintetizando e experimentando (em si e em outros pessoas de um seleto grupo) centenas de outras substâncias. Ouvindo os relatos de outros pesquisadores, Shulgin se interessa pelo MDMA. É dele uma das descrições mais famosas da experiência do MDMA:
Me sinto absolutamente limpo por dentro, e não há nada mais que pura euforia. Eu nunca havia me sentido tão bem, ou acreditado que isto fosse possível. A pureza, a claridade, e o maravilhoso sentimento de força interior permaneceram durante o resto do dia e da noite. Estou conquistado pela profundidade da experiência...
E realmente ficou. Em 1977 deu um pouco do novo achado para um velho amigo seu, Leo Zeff, psicoterapeuta prestes a se aposentar. Dias depois Leo telefona, dizendo que mudou de idéia sobre a sua aposentadoria e, viajando através dos EUA, apresenta a droga a outros terapeutas, ensinando como usá-la nas suas terapias.
Desde o início todos eles estavam bastante conscientes da poderosa ferramenta que tinham em mãos, e a difusão do uso de algo que eles chamavam de Adam, por remeter a um "estado de inocência original antes da culpa", continua. Mais cautelosos desta vez, porém, este círculo cuidou para que Adam não tivesse o mesmo fim que o LSD havia tido, banido como ilegal desde o início dos setenta.
E por alguns anos tiveram êxito. Uma extensa literatura sobre o uso do MDMA como adjunto terapêutico relata os diversos usos da "penicilina para a alma": depressão, suicídio, fobias, estresse pós-traumático, problemas conjugais, abuso de drogas, e o sofrimento de doentes terminais. Por diferir, em muitos aspectos, dos alucinógenos (que também foram utilizados em psicoterapias), o MDMA foi encarado, por algum tempo, com indiferença pelo governo americano.
Logo depois, porém, o MDMA foi descoberto pelo povo da rua, e em certos campi ele substituiu a cocaína como droga de escolha. Um distribuidor anônimo de Los Angeles batizou a nova droga de ecstasy, pois "ecstasy vende melhor do que chamá-la de 'empathy'. Este último seria mais apropriado, mas quanta gente sabe o que empatia significa?". Em 1983 um grupo situado no Texas começou a comercializar o MDMA, com o nome de "Sassyfras". Durante um par de anos, o seu uso era aberto, sendo distribuído normalmente na porta de bares e boates, vendido por telefone, ou até mesmo em lojas de conveniência, até que em 1985 o MDMA foi colocado na Schedule One pelo Controlled Substances Act.
Schedule One é a categoria reservada para substâncias com nenhum fim médico, cuja produção deve ser constantemente supervisionada. Foi um processo longo e demorado, e muitos estudiosos colocam em dúvida a legitimidade desta classificação "apressada e desesperada". De um lado, estavam os relatos dos psicoterapeutas, clamando para que o uso terapêutico pudesse continuar, e do outro estavam os órgãos governamentais, clamando pelos efeitos nocivos ainda desconhecidos para a juventude americana. Estas audiências ocuparam um espaço significativo na mídia americana, o que deve ter atiçado a curiosidade de muitos, e o consumo de MDMA registrou um aumento considerável. Grande parte dos psicoterapeutas, temendo pela sua carreira e pelos seus clientes, abstiveram-se de usar uma substância ilegal; com a ilegalidade, assim, temos o nascimento do ecstasy como a "droga da balada" que conhecemos hoje, começando a sua carreira meteórica por nada menos que a Europa.
Ibiza é uma ilha espanhola, conhecida por ser um resort turístico de belas praias, e com a fama de ter abrigado o nascimento do Acid House. Os anos oitenta foram profícuos em finais de semana onde milhares de pessoas divertiam-se com o haxixe, o ácido e o E; na volta pra casa, levaram a lembrança do verão e a nova droga consigo, espalhando-a pelo continente, até o Reino Unido. Na Inglaterra o MDMA encontra seu espaço, associado com a "cena" rave. Raves eram festas realizadas em galpões ou no aberto, muitas das vezes um lugar "secreto": nos convites e nos flyers havia somente um número de telefone a ser chamado, quando então era conhecido um lugar donde partiria uma "caravana" para o local da festa. A cultura agora chamada "clubber" nasce ali, marcada pelo pacifismo e pela tolerância.
No Brasil, as raves chegam por volta do início dos noventa. Tinham um caráter de "festa de sítio", realizadas no meio do mato, com um público muito seleto. Com a popularização da música eletrônica, as raves começaram a ficar maiores e mais populares, chegando ao status que mantêm hoje. Milhares de pessoas conhecem o MDMA sem conhecer a longa e interessante trajetória do entactógeno mais abusado na história da humanidade.
Sexo
"Não se vai numa rave para fazer sexo", diz uma garota. Outra diz que "os dias depois são os bons pra sexo longo e demorado"; outra, que "o E traz pra fora as qualidades femininas no homem". Já aproximadamente metade dos homens se surpreende por problemas em atingir ou manter uma ereção quando usam ecstasy/MDMA. Dos que seguem adiante, muitos têm o orgasmo atrasado, quando presente. No meio disto tudo, de onde surge a fama do ecstasy de ser uma droga afrodisíaca?A maioria das pessoas que experimentam ecstasy sentem-se mais abertas ao contato com estranhos, principalmente as mulheres. Diferente das baladas normais, onde a agressão sexual masculina predomina, em muitos contextos onde o consumo de ecstasy é o mais pronunciado elas podem sentir-se mais à vontade, sem necessitar da presença de um namorado, ou ter de se confinar à panelinha de amigas. Um comportamento considerado como aproximação sexual em outros contextos perde esta característica, para ser somente uma aproximação.Talvez a causa desta confusão da mídia sobre os efeitos do ecstasy sobre o sexo possa ser a diferença entre sensualidade e sexualidade. Muitas das pessoas no E falam se sentir mais sensuais; os beijos, os contatos, as carícias se tornam mais intensas e gostosas, e a sensação de euforia pode fazer com que duas pessoas (ou mais) fiquem nos amassos e nos carinhos. Casais que vão pra cama depois de tomar uma bala falam de ter tido uma experiência mais "profunda e carinhosa", com especial atenção dada para as milhares