Psicodélico: março 2011

quinta-feira, 31 de março de 2011

Um momento para reflexão e ação - Por Ethan Nadelmann


Por Ethan Nadelmann

ethan_nadelmann_edit.jpgAlguns aniversários proporcionam uma ocasião para celebração, outros um momento de reflexão, outros ainda um tempo para a ação. Em junho completará 40 anos desde que o presidente Nixon declarou uma “guerra contra as drogas”, identificando o abuso de drogas como “inimigo público número 1″. Tanto quanto eu sei, não há celebrações sendo planejadas. O que é necessário, e mesmo indispensáveis, são reflexões e ação.

É difícil acreditar que os americanos gastaram cerca de um trilhão de dólares (com erro de algumas centenas de milhões) para fazer uma guerra de quarenta anos. Difícil de acreditar que dezenas de milhões de pessoas foram presas, e muitos milhões presos nos cárceres e prisões, por cometer atos não-violentos que não eram sequer os crimes de um século atrás. Difícil de acreditar que o número de pessoas presas por porte de drogas aumentou mais de dez vezes mesmo quando a população do país cresceu apenas a metade.

Difícil de acreditar que milhões de americanos tenham sido privados do direito de voto não porque mataram um concidadão ou traíram o seu país, mas simplesmente porque eles compraram, venderam, produziram ou simplesmente possuíam uma planta psicoativa ou química. E difícil de acreditar que centenas de milhares de americanos foram autorizados a morrer – de overdose, AIDS, hepatite e outras doenças – porque a guerra às drogas bloqueou e até mesmo proibiu o tratamento para dependência de determinadas drogas como os problemas de saúde considerando-o um ato criminoso.

Refletir é preciso não apenas sobre as consequências desta guerra em casa, mas também no exterior. A proibição a criminalidade associada à violência e a corrupção no México de hoje se assemelham a Chicago durante a Lei Seca – cinqüenta vezes. Partes da América Central são ainda mais fora de controle, e muitos países do Caribe estão próximos disso. O Mercado ilegal de ópio e heroína no Afeganistão são alegadamente responsáveis por um terço à metade do PIB do país. Na África, proibicionismo ao tráfico, exploração e corrupção estão se espalhando rapidamente. Quanto à América do Sul e Ásia, basta pegar um momento e um país – e as histórias são praticamente as mesmas, da Colômbia, Peru, Paraguai e Brasil para o Paquistão, Laos, Birmânia e Tailândia.

As guerras podem ser caras – em dinheiro, direitos e vidas – mas continua a ser necessário defender a soberania nacional e os valores centrais. É impossível fazer nesse caso, em nome da guerra contra as drogas. Maconha, cocaína e heroína são efetivamente mais barato hoje do que eram no início da guerra há quarenta anos, e tão disponível como então para quem realmente quer. Maconha, que responde por metade de todas as apreensões de drogas nos Estados Unidos, nunca matou ninguém.

A heroína é basicamente indistinguível de hidromorfona (aka Dilaudid), uma medicação para dor prescrita pelos médicos para que centenas de milhares de americanos possam ter consumido com segurança. A grande maioria das pessoas que usaram cocaína não se viciam. Cada uma dessas drogas é menos perigosa do que afirma a propaganda do governo, mas suficientemente perigosas que merecem regulamentação inteligente em vez de proibições cobertor.

Se a demanda por qualquer uma dessas drogas fossem duas, cinco ou dez vezes o que são hoje, a oferta estaria lá. Isso é o que os mercados fazem. E quem se beneficia com a persistência de estratégias de controle de oferta e condenação do uso apesar de suas evidentes custos e fracassos? Basicamente dois tipos de interesses: os produtores e vendedores de drogas ilícitas que ganham muito mais do que seria se o produto foi legalmente regulamentado em vez de proibida, e os aplicadores da lei para quem a expansão das políticas proibicionistas traduz em empregos, dinheiro e poder político para defender seus próprios interesses.

Governadores republicanos e democratas enfrentar enormes déficits orçamentários do Estado estão agora endossando alternativas ao encarceramento para infratores não-violentos lei que teriam rejeitado há poucos anos atrás. Seria uma tragédia, porém, se esses resultados modestos, porém importantes passos em nada mais do que uma guerra contra as drogas gentil, suave.

O que é realmente necessário é o tipo de ajuste de contas que identifica como o problema, não apenas a dependência de drogas, mas a proibição, bem como – e que visa reduzir o papel da criminalização e do sistema de justiça criminal no controle das drogas, na medida do possível e enquanto o reforço da segurança pública e saúde.

Qual a melhor maneira para marcar o 40º aniversário da guerra às drogas do que ao quebrar os tabus que têm impedido franca avaliação dos custos e falhas da proibição das drogas, bem como suas alternativas variadas. Apenas uma única audiência, auditoria ou análise efetuada e encomendada pelo Governo ao longo dos últimos 40 anos, se atreveu a realizar este tipo de avaliação.

O mesmo não pode ser dito das guerras no Iraque ou no Afeganistão, ou quase qualquer outro domínio das políticas públicas. A guerra às drogas persiste em boa parte porque aqueles que detêm os cordões à bolsa focar suas atenções apenas críticas sobre a execução da estratégia e não à própria estratégia.

A Drug Policy Alliance e nossos aliados neste movimento crescente com intenção de quebrar a tradição de negação -, transformando este aniversário em um ano de ação. Nosso objetivo é ambicioso – para atingir a massa crítica em que o ímpeto de reforma ultrapassa a inércia poderosa que tem sustentado as políticas proibicionistas punitivas para todos há muito tempo. Isto requer um trabalho com os legisladores que se atrevem a levantar as questões importantes, e organizar fóruns públicos e comunidades online onde os cidadãos podem agir, e alistar um número sem precedentes de indivíduos poderosos e distintos para exprimir a sua discordância em público, e organizar em cidades e estados para instigar novas diálogos e indicações nas políticas locais.

Conte com cinco temas a surgir mais e mais durante este ano de aniversário.

1. A legalização da maconha não é mais uma questão de se, mas quando e como. Pesquisa do Instituto Gallup revelou que 36% dos americanos em 2005 são a favor de legalizar o uso da maconha, enquanto 60% se opuseram. Ao final de 2010, o apoio subiu para 46%, enquanto a oposição tinha caído para 50%. A maioria dos cidadãos de um número crescente de estados agora dizem que a maconha legal e regulada faz mais sentido do que persistir com a proibição.

Sabemos o que precisamos fazer: trabalhar com aliados locais e nacionais para a elaboração e ganhar a legalização da maconha iniciativas eleitorais na Califórnia, Colorado e de outros estados; apoio aos legisladores federais e estaduais na introdução de projetos de lei para descriminalizar e regulamentar a maconha, aliado com os ativistas locais a pressões policiais e promotores de detenções por maconha, de priorizar, e auxiliar e fortalecer os indivíduos de destaque no governo, negócios, mídia, universidades, entretenimento e outras esferas da vida para endossar publicamente o fim da proibição da maconha.

2. Encarceramento é o problema, não a solução. Com o primeiro lugar no mundo tanto em termos absolutos eper capita de encarceramento é uma distinção vergonhosa que os Estados Unidos deveriam se apressam em mudar. A melhor maneira de resolver o problema dos altos índices de encarceramento é reduzir o número de pessoas presas por infrações da legislação não-violenta de drogas – pela descriminalização e legalização da maconha, em última análise, ao proporcionar alternativas à prisão para aqueles que não representam uma ameaça fora dos muros da prisão; através da redução mínima obrigatória e outras duras penas; abordando o vício e abuso de outras drogas fora do sistema de justiça criminal e não dentro dele, e insistindo que ninguém seja preso simplesmente por possuir uma substância psicoativa, danos aos demais.

Tudo isso exige tanto a ação legislativa e administrativa por parte do governo, mas uma reforma sistêmica só acontecerá se o objetivo de reduzir altos índices de encarceramento é amplamente aceita como uma necessidade moral.

3. A guerra às drogas “é o novo Jim Crow *”. A magnitude da desproporcionalidade racial na aplicação das leis contra as drogas nos Estados Unidos (e em muitos outros países) é grotesca com americanos-africanos, onde é dramaticamente mais provável de serem presos, julgados e condenados que outros americanos engajados na mesma violação das leis sobre drogas. Preocupações sobre a justiça racial ajudou a motivar o Congresso para reformar o famoso “crack/powder mandatory” legislação antidroga mínima no ano passado, mas muito mais precisa.

Nada é mais importante neste momento do que a vontade e capacidade dos líderes americanos Africano para priorizar a necessidade de uma reforma fundamental das políticas de drogas. Esta não é uma tarefa fácil, dada a extensão e impacto desproporcional da dependência de drogas nos países pobres Africano das famílias americanas e das comunidades. Mas é essencial, mesmo porque ninguém mais pode falar e agir com a autoridade moral necessária para transcender os medos profundamente arraigados e poderosos interesses.

4. A política não deve impedir o trunfo da ciência – e compaixão, bom senso e prudência fiscal – em lidar com as drogas ilegais. Esmagadora evidência aponta para uma maior eficácia e menor custo de lidar com a dependência e abuso de outras drogas como questões de saúde ao invés de justiça penal. É por isso que a DPA está intensificando nossos esforços para transformar a maneira como os problemas da droga são discutidos e abordados nas comunidades locais.

“Pensar globalmente, mas agir localmente” aplica-se às políticas de drogas, tanto quanto qualquer outro domínio das políticas públicas. É claro que seria melhor se um presidente nomeasse alguém que não fosse um chefe de polícia, moralista geral ou profissional militar como czar das drogas. Mas o que realmente importa é mudar o lugar da autoridade na cidade e as políticas de drogas do estado de justiça penal às autoridades de saúde e outros.

E, igualmente importante é garantir que novos diálogos sobre política de drogas são informadas pela evidência científica, bem como as melhores práticas de todo o país e no exterior. Uma das nossas especialidades no DPA é fazer as pessoas pensar e agir fora da caixa sobre as drogas e as políticas de drogas.

