Extraído do Site : http://www.toninhobuda.com/
JOHN LENNON & O PAPA DO LSD
Toninho Buda, 5 maio 1996
São Paulo, sábado, 14 de março de 1992. Aquele era um momento de muita sorte e meu coração estava aos saltos. Realmente, eu viera mais cedo para a palestra do “I Encontro com os Magos da Nova Era” com a esperança de poder falar com ele a sós. Mas não esperava encontrá-lo ali, sozinho, tranquilo e caminhando em círculos no hall do Maksoud Plaza. Era uma noite de temperatura agradável e a poucos metros de mim estava uma das cabeças mais revolucionárias do século vinte: Mr. Timothy Leary.
Timothy Leary nasceu em 1920, nos EUA. Em 1960, ele fazia parte de uma rede internacional de cientistas e intelectuais que estava experimentando plantas e drogas como dilatadoras da mente, num processo que poderia revolucionar completamente a psicologia e a filosofia. Inicialmente utilizados para o tratamento de doenças mentais, a psilocibina, o LSD e a mescalina estavam entre essas drogas. Um desses cientistas, Humphrey Osmond, cunhou na Inglaterra a palavra “psicodélico”, que mais tarde escaparia do âmbito científico para se popularizar a partir de 1967, como um movimento mundial da juventude em todo o planeta. Em 1960, a opinião dos pesquisadores em geral era a de que estas experiências deveriam ficar restritas ao âmbito da ciência e nunca serem divulgadas publicamente. No entanto, Timothy Leary não pensava assim. Ligado a Allen Ginsberg, Jack Kerouac, Aldous Huxley e mais tarde a John Lennon e Jimi Hendrix, Leary tinha uma postura totalmente democrática com relação às drogas expansoras da consciência. Além disso, ele sempre foi um discípulo declarado de Aleister Crowley, o famoso mago inglês que deixou um legado enorme na área do esoterismo e também no campo da pesquisa com drogas alucinógenas como chaves do poder e da vontade. Talvez porque não haja nenhum interesse em que o grande público aprenda como “pilotar a própria mente”, a importância da obra dessas pessoas continua sendo boicotada pela ciência e política “oficiais”. Crowley - o maldito entre os malditos - continua sendo “esquecido” por todos os que se aproveitam de sua herança. Somente para citar um exemplo nacional, o conhecido autor de best sellers Lair Ribeiro baseou toda a sua proposta de auto-ajuda em Lafayette Ronald Hubbard, criador da Cientologia e da Dianética, nos Estados Unidos. Pois seria interessante que todos soubessem que Hubbard, por sua vez, baseou toda a Dianética e Cientologia no “Livro da Lei” de Aleister Crowley. A Timothy Leary nunca interessou estes joguinhos de esconde-esconde. Ele tornou-se o “Papa do LSD” e tornou conhecidas mundialmente todas as pesquisas com drogas.
Houve um período, por volta de 1968, em que Timothy Leary tornou-se tremendamente popular nos Estados Unidos. Com o apoio de muitos órgãos alternativos como a “Rolling Stones” e diversos setores da imprensa oficial, ele chegou a derrubar leis federais sobre a maconha na Califórnia. Em seguida, lançou sua candidatura a Governador do mesmo Estado da Califórnia. Do seu programa de governo constava a eliminação de todos os impostos e a conversão de todos os colégios, faculdades e prisões em instituições produtivas e lucrativas. A chave principal do seu plano de campanha era conseguir reunir um grupo imenso de celebridades da contracultura e bandas de rock, que sairiam viajando de cidade em cidade na Califórnia. Então ele dirigiu-se a Nova Yorque, para fazer gravações com músicos simpatizantes e jantou comn Jimi Hendrix no Greenwich Village. John Lennon e Yoko Onno não puderam comparecer às gravações que foram feitas em seguida, porque estavam em Montreal, proibidos de entrar nos Estados Unidos por causa de uma antiga condenação por porte de maconha. Nesta época, Lennon estava preparando o compacto “Give Peace a Chance” e fazendo um protesto em cima de uma cama gigante, no Hotel Queen Elizabeth de Montreal. Depois das gravações em Nova Iorque, Leary foi visitar Lennon. O beatle lhe perguntou o que poder4ia fazer para ajudar na sua campanha e Lery pediu-lhe que fizesse uma canção para ela. “OK”, disse Lennon, “Qual o tema ?”. Leary respondeu “Nosso slogan é ‘chegue junto, filie-se à festa’ (‘come togheter, join the party’ - aproveitando o duplo sentido de ‘party’, ‘festa’ e ‘partido’)”. Lennon então pegou sua guitarra e em poucos minutos estava pronta a primeira versão de “Come Togheter”, que eu pouco tempo já estaria tocando nas rádios da Califórnia: “Come togheter right now, don’t come tomorrow, don’t como alone, como togheter right now, over me. All that I can tell you is you gotta be free”.