de formas de dar e receber prazer, e não necessariamente um foco no orgasmo. Esta perda de importância do orgasmo em si, combinada com alguma dificuldade de ereção, pode fazer com que as pessoas se sintam mais sensuais e menos lascivas.O ecstasy/MDMA também aumenta a receptividade à pensamentos sexuais, embora paradoxalmente ele não eleve o desejo de tornar tais pensamentos realidade. Isto quer dizer que o ecstasy/MDMA não faz com que o sexo seja visto de uma forma diferente, como desnecessário ou ruim ou mesmo até não presente (como muitos relatam quando numa experiência psicodélica), mas sim que o copular passa a ser menos premente do que o prazer. Sabendo que uma pessoa no E está plena em si, em termos de prazer corporal, não é surpreendente que ir pra cama com alguém passe a ser tão menos importante do que abraçá-la e beijá-la.Apesar disto, muitos dos rapazes costumam tomar ecstasy juntamente com um vasodilatador periférico, como o Viagra, para evitar qualquer perda na "performance" sexual. Muitos comprimidos de ecstasy podem conter quantidades grandes de compostos anfetamínicos, e os efeitos das anfetaminas sobre o comportamento sexual são reconhecidamente bem diferentes.
Entactógeno
Entactógeno. Desde que foi "saboreado", tem sido sugerido por alguns autores a criação de uma nova classe de agentes psicoativos, da qual o MDMA seria o primeiro membro conhecido; nada melhor que "tocar dentro" para descrever o aspecto psicológico mais proeminente (e sui generis) do MDMA. Proximidade com outros, empatia, bem-estar e insightfulness, com pouca perda de controle ou efeitos alucinatórios percebidos. O MDMA passou para o senso comum, porém, como a hug drug, a "droga do abraço". É comum se ver o MDMA descrito como uma "anfetamina alucinógena". Em termos de configuração química esta expressão pode encontrar uma justificativa, por ser o MDMA uma metanfetamina, e ter uma configuração semelhante à da mescalina (ambas são fenetilaminas); em termos de experiência, contudo, os relatos dizem ser algo totalmente distinto disto.
Falando em termos simples, diz-se que o MDMA envolve alguns aspectos de duas classes de psicotrópicos existentes: os psicoestimulantes e, num âmbito menor, os alucinógenos. Como na figura ao lado [broken link], algumas funções de cada classe são abarcadas pelo MDMA, em potência e duração diferentes. Cada uma destas classes possui uma forma de ação e efeitos psicológicos e fisiológicos específicos e bem conhecidos.
Efeitos agudos
Os efeitos podem começar tão cedo quanto 15 minutos, ou tardar até uma hora. O "ataque" (onset) pode vir lentamente, até assumir força total, ou mesmo "bater de vez". Muitas pessoas relatam, durante este "ataque", uma sensação de formigamento na pele, calor ou frio, ou pequenas ondas de energia ou prazer fluindo pelo corpo. Alguns sentem-se bastante ansiosos. Quando ela atinge os efeitos máximos, hiperatividade e um efeito analgésico central poderoso são comumente vistos, assim como um efeito ansiolítico não-sedante.
Muitos dos efeitos do MDMA parecem-se bastante com aqueles dos estimulantes (como a cocaína e a anfetamina), incluindo aumentos auto-relatados no humor positivo, na auto-estima e na atividade mental e corporal. Os psicoestimulantes são caracterizados, por muitos voluntários, por euforia e aumento no afeto positivo, sentimentos de vigor e de alerta, auto-estima aumentada, ansiedade ocasional, e efeitos cardiovasculares, como pressão alta.
Já as alterações sensoriais e perceptuais que o MDMA produz são modestas, se comparadas com outros alucinógenos; primariamente, uma intensificação das cores e da consciência tátil, e uma mudança na qualidade dos sons. Estas alterações são modestas no sentido de que não provocam um estranhamento em si. As cores são mais brilhantes - as pupilas se dilatam bastante, embora o reflexo pupilar continue presente. A qualidade do som modifica-se positivamente: de acordo com uma pessoa, "Bach fica indescritível".
A consciência tátil é impressionantemente afetada. Atividades como passar a mão por diversas superfícies, esfregar uma mão na outra, ou no próprio corpo, ou de outra pessoa, até abraços, carinhos, cafunés, beijos e demais amassos tornam-se bastante prazeirosos e reforçadores. A sensação da cânfora e do mentol, inalado, soprado ou massageado em várias partes do corpo encontra muitos adeptos nas raves. Dedos corridos pelo rosto e pelo corpo deixam "rastros" atrás de si, rastros que permanecem por vários segundos ou minutos.
Além da mudança na qualidade do som, há um aumento na percepção da qualidade física do som, relacionada com a consciência tátil. As vibrações acústicas dos sons mais graves agitam bastante o ar ao seu redor, e esta sensação na pele é enormemente aumentada, descrita por muitas pessoas como literalmente ouvir a música "na pele". É cena comum ver muita gente de ouvidos grudados nas caixas de som (uma lástima para os tímpanos deste pessoal).
A despersonalização produzida pelo MDMA é pequena, se comparada com outros alucinógenos, e se parece mais com um prazeiroso "afrouxamento das fronteiras do ego". O usuário permanece "focado" no que está fazendo, muitas vezes distraindo-se, entediando-se ou esquecendo-se com facilidade. Pode haver uma mudança na noção de tempo, leve na maioria das vezes.
Os primeiros investigadores científicos, mesmo sem o conhecimento psicológico suficiente, surpreenderam-se com a capacidade do MDMA de ajudar pessoas a falar abertamente sobre si mesmas e seus relacionamentos, sem o condicionamento defensivo interveniente; por horas, medos e ansiedade pareciam desaparecer. Tal perfil de efeitos psicológicos justificou, para os terapeutas norte-americanos, o seu uso em um setting psicoterapêutico.
A auto-imagem corporal parece magnífica, assim como os outros também parecem magníficos. Com MDMA puro, sujeitos relatam sentir-se em paz consigo mesmos e com o mundo, descobrindo um senso aumentado de auto-estima e auto-aceitação. Pensamentos cínicos e sentimentos "negativos" desaparecem; raiva, irritabilidade e medo também (embora usuários possam defender-se, em última instância, de agressões externas). O prazer corporal sentido é equiparado, por algumas pessoas, como se estivessem "derretendo", muitas vezes de uma forma paralisante; outros relatam "ciclos" alternantes entre prazer extremo/bem-estar físico, e euforia.