5. Legalização tem que ser em cima da mesa. Não é porque é necessariamente a melhor solução. Não é porque é a alternativa óbvia para as falhas evidentes da proibição das drogas. Mas, por três razões importantes: primeiro, porque é a melhor maneira de reduzir drasticamente a criminalidade, a violência, corrupção e outras despesas extraordinárias e as consequências nefastas desta proibição, em segundo lugar, porque existem tantas opções – de fato, muito mais – para a regulamentação jurídica da drogas, há opções para proibi-los, e terceiro, porque colocar a legalização sobre a mesa envolve fazer perguntas fundamentais sobre o porquê das proibições de drogas surgiu pela primeira vez, e se eles foram ou são realmente essenciais para proteger as sociedades humanas a partir de suas próprias vulnerabilidades.

Insistindo que a legalização deve estar sobre a mesa - em audiências legislativas, fóruns e discussões públicas interna do governo – não é o mesmo que defende que todas as drogas sejam tratados da mesma forma como o álcool e o tabaco. É, sim, uma demanda que os preceitos das políticas proibicionistas devem ser tratados não como um evangelho, mas como escolhas políticas que merecem avaliação crítica, incluindo a comparação objetiva com abordagens não-proibicionistas.

Então esse é o plano. Quarenta anos depois que o presidente Nixon declarou sua guerra contra as drogas, estamos usando este aniversário para pedir tanto a reflexão e ação. E nós estamos pedindo a todos os nossos aliados – na verdade todos que abriga reservas sobre a guerra contra as drogas – para se juntar a nós nessa empreitada.

Ethan Nadelmann é o fundador e diretor-executivo da Drug Policy Alliance

*As leis de Jim Crow foram leis estaduais e locais decretadas nos estados sulistas e limítrofes nos Estados Unidos da América, em vigor entre 1876 e 1965, e que afetaram afro-americanos, asiáticos e outras raças. A “época de Jim Crow” ou a “era de Jim Crow” se refere ao tempo em que esta prática ocorria. As leis mais importantes exigiam que as escolas públicas e a maioria dos locais públicos (incluindo trens e ônibus) tivessem instalações separadas para brancos e negros. Estas Leis de Jim Crow eram distintas dos Black Codes (1800-1866), que restringiam as liberdades e direitos civis dos afro-americanos. A segregação escolar patrocinada pelo estado foi declarada inconstitucional pela Suprema Corte em 1954 no caso Brown v. Board of Education. Todas as outras leis de Jim Crow foram revogadas pelo Civil Rights Act de 1964.

Artigo original publicado no The Huffington Post

Tradução: Rafael Guimarães dos Santos

Maconha: dos mitos aos fatos


Fonte : CBDD - Comissão Brasileira sobre Droga e Democracia

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Acabou o bicho de sete cabeças. Se alguém ainda precisa convencer os pais de que eles não devem interná-lo numa clínica de desintoxicação só porque acharam um baseado no seu bolso pode contar com a ajuda do livro “Maconha: mitos e fatos”, da socióloga Lynn Zimmer e do médico farmacologista John P. Morgan, conceituados professores universitários de Nova York.

Lançado originalmente em 1997, com o título Marijuana Myths Marijuana Facts, o livro foi traduzido para sete idiomas e acaba de ser lançado em português pela ONG Psicotropicus. É literatura para mudar paradigmas.

Por exemplo, quem acha que maconha é a porta de entrada para outras drogas vai descobrir que ela só é muito mais popular que as outras drogas. Pesquisas feitas nos EUA concluíram que poucas pessoas experimentam cocaína antes de experimentar maconha. E a maioria dos adolescentes que experimenta maconha não se torna um usuário regular. Já entre os usuários regulares adolescentes, uma minoria se torna usuária de múltiplas drogas. Segundo o livro, para cada 100 pessoas que experimentaram maconha, 28 também experimentaram cocaína, mas só uma usa cocaína regularmente.

Outro mito derrubado é o de que a maconha tem grande poder de causar dependência. Pesquisas epidemiológicas indicam que a maioria das pessoas que experimenta maconha não passa a usá-la frequentemente e nem por muito tempo. Quem usa regulamente e decide parar ou reduzir o consumo relata um processo relativamente simples. Sobre as pesquisas que apontam para um risco potencial de dependência, os autores observam que a maioria dos trabalhos foi escrita por provedores de tratamentos de dependência.

Ao conjunto de alegações de pesquisas realizadas por comissões governamentais cujas provas científicas não se sustentavam, os autores chamam de mitos. São 20 ao todo no livro. Feita a revisão das pesquisas, eles concluíram que os danos da maconha são pequenos, ainda mais se comparados com outras drogas, como o álcool, a cocaína, a heroína e o tabaco. A esta e outras constatações, chamam de fatos.

Apesar de lançado há 13 anos, o livro continua atual. Pesquisas mais recentes, embora com evidências distintas, chegam às mesmas conclusões: os perigos da maconha foram exagerados e o uso moderado raramente provoca danos. Algumas pesquisas até reforçam seu lado profícuo, como no caso do uso medicinal.

Debate com Dr. Carlini

carlini.jpgO livro foi lançado na sede do Viva Rio, no Rio de Janeiro, no dia 25, com um debate que contou com a presença do médico Elisaldo Carlini, diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid). Para Carlini, o livro é “atualíssimo”.

“Nada foi superado, só se acrescentou conhecimento ao que aqui já está e tudo foi reforçado”, disse Carlini (foto), que tem uma experiência de mais de 50 anos em pesquisa sobre maconha. Ele enalteceu as 70 páginas de referências científicas, 834 citações e mais de mil trabalhos estudados e disse que mais mil poderiam ser acrescentados num novo livro. A última novidade, segundo o especialista, é a descoberta do sistema canabinóide humano.

“O conhecimento está muito bem documentado e está comprovado que o efeito deletério da maconha é muito menor que o de outras drogas antidepressivas”, disse. Ele contou que nos Estados Unidos 13 remédios com as mesmas indicações medicinais que a maconha causaram mais de 10 mil mortes, segundo a Food and Drug Administration (FDA), agência que controla as drogas que entram no mercado nso Estados Unidos.

Para Carlini, é hora de os médicos se afastarem e abrirem espaço para sociólogos, religiosos, economistas e outros profissionais. “Não é mais um problema médico. As maiores incertezas que ainda temos são de temática social”, completou. O médico defende que o primeiro passo para se destruir o mito contra a maconha é que ela seja retirada da Lista 4 da ONU, que agrupa as substâncias mais perigosas.

bruno_sabino.jpgO perito criminal do Instituto de Criminalística Carlos Éboli da Polícia Civil do Rio de Janeiro (ICCE-RJ) Bruno Sabino (foto) trabalha há 10 anos com análise de drogas no serviço de química, onde chegam as apreensões feitas pela polícia. No seu dia-a-dia, o Sabino trabalha mais com cocaína, crack eecstasy, que têm maior probabilidade de chegar ao público misturadas a outras substâncias tóxicas. Mas ele alerta que já acharam metal em maconha, que a planta suga junto com a água do solo.

“Isso tem que ser investigado, assim como a presença de pesticidas, material microbiológico, como bactérias e fungos, e o teor e a proporção de canabinóides das amostras”, diz Sabino, que é doutor em farmacologia e pesquisador do InMetro.

O perito não vê sentido na criminalização da maconha, já que ela traz pouquíssimos danos para o ser humano. Segundo ele, a nova lei que despenaliza o usuário levou a uma redução no número de solicitações de exames de maconha, mas as quantidades aumentaram. “Vale a pena esse aparato todo do estado por uma droga cuja toxidade é tão baixa quando comparada a outras?”, questiona.

Sabino criticou o fato de o THC, princípio ativo da maconha, constar na lista F2 do Ministério da Saúde, que reúne as substâncias que causam dependência, apesar de a literatura farmacológica atribuir à maconha tendência à dependência fraca ou ausente. Ele contou que fez um estudo com 50 usuários de drogas de Uberlândia e observou que o uso associado de maconha e cocaína era de apenas 8% a 10%.

Francesco.jpgO químico Francesco Ribeiro (foto), ativista do Growroom e Cannabis Café, defendeu o cultivo como alternativa ao tráfico, que oferece um produto de péssima qualidade. “O processo de cultivo da maconha medicinal é cuidadoso desde a escolha da cepa de sementes até a secagem e separação das folhas. O traficante usa pesticida sem controle”, comparou.

Ribeiro citou a frase “as drogas não estão proibidas por serem perigosas. São perigosas por serem proibidas”, com a qual a jornalista Helena Ortiz encerra seu livro “Baseado em quê?”. “Os livros não vão acabar com preconceitos e mitos, mas o processo de discussão implanta o princípio da dúvida sobre a certeza”, disse.

Luiz Paulo Guanabara, psicólogo e diretor-executivo da Psicotropicus, afirmou que é a favor da despenalização não só do usuário, mas também do produtor e do vendedor. “Essa ânsia punitiva da sociedade tem que acabar”, disse. Ele contou que agora usa a palavra regulamentação em vez de legalização, para ser mais bem aceito.

alba_fala.jpgA antropóloga Alba Zaluar (foto), professora da Uerj, se apresentou como “moderadamente viciada em vinho tinto, chocolate e café”. Como antropóloga, ela reclamou do mau uso da palavra “mito”. “Os mitos dos povos primitivos são uma forma de eles falarem das suas histórias em linguagem poética e estão longe de serem tão prejudiciais quanto as falsidades ideológicas e mentiras com interesses econômicos que o livro retrata”, ensinou. Para ela, a proibição do comércio tem como resultado a violência armada.

O livro “Maconha: mitos e fatos” será oferecido para quem realizar uma doação mínima de R$ 25 reais para a Psicotropicus (com a taxa de envio inclusa).

