Psicodélico: “Por que ainda não vimos uma imagem completa da mente?”

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

“Por que ainda não vimos uma imagem completa da mente?”

por James Fadiman. Publicado originalmente em 10/02/10, no dharma cafe.
Tradução de Plantando Consciência

Se o recente sucesso da comédia familiar “Simplesmente Complicado* e a sucessão de iniciativas legalizantes acontecendo na Califórnia servem como algum indício, a maconha finalmente alcançou respeitabilidade em larga escala. Mais marcante ainda, apesar da atmosfera repressiva ter resistido e sufocado a primeira década do nosso admirável século novo, a pesquisa com psicodélicos nos EUA entrou em sua era de ouro.
James Fadiman, talvez a maior e mais respeitada autoridade americana sobre psicodélicos e seus usos, nos dá um valioso panorama.

As substâncias químicas da transformação e da revelação que abrem os circuitos de luz, visão e comunicação, chamadas por nós de manifestadoras da mente, são conhecidas de povos indígenas como medicinas: os meios dados ao homem para conhecer e curar, para ver e dizer a verdade.
- Henry Munn

Para os envolvidos com psicodélicos esta é uma época de mudanças inesperadas, um momento para celebrar, mas com cautela. Após décadas de inverno, o gelo está derretendo. O aquecimento rumo à legalização, uso religioso, médico e psicoterapêutico, a exploração cientifica e a aceitação cultural são encorajadores.
Após tantos anos, por que agora? Talvez porque a geração que suprimiu a pesquisa, criminalizou o uso pessoal e encarcerou usuários esteja saindo do poder. Esta próxima geração é melhor preparada para admitir a ineficácia da opressão criminalizante e considerar suavizá-la. É muito mais fácil para aqueles que nunca votaram pelas leis atuais reconhecer que algumas, aprovadas com pressa ou ignorância, são contraproducentes e inviáveis.
Enquanto a agenda de pesquisa da comunidade científica focou na restauração do uso terapêutico, as mudanças mais dramáticas foram no campo do status legal do uso pessoal privado. As nações parecem estar sacudindo a poeira do medo induzido pelos excessos dos anos 60. A resposta fóbica do governo norte-americano e a pressão dos EUA sobre outros estados parecem estar seguindo estes rumos. Como flores selvagens brotando de rachaduras no concreto, mais países estão definindo suas próprias políticas.


A Holanda permite a muito tempo a obtenção fácil e o uso de alguns psicodélicos, mas parou antes da formalização jurídica. Portugal legalizou todas as drogas em 2001 e deixou explícito que o tratamento estaria disponível para qualquer usuário que necessitasse. Os “do contra” insistiram ansiosamente que isto teria consequências terríveis, mas os resultados foram totalmente benéficos: menos vício, menos problemas sociais, menos crime, menos uso, mais unidades de tratamento e economias gigantescas em policiamento e cadeias.
O México legalizou, em 2009, pequenas quantidades de todas as drogas previamente ilegais. Isto foi feito, em parte, para liberar recursos para tentar eliminar os grandes cartéis de traficantes. Como as drogas ilegais, incluindo cocaína, heroína e seus derivados são primariamente fabricados para o mercado norte-americano, o foco agora é minimizar as atividades na fronteira. A República Tcheca relaxou as penalidades para posse de pequenas quantidades de substâncias manufaturadas como MDMA (ecstasy, N.T.). A base para estas reformas é o reconhecimento das seguintes realidades:

1. Psicodélicos não causam vício. Nunca causaram.

2. A maconha, diferentemente do tabaco e do álcool, não causa síndromes médicas sistêmicas. Apenas nos EUA, o tabaco – legalizado, viciante e regulado – diretamente contribui para a morte de 400 mil pessoas por ano. A maconha – ilegal, não viciante e não regulada – (e talvez utilizada por mais pessoas que o tabaco) não mata ninguém

3. Drogas ilegais são ímãs da violência. Foi verdade quando os EUA proibiram o álcool; é igualmente verídico para qualquer outra substância desejada e proibida. Se são removidas as penas para substâncias benignas, ou ao menos não-viciantes, o uso pessoal na verdade diminui – pelo menos na Holanda e em Portugal, os únicos dois países para os quais temos dados reais. A outra estatística que temos é que nos estados norte-americanos que regulamentaram a maconha medicinal não houve aumento no consumo de maconha para outros fins, apesar das previsões anteriores feitas por pessoas contrárias a esta nova legislação.

