Psicodélico: A raiz racista da proibição da maconha no Brasil

sábado, 9 de fevereiro de 2013

A raiz racista da proibição da maconha no Brasil




Por trás das leis que criminalizaram a maconha é possível encontrar uma verdadeira overdose de fundamentos racistas e carentes de fundamentação científica. Mas é importante lembrar que a cultura da maconha não foi introduzida no Brasil apenas pelos negros. De acordo com o historiador Henrique Carneiro, as embarcações que chegaram com Pedro Álvares Cabral ao Brasil em 1500 transportavam aproximadmente 800 toneladas de cânhamo, que na época era usado para fabricação de produtos através da sua resistente e sustentável fibra.

Só que a cultura da cannabis não se limitou apenas ao potencial econômico e consegue de fato permear a cultura popular. Os primeiros escravos das etnias quicongo e quimbundo trouxeram as sementes de maconha escondidas na roupa. Na cultura desses grupos a maconha era utilizada em períodos de lazer e durante alguns rituais religiosos.

Apesar do longo período de escravidão, o uso da maconha manteve-se vivo dentro da cultura negra. Mas é após a libertação dos escravos (1888) que a perseguição aos consumidores de maconha - quase todos negros - ganha força.

”Os primeiros documentos do Estado que proibiam o uso da maconha no Brasil saíram das Câmaras Municipais do Rio de Janeiro, em 1830, de Santos, em 1870, e em Campinas, no ano de 1876. A lei penalizava a venda e o uso da droga e eram curiosamente inversas as atuais, prevendo punições mais severas para quem consumisse a erva do que para quem a traficasse. Naquela época, quem usava majoritariamente a maconha com fins recreativos eram os negros”, afirmou Henrique Carneiro.

No ínicio do século 20 o governo buscou formas de evitar que a cultura negra ganhasse espaço nos centros urbanos. Para fundamentar a proibição da maconha, cientistas teriam manipulado dados para provar que ela era responsável por características como preguiça, intolerância, agressividade e a revolta.

Em 1924, o Brasil participou de um congresso internacional em defesa da proibição e se tornou um dos primeiros países do mundo a criminalizar a maconha. O primeiro órgão que reprimiu o consumo de maconha foi a Delegacia de Tóxicos e Mistificações, no Rio de Janeiro. Este órgão também era responsável por reprimir outras práticas da cultura negra - como a umbanda e a capoeira - que estariam "poluindo" a cultura branca brasileira.

No governo Vargas os usuários da maconha passaram a ser consideros doentes e internados em manicômios judiciários. Ao mesmo tempo, a repressão buscava erradicar o cultivo da planta em todo terrítório brasileiro.

Na década de 60 a maconha já não era apenas um elemento da cultura negra. A erva se popularizou entre as classe médias e altas e principalmente no meio artístico. Neste período da história o comércio de maconha já ganhava força na mão de traficantes. Com a forte repressão ao cultivo no Brasil, a produção no Paraguai para abastecer o mercado brasileiro no Sul e no Sudeste começou a ganhar força. O resultado de tamanha repressão não é mistério para ninguém e é visto até hoje.

2 comentários:

Heitor Cavalcanti disse...

Muito bom, mas cadê as referências bibliográficas?

Heitor Cavalcanti disse...

Muito bom, mas cadê as referências bibliográficas?