Mais informações:

Psicotropicus

Fala de Francesco Ribeiro no Growroom/You Tube

Why Marijuana Should Be Legalized: An Expert’s Perspective – John P. Morgan, um dos autores do livro, defende a legalização da maconha em vídeo no You Tube, com legendas em português.

Austrália quer legalizar sementes de maconha em alimentos

Defensores da medida argumentam que proibição atual ignora as propriedades nutritivas do cânhamo


Fonte : Época Negócios

As sementes de maconha, ingrediente de produtos comercializados em todo o mundo, reivindicam seu lugar nas cozinhas da puritana Austrália como um alimento nutritivo. Nos Estados Unidos, no Canadá e em países da União Europeia (UE) são produzidos alimentos à base da semente de cânhamo (cannabis sativa), como barras de cereais, farinha, óleos e queijos vegetarianos, mas na Austrália este produto "é estigmatizado", segundo Andrew Katelaris, o promotor da iniciativa para legalizar o uso na culinária.

A Austrália comercializa o cânhamo em forma de cosméticos, fibras e alimentos para animais, mas uma coisa é oferecê-lo a cães e gatos, outra é permitir que cidadãos possam incorporá-lo a sua dieta diária.

Seus defensores argumentam que o governo ignora as propriedades nutritivas do cânhamo porque "teme" a propagação dos cultivos desta planta por todo o país e acrescentam que cerca seis milhões de pessoas, mais de 30% da população, consumiram maconha em algum momento de sua vida.

Katelaris, pesquisador médico, apontou que as sementes, ao contrário das flores, folhas e talos, têm baixa concentração de delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), a substância psicoactiva do cannabis. Além disso, contêm proteínas, gorduras poliinsaturadas, como o Ômega 3, vitaminas, como a E, e contribuem para "desenvolver o cérebro e prevenir a demência", revelou Katelaris.

Apesar da resistência que a iniciativa encontrou entre as autoridades do país, os australianos consomem cannabis desde que foi introduzido pelos britânicos, no século XIX. A planta, que segundo algumas pesquisas aumenta o risco de esquizofrenia e depressão, é ilegal na Austrália, mas a posse em pequenas quantidades e o cultivo de um número limitado de pés para uso pessoal foram descriminalizados em alguns estados e territórios do país na década passada.

Bob Carr, governador de Nova Gales do Sul entre 1995 e 2005, defendeu no Parlamento regional um projeto para legalizar o consumo de maconha para fins terapêuticos, uma proposta apoiada por Katelaris, mas que não progrediu.

A agência de segurança alimentar da Austrália e Nova Zelândia (FSANZ, na sigla em inglês) avalia desde o ano passado a solicitação de Katelaris para legalizar o uso de sementes de cânhamo para consumo. Por enquanto, o órgão regulador concluiu que os alimentos elaborados à base de sementes de maconha "não representam um risco para a saúde" e "podem ser uma alternativa dietética útil".

Atualmente, a FSANZ submete a iniciativa à consulta popular como passo prévio aos debates que serão realizados nos governos dos diferentes estados e territórios do país.

Um dos desafios é a implantação de um sistema de controle para verificar se as sementes têm baixos níveis de THC, assim como a emissão de licenças para o desenvolvimento desta indústria de alimentos, explicou a porta-voz da FSANZ, Lydia Buchtmann, que assinalou que a decisão deve ser anunciada até o final do ano. EFE

EUA: universidade para o estudo da canabis faz quatro anos


"Cannabis college" de Oakland faz quatro anos. Primeira universidade norte-americana dedicada ao estudo dessa substância tem 17.000 alunos. Cultivo e indústria da canabis proliferam na Califórnia.

Fonte : Maria Luiza Rolim (www. expresso.pt), com agências



Planta da canabis
Planta da canabis

Desde a sua fundação em 2007 pelo horticultor e ativista Richard Lee , mais de 17.000 estudantes já se matricularam na Oaksterdam , primeira universidade norte-americana especializada em canabis .

O consumo de marijuana continua proibido nos EUA - a não ser que seja prescrita por uma médico como analgésico ou coadjuvante no tratamento de uma doença crónica - mas já é possível frequentar um curso para aprender a plantar e obter a máxima produtividade com a sua cultura.

O nome da instituição é uma combinação das palavras Oakland, cidade onde fica situada a escola, e Amsterdão, capital da Holanda onde o consumo de marijuana está liberado. A maior parte dos alunos é norte-americana, mas há muitos procedentes da Colombia e até de países distantes como o Irão, que procuram formação específica para a lucrativa indústria farmacêutica da canabis.

O conceito da universidade de Oakland foi inspirado numa instituição semelhante existente em Amsterdão. Richard Lee pensou que poderia fazer o mesmo em Bay Area . Uma abordagem profissional e transparente poderia ajuda a acabar com o estigma da canabis como droga e eventualmente promover a sua legalização. Alguns dos seus alunos abraçaram a agressiva campanha liderada pelo ativista no ano passado a favor da legalização e taxação da canabis.

Universidade sui generis

Mas a Oaksterdam, que começou com cerca de 20 alunos, não serve apenas para estudar os "tipos de marijuana e os seus efeitos psicológicos" ou "como cuidar de uma estufa de canabis". O seu fundador, com a ajuda de nove professores e alguns alunos, é o autor da proposta aprovada no ano passado na Califórnia para a legalização da produção da planta da canabis em escala industrial, o processamento e a sua comercialização.

"Não queríamos só a liberalização do consumo, mas mostrar que é um negócio viável para gerar empregos e lucros, disse Richard Lee.

Com um défice financeiro de 20 mil milhões de dólares, a maconha é uma esperança para livrar a Califórnia da bancarrota. No estado californiano, a produção de cannabis já movimenta cerca de 14 mil milhões de dólares, sete vezes mais do que a cultura da uva, igualmente importante para a economia local.

Fins medicinais, negócio lucrativo

A Califórnia liberou a venda da canabis para fins medicinais em 1996 (são já 14 os estados norte-americanos que permitem a venda e consumo como, por exemplo, analgéisco para as dores da artrite). Desde então, regulamentou a plantação e a produção em larga escala, em quintas com mais de 30.000 metros quadrados, o que deverá aumentar a produção, passando de 3 toneladas anuais para 31.

No ano passado, o estado da Califórnia tinha 20 milhões de plantas de canabis, 200 mil consumidores registados e uma arrecadação de 200 milhões de dólares de impostos derivados da canabis. Uma pesquisa feita por deputados favoráveis à proposta de Richard Lee aponta que, com a nova lei, o estado poderá vir a arrecadar 1,4 mil milhões por ano.

Entretanto, proliferam também as plantações domésticas (o que dificulta a arrecadação de impostos) e os incêndios em armazéns, abarrotados com cannabis, em quantidades várias vezes superior ao limite legal permitido.

É crescente, também, o comércio associado à canabis. Desde indústrias e lojas especializadas em cachimbos e outros artefatos para o consumo à roupas, cereais e suplementos nutricionais produzidos com a semente ou a fibra, denominada cânhamo , além de estufas, insumos e instrumentos agrícolas para o plantio doméstico de canabis.

"Capital da canabis"

A weGrow, já apontado como o "Wal-Mart da canabis", é um dos exemplos mais sonantes dessa explosão. O megamercado ocupa um edifício com 1400 metros quadrados em Oakland, com tudo o que é necessário para uma produção doméstica. Para comprar qualquer coisa, é necessário que um médico de serviço avalia se o cliente tem o perfil exigido.

Como obter a máxima produtividade aprende-se na universidade Oaksterdam, mas técnicos da empresa we-Grow podem visitar a uniade produtiva para ajudar a melhorar o desempenho.

Oaklant quer ser a capital da canabis nos EUA. Mas apesar da promessa de lucros, a iniciativa de aprovar a produção em escala industrial tem sido também contestada.

Há quem afirme que as novas regras irão favorecer as grandes superfícies e grandes empresários e acabar com os pequenos produtores e comerciantes. Alguns médicos e psiquiatras afirmam que a liberalização total da canabis poderá vir a sobrecarregar o sistema público de saúde e não compensar a arrecadação extra de impostos. A polícia de Oakland, por sua vez, continua a associar a canabis à criminalidade, enquanto os bombeiros queixam-se do crescente número de incêndios nos armazéns, abarrotados com canabis processada como se fossem barris de pólvora.

Entretanto, no passado dia 10, o Departamento de saúde de New Jersey realizou uma reunião para analisar como o estado vai regulamentar o uso medicinal da canabis.

Há mais de um ano, a droga foi aprovada para pacientes que sofrem de determinadas doenças. Doentes e defensores do consumo para fins terapêuticos dizem que as regras não são práticas. Os legisladores, por sua vez, admitem a sua revisão.

Maria Lucia Karam fala sobre Carta da Comissão Brasileira de Drogas e Democracia!


A constatação básica é essa – e já registro de uma grande evolução: “Constatamos que alcançar um mundo sem drogas, como proclamado pela ONU em 1998, revelou-se um objetivo ilusório”, e assim segue a carta, fruto de 18 meses de trabalho da Comissão Brasileira de Drogas e Democracia. Para ler na íntegra a versão condensada, clique AQUI! Veja o Comentário da Maria Lucia Karam, juíza de direito aposentada e membro da diretoria da LEAP-Law Enforcement Against Prohibition (www.leap.cc e www.leapbrasil.com.br) sobre a Carta da CBDD.



“O lançamento do relatório com as conclusões dos trabalhos desenvolvidos pela Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia, apontando para a necessidade de mudança do enfoque das atuais políticas sobre drogas e pedindo uma discussão serena e equilibrada do tema, certamente deve ser saudado.

No entanto, não basta propor a ampliação do debate. A constatação dos imensos riscos, danos e sofrimentos – violência, mortes, doenças, violações a direitos fundamentais, marginalização – decorrentes não exatamente das drogas, mas sim de sua proibição exige uma atuação mais efetiva.


