Psicodélico: Mais uma Vez : LSD ou Louvado Seja Deus

terça-feira, 1 de abril de 2008

Mais uma Vez : LSD ou Louvado Seja Deus


História :

No final da década de 1930, os Laboratórios Sandoz, da Suíça, iniciaram um grande programa de pesquisas com ergotamina para encontrar derivados dessa substância com propriedades medicinais. No dia 16 de novembro de 1938, dentro desse programa, os químicos suíços Albert Hofmann e Arthur Stoll sintetizaram uma nova substância, que viria mais tarde a ser chamada de dielitamida do ácido lisérgico. Acreditando não haver valor medicinal, os químicos abandonaram os trabalhos no composto, que só seria lembrado cinco anos mais tarde.

Em 1943, seguindo um palpite, Hofmann realizou por conta própria uma nova síntese da substância, que então já era chamada de LSD (abreviação do nome alemão Lysersäure-diäthylamid). No dia 16 de abril, Hofmann acidentalmente absorveu pela pele uma pequena quantidade do composto. O seguinte trecho foi extraído pelo psiquiatra Werner A. Stoll (filho do já mencionado Arthur Stoll) do livro de anotações de Hofmann:

Albert Hofmann



“Na sexta-feira passada, 16 de abril, tive de abandonar meu trabalho no laboratório e ir para casa, por me sentir estranhamente cansado e confuso. Uma vez em casa deitei-me e caí num delírio que não era desagradável, caracterizado por um extremo grau de fantasia numa espécie de transe, com os olhos fechados (achei a luz do dia desagradavelmente brilhante) vi-me rodeado por visões fantásticas de uma extraordinária vivacidade, acompanhadas de um jogo caleidoscópico de colorações em um turbilhão constante.”


Hofmann tentou encontrar uma causa para estes efeitos, e pensou em possíveis compostos venenosos com que tivesse trabalhado. O relato continua assim:


“Contudo, naquela sexta-feira, a única substância não habitual com que estivera em contato fora o ácido d-lisérgico e a dietilamida do ácido isolisérgico. Havia tentado vários métodos de purificação desses isômeros por condensação, e também por fracionamento dos seus componentes. Numa experiência preliminar consegui obter alguns miligramas de dietilamida do ácido lisérgico (LSD) cristalizado, facilmente solúvel na forma de um tartarato neutro. Contudo, era para mim inconcebível que tivesse absorvido uma quantidade suficiente desse material para produzir o estado acima descrito. Além disso, os próprios sintomas não pareciam relacionados com os do grupo ergotamina-ergonovina. Decidi submeter a situação à prova e experimentar em mim próprio a dietilamida do ácido lisérgico cristalina. Se este material estivesse realmente em causa, devia ser ativo em quantidade diminuta, e decidi começar com uma dose extremamente pequena que produzisse alguma ação em quantidades equivalentes de ergotamina ou ergonovina.”


No dia 19 de abril, então, Hofmann ingeriu deliberadamente a dose de 250 microgramas (0,00025 grama) da substância (uma dose alta para os padrões de hoje), e suas suspeitas foram confirmadas. Após 40 minutos, notou “ligeira vertigem, cansaço, incapacidade de concentração, perturbações visuais e riso incontrolável”. Em suas próprias palavras:




“Nesta altura acabam as anotações do livro de notas do laboratório. As últimas palavras já foram escritas com a maior dificuldade. Pedi ao meu assistente que me acompanhasse à casa logo que previ que a situação iria progredir até ao que fora na última sexta-feira. Mas a caminho de casa (um seis quilômetros em bicicleta por não haver outro veículo, em conseqüência da guerra) os sintomas desenvolveram-se com muito maior intensidade do que na primeira vez. Tinha a maior dificuldade em falar de modo corrente; o meu campo de visão flutuava e era distorcido com as imagens num espelho de feira. Tive também a impressão de estar me movendo pesadamente, embora meu assistente me dissesse mais tarde que eu havia pedalado bem depressa.


“Tanto quanto posso recordar, o pior da crise passou até a chegada do médico; caracterizou-se por estes sintomas: vertigem, distorções visuais (as caras dos presentes pareciam grotescas máscaras coloridas), forte agitação alternando com calmarias, algumas vezes frio e entorpecimento da cabeça, do corpo e das extremidades; sabor metálico na língua; garganta seca e contraída; sentimento de sufocação; confusão alternando com uma apreciação clara da situação; por vezes ficava fora de mim mesmo, como um observador neutro, ouvindo-me resmungar palavrões ou gritando meio louco.


“O médico descobriu um pulso um pouco fraco, mas de um modo geral a circulação era normal. Seis horas depois de tomar a droga a minha condição melhorou definitivamente.


“As perturbações da percepção ainda estavam presentes. Tudo parecia ondular e as proporções eram distorcidas, como se fossem refletidas numa superfície aquática encrespada. Tudo se modificava com desagradáveis tons coloridos, predominantemente azuis ou de um verde venenoso. Com os olhos fechados ficava submerso em fantásticas imagens multicolores, sempre em metamorfose. Especialmente notável era o fato de os sons serem transpostos em sensações visuais, de modo que a cada som ou ruído era evocado um quadro colorido comparável, mudando de forma e de cor caleidoscopicamente.”