De qualquer maneira, a mesma abertura que o MDMA promove para dentro, ele promove para fora. Em vez de proporcionar uma experiência contemplativa e solitária, de acordo com um usuário,
você se sente completo, auto-suficiente; mas o engraçado, e o bom, é que você não quer ficar sozinho com isto; você quer dividir todo este bem-estar e felicidade com os outros.
Os efeitos "sociabilizantes" do MDMA são um eufemismo para os efeitos entactogênicos do MDMA: o senso de proximidade, de empatia, de abertura, o dissolvimento de praticamente todos os medos e bloqueios com relação às outras pessoas promove uma valorização extra do contato social. As pessoas se tornam falantes, e conversar é uma das atividades favoritas:
Foi incrível. Eu não posso dizer exatamente o que era, embora eu possa dizer que era aquilo que eu sempre quis para a minha vida. Estava lá no meio de todas aquelas luzes e sons, e tudo era muito bonito, mas eu me sentei em um lugar qualquer, com uma pessoa que eu estava enrolado na época, e eu me sentia completo, somente em estar sentado lá, falando com ela. Falei e escutei coisas que normalmente eu teria recuado ou bloqueado, e encarei de frente, de peito aberto, afirmações do fundo da alma dela, coisas que eu sabia que tinham um valor imenso para ela, e que normalmente ou ficariam lá, com ela, ou que viriam com uma aura de culpa ou agressividade ostensiva. E para tudo isto, eu queria muito abraçá-la, e peguei em sua mão e falei que sim, eu sentia tudo aquilo, e uma vida inteira de defesas e bloqueios desapareceu, e eu nem percebi. Não sentia falta deles, e percebi que eles nunca foram realmente sinceros, embora tenham sido sempre necessários, como eu sei que são aqui, na minha vida real. Foi uma experiência sublime, e é ela que eu procuro todas as vezes que eu tomo bala.
Os efeitos agudos que não se relacionam diretamente com a experiência em si (ou seja, são "neutros") são vários. Os três mais comuns são falta de apetite, aperto das mandíbulas e/ou bruxismo, boca seca, taquicardia e dificuldade de urinar. Estes estão presentes, em maior ou menor grau, em todas as pessoas. Há outros bem menos ocorrentes, como tonturas, ansiedade, confusão, sudorese excessiva, entre outros.
Efeitos residuais
Os efeitos que ocorrem até 72 horas depois. Mais conhecidos como a "ressaca do E", consistem basicamente em fadiga (cansaço generalizado, não somente físico). Muitas pessoas realmente sentem um desânimo uns dois, três dias depois, e outras apresentam um leve quadro de depressão. É importante salientar que pessoas com tendência à depressão deviam pensar melhor antes de se expor a doses excessivas. O midweek blues, como é chamado, pode ser de apenas um dia, ou dois, mas há vários relatos de alterações de humor recorrentes por dias ou mesmo semanas. Muitas pessoas relatam também dificuldades para dormir.
O MDMA também provoca uma supressão temporária do sistema imune, por um ou dois dias, além de efeitos anti-inflamatórios.
A longo prazo
O uso do MDMA tem mais de vinte anos, e não se sabe de qualquer diminuição significativa de capacidades cognitivas, ou do bem-estar psicológico. Embora a "regra" nestes casos seja sempre a precaução, as evidências levam a crer que, se presentes, os danos são pequenos se comparados com outras drogas de abuso.
(A opinião geral agora é de que não há evidência epidemiológica de qualquer anormalidade neurológica, com exceção de uma perda leve de memória, ser uma consequência persistente - meses a anos depois - do consumo de ecstasy. Usuários de ecstasy têm performances ligeiramente menores em certos tipos de testes neurocognitivos, embora este "ligeiramente menor" esteja tão próximo do normal que muitos se perguntam se chega a ser um déficit verdadeiro; há também outros testes em que os usuários saem-se ligeiramente melhor que o grupo controle. Pretendo completar estas informações em breve.)
Aqui pode entrar o que muita gente chama de "a perda da mágica" do MDMA/ecstasy. Muitas pessoas afirmam que, com o passar do tempo, os efeitos entactógenos tendem a ficar cada vez mais inexpressivos, com um aumento dos efeitos dopaminérgicos e de efeitos colaterais negativos. Isto leva ao consumo de uma dose maior para ter os mesmos efeitos de uma dose anteriormente menor. Segundo eles, "a primeira vez é sempre a mais mágica de todas". Alguns outros fatores podem explicar este fato, como a própria experiência com o MDMA/ecstasy (a familiarização com os efeitos), ou até mesmo um efeito placebo; muitas das pessoas, em sua primeira vez, têm expectativas bastante elevadas a respeito da experiência, por parte do relato de outras pessoas, ou de informações no meio científico e na mídia. Alguns dos estudiosos recomendam que, se usado, é preferível que se faça um intervalo de, em média, seis semanas entre um episódio de uso e outro, o que parece ser o tempo necessário para diminuir tal "tolerância".
Set e setting
Aqui é importante introduzir dois conceitos para nos guiar na discussão abaixo: set e setting. Os dois fazem diferença em praticamente qualquer coisa que uma pessoa pode fazer, de tomar banho a tomar café, ou fumar charuto. Setting é a disposição de fatores "externos", como o lugar, o momento; se há alguém por perto, se este alguém é a família, estranhos, ou as pessoas numa rave ou num concerto de música erudita; as condições físicas, como a temperatura, se é dia ou noite, se é uma sauna ou uma piscina... enfim. Por outro lado, o set é a pessoa mesma: toda a história de vida que pode ser relevante no momento, além das expectativas, do estado de espírito, o caráter, e o churrasquinho do almoço, lá no seu estômago. Imagine o rapaz que pegou um cigarro escondido da carteira da mãe e vai fumar em segredo no quarto, com a janela bem aberta. Ele sabe que o seu pai não aprova, e fica imaginando o que aconteceria se o pegassem no flagra. Os irmãos pequenos correm pela casa, pra cima e pra baixo, fazendo barulho, e a sua mãe vem pelo corredor e bate na porta do quarto. Ele fumou em tragos rápidos, e não gostou muito do gosto. Está começando a passar um tanto mal, enjoado; é a primeira vez. "Mas parece tão legal fumar..." Apaga rapidinho, meio tonto, vê se não ficou cheiro de fumaça, dá uma olhada no hálito, e então abre. "Ai ai ai, ela percebeu!"
