Nas últimas semanas vimos na mídia vários ataques à revisão científica sobre maconha e saúde mental feita pelo Departamento de Dependência Química da ABP. A crítica veio de uma nova associação que a princípio reúne profissionais que abertamente defendem a legalização da maconha e outras drogas e tem como presidente o Dr. Dartiu Xavier da Silveira. Vale a pena defendermos o que o Departamento de DQ fez. Alguns aspectos dessa revisão merecem destaque: 1 - A revisão científica tentou evitar o tema da legalização da maconha. Tivemos como principio da nossa revisão que ficaríamos restritos ao impacto do uso da maconha na saúde mental. Achamos que muito das informações são perdidas quando ficamos num clima ideológico das pessoas pró e contra a legalização. O foco da ABP deveria ser o do impacto na saúde mental, como fazemos com as consequencias do álcool e mesmo do cigarro. Avaliamos que faltava para o profissional de saúde mental no Brasil esse tipo de informação. 2 – Como a intenção era fazer uma revisão científica com qualidade, convidamos mais de 20 profissionais de vários estados do Brasil, além de inúmeras faculdades e federadas da ABP. Os organizadores tiveram o cuidado de escolher os profissionais com maior experiência nas várias áreas afetadas pelo uso crônico da maconha, psiquiatras (especialistas em DQ, em crianças e adolescentes, em esquizofrenia, psicofarmacologia, epidemiologia das doenças mentais, neuroimagem, etc) , pediatras, psicólogos ( especialistas em tratamento, neuropsicologia, adolescentes, etc). 3 – Esses colegas tiveram autonomia completa para pesquisar e desenvolver o seu trabalho. A única recomendação é que buscassem informações baseadas em evidências científicas e que ao escrever pensassem no psiquiatra geral e como esse profissional poderia beneficiar-se dessas informações. Buscamos responder informações básicas, que estão disponíveis no nosso site (www.abpbrasil.org.br). Qem olhar com isenção para os temas e autores verá a qualidade do trabalho e que mantivemos o foco no tema sobre saúde mental e que fugimos de qualquer conotação ideológica : Revisão Científica – MACONHA E SAÚDE MENTAL – LISTA DE AUTORES - Departamento de Dependência Química da ABP Epidemiologia do uso da maconha no Brasil – José Carlos Galduroz (UNIFESP) e João Carlos Dias (ABP - RJ) Tendências de uso da maconha no mundo – Marcelo Ribeiro Araújo (UNIFESP) Evidências da Síndrome de Dependência da Maconha – Ronaldo Laranjeira (UNIFESP) – Analice Giglioti (Santa Casa – RJ) Evidências da síndrome de abstinência da maconha – Ana Cecília Marques (UNIFESP) e Tadeu Lemos (UFSC) Maconha e adolescencia - Claudia M. Szobot (UFRGS), Luis Augusto Rohde (UFRGS) Impacto do uso da maconha da vida acadêmica de adolescentes – Sergio de Paula Ramos (Hospital Mãe de Deus – RS) Lisandra Soldati Fração O sistema canabideóide – José Alexandre Crippa (USP-RP) Fabrício Moreira (USP-RP) A ação da maconha no cérebro –Acioly Luiz Tavares de Lacerda (UNICAMP), José Alexandre de Souza Crippa (USP-RP), Rodrigo Affonseca Bressan (UNIFESP) Neuropsicologia do uso crônico da maconha – Paulo Cunha (USP) Existe uma psicose específica relacionada ao uso da maconha – Valentim Gentil (USP) Uso da maconha e as doenças psiquiátricas – Evidências epidemiológicas – Paulo Rossi (USP) – Lílian Rato (Santa Casa – SP) Uso de maconha e Depressão – Lisia von Diemen (UFRGS), Flavio Pechansky (UFRGS) e Felix Henrique Paim Kessler (UFRGS) Uso da maconha e Esquizofrenia – Rodrigo Bressan (UNIFESP) Uso de maconha e ansiedade – José Alexandre Crippa (USP-RP) Antonio Waldo Zuardi (USP-RP) Uso de maconha e TDAH – Marcos Romano (UNIFESP) Genética e uso de maconha – Homero Vallada (USP) Quirino Cordeiro (USP) Tratamento psicológico do uso da maconha – Flávia Jungerman (UNIFESP) Tratamento farmacológico do uso da maconha – Alessandra Dihel e Ronaldo Laranjeira (UNIFESP) Uso de maconha e gravidez – Ruth Guinsburg (UNIFESP) Marina Carvalho de Moraes Barros (UNIFESP), Sandro Mitushiro (Hospital Servidor Municipal SP) Dirigir e uso de Maconha – Ilana Pinsky (UNIFESP) e Marco Bessa (Clinica Heideberg – PR) 4 – Após a produção desses capítulos todos esses colegas apresentaram para um audiência de mais de 200 psiquiatras, na reunião do Departamento de DQ no nosso últimos congresso em Belo Horizonte. Foi uma das melhores reuniões já produzidas pelo Departamento de DQ. Durante toda a manhã um número excelente de colegas ouviram as apresentações, comentaram, criticaram, sugeriram, tudo num clima de extremo respeito, pela qualidade das apresentações e pelo clima de que todos estávamos ali aprendendo sobre um assunto que interessa a todos os profissionais de saúde mental. A aprovação dos textos e da revisão ocorreu tranqüilamente pois os textos eram o retrato do que a ciência tinha e tem a oferecer sobre esse assunto. Diferente dos ataques rasteiros feitos por essa nova associação que representam o velho discurso da legalização das drogas, não houve nenhuma intenção em: 1- defender a proibição da maconha; 2 – fazer a “pedagogia do terror” explorando os lados negativos da maconha; e 3 – muito menos mostrarmos oposição ao eventual uso terapêutico da maconha. Cremos que fizemos o que uma Associação Brasileira de Psiquiatria com responsabilidade social deva fazer, ou seja compilar cientificamente as melhores informações disponíveis e mostrar aos nossos associados e ao público em geral quais os riscos que se expõem as pessoas que consomem cronicamente maconha, em especial os riscos que os adolescentes ficam expostos. Essa nova associação começou mal. Atacou a ABP de uma forma desleal e vil. Ao invés de participar dos nossos debates e expor as suas eventuais discordâncias, levou para a mídia uma falsa idéia que os psiquiatras são companheiros do retrocesso e da parcialidade científica. Usaram a ABP para promoverem a sua própria associação que começa com o pé esquerdo. A opinião pública saberá distinguir os aventureiros inflados pelos minutos de fama na mídia dos pesquisadores interessados na saúde mental da nossa população. Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira Coordenador do Departamento de Dependência Química da ABP |
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Em defesa da “Revisão Científica: Maconha e Saúde Mental”
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