Psicodélico: Se o uso de drogas e o tráfico de drogas são tão ruins, por que não oferecemos algo melhor à juventude?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Se o uso de drogas e o tráfico de drogas são tão ruins, por que não oferecemos algo melhor à juventude?

*** Revisto e modificado em 11/05/2010 e 28/05/2010. ***

Escolha o que consumir: você prefere comer lixo azedo ou um prato de arroz com feijão? Escolha como quer trabalhar: mergulhado até a cintura numa fossa séptica com risco de explosão ou limpinho e confortável numa sala refrigerada? Se as escolhas são tão óbvias, diga-me por que entre consumir uma substância tóxica que faz mal à saúde e consumir apenas alimentos saudáveis os jovens fazem uso de drogas. É porque são burros? Se as escolhas são tão óbvias, diga-me por que entre correr o risco de levar tiros ou ser preso e procurar um emprego honesto os jovens vendem drogas. É porque são maldosos? Ou será que as escolhas de consumir ou vender drogas não são tão óbvias assim e que na verdade a nossa sociedade é vergonhosamente incapaz de oferecer alternativas melhores para a juventude?

Pelo simples fato de você estar lendo este artigo há uma série de coisas que eu posso dizer a seu respeito. Você sabe ler, ou possui um leitor automático instalado no seu computador. Você tem acesso a um computador ligado à internet. Você tem tempo disponível para navegar pela blogosfera e ler um artigo sobre drogas. E você provavelmente não tem a menor idéia do que é nascer e crescer no ambiente de uma família desestruturada e disfuncional que mora em um barraco em um bairro miserável onde o Estado só se faz presente quando a polícia entra em confronto com alguém.

Dito de outra maneira, você não é um analfabeto miserável que nunca conheceu outra realidade exceto o abandono emocional, o completo descaso de todos com seu bem estar e a dura luta diária pela sobrevivência em meio a uma sociedade que idolatra o consumo e procura de todas as maneiras seduzir as pessoas a comprar os mais diversos bens, mostrando todo dia na TV que você é julgado pelo que tem e não pelo que é.

Eu já fui tão ignorante sobre a questão das drogas quanto qualquer um que nunca tenha vivido ou estudado a fundo a dinâmica social da drogadição e do tráfico, mas passei os últimos dez anos estudando o mundo das drogas para tentar compreender o que leva as pessoas a usar e a vender estas substâncias. O pequeno vislumbre que tive deste mundo nestes dez anos foi suficiente para me convencer que nem eu eu nem ninguém jamais conseguiria compreender integralmente o quanto tal ambiente pode moldar um ser humano a ele exposto desde o nacimento e por toda sua vida, muito menos tentar impor padrões morais e éticos a quem nasceu e cresceu mergulhado naquela realidade.

A vida da maioria dos usuários e comerciantes de drogas é muito mais dura e sombria do que a maioria imagina. Eles vivem em um mundo em que todos os caminhos levam à dor. As drogas são sua última oportunidade para aliviar seu sofrimento. Não é difícil deduzir como hão de reagir quando o governo e a sociedade, ao invés de buscar oferecer-lhes alternativas melhores, procuram negar-lhes até mesmo a última alternativa desesperada de que eles dispõem para tornar sua realidade suportável.

Quando eu leio algumas “mentes iluminadas” em fóruns da internet dizerem transbordando ódio9 e preconceito que “desigualdade social não gera criminalidade, ou todo pobre seria ladrão”, e que é necessário aumentar a repressão, investir em policiamento, construir mais presídios e asneiras do gênero, eu não sei se devo sentir pena de um ignorante ou nojo de um mal intencionado. Quem diz esse tipo de bobagem ou ignora completamente o assunto ou está defendendo uma postura ideológica na qual impera o desprezo pelo ser humano, somente se importando com seus próprios interesses. (Se você vestiu a carapuça, deveria tentar descobrir se precisa estudar mais sobre este assunto ou se deveria rever seus conceitos de ética e sua vida espiritual.)

Quando quem diz estas bobagens é um “especialista” na questão das drogas, eu não tenho dúvidas de que o sujeito só está jogando para a platéia, dizendo o que os ignorantes e os preconceituosos querem ouvir, para ser repercutido na mídia e valorizar o próprio passe. Ninguém que conheça realmente a dinâmica social do abuso de drogas e do tráfico de drogas apostaria um centavo sequer nestas alternativas, porque elas apenas pioram o problema que supostamente deveriam resolver.

Enxugar gelo

Quando alguém tem febre, tomar um anti-térmico proporciona um alívio temporário da febre. Se a causa da febre é uma infecção, porém, o anti-térmico irá apenas mascarar brevemente o problema, que logo em seguida retornará com maior gravidade. Insistir em tratar esta febre apenas com anti-térmicos não combaterá a infecção subjacente, exigirá quantidades cada vez maiores de anti-térmicos para segurar a febre e acabará por matar o paciente. Isso é exatamente o que a proibição e a repressão policial proporcionam no caso das drogas: um alívio temporário e enganador.

