Foi realizado no Sítio das Pedras no Rio de Janeiro o Encontro da Diversidade Ayahuasqueira, nos dias 7, 8 e 9 de outubro. Foto: participantes do Encontro. Crédito: Alexandre Almeida |
O encontro, que contou com a participação de diversas igrejas daimistas e de entidades independentes, teve como finalidade identificar e registrar a “Diversidade Ayahuasqueira” de modo a ampliar o pedido de tombamento da ayahuasca como patrimônio cultural imaterial feito pelas entidades religiosas do Estado do Acre.
Como sugere o próprio nome do encontro, o MinC (Ministério da Cultura) considerou necessário incluir , além das principais tradições daimistas e ayahuasqueiras, os diversos grupos que não tinham sido chamados inicialmente a participar neste debate.
A igreja do ICEFLU participou do encontro enviando uma carta com nossa posição institucional e que foi lida pelos nossos representantes. Também participamos das apresentações musicais do evento com o grupo de músicas da Igreja Jardim Praia do Beira Mar no Rio de Janeiro e membros de outras igrejas
A abertura do Encontro ocorreu na sexta feira, dia 7 de outubro, com a presença de representantes de comunidades indígenas e de diversos centros e Igrejas que utilizam o sacramento Ayahuasca em seus rituais. Além do pronunciamento das autoridades do Ministério da Cultura, participaram representantes das correntes religiosas, destacando-se o Sr. Luis Mendes e o Sr. Saturnino, que homenagearam o Pd. Sebastião, aniversariante do dia, grande responsável, nas palavras de Saturnino, pela expansão do Santo Daime. Como saudação ao encontro, cada linha apresentou um hino e todos os presentes cantaram hinos do Mestre Irineu.
Em homenagem ao aniversariante do dia, também foram cantados hinos do Pd. Sebastião.
As atividades prosseguiram no sábado, com apresentação dos trabalhos das Igrejas presentes. A riqueza e variedade das apresentações chamaram a atenção de todos os que acompanharam o encontro, justificando assim o tema da “Diversidade” da cultura ayahuasqueira.
No domingo, houve a reunião de trabalho, tendo sido aberta com as falas do Marcos Cruz, organizador do evento e Devison, do IPHAN do Acre.
Eles falaram sobre as diferenças entre patrimônio material e imaterial, tombamento e salvaguarda, frisando a natureza coletiva do processo e a importância da participação de todas as comunidades envolvidas. A abertura do processo da ayahuasca iniciou-se em 2008 com o pedido das três entidades de Rio branco. A Câmara Temática do IPHAN reconheceu a pertinência do pedido, solicitando que seja feito um inventário das práticas para efeito de registro. O inventário deverá definir quais as referências culturais que devem ser registradas.
A função do registro é fazer o reconhecimento daquele bem e permitir que as condições de reprodução daquela criação cultural sejam garantidas. No caso do ayahuasca ainda há um estudo para definir o que se quer registrar, se será o feitio da bebida, as expressões culturais que florescem em torno dela, ou os rituais. Junto ao registro, cria-se um Plano de Salvaguarda, onde o poder público e as comunidades interessadas propõem e adotam medidas para garantir a reprodução daquele bem. O processo será desenvolvido através do IPHAN no estado do Acre, mas podem ser acrescidos acervos de toda a diversidade da cultura ayahuasqueira.
O Encontro foi filmado, gravado e fotografado e já fará parte do inventário. O trabalho do IPHAN é feito por amostragem e restrito ao território daquele estado. Devison colocou-se à disposição para receber material e contribuições.
Posteriormente , o Sr. Américo Córdula, diretor do MINC saudou a qualidade e diversidade do evento e levantou algumas questões: necessidade de os grupos conversarem mais sobre seus interesses comuns e lidarem com as diferenças existentes entre as linhas , assim como definir melhor o objeto do registro.
Em seguida, Newton, ex-secretário do MINC e proponente inicial do projeto ressaltou a importância do evento público para dar maior visibilidade à cultura ayahuasqueira. Destacou também a necessidade de maior união, profissionalismo e entendimento entre as linhas sugerindo maior diálogo com as outras instituições e a criação de consensos que reflitam os interesses comuns entre as diversas linhas, ao invés de destacar os dissensos.
Após essas falas iniciais, foi aberta a palavra para as lideranças se manifestarem. Inicialmente falou Ana Vitória, dirigente da Porta do Sol que disponibilizou o acervo de 15 anos de trabalho da sua entidade e enalteceu a tradição brasileira e indígena.
Caparelli, pelo ICEFLU pediu a palavra, elogiou o ambiente do encontro e homenageou o Padrinho Sebastião, grande responsável pela expansão da Doutrina para além da região amazônica. Após apresentar sua avaliação, solicitou que fosse lido pronunciamento oficial do ICEFLU, a “Carta ao Encontro da Diversidade Cultural Ayahuasqueira”, assinada por Alex Polari. A carta foi bem recebida, com muitas palmas e citada nas falas posteriores, especialmente por parte de AméricoCórdula , diretor do MINC, e de Devison, do IPHAN. Ambos consideraram a carta como um elemento integrado ao processo.
A reunião prosseguiu com a leitura da Carta do Encontro – lida pelo Gê, dirigente da igreja Reino do Sol –SP e também aceita. As intervenções trataram de como prosseguir neste caminho de maior diálogo entre as linhas. Na fala final de Devison (IPHAN/ACRE), ele disse que o IPHAN já reconhece que há um sistema cultural em torno do uso religioso do ayahuasca.
A reunião prosseguiu com participação das lideranças indígenas, do Felipe Bandeira de Melo, entre outros, e foi concluída com um cordel sobre a vida do Mestre Irineu, falado por Saturnino, e uma breve palestra do Sr. Luis Mendes, narrando sua chegada ao Santo Daime e seu contato com o Mestre.
Texto: Alex Polari
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