No entanto, a Polícia Federal, que estava no encalço de Leary há muito tempo, conseguiu brecá-lo da mesma forma que havia feito com Lennon. Resolveram condená-lo por “transporte de maconha”, numa batida em que ele havia sido flagrado em Laredo, mas absolvido no primeiro round (em que foi julgado por “porte de maconha”). Mas haviam outras condenações contra Leary: pelo menos em Laguna Beach e Millbrook. Pelo caso de Laredo, ele poderia pegaar até 20 anos de cana, mais dez mil dólares de multa! Sua candidatura estava perdida, mas mesmo assim ele ainda assistiu ao Festival de Woodstock dos bastidores e estava três meses depois no Festival de altamont, quando os Rolling Stones iniciaram seu show com “Sympathy for the Devil” e o pau começou a quebrar... Seis meses depois do histórico encontro com Lennon, sentado dentro da cela de sua prisão, Leary ouviu no rádio a mais nova música dos Beatles, chamada “Come Togheter”, lançada pela EMI e assinada por John Lennon e Paul McCartney! Ora, aquela música era dele e Lennon o havia passado prá trás! Imediatamente ele escreveu para John protestando contra isso e Lennon lhe respondeu com seu conhecido humor ferino: “Tim, você se comportou como um freguês que vem, encomenda o terno e depois não aparece para buscá-lo e pagar a conta. Então eu - o alfaiate - vendi o terno para outra pessoa !”. Mesmo assim, eles continuaram sempre amigos e John e Yoko sempre o apoiaram em seus longos anos de perseguição e exílio.
E agora, ali no Maksoud Plaza, aos 72 anos e a poucos passos de mim estava o “Papa do LSD”. Hoje ele havia “evoluído” do ácido para a “psicocibernética” e iria falar em São Paulo sobre a “Realidade Virtual” e a “Exo Psicologia”. Segundo ele, com o domínio do oitavo circuito do cérebro, é possível que qualquer pessoa consiga contactar o RNA e o DNA... Eu me sentia muito pequeno diante de tudo isso e tremia dos pés à cabeça. Até que ele notou a minha presença e sorriu. E começamos a conversar. Entreguei a ele um artigo em inglês, de minha autoria, intitulado “Opus 666, A Ópera Rock de Raul Seixas” e expliquei quem havia sido no Brasil o grande Raul Seixas e suas ligações com Crowley e a Sociedade Alternativa. Contei prá ele que o grande sonho do Raul era ter seu trabalho conhecido nos Estados Unidos, falei das ligações de Raul com a “New Utopian” de John Lennon e pedi a ele que divulgasse estas notícias de uma forma mais ampla na América do Norte. Ele me entendeu e me abraçou afetuosamente. Eu assisti à sua palestra com o sentimento de cumplicidade que une os alternativos e depois fui embora. Nunca mais o vi, mas tenho certeza de que, esteja onde estiver, Timothy Leary continuará sendo o “Papa da Expansão da Consciência”. Ele continuará sendo aquele que mostrou para o mundo que a “realidade” que nós vivemos é apenas uma das “realidades” possíveis de serem vividas. E que esta realidade tantas vezes deprimente, feita de imagens de televisão, propaganda enganosa e educação familiar e religiosa é provavelmente a mais pobre das realidades que o ser humano jamais conseguiu fabricar para si próprio ! Nós temos a gratidão de continuar divulgando esta grande descoberta da juventude dos anos 60. Nós temos a obrigação de continuar jovens e lutando para criar núcleos de resistência contra a loucura do “sistema”. Nós temos a obrigação de morrer jovens e o mais tarde possível !
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