É preciso apontar claramente o fracasso, a irracionalidade e a negatividade das políticas antidrogas, da insana opção por uma “guerra às drogas”, nociva, sanguinária e dolorosa como quaisquer outras guerras.

É preciso se libertar das amarras, dos receios e das censuras do discurso dominante e proclamar, em alto e bom som, a urgente necessidade de rompimento com essas políticas, a urgente necessidade de promoção de uma radical reforma das convenções internacionais e das legislações internas sobre drogas, para legalizar – e, consequentemente, regular – a produção, o comércio e o consumo de todas as drogas.


Legalizar a produção, o comércio e o consumo de todas as drogas é necessário e urgente para afastar medidas repressivas violadoras de direitos fundamentais. Legalizar a produção, o comércio e o consumo de todas as drogas é necessário e urgente para pôr fim à enorme parcela de violência provocada pela proibição. Legalizar a produção, o comércio e o consumo de todas as drogas é necessário e urgente para regular e controlar o mercado e verdadeiramente proteger a saúde.”

Henrique Carneiro comenta a carta da Comissão Brasileira de Drogas e Democracia!


Comentário do professor e doutor do departamento de História da USP, Henrique Carneiro sobre a carta escrita pela Comissão Brasileira de Drogas e Democracia.

Para ver a carta, clique AQUI.

henrique_carneiro “O documento divulgado pela CBDD, assim como suas atividades, representa um passo positivo no esclarecimento da opinião pública sobre as desinformações existentes a respeito de drogas e dos efeitos perniciosos e anti-democráticos da proibição de algumas delas. Creio, no entanto, que as resoluções da CBDD ficam aquém do que é necessário como uma plataforma de frente única de todos os que recusam a lógica belicista da guerra contra as drogas e defendem os direitos cívicos das pessoas que consomem drogas ilícitas. Os pontos mínimos que deveriam nortear uma tomada de posição por parte da sociedade civil me parecem ser:

1) Propor de forma clara a legalização do consumo e plantio para uso pessoal da maconha no Brasil;

2) Propor uma legalização com diferentes níveis de controle e acesso a todas as drogas psicoativas;

3) Denunciar a adesão brasileira aos tratados internacionais que desde a Convenção Única de 1961, vem legitimando uma guerra irracional e anti-democrática como é a atual política global de erradicação de plantas psicoativas tradicionais. Posições que simplesmente se proponham a abrir o diálogo sem avançar alternativas claras acabam por fazer parte de uma lógica de ambiguidades, hesitações e falta de foco no que devem ser as mudanças profundas na política global sobre drogas, definida ainda por uma pauta anti-democrática e anti-científica alinhada com interesses geopolíticos estratégicos do governo estadunidense.”

Já está na hora de debater e inovar - Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD)


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Enquanto a Comissão de Narcóticos (CND) da ONU realizava sua reunião anual, reiterando a política proibiciosnista de drogas, a Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD) emitiu uma declaração pedindo a abertura do debate para encontrar formas mais eficientes de lidar com as drogas, frente ao fracasso da abordagem proibicionista. A Declaração será apresentada ao Governo brasileiro através dos Ministérios de Justiça e Saúde.

A declaração emitida pelos integrantes da Comissão reflete o trabalho de 18 meses de debates. Sua principal conclusão é que o Brasil não deve adiar mais um debate aberto que permita encontrar formas mais eficientes de lidar com as drogas diante do fracasso da abordagem proibicionista promovido pelas Nações Unidas e adotado pelos Estados membros da organização. O documento foi assinado durante encontro na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio – um dos mais prestigiados centros de pesquisa na área de saúde pública do Brasil.

Entre as principais propostas da declaração estão: discutir abertamente a política de drogas em diversos fóruns nacionais; oferecer aos usuários o tratamento que a lei estabelece para os casos de dependência; fortalecer os programas de prevenção à dependência; promover pesquisas científicas para elevar a qualidade do debate; avaliar casos bem-sucedidos de mudança nas leis sobre drogas em outros países; estudar as substâncias e apontar soluções que atendam às particularidades de cada uma; considerar os efeitos da maconha em comparação a outras drogas; atuar de forma urgente para proteger os jovens do uso do crack; e trabalhar por uma política de drogas mais inovadora e eficaz que facilite o combate ao crime organizado.

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Presidente da CBDD e diretor da Fiocruz, Paulo Gadelha afirmou que em nenhum momento a crítica que a organização faz ao modelo proibicionista atual significa descuidar do aspecto repressivo ao tráfico de drogas. “Em nenhum momento estamos reduzindo a relevância daquilo que é importante: punir severamente o narcotráfico, o crime organizado, o uso de armas de fogo. Sabemos que esse é um componente central, mas que deve dialogar com outras abordagens que têm sido pouco permeáveis à ação pública”, disse Gadelha.

Ele se refere às iniciativas de saúde pública que realmente atendam aos usuários de drogas. E cita como exemplo os esforços do Ministério da Saúde pra construir formas organizadas dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) que possam acolher e tratar o problema de forma ampla.

Outro exemplo desses esforços que vêm sendo desenvolvidos para abordar o tema do uso de drogas na sociedade brasileira é a Cartilha “Diminuir para Somar”, lançada no final da reunião da CBDD pela prefeitura do Rio de Janeiro e pelo Viva Comunidade, operador do programa Saúde da Família em comunidades de baixa renda da cidade.

A cartilha é um guia básico para ajudar os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) que trabalham nas comunidades atendidas pelo programa a abordar os usuários de álcool e outras drogas de uma maneira que lhes permita estabelecer um vínculo com esses usuários.

O secretário da CBDD e diretor-executivo do Viva Rio, Rubem César Fernandes, explicou que a declaração será apresentada a representantes do governo federal, em particular dos ministérios da Justiça e da Saúde, com o objetivo de sugerir idéias que possam ser levadas em consideração pelo poder Executivo no desenvolvimento de políticas sobre drogas.

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Fernandes não descartou a reforma da atual legislação brasileira de drogas como conseqüência deste processo e afirmou que “nossa legislação é confusa e precisa ser melhorada para esclarecer detalhadamente a diferença entra usuário e traficante pois, como está atualmente, a decisão de prender uma pessoa que esteja levando uma determinada quantidade de droga fica nas mãos da polícia.” Fernandes citou como exemplo a legislação de Portugal onde está claramente estabelecida a quantidade de droga aceita para consumo pessoal.

Acresentou que o problema das drogas deve sair do terreno criminal e deve ir para o terreno da saúde. “O problema da polícia é bandido. O problema do consumo da droga, seja ela o álcool, o cigarro, a maconha ou o terrível crack, é um problema que precisa de assistência de saúde – defendeu Fernandes.

Segundo a declaração, entitulada “Hora de debater e inovar” pelos membros da CBDD, “no Brasil, o mercado de drogas ilícitas age abertamente, oferecendo seus produtos à luz do dia. Esse mercado, altamente capitalizado, consegue sobreviver inclusive graças a seu poder de corromper nossas instituições. A associação entre drogas ilícitas e armas gera um ambiente de grande violência e insegurança.

Como conseqüência, a CBDD propõe a abertura do debate, sobretudo nos ambientes de convivência jovem. “Enquanto as drogas forem encaradas como um tabu, não se discutirá a sério sobre elas na escola, na igreja, na mídia, nas unidades de saúde, nem mesmo em casa com nossos filhos. Necessitamos de boa informação, cientificamente ancorada, que nos ajude a encontrar alternativas. Apelamos às redes sociais, às autoridades (Executivo, Legislativo, Judiciário) e aos órgãos de imprensa para que acolham e estimulem este debate, com destemor”, frisa a Declaração.

Para ler o documento ‘Hora de debater e inovar’, clique aqui.

domingo, 20 de março de 2011

Proibir é legal?


O álcool faz mal à saúde. E não só à de quem bebe. Ele corrói famílias, causa acidentes e cobra uma alta conta do sistema público de saúde. Mas, como o álcool é uma droga legal, seu comércio gerou uma indústria saudável, que movimenta a economia como qualquer outro bem de consumo: rende impostos ao governo, lucro para empresas e empregos para quem quer trabalhar. A cada ano, a indústria global do pileque fatura US$ 450 bilhões.

A cocaína, a heroína e o ecstay também fazem mal à saúde. E também giram um mercado que rende um belo dinheiro: cerca de US$ 330 bilhões por ano. Da ilegalidade, porém, germinou uma indústria doente: em vez de gerar impostos, o dinheiro dos narcóticos chega ao Estado sob a forma de propinas que fomentam a corrupção. O lucro do negócio é investido em armas que alimentam a violência. Em lugar de empregos, o tráfico oferece às crianças e jovens uma vida de crimes.

Parece fácil a solução, então: tratemos as drogas como tratamos o álcool. Há muita gente boa acreditando nisso: economistas, médicos, políticos. Mas, para cada defensor, existe uma opinião contrária. Afinal, ninguém sabe exatamente quais os efeitos da legalização: ela jamais foi plenamente colocada em prática. Quais drogas poderiam ser liberadas? O crime organizado e o tráfico perderiam força? O consumo aumentaria? Como isso afetaria a sociedade? Dúvidas como essas terão espaço nesta reportagem. Mas parecem não existir na cabeça dos legisladores.

Colocar as drogas na ilegalidade foi a solução sistematicamente adotada no século 20, em todas as partes do globo. Infelizmente, a lei não controlou o consumo e há quem defenda que ela o aumentou. De quebra, nos jogou numa guerra contra traficantes, que por sua vez estão em guerra contra todos nós. O dano que o vício dos outros causa em nós nasce quase completamente do fato de as drogas serem ilegais, escreveu em 1972 o americano Milton Friedman, talvez o mais influente economista do século 20, vencedor do Prêmio Nobel e defensor da total legalização dos entorpecentes.

Por que proibir?