Qualquer aumento da repressão contra o abuso de drogas ou contra o tráfico de drogas irá apenas mascarar brevemente o problema, que logo em seguida retornará com maior gravidade. Foi isso que aconteceu na Lei Seca dos EUA, foi isso que aconteceu nos morros do Rio de Janeiro e é isso que está acontecendo no mundo inteiro.

Quanto maior a repressão, maior a violência com que atuarão as quadrilhas de tráfico. Assim como não existe um nível de anti-térmico capaz de debelar uma infecção, também não existe um nível de repressão capaz de debelar o abuso de drogas e o tráfico de drogas. Somente será possível enfrentar essa questão sem piorá-la através da eliminação das causas que levam as pessoas a abusarem de drogas e a venderem drogas. Isso é tão elementar que eu me impressiono que seja necessário repetir essa informação com freqüência e fico pasmo com a incapacidade de tanta gente compreender o óbvio.

A solução

Ao invés de querer obrigar os miseráveis a abrirem mão de sua última alternativa de fuga de uma realidade em que todo caminho os leva à dor, é necessário construir caminhos que os levem para longe da dor, em direção à segurança, ao conforto, ao bem-estar e à dignidade. Sim, é simples assim.

Enquanto houver desigualdade social ao ponto de haver quem precise lutar para sobreviver ao mesmo tempo que outros usufruem de luxos inatingíveis à maioria, continuará existindo forte estímulo econômico à criminalidade. A equação é realmente muito simples: se a sociedade planta diariamente na mente das pessoas desejos que não podem ser atingidos pelos caminhos legais, um certo percentual de otários permanecerá dócil para ser explorado e um certo percentual de inconformados se revoltará e buscará satisfazer esses desejos através de qualquer meio disponível.

Ou investimos pesadamente em qualidade de vida, segurança, conforto, bem-estar e dignidade para todos de fato, ou continuaremos estimulando a juventude despossuída a ingressar no caminho do crime, gerando violência que afeta a todos.

A objeção comum

“Ah, mas não é somente a desigualdade social que gera criminalidade, ou não haveria ricos que cometem crimes.”

Sim, corretíssimo. Existem outros fatores criminógenos, não tenho a menor dúvida. Se não fosse assim, o Congresso Nacional seria a instituição em que a população brasileira mais confia, porque todo deputado e senador recebe rendimentos mensais que chegam à casa das centenas de milhares ou até dos milhões de Reais. Se não fosse assim, não assistiríamos juízes desviando verbas, vendendo sentenças e até torturando crianças, como se viu recentemente nos noticiários.

Canalhas existem em todas as classes sociais, oriundos de todos os tipos de berço. Entretanto, se compararmos os índices de criminalidade de países como Noruega, Canadá, Holanda, Suécia, França, Japão, Finlândia, Dinamarca, Bélgica, Alemanha, Coréia do Sul e República Tcheca, que apresentam simultaneamente IDH > 0,9 e coeficiente, com os índices de criminalidade da maioria dos países que não atingem esses dois patamares, chegaremos forçosamente a uma de duas conclusões: ou existe uma imensa coincidência de “temperamento criminal” que envolve povos com as mais diferentes culturas e localizações geográficas, ou o desenvolvimento humano e a igualdade econômica realmente influenciam no nível de criminalidade. Faça sua escolha.

Conclusão

Você está sendo enganado pelas campanhas publicitárias que procuram “conscientizar” a população contra o uso de drogas e pelas iniciativas governamentais de “combate” às drogas. Tudo isso é fachada para manter as coisas como sempre estiveram.

O tráfico de drogas é apenas a fuga equivocada mais fácil e a atividade econômica mais lucrativa e que dá resultados mais rápidos – e portanto mais atraente para os miseráveis – entre inúmeras outras atividades ilícitas a que o indivíduo pode recorrer quando as atividades econômicas lícitas não estão disponíveis ou não são capazes de satisfazer de maneira digna suas necessidades básicas e os desejos que a sociedade de consumo dissemina através dos meios de comunicação de massa.

Nossa juventude não é burra nem mal intencionada, é abandonada, desassistida e está desesperada por inclusão em uma sociedade de consumo. Não é necessário fazer experimentos sócio-econômicos estúpidos como a revolução bolchevique ou a ditadura castrista para produzir uma sociedade mais justa e harmônica, os exemplos citados neste artigo são todos de países de economia livre e que são geridos segundo diversos sistemas de governo.

Eu não ficaria contente em apenas seguir o exemplo dos melhores do mundo, pois estes países também enfrentam seus problemas, mas eu consideraria isso um ótimo primeiro passo.

Arthur Golgo Lucas – www.arthur.bio.br – 08/05/2010

2 comentários:

Schneider disse...

Interessante artigo.

Unknown disse...

gosteide ler... alguma ves consumiste algo pesicadelico???
LSD, MDMA, SALVIA, MORNIG GLORY ETC..


aposto que nao... critikais sem saber o que... cambada de incultos com a mania que sabem tudo... letras palavras... eskreveria isso tudo em poukisimo tempo...