Que viagem ruim, hein? quer dizer, embora os efeitos fisiológicos de muitas coisas que ingerimos, entre sólidos e líquidos, sejam bem consistentes, para mais ou menos, as experiências podem ser bastante diferentes, dependendo de várias coisinhas do dia-a-dia. Não é simplesmente um toma lá, dá cá; é uma interação multifacetada e multifatorial entre um organismo (você, eu, o Rex) e o ambiente (um planeta, uma casa de praia, uma rave). A neurofarmacologia do MDMA, por mais consistente que possa ser, de indivíduo para indivíduo, não explica tudo da experiência em si. Mas ajuda.
Neuropsicofarmacologia
O MDMA é uma droga serotonérgica. A serotonina é um neurotransmissor cerebral, um entre os mais importantes deles. Pertence ao grupo das aminas biogênicas, do qual faz parte também a dopamina e outras; estas aminas são responsáveis por apenas 5 porcento da comunicação dos neurônios do cérebro, mas fazem uma diferença... Doenças como depressão e transtorno obsessivo-compulsivo tem suas raízes, muitas vezes, relacionada com a serotonina, e as drogas que tratam destas desordens tendem a afetar a serotonina. Já o mal de Parkinson, por exemplo, está relacionado com uma produção muito pequena de dopamina.
Dê uma olhada neste cérebro [broken link], que é muito parecido com este aí na sua cabeça. A maioria das pessoas pensa que os neurônios são células minúsculas, que estão enroladas aos bilhões no cérebro. A segunda parte é verdade: são bilhões de neurônios fazendo, uns com os outros, cerca de 100 trilhões de conexões. Um número impressionante. Mas eles não são necessariamente sempre pequenos, como as células "normais", de livro de escola. Assim como as células musculares estriadas, alguns neurônios podem medir centímetros (uns 15 centímetros, por exemplo). Este é o caso de muitos neurônios serotonérgicos, que se estendem do núcleo da rafe, no tronco cerebral, para todo o cérebro, até o córtex. Se eu estendesse um na sua frente, porém, você não o veria, por ser infimamente espesso.
A molécula de serotonina vem de antes do cérebro: pode ser encontrada em vegetais, e em outros animais. A presença de neurônios produtores de serotonina no cérebro humano, porém, é característico. Ela está na base da regulação de coisas como o sono, o humor, sociabilidade, agressão, temperatura, cognição, ritmos circadianos, responsividade e resiliência emocional, atividade sexual, integração sensório-motora, e o amor romântico.
A dopamina, por sua vez, está ligada intimamente com o circuito de recompensa do cérebro; é ela que está presente quando se trata do "gostar" e do "desejar" ou não algo "no mundo", e a experiência de prazer em si.
Existem quatro tipos de comunicação entre os neurônios. Uma delas é a sináptica, ou química, referindo-se ao espaço entre um neurônio e o outro utilizado para a troca de mensagens: a sinapse. Os neurotransmissores fazem seu trabalho nesta "terra de ninguém" entre os neurônios. Uma "mensagem" chega a um neurônio a partir de outro, pelo dendritos; ela viaja pelo corpo neuronal, chegando até os axônios, terminando nas sinapses; neste ponto, os neurotransmissores são liberados, através de pequenas vesículas, na sinapse. No outro neurônio (pós-sináptico) existem receptores para vários tipos de neurotransmissores; assim, quando a serotonina é lançada na sinapse, ela se "encaixa" nos receptores serotonérgicos, e desta forma a mensagem pode continuar o seu caminho.
O excesso de neurotransmissores na sinapse pode ser reabsorvido pelo axônio do primeiro neurônio (pré-sináptico), através de uma "bomba de reabsorção", como o transportador de serotonina (SERT). O neurotransmissor volta para dentro do neurônio de origem e pode, então, ser utilizado novamente, ou ser reciclado
Embora não possamos dizer que "é assim que funciona", o que sabemos até agora sobre o papel dos neurotransmissores em várias atividades do cérebro pode nos ajudar bastante a compreender "como as coisas funcionam". É uma explicação incompleta e um tanto simplista, mas bastante útil.
Muitas das drogas conhecidas trabalham essencialmente com a maneira como os neurotransmissores são liberados na sinapse. A cocaína, por exemplo, bloqueia o transportador de reabsorção da dopamina, de modo que mais dopamina permanece "livre" na sinapse. A fluoxetina (mais conhecida como Prozac, o famoso antidepressivo) faz a mesma coisa, só que com a serotonina. A anfetamina, da mesma forma que a cocaína, impede a reabsorção da dopamina; além disto, porém, ela age diretamente nos neurônios dopaminérgicos, fazendo com que eles liberem mais dopamina ainda.
O MDMA tem uma ação muito parecida com a da anfetamina, atuando, porém, em sua maior parte, nos neurônios serotonérgicos. Eu disse parecida por que o MDMA não inativa o SERT, mas sim faz com que ele inverta a direção do processo, de modo que o transportador, em vez de recolher, bota pra fora a serotonina que existe dentro do neurônio. De alguma forma, a molécula de MDMA entra dentro do neurônio, talvez por difusão passiva ou pelo SERT, e lá dentro estimula a liberação de serotonina (provavelmente do retículo endoplasmático) através dos canais dos SERTs (e não pela via "normal"). Esta liberação é cálcio-independente, o que quer dizer que independe da descarga (firing) do neurônio.
À esquerda, sinapse serotonérgica normal, e à direita, com o MDMA. Os vermelhinhos são serotonina, os rosinhas são MDMA, as bolonas são as vesículas com serotonina, a coisa esquisita verde-azul é o SERT (proteína transportadora da serotonina, que está com a direção de fluxo invertida com o MDMA); embaixo, no dendrito do neurônio pós-sináptico, os diversos receptores de serotonina, com destaque para o 5-HT2 (azul) e a sua afinidade com o MDMA.

