Psicodélico: Entrevista com Rodrigo Mac Niven - Produtor do Documentário "Cortina de Fumaça"

domingo, 2 de janeiro de 2011

Entrevista com Rodrigo Mac Niven - Produtor do Documentário "Cortina de Fumaça"

Fonte : http://www.brasilnorml.org/

Em entrevista concedida com exclusividade à Brasil NORML, o jornalista Rodrigo Mac Niven, produtor do documentário “Cortina de Fumaça”, falou um pouco mais sobre a legalização da maconha no Brasil e a falta de informação da sociedade em relação ao assunto.

Para ele, antes de haver o debate sobre qual a melhor política, é preciso fornecer à população subsídios para que ela possa fazer esta escolha com o pé no chão. Porém, a falta de acesso à informações precisas e confiáveis acaba cegando as pessoas contra a real situação das drogas.

Brasil NORML: Quando você decidiu produzir um documentário que falasse sobre Maconha?

Rodrigo Mac Niven: Por volta de 2008 eu estava lendo o livro do Denis Russo (Coleção Super Interessante Para Saber Mais Volume 4 – Maconha) e percebi que eu desconhecia noventa por cento daquelas informações que estavam ali. O que me chamou mais a atenção foi descobrir que a Maconha tem um papel super importante dentro das políticas anti-drogas. Eu decidi então que queria investigar mais o assunto e, já em Maio de 2009, viajei para Europa para começar a gravar o filme. A primeira parada foi a Feira Cannatrade, na Suiça. Foi tudo no “esquema colaborativo”, digamos assim. Liguei para o organizador da feira, expliquei minhas intenções e ele me colocou lá dentro.

BN: Qual era seu objetivo quando teve esta ideia?

RMN: A primeira ideia era criar um debate, tanto que eu explicava aos entrevistados que eu não estava levantando nenhuma bandeira, que apenas queria promover uma discussão. Mas ao longo do tempo reparei que eu mesmo era ignorante sobre o assunto, e, portanto, precisava levantar mais informações. Pois como era possível debater se, assim como eu, as pessoas eram carentes de informações básicas sobre a maconha? Então, mudei meu objetivo e resolvi pesquisar a fundo a questão sobre políticas anti-drogas e sobre as pesquisas medicinais . Mas a minha maior preocupação era passar esta informação com credibilidade, para que o espectador não pensasse que eu estava tentando convencê-lo do meu ponto de vista. Pelo feedback que tenho recebido, acho que atingi este objetivo.

BN: Depois de toda sua pesquisa, qual a sua opinião sobre o consumo de maconha e as políticas anti-drogas no Brasil?

RMN: Eu sempre achei que a proibição da maconha era meio “over”, mas, como todo mundo, eu ficava no achismo. Hoje estou mais convencido de que a legalização é a política mais adequada. Eu acho que o consumo, ou o desejo de usar qualquer tipo de droga não deve ser reprimido, porque isso não cabe ao Estado. Mas existe uma certa confusão entre liberar e legalizar. Legalizar é colocar dentro da lei, é regulamentar. Principalmente o uso medicinal, que não tem mais como ser contestado. Na minha opinião, o desafio, hoje, é comunicar. É oferecer informação relevante à população. Porque a atual política proibicionista é muito danosa à sociedade. O próprio filme fala sobre isso, que a origem do uso de drogas está no desespero, na pobreza. E a repressão vem para mascarar estas origens. Agora, eu penso que a legalização também não resolveria o problema da violência, mas, com certeza, ajudaria a diminuí-la.

BN: Você acha que o Brasil está, hoje, preparado para uma política de legalização?

RMN: Acho que não. Quero dizer, eu não tenho tanta informação sobre o sistema de saúde no Brasil e também não acredito que isso aconteça de uma hora para outra. Recentemente, até tentaram avançar nesta questão através do relaxamento da pena para usuários, mas a gente sabe que, no final, essa mudança apenas piorou a situação do pobre, pois o enquadramento como usuário não virou circunstancial. Eu acredito que a primeira medida a ser tomada deve ser a liberação do plantio, pois a maconha tem um ciclo diferente. É a única droga que você pode plantar, colher e consumir no mesmo lugar. Só esta medida já reduziria a procura pela droga através do tráfico. A segunda medida é a legalização do uso medicinal. Ainda existem muitos médicos que não aceitam as propriedades terapêuticas da maconha, mas isso já está mais que provado. Deve-se, no entanto, atentar para um possível monopólio por parte dos laboratórios, o que prejudicaria o cultivo caseiro.

BN: Como o filme foi uma produção independente, você encontrou alguma dificuldade durante o sua elaboração?

RMN: Por incrível que pareça, não. Não tive quase nenhuma dificuldade. Depois que fui bem recebido na feira da Suiça, resolvi falar com o Gabeira. E achei que seria muito difícil e tal. Mas foi um processo relativamente fácil e sem grandes dificuldades. É óbvio que houve um trabalho intenso de assessoria, telefonemas e envio de e-mails, mas todos foram muito receptivos. É como se todo mundo já estivesse querendo falar sobre isso há muito tempo. Mesmo quando viajei para o exterior, e me identificava como jornalista brasileiro, fui bem recebido. As pessoas conhecem o Brasil e sabem que é um país enorme. Elas viam no Brasil a possibilidade de influenciar as políticas anti-drogas latino-americanas.

BN: Você não teve medo de sofrer algum tipo de represália do governo?

RMN: Eu tive ajuda de um advogado que orientou todo o trabalho, para evitar esse tipo de problema. Ele foi mais um consultor, digamos assim. De qualquer forma, eu não me preocupei muito com isso, porque, afinal, aqueles depoimentos não eram a minha fala, mas sim de pessoas gabaritadas e experientes dividindo o seu conhecimento. Nada mais.

BN: Você tem planos de lançar outros trabalhos sobre o assunto?

RMN: Tenho alguns projetos andando em conjunto com o grupo Coletivo, do qual participo, que é basicamente um grupo de produção de ideias, onde existem pessoas pensando assuntos não só sobre políticas anti-drogas, que atualmente é o nosso carro-chefe, mas também sobre questões sociais, corrupção e, por aí vai… O Coletivo seria a minha iniciativa ativista, visando produzir informação com credibilidade. Futuramente, pensamos em produzir mais curtas-metragens para democratizar o acesso. Um longa traz bastante conteúdo, mas demora muito tempo para ficar pronto. Hoje a sociedade é altamente audiovisual, por isso este formato tem muito apelo. Como o excesso de texto não é atrativo, queremos levar conhecimento através de pequenos vídeos.

BN: E quando será a próxima exibição do Cortina de Fumaça?

RMN: Fechamos mais uma exibição independente em São Paulo, no espaço Matilha Cultural, mas a datas ainda serão confirmadas.

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