Discutir se as drogas devem ser legalizadas esconde uma questão anterior: por que proibi-las? Afinal, drogas sempre existiram. E, com raras exceções, sempre foram toleradas. A primeira política moderna para colocar os entorpecentes na ilegalidade nasceu nos EUA, em 1914, com o Ato de Narcóticos. Era uma reação aos crescentes problemas de dependência e overdose com ópio e cocaína, uma novidade num país tão religioso. Em 1918, o governo criou uma comissão para avaliar os efeitos da legislação. O grupo concluiu que: 1) um mercado negro havia surgido para atender à a procura pelas drogas; 2) esse mercado estava organizado nacionalmente para importar e distribuir o contrabando; e 3) o uso de ópio aumentara significativamente.

Diante das evidências de que a proibição beirava o fracasso, o governo americano não teve dúvidas: aumentou mais ainda as restrições, passando de 5 para 10 anos a pena máxima por crimes relacionados a drogas na década de 1950, esse limite chegaria à pena de morte. A opção proibicionista tem uma motivação moral muito forte, influenciada pelas instituições religiosas, diz Sean Purdy, professor de história americana na USP.

O ciclo que começou em 1914 repressão aumenta o preço, que valoriza o tráfico, que estimula o consumo, que aumenta a repressão iria se repetir, sob influência americana, pelo planeta. Os EUA usaram sua posição privilegiada na economia para estabelecer vários programas de erradicação de drogas, diz Purdy. Em 1961, os americanos conseguiram emplacar a assinatura de um pacto global contra as drogas na ONU. Com o acordo, o mundo achou que estava pronto para enfrentar o problema.

O documento ficou bonito no papel, mas não serviu para frear a história. A década, que começou com todos os países prometendo combater o uso de drogas, terminou com soldados americanos fumando maconha no Vietnã e hippies se entupindo de LSD mundo afora. Diante desse quadro, o presidente americano Richard Nixon resolveu lançar a Guerra às Drogas, como batizou sua política de tolerância zero com a venda e o consumo.

Fonte: Superinteressante

sábado, 19 de março de 2011

Maconha Medicinal - Os Simpsons

O Dr. Receita Maconha Medicinal para o Homer.


Homer Simpson a favor da Legalização da Maconha

José Roberto Godoy – Rumo a Brasília


José Roberto Godoy, 54 anos, ativista em prol da legalização da maconha e HIV positivo. Com uma história de vida marcada por muitos reveses, Godoy é um lutador, de muitas maneiras exemplo de superação e determinação.

Com o espírito de luta que marcam sua história, ele estará em Brasília no dia 14/03/11, onde pretende entregar pessoalmente à Presidência da República, ao Senado, ao Congresso e aos Ministérios, um requerimento formal solicitando a descriminalização da Maconha.

Junto com o requerimento, ele formulou uma carta aberta, onde solicita com muita coragem:

“… a descriminalização com a exclusão da Cannabis da Lista E do Anexo I, Listas de Substâncias Entorpecentes, Psicotrópicas, Precursoras e Outras sob Controle Especial, da Portaria SVS/MS n.º 344, de 12 de maio de 1998.

Descriminalizando a Cannabis estaremos desarticulando o poderio financeiro do crime organizado, da corrupção, cuidando da saúde publica, reduzindo danos, desenvolvendo o campo a indústria e fortalecendo a economia brasileira.

Caso ainda entendam que a descriminalização deve ser precedida de um amplo debate com a sociedade, requer que pelo menos de forma urgente a Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde conceda sem maiores burocracias Autorização Especial para pessoas físicas com a única exigência que o destino da produção seja para o consumo privado.”

Embora a Brasil NORML, assim como outras organizações que apoiam a reforma para as leis da maconha no nosso país, não tenham deliberado em conjunto a entrega deste documento, é notável a iniciativa pessoal do Godoy, de confronto à situação atual.

HIV, militância e prisão

No dia 24 de março de 2010, Godoy foi preso com a acusação de tráfico de drogas. Sem ter vergonha de se assumir usuário da erva, não titubeou ao afirmar que os 53 pés de cannabis eram para uso pessoal e terapêutico, como declarou anteriormente: “(…) usando a maconha, quando a incerteza da medicina punha um fim nas esperanças.”

A maconha, solução para seus enjôos e falta de apetite, conciliado com o uso de antirretrovirais, é o seu tratamento para a AIDS. Temendo ser preso, como ocorreu, Godoy informou à polícia e a outras autoridades o seu cultivo – sempre deixou bem claro que o faz para não financiar o tráfico e a violência — e enviou diversas cartas ao Ministério Público pedindo a autorização do seu consumo como medicamento.

O período que esteve em detenção foi de 78 dias, e depois teve sua acusação revertida e cumpre pena como usuário (Art. 28 da Lei nº 11.343) tendo de pagar R$ 500,00 em cestas básicas pelo cultivo de maconha.

Em Fevereiro deste ano, as equipes do Hempadão e do Growroom organizaram um encontro com o Godoy, onde foram produzidos alguns vídeos que mostram a sua história, idéias e propostas. Assista:


http://www.youtube.com/embed/ra6Zn9gTz7w

http://www.youtube.com/embed/6rTeNL5cWsk

http://www.youtube.com/embed/6rb5mSlPX2k

http://www.youtube.com/embed/0qtOFCLmrus

http://www.youtube.com/embed/cUGZc_wpQG8


José Godoy luta pela regulamentação da droga no país – e não só para o uso terapêutico exclusivamente para ele -, e deseja fazer pressão sobre nossas autoridades constituídas. Obviamente, seu esforço pessoal neste momento irá inspirar mais ações de envolvimento com esta causa.

Se você quiser colaborar com o projeto e as ações do Godoy, faça contato diretamente com ele: (24) 3387–2293, ou pelo email: brigadacurupira@gmail.com. Doações podem ser realizadas na conta do filho do Godoy: Rian Costa Godoy, CPF 109.591.187–21, Banco Itaú, Agência: 0320 — C/C: 555485.

Abaixo-Assinado (#5890): Liberdade para José Roberto Godoy

http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/5890

Abaixo-Assinado (#5890): Liberdade para José Roberto Godoy:

Destinatário: Autoridades Judiciais de Minas Gerais


No último dia 25 de março, foi preso o cidadão brasileiro José Roberto Godoy, portador do vírus HIV, que fazia uso da Cannabis de forma medicinal para aliviar os efeitos colaterais dos medicamentos utilizados para combater sua doença.

José Roberto foi acusado de tráfico de drogas, apesar dele mesmo anunciar em cartas e ofícios à autoridades municipais, estaduais e federais que realizava o cultivo e o uso da planta com fins medicinais.

José Roberto está preso, aguardando julgamento longe da sua família, privado do medicamento que tem ajudado a melhorar sua qualidade de vida.

Esse abaixo assinado tem o objetivo de solicitar que seja concedido o relaxamento da prisão de José Roberto Godoy para que ele possa responder o processo em liberdade. O abaixo assinado também propõem que lhe seja concedia autorização para que cultive seu medicamento sem que seja considerado criminoso novamente.

Saiba mais sobre o caso:
http://www.growroom.net/board/index.php?showtopic=34395

Dados adicionais:

De Testemunha a Acusado: Minha participação na Audiência do caso “Moqueca” !


Do Hempadão

por Sergio Vidal

cultivoMEDICINAL_BARRAlombraNa última quinta-feira (11/03) estive em Guarapari, no Espirito Santo, participando pela primeira vez de uma Audiência Judicial, na qualidade de testemunha. Estive a disposição para responder perguntas feitas pelo Juíz, pelo advogado de defesa e pelo promotor do caso. É a primeira vez que um antropólogo foi convocado para prestar testemunho num caso envolvendo um cultivador de cannabis. Essa é uma prática bastante comum em outros processos. Diversos antropólogos já participaram de processos envolvendo comunidades indígenas, quilombolas, dentre outras – em geral em casos de disputa por posse de terra ou reconhecimento identitário. Nesses casos, a função do antropólogo tem sido a de servir como um “mediador cultural”, facilitando a compreensão das culturas “nativas”, por parte dos operadores do Direito. Também é muito comum nos E.U.A e em alguns países da Europa a figura do especialista sobre cannabis qualificado para cortes que, em geral, atuam trazendo esclarecimentos a respeito das práticas de cultivo, estimativas de colheitas, análises do rendimento da estufa, dentre outras questões. Nesse caso específico, cumpri dupla função, atuando como antropólogo, já que realizei a única pesquisa brasileira sobre usuários que cultivam para consumo próprio, e como especialista em cultivo de cannabis. Como antropólogo, procurei esclarecer a respeito da cultura do cultivo de cannabis para uso pessoal e, como especialista em cultivo, procurei levar dados a respeito das expectativas de rendimento da colheita, bem como uma análise da situação na qual o acusado foi flagrado.

O caso em questão é bastante complicado, pois o cultivador está sendo acusado de envolvimento com um grupo que, de fato, praticava o comércio não-autorizado de maconha. No entanto, conforme todas as informações recolhidas até o momento, não há qualquer indício do seu envolvimento com tal grupo. A namorada do cultivador procurou primeiramente os usuários do fórum Cannabis Café, onde ele possuia um diário no qual pretendia relatar o desenvolvimento do seu cultivo. Posteriormente, procurou os usuários do Growroom, para que, juntos, todos pudessem trabalhar para ajudá-la a fazer com que a Lei 11.343 fosse cumprida da forma correta e o Alexandre (Moqueca) pudesse voltar à liberdade.

Das 4 testemunhas de acusação, 1 faltou e, por isso, o promotor solicitou o adiamento da audiência para o dia 6 de abril. O advogado de defesa pediu então que ao menos eu fosse ouvido, por ter ido de um estado distante e não poder ir novamente no dia 6. Após uma longa negociação, foi acordado que eu seria ouvido antes do fim da audiência.