A natureza dos receptores pós-sinápticos também pode nos dar pistas do como o MDMA atua de forma mais específica. Não existe um só receptor para a serotonina, no cérebro; existem alguns, e cada um deles com uma ação diferente. Estudos recentes mostram que o MDMA possui afinidade com os receptores serotonérgicos 5-HT2, muscarínicos M1, adrenérgicos alfa-2 e histamínicos H1. Os receptores 5-HT2 são os mesmos receptores envolvidos no LSD, o que pode aventar por algumas capacidades "psicodélicas" do MDMA.

É basicamente toda esta serotonina extra que define a experiência com o MDMA? Provalvemente não, embora ela desempenhe grande parte da ação. O MDMA faz com que uma pequena descarga de dopamina seja liberada, usualmente logo no início dos seus efeitos. Esta dopamina é a responsável pela euforia e motivação (para dançar, abraçar as pessoas), ou a sensação mais "anfetamínica". Sem esta dose a mais de dopamina, a "mágica do E" seria talvez um pouco diferente, como apontam os estudos com outras drogas de ação semelhante, mas que não afetam a dopamina. É necessariamente o fato de o MDMA ser uma droga "suja" que faz com que os seus efeitos sejam tão específicos e especiais.

O drama de Ricaurte

Durante toda a década de 90 perdurou, na mentalidade acadêmica oficial, a certeza de que o MDMA era substancialmente neurotóxico, até mesmo em pequenas doses, ou em aplicações únicas. Era frase comum dizer que o MDMA podia fazer mal, mesmo uma única dose, e que este dano era irrecuperável. Tais opiniões eram baseadas nas pesquisas feitas, primariamente, por um casal de pesquisadores norte-americanos, George Ricaurte e Una McCann. Ricaurte é pesquisador no John Hopkins, com um orçamento que o NIDA (National Institute for Drug Abuse) lhe oferece. Em 1998, ele e McCann, sua mulher, publicaram o conhecido artigo em que detectaram "evidência direta de uma diminuição dos componentes estruturais nos neurônios de 5-HT (serotonina) no cérebro de usuários humanos de MDMA". A pesquisa utilizava exames de PET (tomografia por emissão de pósitrons, uma forma de imageamento funcional do cérebro) para detectar diferenças na densidade dos transportadores de serotonina (SERTs) em usuários de ecstasy/MDMA.

Este estudo serviu de base a uma campanha nos EUA, em que eram entregues folhetos com duas fotos tiradas dos exames de PET do artigo. Uma delas retratava uma pessoa controle ("plain brain"), e outra um dos usuários ("brain after ecstasy"), implicando que os usuários tinham uma densidade de SERTs muito menor que os do grupo controle (e, consequentemente, deviam estar na pior - veja a figura). A metodologia do trabalho, porém, foi criticada por muitos especialistas. Marc Laruelle, especialista em PET, diz que o trabalho é tão falho metodologicamente que é melhor "colocá-lo debaixo do tapete". McCann et al tiveram de fazer modificações extras nos dados, o que outros pesquisadores com o PET não costumam fazer. O mais interessante, contudo, é que mesmo entre os sujeitos do grupo controle, os de maior densidade tinham vinte vezes mais SERTs do que os de menor densidade; como esta discrepância não é possível em sujeitos humanos "normais", a possibilidade restante é que os dados não eram corretos. Mesmo se o fossem, e o erro fosse de um cálculo errado, dois dos usuários "severos" estavam no grupo que tinha a maior densidade de SERTs. Isto, somado com a falta de resultados remotamente parecidos com estes, em outras pesquisas, levam a crer que os resultados do estudo não são válidos.

