Psicodélico: O Fim Da Guerra - A Maconha E A Criação De Um Novo Sistema Para Lidar Com As Drogas

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O Fim Da Guerra - A Maconha E A Criação De Um Novo Sistema Para Lidar Com As Drogas

RECOMENDAÇÃO :

A maconha não deveria ser um assunto evitado pelas pessoas, nem constrangedor quando vem à tona, a maioria o guarda sob a forma de preconceito sem ao menos se questionar, e escutar a verdadeira história que está por trás dessa política anti-drogas. O livro "O Fim da Guerra" é uma ótima introdução para se obter conhecimento juntamente com conscientização. Uma coisa é certa, o sistema é tão repressor que quando uma opinião é exposta, é dada como apologia. No mundo todo, assim como no Brasil, há políticos mais interessados em assustar as pessoas para ganhar votos do que em zelar pelo interesse público. Por isso, no geral, os governos evitam lidar com o tema das drogas, com medo de uma reação negativa do eleitorado. Aqui vai uma grande quantidade de informação que todos deveriam ter. Até porque se quiseres que algo mude, não espere dos políticos, o poder nas mãos do povo, com mobilização em qualquer aspecto, move montanhas, sim! Mas para isso é preciso ter a informação correta. É preciso saber o que há por trás do pano.
O jornalista Denis Russo Burgierman apresenta dados atualizados e novas teorias econômicas que demonstram para além de qualquer dúvida o fracasso de nosso atual sistema. Mas o livro não é apenas o relato de um problema. Seu objetivo central é apontar soluções. A guerra contra as drogas foi uma invenção dos políticos para ganhar votos a custa do medo que as pessoas justificadamente tem das drogas. O problema é que a repressão ultra-radical simplesmente não funciona. Quanto mais dura a proibição, mais gente usa drogas e mais perigosas elas ficam. Existem 210 milhões de usuários de drogas ilícitas. Destes, 80%, 165 milhões, seriam usuários de maconha. Com a sua regulamentação, sobrariam apenas os outros 45 milhões usuários de drogas pesadas, dos quais 10 milhões são considerados usuários problemáticos. Segundo Burgierman, há sistemas simples e complexos, e nesse quesito é indo devagar que se consegue as coisas, diferentemente do que acontece, que sempre é por meio de violência e humilhação, são pessoas desqualificadas que não sabem lidar com usuários, que na verdade precisam de ajuda, prendê-los não vai melhorar nada. Também não adianta encher as cadeias com pequenos traficantes, pois logo essa pessoa é substituída por outra e por outra. É um ciclo do qual nunca termina e é óbvio que não funciona. A proibição enriquece cada vez mais traficantes, o primeiro passo seria transferir o comando do sistema legislativo para o de saúde, primando pelas pessoas, tratando-as como seres humanos. Um exemplo disso é Portugal, que juntou uma comissão multidisciplinar de especialistas para estudar o assunto, coletar iniciativas bem sucedidas mundo afora e propôr um sistema que funcionasse melhor. Em 2001, a proposta dos especialistas foi implantada na íntegra pelo governo, que descriminalizou o uso de drogas, transferiu o comando do sistema da justiça para a saúde e passou a focar sobretudo no cuidado à população, reduzindo os investimentos em repressão. Os resultados desse novo sistema em Portugal é inquestionável e inteligente. Um dado interessante: o Brasil é o país do mundo que mais constrói prisões. As igrejas que tratam dependentes também estão indo bem: o governo brasileiro, por não ter estruturado seu sistema de saúde pública para atender dependentes de maneira adequada, entrega montanhas de dinheiro a instituições que trabalham sem metodologia científica nem acompanhamento dos resultados. Não surpreende que os políticos, cujas campanhas frequentemente são financiadas por construtoras e igrejas, demonstrem tamanha falta de motivação para lidar seriamente com o problema. Estruturar o sistema de saúde, racionalizar investimentos, criar leis justas. É o passo para a mudança acontecer, mas parece que o Brasil só gosta de desperdiçar o dinheiro público. 

Vejamos os países e suas políticas que deram certo:

*Holanda: O uso pessoal da maconha é permitido, e para isso existem os Coffeeshops, onde você pode comprar, utilizá-la no local, ou levá-la para casa, é permitido apenas para maiores de idade e em uma quantidade especifica, evitando assim o tráfico ilegal, comprar fora desses lugares, é proibido. Nesses Coffeeshops há cardápios com os tipos das ervas, juntamente com a descrição dos efeitos. Em um país rico e desenvolvido como a Holanda não fica complicado utilizar uma lei assim.