Um segundo grupo de países não mudou suas leis, mas seus sistemas jurídicos alegam que a constituição afirma o direito de realizar atividades privadas de alteração da consciência. No Brasil e na Argentina concluiu-se que é ilegal negar a pessoas o direito ao uso pessoal de qualquer substância, desde que isso não leve a comportamento criminal ou socialmente inaceitável.
O terceiro grupo de países, ainda inseguros sobre qual direção seguir, inclui os EUA. Nos EUA, políticas que agruparam maconha, psicodélicos e drogas viciantes levaram a um aumento da população carcerária, a proliferação de atividades criminais internacionais altamente lucrativas, distorções econômicas nos países que produzem as drogas ilegais para consumo nos EUA e um crescente desrespeito ao governo que não consegue resolver a situação. O efeito colateral é que estas políticas custam bilhões de dólares anuais.
Apesar da relutância de Washington em mudar, alguns estados usaram sua liberdade para permitir que pessoas usem maconha como medicamento. Até a administração Obama, o governo federal fez o seu melhor para romper com estas legislações e manter todos os usuários criminalizados. Uma indicação do quanto há de demanda por maconha medicinal surgiu em LA poucas semanas após a decisão de permitir tal uso, com a abertura de 800 lojas, deixando para trás o número de bancos ou escolas públicas na cidade.

A tendência para legalização está acelerando conforme fica mais e mais óbvio que uso de maconha não leva a comportamentos violentos ou criminais. O fato de que os últimos três presidentes fumaram maconha em algum momento de suas vidas não foi esquecido por reformistas ou pelo público em geral. A maconha não é um psicodélico, mas é uma substância alteradora de consciência usada tradicionalmente para fins espirituais e terapêuticos. Conforme seu status muda, fará com que plantas e substâncias alteradoras de consiência com maior potência sejam menos demonizadas.
Vários estados, com destaque para a Califórnia, mas também Nevada, Washington e Flórida, estão tentando iniciar suas ações para descriminalizar ou legalizar a maconha. Na Califórnia, o principal argumento é que sobre a produção, apesar de ser uma das maiores indústrias do estado, não incidem impostos e que sua interdição é cara e mal-sucedida. A idéia é transformar um ralo de dinheiro desperdiçado em fonte de renda para o estado. A proposta da Califórnia, que já têm o número necessário de assinaturas para ir para votação, torna a posse de aproximadamente 30 gramas legal; permite cultivo pessoal em jardim de não mais de 2,3m2, proíbe a venda para menores e proíbe fumar em público. As especificidades de regulação e de impostos são deixadas para as autoridades locais.

Soma-se a isto, e agora diretamente relacionado aos psicodélicos e liberdade religiosa, que várias cortes estabeleceram que grupos religiosos usando ayahuasca como seu sacramento central podem praticar sua fé sem medo de serem presos. Estes casos são um primeiro passo para a restauração da liberdade religiosa com uso de psicodélicos em outras situações.

