Psicodélico: A Serpente Cósmica.

sábado, 26 de maio de 2007

A Serpente Cósmica.


DNA E AS ORIGENS DA SABEDORIA
Jeremy Narby
Jeremy Narby nasceu na Suíça e cresceu na sua terra natal e no Canadá. Estudou história na Universidade de Canterbury e recebeu o seu Ph.D em antropologia na Universidade de Stanford. Narby conviveu durante dois anos com os índios Ashaninka, na Amazônia Peruana onde estudou os seus métodos de extração dos imensos recursos naturais da Grande Floresta. Atualmente, Narby trabalha, desde o ano de 1989, para a Nouvelle Planète (suíça) uma organização sem fins lucrativos.
A Televisão da Floresta
Aos vinte e cinco anos, Jeremy Narby internou-se na Amazônia Peruana para conviver (e estudar) com a tribo Ashaninka. O trabalho do antropólogo na região seria o de obter informações necessárias para o seu doutorado em Antropologia: ouvir as estórias contadas pelos índios, o que pensavam, como viviam, suas crenças, alimentação, enfim, como se mostrava o cotidiano das suas vidas e, o mais importante, de onde retiravam a sua vasta SABEDORIA tendo em vista o aproveitamento que faziam dos recursos naturais da floresta no sentido de curas miraculosas e da sua farmacopéia sofisticada, ímpar.
Havia uma outra premissa importante envolvida no assunto: a "Pichis-Palcazu Special Project" desembolsara 86 milhões de dólares para o desenvolvimento da região. A tribo, desapontada e frustrada, não fora capaz de colocar os seus produtos no mercado, não sabiam como realizar este feito. Queriam, apenas, manter os filhos em escolas, conseguir mesa farta e boa moradia. Desejavam quantia que lhes possibilitasse um padrão de vida decente e digno de todo o ser humano. Seus luxos? Uma lanterna, alguns instrumentos de trabalho mais eficientes, um rádio, coisas assim.
Em troca, eles podiam compartilhar, com o projeto, a sua SABEDORIA de cotação inestimável em termos financeiros.
Quando Narby chegou no local, perguntou a um índio onde estava a FONTE DA SABEDORIA, do conhecimento perfeito da potencialidade da selva amazônica. Recebeu uma resposta sucinta: "No uso, pelos shamans, do ayahuasca". Jeremy Narby achou que o índio estava brincando com ele.
Com o passar do tempo e já entrosado na cultura local, o antropólogo soube o que significava o mundo reservado aos shamans, os que obtinham a SABEDORIA através dos poderosos alucinógenos, o "Ayahuasca" e o "Tabaco".
Os shamans seguiam um modo de vida espartano e eram conhecidos como "ayahuasqueros" ou "tabaqueros" e quando faziam uso dos dois alucinógenos, o ayahuasca e o tabaco - "ayahuasqueros-tabaqueros".A sua alimentação diária, praticamente, reduzia-se à ingestão de bananas e peixes, particularmente ricos em serotonina, outra prova do conhecimento que haviam adquirido algures.
Ruperto Gómez foi o índio que, primeiramente, iniciou Jeremy Narby nos segredos da Amazônia e lhe forneceu os controles da "Televisão da Floresta".
O antropólogo lera Carlos Castañeda e na sua mente fazia a idéia de um "shaman", como semelhante ao velho índio Don Juan, o instrutor de Castañeda. Ruperto Gómez, de maneira alguma, realizava a figura tradicional de um velho índio sábio!
Entretanto, ao ser interrogado por Narby - Como aprenderam tudo isto? - Ruperto Gómez respondeu com inteira segurança: "Você sabe, mano Jeremy, para compreender o que lhe interessa terá que beber o ayahuasca... alguns dizem que ele é o oculto, uma verdade, mas ele não é maligno. Na realidade o ayahuasca é a "Televisão da Floresta".
A Experiência
Ruperto Gómez advertiu Jeremy Narby: - "Voltarei no sábado, um dia antes se prepare, não coma sal e nem gordura, apenas um pedacinho de mandioca fervida ou grelhada". -
Narby, cético, não cumpriu com as determinações por não ter acreditado nelas. Achava tudo aquilo uma superstição, portanto, ingeriu carne de veado defumada com mandioca frita, no dia em que deveria quase jejuar.