Logo no começo do meu depoimento, o promotor acusou o advogado a estar me induzindo a falar sobre minhas qualificações acadêmicas e técnicas sobre o cultivo. No entanto, ficou decidido que isso era importante para justificar minha convocação e situar o papel da minha colaboração na audiência. O Juiz então aceitou solicitar à escrivã que digitasse uma cópia do meu resumo curricular que consta na Plataforma Lattes do CNPQ. É preciso dizer que o relato abaixo é uma adaptação com base no que eu lembro e não são exatamente o que foi dito lá, nem muito menos o que ficou registrado, mas o conteúdo é essencialmente o mesmo.

O primeiro a pertungar foi o Juiz:

  • Você conhece o Alexandre?

    Respondi que não. Que só conheci ele após o corrido, quando me procuraram para ajudar no caso e fui me informar sobre o diário de cultivo dele no cannabiscafe.net. Informei também que este é um fórum aberto para todos lerem e, nele, o Alexandre relatou, de março a setembro de 2010, como estava o andamento da construção da sua estufa que não chegou a ser usada porque ele foi preso. Frisei que só o conheci após o ocorrido, através das discussões no growroom.net e no cannabiscafe.net

  • Conhece os outros 3 acusados?

    Não.

  • O que são esses fóruns de usuários? O que se faz neles?

    Expliquei que são fóruns de usuários de cannabis que plantam pra consumo próprio e que neles os usuários trocam experiências entre sí, buscando ajudar uns aos outros para que possam se tornar independentes do tráfico.

  • E o Alexandre tinha uma conta lá?

    Disse-lhe que a conta ainda está ativa e que, inclusive, seu diário está lá disponivel para qualquer um ler.

  • E você faz o que nesse fórum?

    Disse-lhe que sou moderador. Expliquei também que um moderador faz com que as regras sejam cumpridas e pune os usuários que descumprem as regras.

  • E vocês também fornecem materiais para cultivo?

    Não. Expliquei-lhe que, tanto no growroom.net quanto no cannabiscafe.net é proibido qualquer tipo de comércio no site, mesmo de produtos lícitos. Também afirmei que uma das função dos moderadores é exatamente inibir esse tipo de prática.

O segundo a perguntar foi o advogado de defesa:

  • Poderia nos dizer quais suas qualificações para falar sobre o caso?

    Expliquei que defendi uma pesquisa feita com usuários que cultivam pra consumo próprio e, além disso, sou autor de um livro sobre cultivo de cannabis medicinal.

    Nesse momento, afirmei que tinha trazido dois exemplares para deixar com o Juiz e o promotor. O Juiz aceitou prontamente e passou boa parte da audiência folheando o exemplar dele. Chegou a afirmar que precisava ouvir os dois lados e que iria ler o livro. O promotor recusou o livro e disse ao advogado que se continuasse nessa linha, ele teria me fazer algumas perguntas sobre isso.

Advogado prosseguiu:

  • Poderia nos dizer como é um cultivo de cannabis para uso pessoal?

    Expliquei-lhes de forma resumida como é o cultivo. Que são necessários equipamentos de iluminação, ventilação, fertilizantes específicos. Expliquei-lhes a diferença entre plantas macho e fêmea, frisando que somente as fêmeas servem para uso recreativo. Expliquei o fato de que a única parte aproveitável das fêmeas são as flores. Relatei-lhes a dificuldade de germinar a planta e que há uma taxa de perda na germinação. Expliquei também que a planta pode levar 4 meses ou mais para completar seu ciclo completo e estar apta para colheita.

  • Poderia nos dizer como está a cultura do cultivo par auso pessoal?

    Expliquei-lhes que, desde a mudança na Lei, em 2006, equiparando o porte e o plantio, muitos usuários se entusiasmaram em começar a produzir oqueconsomem e que essa é uma realidade crescente. Relatei-lhes um pouco da história do growroom.net e do cannabiscafe.net, afirmando ainda que existem muitos outros sites que discutem o tema, no qual os usuários podem encontrar informações a respeito. Afirmei ainda que o numero de pessoas flagradas cultivando para uso pessoal tem aumentado muito, e que isso é mais um indicativo da popularidade da prática.

  • Poderia me dizer se o skunk só pode ser cultivado em hidroponia?

    Expliquei-lhes que o Skunk é uma variedade de cannabis. Disse-lhes que assim como existem diferentes variedades de feijão (preto, mulatinho, fradinho), de banana (terra, prata, nanica), ocorre o mesmo com a cannabis. Disse-lhes que o Skunk é apenas um, dos muitos tipos de cannabis existentes e que ele não é, por isso, mais forte ou mais fraca, sendo apenas uma varidade. Disse-lhes ainda que, por ser apenas uma variedade, pode ser cultivada de todo modo. Tanto hidroponia como com substratos, ou utilizando outras técnicas.

  • Existe uma fórmula para calcular o rendimento por planta?

    Afirmei que, apesar da dificuldade devido a variabilidades de técnicas de cultivo empregadas, de variedades da planta cultivadas, a literatura internacional sobre cultivo, com mais de 30 anos de tradição e experiencias, relatam algumas formas de fazer um cálculo de média. Falei que poderíamos estabelecer, segundo Ed. Rosenthal, um dos principais autores da área, que em cultivos indoor a média é de 0,25g a 0,75g por watt de lampada.

  • No caso do Alexandre, você acha que a estufa dele renderia quanto?

    Disse-lhe que pelo fato dele não ter experiência alguma, como está relatado no diário dele, seu rendimento provavelmente seria mínimo. Ou o equivalente a cerca de 100 gramas, em 4 meses de ciclo.

  • Como deveria ser um estufa para que esta pudesse produzir 18kg de maconha?

    Afirmei que deveria ter pelo menos umas 10 salas de cultivo de 10m2 cada, equipadas com ar condicionado, refletores especializados, no mínimo 30.000 watts de lâmpadas e algumas centenas de plantas.

O último foi o promotor:

  • Sabe que a lei mudou, mas continua sendo crime cultivar, mesmo que pra uso pessoal, não sabe?

    Disse que sim, mas que é um crime cuja pena de prisão é vetada.

  • Sabe que também é crime incentivar, instigar, facilitar, auxiliar, etc alguém a cometer esse crime, não sabe?

    Disse-lhe que sabia que essa era uma das possíveis interpretações para essa conduta.

  • Vocês nesses fóruns fazem alguma triagem social para saber quem são as pessoas que o utilizam?

    Disse que para fazer o cadastro a pessoa precisar aceitar uma declaração afirmando que é maior de 18 anos e usuário(a) de cannabis.

  • Mas é uma autodeclaração, é isso?

    Disse-lhes que sim, era uma autodeclaração, como as mesmas feitas em todo site na internet com conteúdo destinado a adultos.

  • Vocês não fazem nenhuma triagem?

    Disse-lhes que nenhuma triagem é feita.

  • Vocês tem como saber se alguém vai usar as informações do site para uso próprio ou pra tráfico?

    Disse-lhes que não é possível saber isso. E afirmei que, pessoalmente, acredito que alguém que tenha interesse em traficar sequer vai fazer uma conta, restringindo-se apenas ler o conteúdo. Disse-lhe ainda que não acreditava que alguém que pretende vender sua colheita iria criar um diário pra se expor, como foi o que o alexandre fez.

  • Mas vocês não tem como saber, não é?

    Disse-lhe que não, que não tenho como saber se o Alexandre ou qualquer outro vai plantar pra consumo ou pra venda. Disse ainda que a quantidade de plantas que uma pessoa cultiva também não podem dizer isso. Disse-lhes ainda que, somente havendo provar concretas de venda é possível saber isso, uma vez que uma pessoa pode cultivar dezenas de plantas e não vender nenhuma, ou pode cultivar apenas uma e vendê-la.

  • Sim, mas isso é só sua opinião…

    Disse-lhe que sim, que era apenas minha opinião. Que eu acredito que alguém que pretende vender não vai se expor fazendo um diário.

Enquanto a escrivã imprimia meu depoimento para que eu pudesse ler e assinar, o promotor solicitou ao Juiz que fosse encaminhada denúncia contra mim ao Ministério Público de Sergipe, sob acusação de estar incentivando e facilitando a prática do crime de cultivo de maconha.

Links para entender o caso:

Link do diário do “moqueca”

Link do tópico sobre o caso no Cannabis Café

Link do tópico sobre o caso no Growroom

Notícia sobre o caso no site Folha Vitória

Relato da namorada do “Moqueca”

No dia 28 de outubro Moqueca foi preso na casa dele, na qual mora com os pais e outros familiares. A família dele possui uma outra casa que fica no centro da cidade, na qual Moqueca começou, pelo que vi no fórum, em abril a construir o seu grow. Essa casa no centro é como um sobrado, loja e sobreloja por assim dizer. Na casa de baixo, Moqueca fazia o cultivo em um pequeno quarto. Bem, na casa de cima moram pessoas da família dele, primos de terceiro grau e tios. Na realidade, não sei bem dizer o grau de parentesco porque não tínhamos contato com eles, mal os víamos, e não tive a oportunidade de até então conhecê-los. No dia 28, a polícia foi até a casa do centro, com mandato de busca e apreensão em nome de um dos primos do Moqueca, que mora na casa de cima. Na busca, os policiais apreenderam algumas coisas na casa desse primo. Ao acabar a casa de cima, invadiram a casa de baixo. E um dos outros moradores de cima disse que era Moqueca que as vezes ficava na casa de baixo, mas que não morava lá. Bem, ao vasculhar a casa acharam o grow dele, e depois disso foram com um dos moradores da casa de cima na casa de Moqueca, e lá o prenderam. Não havia nada no mandato mencionando Moqueca. No depoimento dele ele explicou que era usuário e que estava cultivando a maconha pois estava cansado de ser ameaçado em boca de fumo, e que não tinha relação nenhuma com o primo. No depoimento do primo, ele alegou também que mal tem relação com Moqueca, que os dois se conhecem, mas não mantem contato algum. Segundo minhas conversas com o advogado, a operação foi pra prender o primo, mas infelizmente porque as casas dividem o mesmo terreno, acharam as coisas de Moqueca. Bem, foram autuados em flagrante por trafico e associação ao tráfico. O que foi divulgado na mídia foi absurdamente errôneo, pois afirmaram que foi encontrado um laboratório de drogas, quando na realidade era um sistema hidropônico de cultivo, no qual a maior parte do material estava embalado, não tendo sido, portanto, utilizado.