Até o absurdo de proibir o cultivo do cânhamo, como se fosse maconha (comparável a colocar malzbier na mesma categoria da skol) está ganhando um novo olhar. Produtos importados feitos de cânhamo, incluindo aqueles para consumo humano, estão novamente disponíveis; e Washington seguiu o exemplo do Canadá e de dúzias de outros países, permitindo o cultivo, colheita e comércio de cânhamo. Parece haver, se não um fim na falta de bom senso do establishment proibicionista, pelo menos algumas rachaduras.
Tornar a maconha legal e cobrar impostos de seu comércio reduz o orçamento das forças repressivas – e seus poderes. A reação virá do sistema proibicionista-criminalizador-carcerário-policial, instituições cujos lucros ou cuja própria existência depende de repressão e sentenças. Muitos departamentos policiais, por exemplo, que dependem do dinheiro apreendido em operações de tráfico como sua maior fonte de renda, irão lutar contra a legalização que lhes causa perda de renda.
Apenas agora, na fase preliminar da liberalização, estamos começando a ter evidências científicas sobre os psicodélicos disponíveis. Seria inapropriadamente otimista esperar legislações baseadas em evidências em qualquer momento próximo, mas pode-se esperar mais países relaxando suas restrições conforme os benefícios de o fazer se tornem mais aparentes.

Uso Enteogênico
As restrições legais acabam com a pesquisa tradicional, mas pouco fazem para prevenir a contínua proliferação de psicodélicos por meios culturais. É difícil dizer quais das muitas áreas culturais foram mais influenciadas por psicodélicos. Por exemplo, Jack Kornfield, um respeitado estudioso budista, diz: “É verdade que a maioria dos professores budistas americanos tiveram experiências psicodélicas, ou logo depois de começarem suas práticas espirituais ou antes disso.” Este uso, na verdade, não contradiz os preceitos budistas. Minha própria experiência é de que professores em muitas outras áreas espirituais também começaram suas jornadas após importantes experiências psicodélicas.
Um grupo na John Hopkins University está engajado em uma série de estudos para determinar se psicodélicos utilizados de maneira segura e ritualizada leva a maioria das pessoas a experiências espirituais. Não surpreendente, a resposta é sim. Mais importante que a pesquisa em si foi que ela quebrou uma grande barreira: o governo permitiu, pela primeira vez, um estudo científico que fazia perguntas espirituais e não apenas médicas. Também impressionante foi a atenção que a grande mídia deu ao fato. Mais de 300 publicações relataram os resultados após sua publicação em revista científica. Surpreendentemente, um relato positivo apareceu no Wall Street Journal. Mais informativo, olhando para tendências, foi um curto artigo num jornal esportivo escocês: “Cogus te levam as alturas.” Os editores assumiram que seus leitores conheciam a gíria para os cogumelos psicodélicos e que não seria necessário um artigo extenso para dizer aos leitores que a ciência havia descoberto aquilo que eles já sabiam.
Igualmente importante, uma rede de sites agora satisfaz a necessidade de se ter rápido e fácil acesso a informação sobre uso seguro de psicodélicos. O principal é o Erowid, que traz relatórios e informações, artigos técnicos, dicionários moleculares interativos, arte visionária, descrições de perigos e contra-indicações bem como milhares de relatos pessoais sobre o uso de dúzias de substâncias. O site têm média de 50.000 visitas diárias, número que cresce a cada ano desde seu lançamento. Navegar pelo erowid deixa claro que 40 anos de repressão inapropriada dificultaram o uso consciente, mas uma cultura underground está sendo bem sucedida.
Outro fenômeno recente é a crescente popularidade da ayahuasca. Enquanto outros psicodélicos são frequentemente usados com fins recreativos, a ayahuasca é quase sempre utilizada com guias ou xamãs. Nos anos 60, um rito de passagem era visitar a Índia, estudar com um guru e praticar austeridades em um ashram. Os psiconautas contemporâneos partem para a floresta para conhecer e trabalhar com os curandeiros tradicionais e suas plantas medicinais, sendo a principal a ayahuasca. As viagens para a Índia são principalmente sobre realização pessoal, mas a intenção dos que buscam a imersão na floresta sulamericana quase sempre inclui cura pessoal e um imenso interesse em reparar o abismo entre a humanidade e os outros reinos biológicos.