Essa foi a primeira “viagem” – de muitas – causada pelo LSD. A descoberta de Hofmann, feita no início do boom da indústria farmacêutica, teria uma incrível influência no mundo pós-guerra.


Os Laboratórios Sandoz comercializaram o LSD sob o nome de Delsyd, como um remédio para quase todos os distúrbios psiquiátricos, e também o distribuíram até 1966, de graça, para quaisquer cientistas interessados. O uso do LSD em pesquisas e tratamentos psiquiátricos foi considerado um sucesso, ajudando médicos a entender os sintomas dos distúrbios esquizóides e também com efeitos bastante positivos no tratamento de outras psicoses.


Não é à toa que foi dentro de grupos de profissionais de saúde, como psiquiatras e psicólogos, que o LSD se popularizou como forma de recreação nos anos 1950. Muitos desses pesquisadores estavam ligados de alguma forma a figuras importantes da política e da sociedade da época, e esse foi o próximo grupo a descobrir os prazeres da nova droga.


A ligação do LSD com a política foi muito mais longe: projetos como o MK-ULTRA (1953), da CIA, pesquisaram exaustivamente as possibilidades de uso da substância como arma de “guerra psicológica”, para fins de controle da mente, para uso em interrogatórios ou para “lavagem cerebral”. Foi até estudado o possível uso da droga em engenharia social, uma forma de moldar artificialmente a sociedade (na época,com intenção de combater a contracultura). A maioria dos resultados das pesquisas foi destruída, mas fatos como a morte de um agente da CIA, que suicidou após ingerir sem saber uma forte dose de LSD, levaram a público muito do que queriam esconder. Foram outros, entretanto, os responsáveis por finalmente popularizar os fascinantes efeitos dessa droga, levando-a às massas.



Foi no início dos anos 1960 que profissionais de saúde mental envolvidos em pesquisas com o LSD começaram a ver o composto como uma possível ferramenta para o crescimento cultural e espiritual, e pesquisas como as dos psicólogos de Harvard doutores Timothy Leary e Richard Alper (mais tarde conhecido como Ram Dass) ficavam cada vez mais esotéricas e controversas, estabelecendo ligações entre experiências com LSD e o estado de “iluminação espiritual” buscado por várias tradições místicas.


Afastados finalmente da comunidade acadêmica tradicional, ambos perderam os privilégios de aquisição legal da droga para fins científicos. Leary, segundo ele próprio, foi então contatado por agentes da CIA, que o supriram com grandes quantidades de LSD-25 purificado. Leary e Alpert (então já conhecido com Ram Dass) puderam, assim, estender suas “pesquisas” para uma quantidade muito maior de pessoas. Suas experiências perderam gradualmente o contexto científico, e eles se tornaram os dois grandes gurus espirituais da contracultura, responsáveis pela popularização da droga na comunidade hippie dos anos 1960.


O LSD foi proibido em 1967 nos EUA, tanto para uso em pesquisas científicas quanto para uso pessoal (pesquisa individual ou recreio). A política foi logo copiada por vários países. A demanda pela droga, entretanto, começou a ser atendida pelo mesmo sofisticado mercado negro que já era responsável por outras substâncias proibidas, como a maconha e a cocaína. Desde a década de 1970, época em que o LSD era muito popular, até hoje, o tráfico atende a demanda dessa e de outras drogas, provando que a proibição legal está longe de ser efetiva. O que nos faz pensar, entre outras coisas, se esse é de fato o melhor caminho a se tomar em relação às tão temidas substâncias a que chamamos drogas.


Efeitos:

É muito difícil, quase impossível, descrever os efeitos do LSD, já que eles variam conforme a sensibilidade e do humor de quem o está consumindo, da quantidade ingerida e das condições físicas do local (cores, cheiros, sons, texturas, etc). Dentre os efeitos físicos observados, podem ocorrer dilatação da pupila, transpiração excessiva, aumento da temperatura corpórea, e aumento dos batimentos cardíacos, dores de cabeça, alterações nos músculos causando fraqueza, tremores, entorpecimento e contrações involuntárias, a respiração torna-se acelerada e profunda, podem também aparecer as náuseas e vômitos. Existe um efeito único do LSD no mínimo curioso, os chamados Flashbacks. É a volta dos sintomas psíquicos (alucinações, delírios...) depois de algum tempo (meses e até anos) mesmo sem ter consumido a droga novamente e mesmo após ela ter sido eliminada do corpo do usuário (o que leva em torno de 24 horas). O LSD é uma das pucas drogas que não causam dependência química e overdose; para uma pessoa morrer envenenada por LSD ela deve ingerir 0,01 gramas da droga, 100 vezes mais que uma dose usual!