Dilemas – revista de estudos de conflito e controle social

Dilemas – revista de estudos de conflito e controle social, que dedicou parte de sua quarta edição para tratar sobre drogas. Essa é uma publicação trimestral do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (Necvu) do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) do IFCS/UFRJ.


Plantios ilícitos de ‘cannabisno Brasil: Desigualdades, alternativa de renda e cultivo de compensação
Paulo Cesar Pontes Fraga e Jorge Atilio Silva Iulianelli

O artigo pretende analisar a questão da produção de cannabis na região do Vale do São Francisco, no Nordeste brasileiro, a maior área de cultivo da planta no país. Para discutir as razões que os levam ao cultivo da erva, buscamos identificar os principais atores envolvidos em seu cultivo e as relações, pacíficas ou violentas, estabelecidas entre eles. O cultivo da planta se estabelece em um contexto em que a cultura ilícita se constitui e se institucionaliza como economia complementar aos cultivos lícitos, uma opção de renda alternativa à falta de uma política agrícola na região.
Palavras-chave
: plantio ilícito, cannabis, política de drogas, trabalhadores rurais, Nordeste
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Esse ‘barato’ é ou não caro? Consumo de drogas e inserção social
Pedro Paulo de Oliveira

Este trabalho tem como objetivo avaliar o simbolismo que as drogas adquirem para jovens consumidores cariocas em contextos de lazer específicos: de um lado, os de boa inserção social, frequentadores de festas e eventos caracterizados basicamente pelo som da música eletrônica e, de outro, os de baixa renda familiar que vão a bailes funk. Usando métodos qualitativos de investigação e levando em conta a opinião dos usuários, obtida em entrevistas semiestruturadas, montagem e moderação de grupos focais e registros etnográficos, a pesquisa mostra a distância entre as imagens que jovens de diferentes situações sociais fazem de si como consumidores de substâncias psicoativa.
Palavras-chave: drogas, jovens, música eletrônica, funk, classe
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Para baixar a revista completa, acesse: www.dilemas.ifcs.ufrj.br

quinta-feira, 17 de março de 2011

Alice Na Terra Dos Ácidos - Alice In Acidland - 1968


Alice Trempton é uma garota pacata de uma bucólica família suburbana americana. Sua vida vira do avesso depois que conhece uma hippie. Um mundo novo se abre depois que ela experimenta LSD, maconha e sexo livre. Narrado em tom “didático”. Alice na terra dos ácidos, é um clássico do “Exploitation”, subgênero do cinema underground que explora o sexo de forma exagerada e divertida. Uma paródia alucinógena de "Alice no País das Maravilhas".







Formato: Rmvb

Direção: John Donne
Áudio: Inglês
Legenda: Português
Tamanho: 440 Mb
Duração: 54 Minutos
http://www.fileserve.com/file/ae3veZX

Pai do psicodelismo viaja por suas memórias


"Em quatro horas, à beira da piscina em Cuernavaca, aprendi mais sobre a mente, o cérebro e suas estruturas, do que nos 15 anos como psicólogo dedicado". A confissão é de Timothy Leary após uma de suas viagens reveladoras com Cogumelos Alucinógenos no interior do México, e está no livro Flashback - Surfando no Caos, sua autobiografia. Ótima dica de leitura para quem se interessa por assuntos relacionados a expansão da consciência e contracultura.

Aos 76 anos, em maio, de 1996, Timothy Leary faleceu e deixara de ser um dos inimigos número 1 da América. Nos 15 anos seguintes, Leary passaria de um eminente professor de Harvard a um ícone da contracultura, paparicado por estrelas do rock e cinema, culminando por se tornar o mais ilustre nome na lista do mais procurados do FBI.

Flashback foi publicado originalmente em 1983 e é um poderoso livro detalhado da vida de Timothy Leary e suas sessões terapêuticas com os mais variados psicoativos da época. Apesar das mais de 500 páginas, Leary faz uma belíssima narração. Além do que o interesse pela expansão da consciência que pregava e difundia, atraia não apenas alunos de Harvard, mas nomes famosos que vão de ídolos de Hollywood (Cary Grant, Marilyn Monroe, Peter Fonda), à geração beatnik (Allen Ginsberg, Jack Kerouac, William Burrough, Neal Cassady, Ken Kesey), astros da música (Charles Mingus, Bob Dylan, Grateful Dead, John Lennon) e políticos subversivos dos 60 (Abbie Hoffman, Jerry Rubin, o grupo guerrilheiro Weathermen).

Os pontos mais interessantes no livro são falam sobre as sessões com drogas psicodélicas em detentos, conclusões sobre as centenas de viagens lisérgicas feitas com seus alunos e a arapuca armada pela CIA na fronteira com o México, na qual foi detidos portando algumas gramas de maconha.

Recomendo!

Nimbin: vilarejo hippie Australiano





O vilarejo de Nimbin, na Austrália, ficou bastante conhecido entre os adeptos da Contracultura no início da década de 70, quando aconteceu o Aquarius Festival, evento de música e cultura alternativa. Logo após o festival, centenas de pessoas permaneceram na vila e criaram uma comunidade alternativa. Desde então, a região atrai artistas, escritores, músicos e especialistas em desenvolvimento sustentável.

O vilarejo se tornou um local onde a venda e consumo de canabis era liberada. Nesse meio tempo, foram criadas a Nimbin Hemp Embassy, local onde era vendido todos os tipos de produtos relacionados à maconha, menos a erva em si. Outro local muito famoso de Nimbin é The Nimbin HEMP Bar, um estilo de Coffee Shop holandês, onde até 2008 era possível tomar um café acompanhado de um cigarrinho de maconha.

O local ficou sem interferência do governo por anos, mas de uns tempos pra cá, a vila está sob constante vigilância de tropas policiais para coibir o consumo de drogas na região. Mesmo assim é muito fácil conseguir acesso a drogas em Nimbin. Praticamente todas as lojas da cidade cheiram a maconha, todos os vendedores usam colírio ou óculos escuros e várias são as pessoas na rua que murmuram que têm o produto disponível, caso você se interesse por comprar.

Nimbin está a apenas 70 km de Byron Bay, local também famoso por ser refúgio hippie e abrigar bons festivais de cultura alternativa.

Livro retrata os 20 anos do Trance Psicodélico


Às vezes a música eletrônica nos passa a falsa impressão de ser um estilo de música relativamente novo. Quem diria que o Trance Psicodélico já tem mais de 20 anos de história? Isso mesmo. E para homenagear esse estilo de vida que atrai milhões de adeptos no mundo inteiro, foi lançado recentemente o livro “Goa – 20 Years of Psychedelic Trance”.

Trata-se de uma publicação única sobre o movimento e a geração Psytrance, e o primeiro livro que descreve a cena como um todo, desde os primórdios em Goa na Índia, até a geração atual. O livro está dividido em diversos artigos, descritos por 41 pessoas influentes na cena Psytrance internacional, dos 5 continentes. Figuras como Raja Ram, Chicago, Goa Gil, Sam Chaishop participam da publicação. E representando o Brasil, temos o depoimento de Kranti Pessoa, precursor da cena psicodélica no Cerrado.

É uma publicação bem completa, que aborda tópicos como a História e Evolução, Cultura, Espiritualidade, Drogas, Arte e Cultura, Cena ao redor do Mundo, e o Futuro do Psytrance. Acompanham o livro um poster e um DVD, este último produzido pelos artistas do Psynema.

Todas as INFOS no site www.nachtschatten.ch/goabook/.

Cookies de maconha viram febre em balada de Buenos Aires

Fonte : Folha de São Paulo

Brownies e cookies de maconha viraram febre em uma das baladas mais agitadas de Buenos Aires. As "galletitas mágicas" (biscoitinhos mágicos) são atração nas noites de segunda num centro cultural em Balvanera (região central).

O local é bastante frequentado por turistas, principalmente brasileiros.

Os quitutes de maconha, nos sabores coco, chocolate, integral e aveia e mel, são vendidos na rua antes e depois das festas. Não há repressão.

Na Argentina, é crime o porte e consumo de drogas, não importando a quantidade e a forma de uso.

"É tranquilo, a polícia nunca vem", garante Carolina (os nomes citados são fictícios), que vende brownies a custo médio de 10 pesos (R$ 4). A Folha contou, anteontem, ao menos 12 vendedores; dez deles garantiram que fazem os biscoitos com a maconha que plantam em casa.

Dentro da balada, é proibido consumir bebida alcoólica, mas é possível experimentar maconha livremente: na forma de brownies, cookies ou cigarros.

Os brasileiros Bruno e Priscila acharam os biscoitos "ótimos".

"Vou levar de lembrança", diz Joe, um turista inglês.

O consumo de maconha pode causar, entre outros problemas, dependência, ansiedade, e bronquite.

O psiquiatra Aderbal Vieira Jr., do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes), da Unifesp, explica que a absorção da droga é maior quando é fumada. "Mesmo assim, isso é consumo de maconha", diz.


Lucas Ferraz/Folhapress
Em Buenos Aires, cookies de maconha são vendidos em uma festa badalada frequentada por brasileiros
Em Buenos Aires, cookies de maconha são vendidos em uma festa badalada frequentada por brasileiros

Colaborou EMILIO SANT'ANNA

Ayahuasca e depressão

Por Brian Anderson.

Este artigo se propõe a dar ao leitor alguma informação básica no tópico sobre ayahuasca e depressão. Lembramos que decisões sobre questões de saúde não devem ser tomadas apenas com base nestas informações, mas devem ser feitas através da consulta de um profissional da área médica, um curandeiro experiente, ou um líder religioso confiável.