Dois debates continuam, ecos da expansão de consciência dos anos 60. Um é sobre a validade de experiências induzidas por plantas ou substâncias químicas quando comparadas a experiências alcançadas pela meditação, reza, movimento, jejum, etc. Os argumentos se aquecem e esfriam de quando em quando, mas nunca serão finalizados. O outro debate – entre aqueles que tomam psicodélicos sintéticos e aqueles que não – também segue sem esperanças de um lado convencer o outro. Gordon Wasson, que descobriu o uso dos cogumelos psicodélicos para o Novo Mundo, foi entrevistado sobre a diferença entre os cogumelos e a psilocibina posteriormente sintetizada pela farmacêutica Sandoz. Ele disse: “Eu não vi nenhuma diferença. Acho que as pessoas que encontram diferenças estão procurando por uma e então imaginam que a encontraram.” O importante é o efeito que a experiência produz na vida do sujeito e não as sutilezas deste ou daquele produto.

Uso Médico/Psicoterapêutico
O uso médico e psicoterapêutico dos psicodélicos está de volta! Se alguém disse que esta é a época de ouro, seria mais apropriado dizer que está exposta a ponta do iceberg. Uma enorme comunidade de cientistas está animada para recomeçar pesquisas que foram atrasadas por décadas. Conferências científicas honrando o trabalho de Albert Hoffman em sintetizar o LSD e outros psicodélicos levaram mais de 2.000 pessoas de 37 países a Basel, na Suíça, em 2006 e 2008. Duzentos jornalistas de todas as partes do planeta cobriram as apresentações – um memorável momento para uma substância que é mantida ilegal por tantos anos (em abril deste ano acontecerá em São Francisco, Califórnia, o congresso “Ciência Psicodélica no Século XXI“, organizado pela MAPS, consolidando a tendência de reestabelecimento de pesquisas psicodélicas em todo o mundo, N.T.).
Enquanto algumas pesquisas recentes são repetições de trabalhos feitos antes de tudo ser desmantelado, novas áreas de pesquisa revelam como psicodélicos ajudam a aliviar condições médicas que não têm tratamento convencional disponível. É notável que até agora não tenham aparecido oposições para acabar com este trabalho. As reações poderiam ser diferentes se fosse demonstrado que uma dose apropriada de psicodélicos a cada seis semanas tivesse efeito antidepressivo. Neste caso, poderia haver oposição severa da indústria farmacêutica e fornecedores de antidepressivos. Por concentrar-se em uma ou poucas condições severas, os pesquisadores driblam esta possível oposição. De fato, têm recebido apoio dos colegas médicos, como por exemplo no caso das cefalélias em salvas (cluster headaches). Inicialmente comunicadas entre usuários ilegais cujas conversas vieram a público, os efeitos medicinais estão sendo avaliados por um estudo em andamento em Harvard. Resta saber se aquilo que ja está razoavelmente bem descrito na prática consegue ser provado pelos estudos farmacológicos duplo-cego, pelo sistema de publicação com avaliação por pares e, mais importante, finalmente se tornar disponível na prática clínica corriqueira.
Outro estudo promissor está dando psilocibina para pacientes altamente ansiosos, em estágio de câncer terminal. Os resultados mostram que uma única sessão em um ambiente seguro e encorajador, permitindo que o sagrado, caso ocorra, seja vivenciado, beneficia tanto o paciente quanto sua família. Outro tratamento, mais controverso – outrora permitido nos EUA mas agora apenas em outros países – usa a iboga, planta psicodélica Africana, para quebrar o ciclo viciante da heroína. Dados os poucos tratamentos disponíveis e o alto custo do vício, tratado ou não, esta área deveria ganhar mais atenção e apoio no futuro. Na verdade, o tratamento é tão valioso que ex-viciados estão ilegalmente tratando outros viciados sem o apoio médico.
Inexplicavelmente, o que ainda está para retornar é a terapia psicodélica para o alcoolismo, de longe a mais pesquisada, testada e comprovada terapia da era pré-proibicionista. Virtualmente nada tem sido escrito nos anos recentes, nem mesmo nos circuitos alternativos. Permanece um setor largamente ignorado em meio ao que é a atual renascência das pesquisas com psicodélicos.
Vários outros países, incluindo a Alemanha, Suíça e Israel, estão permitindo ou apoiando projetos psicodélicos primariamente envolvidos no uso de MDMA para ajudar pessoas a superar os debilitantes efeitos crônicos do estresse pós traumático. Com centenas de milhares de militares retornando do Iraque e do Afeganistão com esta síndrome, a demanda por tratamento com alto índice de cura está se intensificando. O fato de que veteranos do Vietnam seguem em outros tratamentos até hoje faz com que seja mais provável que o tratamento com MDMA seja oferecido a eles. Talvez, assim como com as cluster headaches, os primeiros relatos serão de veteranos se auto-medicando e ajudando uns aos outros, como já acontece com a maconha. O sistema hospitalar de veteranos está sem fundos, sem equipe e com excesso de pacientes e portanto sem ajuda externa é improvável que consiga estabelecer avanços.
Ainda há, é claro, uso contínuo e extenso de psicodélicos para auto-conhecimento, ilegalmente e sem os guias adequados. Um levantamento entre estudantes encontrou que a razão mais citada para uso de psicodélicos era exploração pessoal, e não uso recreativo ou espiritual. Assim como a aceitação da maconha medicinal aumentou o número de lojas onde pacientes podem comprá-la, se as tendências seguirem podemos esperar o surgimento de clínicas e instituições especializadas no tratamento psicoterapêutico com diferentes tipos de psicodélicos.