Ricaurte decolou em sua carreira justamente em 1985, quando um artigo seu, demonstrando uma depleção de serotonina em ratos com o MDA, um análogo do MDMA, foi utilizado pelo DEA na campanha para tornar o MDMA ilegal.Em 2002 a prestigiosa Science publica um artigo de Ricaurte de fazer tremer o mais empedernido raver. Ricaurte descobre que cobaias drogadas com MDMA sofreram danos cerebrais extensos, relacionados com a dopamina, exibindo sintomas similares ao mal de Parkinson. Mais contundente ainda, ele relata a morte de 2 dos 10 cobaias. A conclusão imediata disto tudo: o MDMA pode causar parkinsonismo. Tais resultados publicados em uma publicação com o pedigree da Science não deixaram dúvidas para o ex-diretor do NIDA, Alan Leshner: "mesmo um uso ocasional de ecstasy pode levar a um dano significante aos sistemas cerebrais".Muitos estudiosos criticaram o artigo de Ricaurte, tentando replicar os resultados, sem sucesso. Não foi à toa: em setembro de 2003 Ricaurte e seus colegas retrataram-se na Science. Os ratos cobaias foram injetados com metanfetamina, e não com MDMA; segundo os autores, uma confusão com relação aos rótulos dos frascos, vindos da fábrica. Em sua própria retratação Ricaurte fala de pesquisas subsequentes com MDMA verdadeiro, nas quais não encontraram nenhuma evidência de toxicidade dopaminérgica e, portanto, nada de parkinsonismo.

Neurotoxicidade

A questão da neurotoxicidade do MDMA costuma causar polêmica, tanto nos resultados encontrados, nas conclusões falazes e apressadas, e até mesmo no próprio conceito de toxicidade. A maioria da pesquisa sobre o MDMA se relaciona, de alguma forma, a este assunto. Com o drama de Ricaurte, um mito foi construído, com base em muita pesquisa metodologicamente falha, de que o MDMA é uma neurotoxina quase-fatal: se não se vê gente morrendo nas pistas de dança, espere para ver quando elas ficarem um caco quando mais velhas. Quer dizer, além de se basear nestes dados duvidosos, havia de se contar também com o medo presente quando se traça uma perspectiva de um futuro sombrio. Infelizmente faltou, para muita gente, perceber que a neurotoxicidade de uma substância é clara, e fácil de se perceber, no contexto da pesquisa atual.

Toxicidade é uma propriedade intrínseca de uma substância, como a capacidade de perturbar o equilíbrio fisiológico de um organismo numa escala em que este organismo não pode ser considerado saudável. Muitas vezes é preciso um bom estrago do cérebro para que disfunções graves possam vir a acontecer, como no caso do parkinsonismo, cuja manifestação ocorre quando o sujeito apresenta um déficit de dopamina de mais de 70% (por causa da morte dos neurônios produtores de dopamina). Se considerarmos a relação entre a serotonina e transtornos afetivos, que é bem menos clara e específica, perceberemos que sujeitos com depressão maior apresentam, em média, um déficit de 30 a 40 porcento de serotonina. Estes números representam um bom pedaço da química cerebral, e todas as pesquisas com o MDMA nos apresentam cifras muito mais modestas do que estas.

Colocado de forma simples, há duas maneiras de assegurar a neurotoxicidade do MDMA. Uma delas é o exame direto do tecido cerebral, como nos casos dos exames com os animais, tanto de forma direta (coleta de tecido, análise em microscópio) quanto indireta (técnicas de imageamento cerebral, como o PET e o fMRI); a outra, análise do comportamento dos sujeitos (depressão, ansiedade, perda de memória). Pessoalmente (como leigo), eu creio que a primeira deve ser priorizada, no estado atual, pois pela segunda é bastante tentador chegar a conclusões precipitadas. É importante deixar claro algumas questões com relação a esta história de neurotoxicidade. Uma delas é a questão das doses elevadas, e outra é uma diferenciação entre neurotoxicidade e neuroadaptação.

Está comprovado, à bastante tempo, que doses elevadas de MDMA, em cobaias animais, provocam a destruição dos axônios de neurônios serotonérgicos (só os axônios, não os corpos celulares inteiros). No caso de ratos (mice) trata-se de axônios dopaminérgicos. O quadro é complicado pela temperatura ambiente elevada. Há bastante especulação de qual seria o mecanismo responsável por isto, como "estresse oxidativo" e/ou decomposição metabólica do MDMA pela monoaminaoxidase, entre outras hipóteses.

Nos estudos animais, os cobaias são, via de regra, injetados com o MDMA em vários regimes, com diferentes concentrações e intervalos. Quando é encontrada uma ação neurotóxica, o regime usado é chamado de "regime neurotóxico", e é a partir deles que os dados são extrapolados para os seres humanos.

É aí que entra um grande pequeno problema: a escala interespécies. Esta é uma fórmula matemática para predizer, a partir de um animal menor, o quanto é necessário em um animal maior para se alcançar o mesmo efeito (neste caso, a neurotoxicidade). É a mesma lógica usada na diferença de dosagem de remédios entre crianças e adultos. Contudo, esta escala se baseia em mecanismos simples de ação, e os mecanismos de ação do MDMA são mais complexos.

De acordo com esta escala, portanto, vários pesquisadores (Ricaurte) estimaram a "dose fatal" para humanos a partir de 1,28 mg/kg. Neste sentido, praticamente todos os consumidores de MDMA/ecstasy estariam tomando doses neurotóxicas, dados que pareciam condizer muito pouco com a realidade.

Estudos atuais, onde primatas não-humanos se auto-administram MDMA, parecem fornecer uma linha melhor de avaliação de uma "escala interespécies". Nestes estudos, não foram encontrados qualquer evidência de redução da dopamina, redução mínima da serotonina, e nenhum sinal de dano aos axônios.