*Califórnia: A maconha medicinal foi legalizada em 1996, uma indústria inteira floresceu em torno da marijuana. Lá os pacientes podem cultivar, possuir e usar maconha com propósitos medicinais - depois de uma recomendação médica. O paciente  pode cultivar até seis plantas e ter a posse de não mais do que 14 gramas de maconha.
*Espanha: É um ciclo fechado. São clubes que dão a oportunidade às pessoas de não irem para o mercado ilegal. Para ter acesso é preciso ser convidado por outro membro. Os próprios associados financiam o local.
*Portugal: Lá o assunto está nas mãos da saúde, dando prioridade para os dependentes. Em 2001 o governo português resolveu descriminalizar todos os tipos de drogas. A aquisição, posse e consumo de qualquer droga estão fora da moldura criminal. Mas continua sendo proibido, e se for pego, a droga é confiscada e dependendo do caso, é uma multa, ou um encaminhamento para tratamento, com esse olhar mais humano, as pessoas perderam a vergonha de procurar ajuda. Os recursos que antes eram gastos na criminalização, nesse sistema é canalizado para os tratamentos.
*Marrocos: O capítulo sobre Marrocos é sobretudo lindo. A Cannabis é vista sob o aspecto cultural, ou seja, é apenas uma planta. A guerra contra as drogas está apenas começando por lá. A tradição tem dado lugar ao tráfico de haxixe internacional.
 A erva é responsável por quase metade da renda gerada para o tráfico; uma vez que a maconha é a droga ilícita mais utilizada no mundo. Para o traficante, é mais interessante a venda de drogas com maior grau de vício, o que motiva-o a oferecer drogas pesadas a usuários de maconha; fazendo com que erroneamente, leve a fama de porta de entrada. Saber diferenciar drogas pesadas das leves é outro passo para a desmitificação em torno da maconha.
É comprovado o seu poder medicinal. Pessoas tratadas com quimioterapia muitas vezes têm enjoos terríveis. Há medicamentos para reduzir esse enjoo e eles são eficientes. No entanto, alguns pacientes não respondem a nenhum remédio e aí é que entra a maconha. Ela dá fome, causa alívio nas dores, e permite um sono mais tranquilo. Privar uma pessoa de um remédio natural é ridículo, claro que ela por si só não é a salvação, mas ajuda e muito no tratamento.
O importante é tirar o mito dentro da cabeça das pessoas sobre a maconha. É criar um sistema que dê apoio aos usuários, afinal violência é respondida por violência, repressão com ódio, e o proibicionismo só atiça mais os traficantes. Cada vez mais pessoas se viciam em drogas pesadas, perdendo tudo, família, emprego, saúde, enfim, ficam à margem da sociedade, esta da qual  finge não ver o caos. É preciso que esses políticos tenham coragem de fazer leis eficazes, e que haja pessoas qualificadas para lidarem com o assunto, não policiais que recebem ordens para humilhar, torturar e prender. É necessário separar a maconha dessas outras drogas, é preciso aceitar seu poder medicinal. Tem que haver mudanças, seja legalizando, descriminando parcialmente, dando liberdade das pessoas plantarem algumas mudas, ou estipular uma quantidade por pessoa, capitalizando, ou regulamentando, alguma alternativa tem que ser analisada de fato e não ficar só na teoria. O sistema é falho, burro e fica girando em círculos.

Um dos grandes problemas também é a lavagem cerebral que a mídia exerce sobre a massa, as mentiras e bobagens que contam, colocando medo nas pessoas. O conhecimento, a informação é a chave para quebrar muitos mitos criados. É necessário questionar, procurar saber o que os poderosos, os políticos estão fazendo. A ignorância só atrasa e estagna o ser humano.

Outro aspecto é a propaganda da bebida alcoólica totalmente prejudicial à saúde e aos riscos no trânsito por dirigir bêbado, veja a fórmula utilizada por esses comerciais, associando sempre a figura do jovem a bebida  e assim, a diversão. Cada vez mais, a indústria do álcool utiliza-se da associação de seus produtos com eventos esportivos, musicais e culturais, entre outros, para apresentar as bebidas alcoólicas como uma parte normal e integral das vidas e da cultura dos jovens. É muita insensatez que se veicule comerciais deste tipo, e achar a coisa mais normal do mundo. 

Há uma luz no fim do túnel, já vemos uma parte da mudança nas pessoas, mas ainda vivemos sob a sombra de um tabu, em um país dito liberal, mas que na verdade é conservador e disfarça seu preconceito.

"O fim da Guerra" é um livro altamente recomendado. Abra seus olhos, abra sua mente, manifeste a sua opinião diante a sociedade, não se encolha, a democracia existe para que pensamentos sejam expostos e analisados, a mobilização, a voz, faz a diferença.

"Insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente e esperar resultados diferentes."
(Albert Einstein)

2 comentários:

Pedro Alcantara disse...

Muito bem escrito e colocado o assunto em questão.Parabéns

Pedro Alcantara disse...

Muito bem escrito e colocado o assunto em questão.Parabéns