Criatividade e solução de problemas
O termo psicodélico já é de conhecimento público para descrever certos tipos de música e arte visual. Não carrega nenhum estigma o artista que declara que psicodélicos influenciaram numa música, pintura ou produção teatral. Seu uso é largamente aceito no mundo técnico mesmo que não haja discussões profundas sobre o tema.
Durante a revolução digital, empresas foram formadas por pessoas que cresceram com psicodélicos facilmente disponíveis. O uso de drogas para eles era casual e frequente. Recentemente dois ganhadores do prêmio Nobel atribuíram aos psicodélicos parte importante de suas descobertas, sugerindo que o uso é bem maior e disseminado na comunidade científica do que é geralmente aceito (Francis Crick e Kerry Mullis, N.T.).
Em paralelo aos milhares que acompanharam as conferências científicas em Basel estão as hordas que se dirigem anualmente ao Boom Festival na Europa e ao Burning Man em Nevada, EUA. Nem todos os 50.000 burners tomaram psicodélicos, mas a vasta maioria sim.


No YouTube, vídeos individuais sobre fatos e conceitos psicodélicos estão sendo acessados por um milhão de usuários. Em 2009, a National Geographic conseguiu vender o espaço publicitário para toda o seu horário nobre na TV sobre “drogas”. A sessão começou com uma hora sobre meta-anfetamina. A segunda hora passeou pelo mundo da maconha, seu plantio, cultivo, venda e uso. A hora final foi sobre o uso contemporâneo de psicodélicos por artistas para melhorar e expandir suas habilidades. Estes programas indicam quão longe estamos da propaganda anti-marijuana “Reefer Madness“, distribuída em 1936 como programa “informativo”.

Conclusões

A tendência geral é de maior abertura e disponibilidade de informações. Guias treinados para sessões espirituais e científicas ainda são raros de se encontrar por aí, mas as forças culturais e mercadológicas favorecem a criação de instituições para esta finalidade.
Este panorama é baseado na esperança otimista de que os usos adequados destas substâncias fenomenais não serão prejudicados por popularização trivial, como ocorreu quando os psicodélicos foram proibidos.