Assim como todas as outras substâncias com proprieadades medicinais, a ayahuasca pode trazer riscos se usada de maneira incorreta.

É claro que a interpretação do que é “correto”, bem como sobre o uso saudável da ayahuasca é discutível.

Uma questão frequente que envolve a ayahuasca com a saúde é a pergunta se pessoas que tomam antidepressivos devem ingerir a ayahuasca. Esta questão não pode ser respondida de maneira satisfatória no presente mo

mento, mas podemos fazer uma tentativa inicial de nos aprofundar na questão com as informações disponíveis na literatura científica.

Depressão é uma doença muito comum. Apesar de ser vista como um distúrbio de ordem “mental”, a depressão pode consistir em sintomas físicos e psicológicos, incluindo mau humor, inabilidade de se experimentar o prazer, falta de energia, perda de apetite, falta de concentração, alterações no sono (pra mais ou pra menos), sensação de culpa, agitação, dores físicas e pensamentos suicidas.

O uso da ayahuasca para se tratar de sintomas como estes já se faz corrente há décadas – um livro conhecido que descreve est

e tipo de uso da ayahuasca se chama Visionary Vine (“O Cipó Visionário”, sem tradução para o português), de Marlene Dobkin de Rios. Tentativas de se usar a ayahuasca em cenários tradicionais para se tratar da depressão também já foram documentadas recentemente (1). Não há tratamentos médicos clínicos para a depressão com o uso de ayahuasca que tenham sido completados, mas alguns cientistas acreditam que outros psicodélicos, como a psilocibina, podem ser úteis no tratamento da depressão (2). Então existe uma chance de que a pesquisa científica possa jogar uma luz sobre a questão de o uso da ayahuasca ser benéfico no tratamento da depressão.

Antes que possamos adentrar a questão das interações negativas de certos medicamentos com a ayahuasca, deve ser notado que mesmo nas pessoas que não estão tomando remédios psiquiátricos, a ayahuasca pode ter efeitos psicológicos danosos (como a indução de estados psicóticos ou depressivos), mesmo que estes casos sejam relativamente raros. Acredita-se que os psicodélicos em geral possam precipitar estados psicóticos em pessoas predispostas a tais reações (3). Outras reações negativas podem ocorrer quando o usuário da ayahuasca não tem suporte na sociedade para ajudá-lo a integrar suas experiências após a sessão (4). É importante para a própria saúde que pessoas com histórico psicótico não bebam a ayahuasca (5). E, apesar de que algumas pessoas depressivas possam afirmar se sentirem melhor após a ingestão da medicina ancestral, pessoas que sofrem de depressão com sintomas psicóticos também deveriam evitar a ayahuasca.

Muita da preocupação acerca do uso da ayahuasca por pessoas que tomam antidepressivos parece proceder da questão da “síndrome da serotonina” levantada por James Callaway e Charles Grob no artigo de 1998 intitulado “Preparados de Ayahuasca e Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (SSRIs): Uma Combinação Potencial para Interações Adversas Severas(6). A Síndrome da Serotonina é caracterizada pelos indícios e sintomas de febre, pressão alta, confusão e agitação, convulsões, tremores, rigidez muscular, reflexos patelares elevados, pupilas dilatadas, contínuos movimentos oculares horizontais, suor, vômitos e diarréia (7). Estes sintomas geralmente começam minutos após o consumo de drogas que aumentam excessivamente os níveis de serotonina, e se não forem tratados, casos severos podem resultar em morte. No caso de suspeita de Síndrome de Serotonina, deve-se procurar por ajuda médica imediatamente. Isto é complicado no caso de usuários da ayahuasca, porque diversos destes sintomas podem ser efeitos normais de curto prazo decorrentes do uso da mesma.

A Síndrome da Serotonina é uma preocupação entre usuários da ayahuasca porque a bebida contém alcalóides do tipo harmala, como a harmina e harmalina, que agem como inibidores da Monoamina Oxidase (IMAOs – ou MAOIs, em inglês), ou seja, eles impedem que as moléculas de serotonina sejam quebradas, e assim elevam os níveis de serotonina no corpo. Assim sendo, para uma pessoa que esteja tomando drogas antidepressivas como os IMAOs, ou os mais frequentes Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina (ISRSs – ou SSRI, em inglês), é temido que elas possam elevar seus níveis de serotonina demasiadamente se elas também beberem a ayahuasca.

Curiosamente, no entanto, apesar do fato de que milhares de pessoas no Brasil e em outros países bebam a ayahuasca regularmente, e que muitos deles possivelmente estejam tomando medicamentos antidepressivos, não há um único caso de Síndrome de Serotonina registrado na literatura científica desde o artigo de 1998 de Callaway e Grob. Existem muitas possíveis razões para isto, e apenas uma das quais sugere que estes casos seriam muito raros ou não-existentes. No entanto, esta idéia de que casos severos de Síndrome de Serotonina raramente ocorram, pelo menos dentro na União do Vegetal (UDV) (8), tem suporte na alegação feita pelo psiquiatra Luis Fernando Tófoli, coordenador do Comitê de Saúde Mental para a UDV, o qual jamais ouviu depoimentos de casos deste tipo que teham ocorrido dentro da instituição.

É claro que esta falta de evidências de danos não deve ser tomada necessariamente como evidência de segurança. Além disso, Tófoli comenta que é de fato importante se evitar o uso da ayahuasca enquanto se toma o IMAO Tranilcipromina. Isto se deve ao fato de que a tranilcipromina é uma IMAO “irreversível”, ou seja, que seus efeitos duram por mais tempo que outros IMAOs “reversíveis” como a Moclobemida.

Isto nos leva a outro ponto importante: os efeitos de algumas drogas, incluindo antidepressivos, irão durar mais tempo que outras após o indivíduo ter encerrado a ingestão de tal substância. Os efeitos do Prozac (um ISRS: Flouxetina), por exemplo, pode durar por semanas após a última dosagem. Então, mesmo que alguém parasse de tomar antidepressivos para evitar uma interação negativa com a ayahuasca, esta interação ainda poderia ocorrer dias após a medicação ter sido cortada. Além disso, interromper uma medicação de forma imediata nem sempre pode ter um efeito benigno – além do potencial para uma piora da saúde mental, interromper um medicamento psiquiátrico de repente pode, às vezes, trazer sintomas físicos como câimbras gastrointestinais em pessoas que tenham usado ISRSs por muito tempo.

Este texto se propôs a fazer um pequeno resumo do que é conhecido dentro do campo das ciências acadêmicas no tópico de ayahuasca e depressão, e tentamos demonstrar preocupação acerca da possibilidade de casos de Síndrome de Serotonina, potencialmente letal, em pessoas que tomam medicamentos antidepressivos e ayahuasca. Deve ser notado que não apenas drogas antidepressivas são tidas como associadas à Síndrome de Serotonina, mas também medicamentos como Meperidina, o antibiótico Linezolid, o xarope pra tosse (e muitas vezes droga recreativa) Dextrometorfano, e inúmeras outras (9). Não se sabe como estes medicamentos interagem com a ayahuasca, especialmente devido ao diversos métodos que existem para o preparo da mesma. Em suma, ayahuasca é realmente uma substância complexa, e as experiências que as pessoas têm, e as relações que podem se desenvolver com a bebida são ainda mais complexas. Desconhece-se muito mais do que se conhece sobre como a ayahuasca afeta a saúde mental. E além da substância em si, os contextos nos quais a bebida é usasa podem ser muito importantes, combinando assim para aumentar a complexidade dos efeitos da ayahuasca sobre a saúde mental.

Da mesma forma como acontece com o uso de qualquer outra substância em tratamentos terapêuticos, contexto e suporte interpessoal são cruciais para que se possa cultivar e colher os efeitos otimizados da susbstância. Este fato não deve ser ignorado.

1 Palladino, L. 2010. Vine of the Soul: A Phenomenological Study of Ayahuasca and its Effects on Depression. Ph.D. dissertation, Program in Clinical Psychology, Pacifica Graduate Institute.
2 Grob, C. S., A. L. Danforth, G. S. Chopra, M. Hagerty, C. R. McKay, A. L. Halberstadt and G. R. Greer. 2011. Pilot Study of Psilocybin Treatment for Anxiety in Patients with Advanced-Stage Cancer. Archives of General Psychiatry 68(1):71-8.
Vollenweider, F. X., and M. Kometer. 2010. The Neurobiology of Psychedelic Drugs: Implications for the Treatment of Mood Disorders. Nature Reviews Neuroscience 11:642-51.
3 Strassman, R. J. 1984. Adverse Reactions to Psychedelic Drugs: A Review of the Literature. The Journal of Nervous and Mental Disease 172(10):577-95.
4 Lewis, S. E. 2008. Ayahuasca and Spiritual Crisis: Liminality as Space for Personal Growth. Anthropology of Consciousness 19(2):109-33.
5 Santos, R. G., and Strassman, R. J. 2008. Ayahuasca and psychosis. British Journal of Psychiatry (online). 2008.
6 Callaway, J. C., and C. S. Grob. 1998. Ayahuasca Preparations and Serotonin Reuptake Inhibitors: A Potential Combination for Severe Adverse Interactions. Journal of Psychoactive Drugs 30(4):367-9.
7 Boyer, E. W., and M. Shannon. 2005. The Serotonin Syndrome. New England Journal of Medicine 352:1112-20.
8 Almeida, C. 2010. Pesquisas testam potencial benefício da ayahuasca contra depressão e dependência. Bol Notícias, 26 de Abril de 2010 .
9 Boyer, E. W., and M. Shannon. 2005. The Serotonin Syndrome. New England Journal of Medicine 352:1112-20.

Brian Anderson é doutorando em medicina pela Stanford University School of Medicine; mestrando no BIOS Centre, London School of Economics, e pesquisador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (NEIP).