O sistema nervoso tenta sempre se recuperar de níveis anormais de atividade, de várias maneiras; este fenômeno tem o nome de neuroadaptação, e está envolvido desde tolerância a substâncias até dependência física. Embora o fumante novato possa ter reações adversas ao fumo, como náusea e vômitos, o fumante experiente não as apresenta; este, contudo, apresentará um quadro de abstinência física muito maior, e mais duradouro. Neuroadaptação não é um dano; como o fumante pode parar de fumar e retornar aos níveis normais de atividade, isto é bastante diferente do que se costuma chamar de "neurotoxicidade". A neuroadaptação também é usada para fins positivos, como em muitos tratamentos antidepressivos (com os ISRS - fluoxetina, etc).

No caso do uso recreativo de uma substância, contudo, o efeito é, na maioria das vezes, disruptivo: no caso do MDMA, o cérebro se torna menos sensível à serotonina, devido ao excesso de serotonina liberado pela droga, e esta falta de sensibilidade pode durar de dias até semanas para voltar ao nível normal. Com um uso contínuo de MDMA/ecstasy, este tempo de recuperação pode não estar disponível, e muitas pessoas podem desenvolver então casos de depressão, ansiedade, etc, quadros que são relacionados, tradicionalmente, a danos estruturais nos neurônios. Embora estes danos estruturais podem estar presentes, há também uma explicação alternativa para esta questão. A linha divisória entre neuroadaptação e neurotoxicidade (ou, para deixar em termos mais claros, entre "danos passageiros" e "danos permanentes") não é tão clara quanto muitas pessoas gostariam que fosse.

Riscos

Os espertinhos podem ter percebido que eu usei, muitas vezes, o termo MDMA em vez de ecstasy. Não seria melhor falar de ecstasy de uma vez, já que deste comprimido que estamos falando aqui? Não, não seria, pois para falar de ecstasy temos de falar de mais de uma substância.

Como assim? Ora, praticamente a maioria dos comprimidos de ecstasy não contém MDMA puro. Em média, 70% dos comprimidos têm algum MDMA; e, dentre estes, muitos estão misturados com diversas outras substâncias. A lista é extensa: nela entram (em ordem de ocorrência) MDA, MDEA ou MDE, MBDB, metanfetamina, parametoxianfetamina, anfetamina, efedrina, pseudoefedrina, procaína, cafeína, quetamina, indo até paracetamol e aspirina. Isto faz uma diferença enorme, em muitos sentidos. Em primeiro lugar, na questão dos efeitos relatados; como dito anteriormente, o MDMA pode ser o primeiro de uma classe nova de "entactógenos", e segundo as pesquisas, nem mesmo o seu análogo mais próximo, o MDA, funciona da mesma maneira que o MDMA. Em segundo lugar, muitos dos problemas relatados podem estar relacionados a outros produtos; lembre-se da troca entre MDMA e metanfetamina, nos experimentos de Ricaurte. Há também um perigo intrínseco na combinação de MDMA com outras substâncias.

Além desta incerteza quanto à qualidade dos comprimidos de ecstasy, o próprio padrão de uso pode ser uma fonte de risco. Muita da pesquisa científica sobre o MDMA é conduzida com sujeitos em ambientes controlados (clinical trials), ou seja, um ambiente calmo, com temperatura e dose controlados, sem uso de outras substâncias, acesso à bebidas e ajuda especializada. São nestas condições "especiais" que pode-se afirmar que os riscos, mesmo se muitos, são inexpressivos. A situação muda, porém, quando se trata do uso "real" do ecstasy. Praticamente todos os estudos retrospectivos realizados com usuários abrem o mesmo parêntese nas suas conclusões: há muitos fatores em jogo, de modo que é difícil assegurar "de quem é a culpa". O padrão de uso ilegal da maioria dos usuários (exercício físico ininterrupto por várias horas, história de uso de diversas outras drogas, estilo de vida, existência de predisposição de fatores de risco) deve ser considerado, em todos estes casos.

De qualquer maneira, os problemas médicos mais ocorrentes relatados com o uso do MDMA/ecstasy são a hipertermia, hiponatremia, problemas psiquiátricos e hepatoxicidade. Ocorreram várias mortes associadas com o ecstasy/MDMA, e entre elas a maioria teve o caso complicado por um quadro de hipertermia. Estatisticamente, contudo, o risco de morte por ecstasy/MDMA é muito baixo, e no geral a porcentagem das pessoas que relatam problemas médicos graves com o ecstasy também o é.

Hiponatremia e hipertermia são usualmente desdenhados, embora já se saiba que eles são os responsáveis pelos maiores danos.

Hiponatremia ("intoxicação por água") é a concentração anormalmente baixa de sódio no plasma sanguíneo, e pode até causar a morte. Não é uma condição causada pelo consumo de ecstasy; corredores de maratona costumam tê-la de vez em quando. Ao contrário do álcool, o MDMA tem uma ação de liberação do hormônio anti-diurético, até mesmo em pequenas doses; isto se reflete, então, no comportamento de passar horas sem sentir a necessidade de urinar. Pela hipertermia induzida, a quantidade de líquidos ingerida por uma pessoa costuma ser bastante grande; acontece que, como este líquido costuma ser água, a quantidade de sais no corpo pode baixar, e a hiponatremia tem então o seu lugar.

A hipertermia parece ser uma condição indissociável dos efeitos do MDMA, embora ela possa ser reduzida e cuidada em condições controladas; o MDMA afeta a termoregulação, levando para um caso de hipertermia na maioria das condições. Em condições de temperatura normal esta elevação nunca passa de um grau centígrado; em lugares fechados e/ou mal-ventilados, ou em caso de desidratação, tal condição pode ser bastante aumentada, ocasionando alguns casos graves. Sabe-se também que muito da ainda estudada neurotoxicidade do MDMA está relacionada diretamente com quadros de hipertermia.

