De acordo com Stefan Kertesz, professor de medicina preventiva do Centro de Pesquisas Médicas da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, o interesse em comparar os efeitos da Maconha e do tabaco nos pulmões vem do fato de que a cannabis é a principal droga ilícita consumida no mundo. “Não podemos fechar os olhos para isso”, afirma. Além disso, ele recorda que o uso medicinal da erva é autorizado em alguns estados americanos e está previsto na legislação de países como Holanda, França, Reino Unido e Austrália. “Nesses casos, a droga é usada para aliviar sintomas como a dor, mas existe, na classe médica, a preocupação de que a maconha possa trazer danos pulmonares, como câncer e doença obstrutiva crônica, fazendo com que o benefício medicinal seja menor que o prejuízo”, explica.
Os autores da pesquisa se basearam em um estudo epidemiológico americano chamado The coronary artery risk development in young adults (Cardia), que mede os riscos de desenvolvimento de doença coronariana em jovens adultos e traz dados sobre o consumo de maconha e tabaco, além de ocorrências de problemas na função pulmonar. Eles analisaram dados de mais de 5 mil pessoas que tinham entre 18 e 30 anos no início do estudo, em março de 1985, e foram acompanhadas por duas décadas, até outubro de 2006. Ao longo desse tempo, elas foram submetidas a exames espirométricos, que medem a quantidade de ar que entra e sai dos pulmões.
“O tabaco e a maconha têm em sua constituição substâncias muito parecidas, mas descobrimos que as ações sobre as funções pulmonares são bastante diferentes”, diz Kertesz. “Estudos prévios já sugeriam isso, mas o nosso foi feito em cima de uma amostra considerável de indivíduos: mais de 5 mil pessoas das etnias branca e negra, sem problemas respiratórios prévios. Essas pessoas foram acompanhadas pelo Estado e fizeram pelo menos cinco exames ao longo de duas décadas”, lembra. “Esse não é o primeiro estudo sobre o assunto, mas, pelo tamanho e pela duração, acredito que conseguimos chegar a uma resposta definitiva”, afirma Mark J. Plethcer, do Departamento de Epidemiologia e Bioestatísticas da Universidade da Califórnia.
O médico Feng Lin, pesquisador da Universidade de Chicago e um dos coautores do estudo, esclarece que, por comprometimento da função pulmonar, entende-se câncer, doença obstrutiva crônica e problemas respiratórios, como asma. “É importante ressaltar que, quanto à mucosa, as substâncias tóxicas da maconha, quando inaladas, também trazem danos, semelhantes aos sofridos por consumidores de tabaco, como tosse, inflamações (sinusite, por exemplo) e espirros”, afirma.
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