As forças contrárias a aceitação mais generalizada incluem os suspeitos usuais: estupidez, medo, ganância, egoísmo e inércia. Os grupos criminais e as forças repressivas governamentais e carcerárias empregadas para fazer as leis já estão ativas. Na Califórnia, o sindicato de guardas carcerários está entre os grupos que mais doam para campanhas políticas e que sem dúvida não medirão esforços em combater as iniciativas legalizantes. Alguns membros de religiões organizadas sem dúvida estarão entre a oposição. Quase todas as instituições religiosas tem burocracias veladas para dizer que são a única ponte entre a fé e o divino. No passado, a possibilidade de contato espiritual direto fornecido pelos psicodélicos era vista como ameaça a este status quo (ver Xamãs da Amazônia, A Inquisição Farmacrática e Outros Mundos, N.T.). Recentemente, entretanto, a lei norte-americana permitiu que igrejas usem substâncias psicodélicas como o sacramento que realmente são. Resta-nos esperar que uma nova geração de líderes na grande mídia e igrejas se inspire nisso.

Oposição adicional pode vir do sistema financeiro internacional. Se isto soa improvável, é apenas porque a maioria de nós desconhece o valor do comércio ilegal. Um estudo da ONU sobre a recente crise de 2008-2009 concluiu que uma das poucas fontes initerruptas de liquidez foram os lucros de US$232 bilhões (este é de fato o número real!) com a venda de drogas ilegais. A maioria deste lucro vêm de drogas como cocaína e heroína, mas manter as leis confusas serve melhor a estes interesses do que leis voltadas apenas para drogas aditivas.

Por mais favoráveis que estas tendências possam parecer, o que mais importa é como seu entendimento de você mesmo e de seu lugar na ordem natural das coisas foi clareado ou enriquecido pelo uso de psicodélicos. Se os insights resultantes não forem integrados na sua vida, eles podem ser trivializados, ignorados ou patologizados. O teólogo Huston Smith diz que a questão não é se estas substâncias induzem experiências místicas, mas se o seu uso leva a uma vida religiosa. O pesquisador psicodélico e praticante budista Rick Strassman diz: “Experiência espiritual isolada, mesmo repetidamente, não é a base para se tornar uma pessoa melhor. Ao contrário, os insights psicodélicos apropriadamente escalonados e postos em prática com considerações morais e éticas parecem ser o melhor caminho para colher os frutos das drogas psicodélicas.

Em muitas culturas, o explorador psicodélico é chamado para encontrar algo de útil para sua sociedade – descobrir os potenciais terapêuticos de uma planta, trazer de volta uma música de cura ou receitas para as pessoas viverem em harmonia consigo mesmas e com o mundo natural. O fato de que os psicodélicos facilitam tais experiências não diminui a responsabilidade.

A questão colocada pela poeta Mary Oliver, “O que é que você pretende fazer com sua única e preciosa vida?” é o que os psicodélicos nos impelem a levar a sério.

*Nos EUA houve polêmica sobre o filme porque os personagens fumam maconha. Algumas instituições, como a Motion Pictures Association of America (MPAA) criticaram o filme por isso e pelo fato de nada ruim acontecer aos personagens devido a fumarem maconha. A MPAA recebeu muitas críticas por esta posição extremamente conservadora.


Nascido em maio de 1939, James Fadiman se graduou em Relações Sociais pela Harvard University em 1960 e realizou mestrado e doutorado em psicologia na Stanford University, em 62 e 65, respectivamente. Nos últimos 40 anos lecionou uma grande variedade de tópicos, consultas, treinamentos, aconselhamentos, editoriais e exerceu outras funções. Enquanto vivia em Paris durante seus anos de estudante, James Fadiman foi apresentado aos psicodélicos pelo seu supervisor na graduação, Richard Alpert (Ram Dass), que estava a caminho de Copenhague com Tim Leary e Aldous Huxley para a primeira grande apresentação em uma conferência internacional sobre os potenciais positivos dos psicodélicos.

Nenhum comentário: