Psicodélico: Drogas e Darma no século XXI

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Drogas e Darma no século XXI


Duas grandes direções do pensamento e ação estão tomando foco mais preciso. O interesse no Budismo não foi tão grande desde que foi introduzido na China, de onde seguiu crescendo firme por 500 anos; e o uso sério e profundo dos psicodélicos está ressurgindo, talvez mais profundamente que nos anos 60.

O budismo e os psicodélicos compartilham o interesse no mesmo problema: atingir a libertação da mente. A palavra psicodélico foi usada pela primeira vez pelo psiquiatra britânico Humprey Osmond, em carta ao filósofo Aldous Huxley em 1957. Pegando a raiz grega psykhe, ou “mente” e adicionando delos, “tornar visível ou clarear”, psicodélico se tornou “que manifesta a mente”. O processo é completo pela purificação da mente – a essência do caminho do Buda.



Recentemente, Ram Dass e Ralph Metzner lançaram um livro sobre o nascimento da cultura psicodélica. Não há dúvidas que o Budismo, e a visão de mundo que faz a compreensão deste caminho possível, contribuiu de maneira fundamental para as condições de tal nascimento. A maioria dos professores e pesquisadores que se tornou bem conhecida no movimento psicodélico também têm experiência nas práticas e filosofias budistas. Enquanto isso, os psicodélicos se misturam com a história pessoal de quase todos os professores de Budismo na primeira geração da América e Europa, apesar de hoje encontrarmos muitos advertendo contra o caminho que eles mesmos trilharam. Poucos budistas admitem que o uso de psicodélicos é um caminho por si só – alguns argumentam que é uma porta legítima enquanto outros sentem que budismo e psicodélicos não se misturam de maneira alguma.

Assim como o Budismo tem de ser testado com experiência pessoal, assim também é a questão de como, ou se, os psicodélicos podem ser parte da prática do Darma. Os psicodélicos podem ser usados em uma grande variedade de maneiras e para uma quantidade enorme de finalidades. Os resultados dependem enormemente da experiência, intenções, conhecimento, habilidade e maturidade espiritual do praticante. A avaliação crítica e análise, e a liberdade de fazer estas descobertas por si mesmo são parte essencial da fundação do Budismo e é encontrado já no Kalama Sutra, onde o Buda avisava as pessoas para praticarem por si mesmas e não a aceitarem suas palavras sobre os benefícios como verdadeiras. O historiador da religião Huston Smith também avisou: o uso de psicodélicos é sobre estados alterados, Budismo é sobre comportamento alterado, e um não necessariamente leva ao outro.

Alan Watts, um dos primeiros ocidentais a seguirem o caminho budista, considerou o Budismo e os psicodélicos como parte da mesma jornada filosófica individual. Ele não estava interessado no budismo ser estudado e definido de maneira que devesse se evitar misturar o budismo com outros interesses, como a teoria quântica, psicologia Gestalt ou psicodélicos. Qualquer investigação sobre o potencial humano irá explorar as diferentes visões da intersecção do budismo com os psicodélicos.

A realização de que há relações entre objetos separados e opostos é um dos ensinamentos chave que os insights dos psicodélicos trazem com frequência. Talvez a popularização do Zen e dos psicodélicos tenha mudado o inconsciente coletivo de uma visão de mundo dominantemente conceitual e linear para um modo de percepção mais ecológico e holístico. Mesmo que nós continuemos a pensar de maneira linear, a percepção de que este é um modo de consciência relativo está crescendo, de que é uma criação humana, e não um reflexo da “realidade objetiva”. Este jeito de ver o mundo não requer, necessariamente, a experiência com psicodélicos. É, na verdade, uma das premissas centrais do Zen e nos trás próximos de uma perspectiva que pode igualmente ser chamada “dármica” ou “psicodélica”.

Deixando de lado os bem fundados argumentos pró e contra o uso de psicodélicos, há uma resposta budista à longa, entrincheirada, contínua e devastante guerra as drogas: mais compaixão. Leis draconianas encarceram milhões de pessoas que se não fosse por isso seriam perfeitamente não-criminosas em uma espiral sempre descendente de estratégias contraproducentes cuja fundação é a punição. O resultado é a prisão de uma parcela tão grande da população que praticamente uma em cada quatro pessoas atrás das grades no mundo vive nos EUA. Neste exato momento, as prisões norte-americanas encarceram dezenas de milhares de pessoas – sendo a grande maioria negros – cujo único crime é a posse da planta maconha. Prisões se tornaram escolas de crime avançado, drogas estão a disposição de qualquer um, desde crianças em idade escolar, o crime organizado tem mais verbas e é mais esperto que a polícia e ninguém se sente mais seguro.

A guerra as drogas leva ao cinismo, apatia e, claro, danifica milhares de vidas. Os lucros do comércio ilegal abastecem os cartéis do crime organizado e os fortalecem para corromper policiais, juízes e oficiais de governo. As novas casualidades na fracassada guerra as drogas são nossas liberdades individuais. Uma sociedade que ativamente bane a exploração pessoal com todas as plantas psicodélicas necessitará monitorar seus cidadãos bem de perto. Todas as nossas comunicações, transações e expressões estão sob vigilância cada vez maior, com aumento da burocracia de controle e repressão. Nada disso é conducivo à livre contemplação pacífica de nossas liberdades individuais e de nossas realizações pessoais. Na verdade, esta deixa de ser uma guerra as drogas e se torna uma guerra contra a consciência, guerra contra o livre exercício daquele que é o maior bem dado a um ser humano.

A história da humanidade pode ser vista como uma série de relações com plantas, relações estabelecidas e rompidas. Plantas, drogas, política e religiões se entrelaçaram – desde a influência do açúcar no mercantilismo até a influência do café no moderno escritório, dos britânicos forçando o ópio nos chineses taoístas aos críveis relatórios de que a CIA usou heroína nos guetos para sufocar e calar dissidências e insatisfação. As lições a serem aprendidas podem ser trazidas a consciência, integradas na política social e usadas para criar um mundo mais compassivo, ou podem ser negadas com os resultados já em plena vista.

A capacidade aumentada para extraordinários experimentos cognitivos possibilitada pelos psicodélicos pode ser parte tão importante de ser humano como é nossa espiritualidade ou sexualidade. A questão é quão rápido podemos evoluir para uma cultura madura que seja capaz de lidar com estas questões abertamente. No passado, conhecimento sobre a parte profunda, “oculta” de nossos seres espirituais era considerado questão privada de xamãs, padres ou líderes espirituais que haviam recebido esta incumbência. A experiência religiosa era mediada pela minoria autorizada, e esta é uma tradição que ainda nos acompanha na forma, senão na atitude, de muitas religiões. Entretanto, a democratização dos psicodélicos e do budismo de maneira similar, tem muito a ver com a quebra deste acesso restrito ao divino. No budismo, assim como na psicodelia, o indivíduo toma responsabilidade por suas relações com o a fonte de seu ser e pelo acesso a estados sublimes de mente e espírito.

Publicado originalmente em inglês no blog de Allan Badiner.
Extraído do Blog : http://plantandoconsciencia.wordpress.com/

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