Reações apresentadas por alguns usuários de LSD:

• Sensação de perda do limite do próprio corpo e o espaço em seu redor;
• Sensação de estar acordado e dormindo ao mesmo tempo (desrealização)
• Transferência de experiências de um sentido para outro. A pessoa pode ver sons, ouvir objetos ou cheirar cores. (Sinestesia)
• Perda da noção de tempo, a pessoa torna-se incapaz de distinguir entre acontecimentos do passado, do presente e até do futuro
•Alternação de períodos de imobilidade e superatividade; e de euforia e depressão.
• Sensação simultânea de alegria e tristeza;
• Sensação de que se pode voar;
• Sensação de pânico e grande vulnerabilidade;
• Tentativas de suicídio e surgimento de impulsos homicidas;
• Perda de controle sobre os pensamentos;
• Alucinações que surgem vários meses após o uso.


Dentre seus vários problemas causados podemos citar as variações nos cromossomos que por sua vez vêm a provocar variações no feto em desenvolvimento, nas mulheres grávidas viciadas.

Composição e Fabricação:

A produção do LSD começa com o fungo Claviceps purpurea, popularmente conhecido como ferrugem ou cravagem de centeio (ergot fungus, em inglês), de forte cor púrpura. Esse fungo é uma verdadeira fábrica química, contendo um grande número de substâncias que podem agir no organismo humano. Quando o centeio contaminado era, por avareza, fome ou ignorância, moído em farinha e esta usada para fazer pão, o resultado era desastroso.


A cravagem possui alcalóides do grupo ergolina, que agem de várias maneiras no corpo humano, principalmente nos sistemas circulatório e nervoso. Devido às suas propriedades vasoconstritoras, esses alcalóides causavam deficiência de circulação nas extremidades levando à gangrena, e à inevitável amputação. A falta de circulação no cérebro levava a distúrbios mentais, convulsões e até morte. A ergotina, substância usada hoje para causar contrações no útero após o parto, e que na época induzia o aborto, e a ergotamina, usada para tratar enxaquecas, também se encontram no fungo.


Os alcalóides do grupo ergolina têm em comum o grupo indol, uma estrutura molecular usada por plantas como aroma, mas que é muito semelhante ao neurotransmissor serotonina, um dos mais importantes. É por isso, talvez, que muitos alucinógenos conhecidos, inclusive o LSD, possuam esse grupo em sua estrutura, sendo classificados como alucinógenos indólicos.




Comparação entre a Serotonina e o LSD

O LSD (dietilamida do ácido lisérgico) é produzido a partir do ácido lisérgico, que é um dos componentes da cravagem do centeio. Entretanto, o ácido lisérgico é escasso no fungo, sendo mais fácil produzi-lo a partir da abundante ergotamina, transformada em um tipo de sal chamado tartarato (tartarato de ergotamina). Do tartarato de ergotamina produz-se o ácido lisérgico, que será submetido a uma série de reações para se obter o produto final, a dietilamida do ácido lisérgico. É teoricamente possível produzir o LSD a partir da amida do ácido lisérgico, substância encontrada na semente da trepadeira Morning Glory, mas o processo é economicamente inviável.


Não é necessária uma grande quantidade de tartarato de ergotamina para produzir uma boa quantidade de cristais de LSD. 25kg de tartarato podem ser matéria prima para até 6kg de cristais purificados de LSD, um rendimento de 24%. Isso é suficiente para produzir até cem milhões de doses (a estimada demanda anual da droga nos EUA), sendo que a dose hoje varia entre 20 e 80 microgramas (nos anos 1970 chegava aos 300 microgramas).


A fabricação do LSD é um processo longo e perigoso: o laboratório tem que ser relativamente bem equipado, o que requer dinheiro, e deve ser operado por um químico orgânico bem instruído. A produção de 30 a 100 gramas de cristais da substância leva normalmente de dois a três dias, e algumas reações do processo, se não executadas corretamente, podem resultar em explosões. Supõe-se que o LSD seja produzido em pequenas quantidades, devido às razões já mencionadas e ao fato de que isso diminui a perda de reagentes se por acaso algum passo do processo falhar.


Os cristais de LSD são então diluídos em água, ou em outros solventes, um passo necessário para a produção das formas comestíveis em que normalmente a droga é encontrada. O LSD é comercializado em várias formas: minúsculos tabletes chamados de microdots; em solução (normalmente armazenada em frascos de colírio ou similares); cubos de açúcar impregnados com a droga; ou em pequenos cubos de gelatina.


A forma mais comum, contudo, é o famoso blotter paper, folhas de papelão absorvente impregnadas com a substância, picotadas em pequenos quadrados, cada um correspondente a uma dose individual. As folhas são sempre cobertas com estampas temáticas (personagens famosos de desenhos infantis, por exemplo) ou com padrões coloridos. Outras formas mais raras também já foram encontradas por autoridades, como pó ou cristal, ou agregado a outras substâncias.

2 comentários:

Unknown disse...

amo lsd faz mais para mim

Unknown disse...

Mas olhando a fórmula não se vê dois etil (dietil) e sim um metil...a amida as estruturas aromáticas mas...ok, thnkx for!