Na hora aprazada, juntamente com mais quatro pessoas, Narby sentou-se para vivenciar a sua primeira experiência com o Ayahuasca e para assistir a "Televisão da Floresta".
Ruperto achegou-se e acendeu um cigarro enrolado num papel - "isto é toe" - e passou o "toe" para todos os participantes. O simplório "toe" se constituía numa espécie de "datura", se Narby o soubesse, disse ele depois, jamais teria inalado aquela fumaça considerada pelos "civilizados" como altamente tóxica. Em seguida, tomou a sua dose de ayahuasca. O antropólogo comparou o seu sabor ao da "grape-fruit", contrastando com a doçura da fumaça do "toe". Ruperto começou a entoar uma canção fascinante que entonteceu a mente de Jeremy Narby.
A "Televisão" iniciou o seu programa com um kaleidoscópio, mas os artistas principais, no entremeio das imagens de um roedor e de uma mulher, figura erótica possuidora de vinte seios e mais outras figurações, foram duas serpentes lindíssimas, brilhantes, cintilantes e multicoloridas. Bem cedo elas foram substituídas por duas "boa-constrictor" enormes, que aterrorizaram o antropólogo, pelo seu gigantismo, envoltas pelo seu mundo de sonhos, um mundo espetacular e muito brilhante.
As duas serpentes iniciaram um diálogo mental com Jeremy Narby. Elas lhe explicaram que ele era "apenas um ser humano". Neste instante, a mente do antropólogo "quebrou-se" e Narby pode apreciar a sua arrogância por possuir este status: o de ser um ser humano. Realizou que esta arrogância o impedia de conhecer a verdadeira REALIDADE. Jeremy Narby, intimamente, tinha a sensação de estar chorando com a extensão destas revelações e deu-se conta de que a sua autopiedade era uma das armas blandidas pela sua arrogância. Foi hora de sentir vergonha, uma vergonha como jamais sentira em toda a sua vida. Pela segunda vez, sentiu-se enjoado e foi obrigado a vomitar. Mas as grandes serpentes esperaram que ele pagasse pelo seu pecado de "gula" e desobediência às ordens de Ruperto Gómez. Na sua volta, Narby lhes pediu um sincero perdão pela sua arrogância e autopiedade.
Nas suas anotações posteriores, o antropólogo confessou que jamais se sentiu tão humilde e que as suas palavras escritas não correspondiam à grandiosidade daqueles instantes, mesmo vividos entre acessos de vômitos. (Kamarampi, de kamarak - vomitar, um dos apelidos do ayahuasca).As últimas palavras das duas serpentes foram: - "Pobre ser humano, sentindo que perdeu a fala e com piedade de si mesmo!"
Narby podia enxergar todas as coisas coloridas de vermelho, inclusive, todo o interior do seu corpo. Quando vomitava expelia cores e eletricidade na cor vermelho sangue. No seu lado esquerdo viu surgir uma sombra escura e do seu lado direito uma luz. E foi a Luz que passou a comanda-lo as palavras pareciam vir "de fora" dele - "Pare de vomitar, agora é hora de cuspir, de respirar pelo nariz, de bochechar com água, mas não bebê-la". Narby sentia uma sede atroz, mas o seu corpo o proibia de beber água... Uma mulher ashaninka, vestida a caráter, levitava diante dele... - "Estás mareado?" - ouviu Ruperto Gómez perguntando e - "Eles lhe disseram o que fazer?"E neste instante, Ruperto o contemplou com outra bela canção, cheia de zumbidos e staccatos. A música lhe deu asas para VOAR, VOAR além do planeta, percorrer o universo... e aterrissar suavemente quando parou. Algumas idéias exóticas, já embaçadas, ainda o perseguiam.
Ruperto reiniciou a sua canção e a "Televisão da Floresta" mostrou um sugestivo programa: uma folha verde e os seus veios... seguida pela mão humana e suas veias... e após esta mensagem, apagou-se.
* Ilustração: Claudio Salvio.

Um comentário:

siusi disse...

SERPENTES Q CONVERSAM EXPLICANDO JA ME APARECERAM EM MEDITAÇÃO.( sem ayuasca, so no pensamento mesmo).