O ecstasy também apresenta riscos de hepatoxicidade, e de complicações psiquiátricas; entre elas, depressão, esquizofrenia e transtornos de pânico. A visão geral é de que muitas destas condições estão relacionadas com uma história anterior. Uma pesquisa chegou a conclusão de que 68% das pessoas que tomaram ecstasy tinham problemas psiquiátricos; 90% destas, contudo, já os apresentavam antes do consumo da droga. O MDMA, como qualquer substância psicotrópica, pode aumentar significativamente as chances de surgimento ou de agravamento de quadros psiquiátricos.

Cuidados

Dados os riscos acima, não é difícil concluir quais as precauções a ser tomadas no caso de uso do MDMA. Lembrando que, obviamente, nenhuma delas irá garantir a segurança total; os riscos estão presentes, e se pode fazer o possível para minimizá-los. Assim como quase todas as atividades do dia-a-dia, o uso do MDMA é relativamente seguro, mas não totalmente.

Em primeiro lugar, evitar a hipertermia, evitando qualquer lugar ou demasiado abafado, sem ventilação ou muito lotado. Esta é um cuidado primordial, pois, como visto acima, a hipertermia pode estar relacionada com muitos dos efeitos colaterais negativos do MDMA.

Tomar líquidos, mas não em exagero. Embora o MDMA/ecstasy não provoque uma "sede terrível", muitas pessoas costumam tomar bastante líquido. É bom pegar leve neles; adote, de preferência, uma bebida isotônica ("Gatorade"), para evitar ainda mais o risco de hiponatremia.

Preloading: é comum o uso prévio de antioxidantes (vitamina C, vitamina E, entre outros) por alguns usuários, especificamente para evitar alguns supostos danos por estresse oxidativo (ver Neurotoxicidade). Há também quem tome, antes de tomar MDMA, uma dose de 5-HTP, o precursor da serotonina, ou mesmo triptofano, o aminoácido (presente em grande quantidade no amendoim) precursor do 5-HTP, para se "carregar". (Tal prática não apresenta vantagens no caso de deficiências nutricionais.)

Atenção à quantidade tomada: pela farmacodinâmica do MDMA ser não-linear, aumentos pequenos na dose provocam aumentos exponenciais na concentração no plasma sanguíneo; este aumento pode tanto aumentar os efeitos fisiológicos, como aumentar a quantidade de metabólitos no fígado, o que pode contribuir para a hepatoxicidade.

Como com todas as outras drogas de abuso, podem ocorrer "viagens ruins" com o MDMA/ecstasy, caracterizadas por fortes sentimentos de ansiedade, e de que "algo muito ruim vai acontecer". No caso de insegurança quanto aos efeitos da droga, é importante a presença de uma pessoa de confiança. Qualquer preocupação ou ocorrência muito "esquisita" ou fora do normal deve ser comunicada. É importante procurar manter a calma; não dirija ou se envolva em qualquer atividade que exija reflexos ou tomada rápida de decisões.

A combinação de MDMA com outras substâncias é comum. As mais populares são a combinação com a maconha, com anfetaminas, com nitritos e com o LSD (candyflip). A combinação com outras substâncias, contudo, deveria ser evitada, incluindo o álcool, por várias razões. Compostos anfetamínicos, ou cocaína, podem aumentar os riscos de ataque cardíaco e crise hipertensiva, além dos riscos de aumento de temperatura, sendo então contraindicados.

O MDMA é altamente contraindicado para pessoas que estejam em tratamento com algum tipo de inibidor da monoaminaoxidase (iMAO, um tipo de antidepressivo). Pessoas com problemas cardíacos deveriam pensar duas vezes, assim como pessoas com disfunções no fígado. Embora o MDMA não possua nenhum efeito teratogênico comprovado, no útero, é desaconselhável o seu uso por gestantes ou mulheres que estejam amamentando, pois o MDMA é excretado junto com o leite. É de bom tom que qualquer gestante se abstenha de aventurar com os riscos de qualquer substância.

Embora não haja nenhum perigo relacionado, pessoas que tomam fluoxetina (Prozac) relatam uma perda (de "70%" - como é que eles calculam isto?) da intensidade dos efeitos relacionados à serotonina.

OUTRAS INFORMAÇÕES :

Para os leitores de inglês, recomendo uma olhadela prolongada nos sites abaixo, la crème de la crème do MDMA online. São muito mais completos e sempre se mantém atualizados, e me ajudaram muita na escrita deste texto.

As referências de artigos que foram aqui citados amontam a dúzias (e, por enquanto, não pretendo colocá-las junto ao texto); agradeço, portanto, ao bom trabalho que Lisa Jerome e Matthew Baggot fizeram, ao apresentar revisões atualizadíssimas da literatura científica sobre o ecstasy/MDMA, patrocinados pelo MAPS. Imprescindível para o interessados nos mais recentes estudos científicos.

Desde 1986, o MAPS (Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies) tem tentado aprovar, junto ao FDA americano, testes clínicos para uso do MDMA como adjunto psicoterápico em casos agudos de transtorno de estresse pós-traumático. Ano passado o projeto foi aprovado, estando agora em fase inicial. Os documentos de todo o projeto, além de muita documentação sobre o MDMA e o seu agendamento pelo DEA, na página do MAPS.

O indispensável Erowid.

ONG voltada para, como o próprio nome diz, dançar em segurança.

Testagem de comprimidos de ecstasy, somente para os EUA.

Entre outras coisas, versão online do E for Ecstasy.

A maior piração sobre o MDMA que eu já li; cheio de informações.

Em português, uma das pouquíssimas páginas inteligentes sobre o assunto; acesso para a legislação e afins.