Líder da produção científica sobre Cannabis no Brasil, o psicofarmacologista Dr. Elisaldo Carlini estuda os efeitos da Maconha e suas consequências no organismo humano há cinquenta anos. À frente do CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), sediado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ele já foi chefe da antiga Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, atual ANVISA.
Atualmente está no 7˚ mandato como membro do Expert Advisory Panel on Drug and Alcohol Problems, da Organização Mundial da Saúde (OMS) e também ocupa a Coordenadoria da Câmara de Assessoramento Técnico Científico da Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD).
Em relação às pesquisas sobre Cannabis no Brasil, Carlini lembra que foram retomadas há cerca de 50 anos atrás com os estudos pioneiros de José Ribeiro do Valle na Escola Paulista de Medicina da UNIFESP. Ele, inclusive, fez parte da primeira leva de pesquisadores gestados no Departamento de Farmacologia e Bioquímica da Escola Paulista de Medicina, orientados por José do Valle.
O Dr. Carlini lamenta as dificuldades de se manter um programa consistente de pesquisa sobre a planta no país enquanto, no resto do mundo, já existe um enorme incentivo em direção à comercialização de medicamentos a base de Cannabis.
“No Brasil, existe uma dificuldade burocrática imensa em se adquirir a planta. Pois é preciso um endosso da instituição onde é feita a pesquisa, depois uma autorização da ANVISA para que você possa exportar de países que possuem plantações legalizadas e, por fim, o próprio governo desses países precisam analisar e liberar a exportação do produto. Além disso, falta incentivo econômico para se financiar as pesquisas sobre a maconha no Brasil” – esclarece o médico.
Ele explica que a ciência já descobriu como isolar e sintetizar o componente ativo da maconha, que é o delta-9-tetraidrocanabinol. Países como os EUA e Holanda já se beneficiam desta descoberta e comercializam produtos baseados neste componente.
“Na Holanda por exemplo, os médicos tem plena liberdade para prescrever a administração da Cannabis medicinal. O método a ser utilizado vai depender muito do paciente, pois todas as formas são eficazes, seja através de comprimido ou inalação, mas o fumo ainda é mais comum entre paciente jovens. Vai depender da maneira com que cada um se sente mais confortável para utilizar.” – aconselha o Dr. Elisaldo.
Ele completa dizendo ainda que no Reino Unido está se obtendo muito sucesso com a venda de um medicamento em formato de spray borrifador feito de cepas de maconha misturadas, e está sendo comercializado sob o nome de Sativex em mais de 25 países. Indicado para o tratamento de dores neuropáticas e espasmos musculares provocados pela esclerose múltipla, a vantagem deste produto é a liberação da quantidade necessária à administração terapêutica.
O laboratório inglês fez uma associação com a Bayer para produzir e comercializar o Sativex até mesmo no Brasil.
“O pedido de registro já foi aceito pela ANVISA, inclusive, ouvi dizer que a comissão brasileira que foi até a Inglaterra para analisar a produção encontrou uma infraestrutura de ponta por lá, com um rigoroso controle de qualidade. Agora a previsão da autorização final não é possível fazer. Depende da burocracia.”
Além da indicação para o tratamento da esclerose múltipla, a maconha é altamente recomendada em inúmero outros casos. O Dr. Carlini enumerou mais três exemplos como: inibidor de náuseas e vômito, em pacientes que passam por quimioterapia; incentivador do apetite, principalmente em pacientes com AIDS, evitando-se o risco de caquexia (fraqueza extrema); e alterações mentais benéficas em pacientes que se encontram em profunda tristeza devido às rotinas médicas cansativas e estressantes, como é o caso de doentes crônicos.
A maior polêmica sobre o uso de maconha, no entanto, diz respeito à dúvida sobre a existência ou não de dependência química provocada pela droga. O Dr. Elisaldo Carlini afirma que a ciência já chegou a uma conclusão sobre o assunto.
“O uso da maconha enquanto medicamento não causa nenhuma dependência. E mesmo no caso recreativo, um número muito reduzido de usuários apresenta esse sintoma e, ainda assim, de maneira menos potente que o álcool e o tabaco, por exemplo. Em todo o mundo jamais foi diagnosticado um caso de morte por overdose. Agora, o problema da dependência é muito mais amplo. Existem pessoas seriamente dependentes de cenoura, por exemplo. O que nos faz refletir que o problema não é a droga, mas as condições em que o ser humano faz uso dela” – conclui.
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