Reinaldo José Lopes Do G1, em São Paulo
O LSD alcançou um status quase lendário entre a contracultura dos anos 1960 e acabou banido no mundo todo por causa de efeitos psicológicos considerados devastadores. Agora, cientistas americanos conseguiram elucidar como o LSD afeta as células do cérebro, causando um conjunto impressionante de distorções na percepção da realidade de seus usuários.
A descoberta também vale para uma série de outras drogas alucinógenas, desde as desenvolvidas em laboratório, como o próprio LSD (veja a estrutura molecular dele ao lado), até outras usadas há milênios por tribos indígenas. Há indícios de um mecanismo de ação comum entre elas.
O estudo, que está na edição desta semana da revista científica "Neuron", é liderado por Stuart Sealfon, da Escola de Medicina Monte Sinai, em Nova York. "É importante frisar que o quadro ainda não está totalmente claro", declarou Sealfon ao G1. "Mas ele é consistente com os efeitos que vemos e, portanto, deve ser verdadeiro."
O LSD (sigla de dietilamida do ácido lisérgico), assim como a mescalina (droga derivada de alguns cactos e usada originalmente pelos índios do sudoeste dos EUA) e outros alucinógenos, afetam o mesmo tipo de "fechadura" química dos neurônios. Trata-se de um sistema conhecido pela sigla 2AR.
Os alucinógenos fazem esse sistema funcionar muito acima do que deveria, mas o curioso é que outras substâncias sem nenhum efeito alucinógeno também agem sobre ele. Assim, ficava difícil saber se esses receptores eram mesmo a chave da ação do LSD.
Assim, experimentos feitos com neurônios de camundongos em placas de vidro e nos animais vivos exploraram as diferenças de ação das substâncias alucinógenas e não-alucinógenas sobre os receptores. Ao analisar que genes eram "ligados" ou "desligados" pela ação do LSD, Sealfon e seus colegas descobriram que, apesar do receptor em comum, o alucinógeno gera um conjunto específico de efeitos sobre os neurônios.
Eles até arriscam uma área-alvo que deve ser responsável pela maior parte dos efeitos da droga, como a impressão de que objetos inanimados ganham vida ou de perda da diferenciação entre o "eu" da pessoa e o mundo exterior. As células mais afetadas seriam os chamados neurônios piramidais da camada V. Esses neurônios parecem fazer a ponte entre o córtex cerebral, a área mais "nobre" do órgão, que comanda a consciência, e regiões que coordenam percepções e movimentos.
"É uma especulação razoável imaginar que haja um problema na capacidade de filtrar o que entra na consciência a partir dos sentidos", diz Sealfon, ressaltando que mais estudos ainda são necessários para confirmar a hipótese. Assim, a ação do LSD poderia ser comparada a certas doenças, como a esquizofrenia.
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