Psicodélico: Resenha da Crônica: "Shroom: A Cultural History of the Magic Mushroom" de Andy Letcher (2007, Ecco/HarperCollins Publishers)

segunda-feira, 24 de março de 2008

Resenha da Crônica: "Shroom: A Cultural History of the Magic Mushroom" de Andy Letcher (2007, Ecco/HarperCollins Publishers)

Resenha da Crônica: "Shroom: A Cultural History of the Magic Mushroom" de Andy Letcher (2007, Ecco/HarperCollins Publishers)



Phillip S. Smith, Escritor/Editor,Crônica da Guerra Contra as Drogas

O historiador britânico (e integrante de uma banda psicodélica de folk) Andy Letcher produziu uma história revisionista encantadoramente escrita e cuidadosamente investigada dos cogumelos psicodélicos. Embora as suas descobertas possam decepcionar a maioria dos espiritualistas comprometidos com os cogumelos, a jornada é um prazer revelador para qualquer um que tiver interesse nos assuntos psicodélicos.
Em meados do século passado, graças a aventureiros psicodélicos intrépidos como o banqueiro feito místico, Gordon Wasson, o antropólogo feito xamã, Michael Harner, e o micopromotor Terence McKenna, uma mitologia maravilhosa e poderosa cresceu ao redor do cogumelo fantástico.
É mais ou menos assim: Através do uso sagrado dos cogumelos mágicos, os xamãs da Sibéria ao México conseguiram ter visões, curar os doentes e conversar com os deuses. O próprio Papai Noel, com a sua aparência gnômica e indumentária vermelha e branca, é uma representação simbólica do cogumelo amanita muscaria. O cogumelo era o mistério nos mistérios de Elêusis da Grécia Antiga, era o soma do Riga Veda, era - não o pão e o vinho - o que Jesus comeu na última ceia. Os druidas o usaram em Stonehenge. O cogumelo mágico é a base da religião e prova do seu culto oculto pode ser encontrada em tudo, das portas nas igrejas católicas medievais às pinturas antigas em pedra no deserto africano.
Tem mais: Na verdade, os cogumelos são uma "consciência maquinal" que representa uma dimensão diferente... ou algo assim. Eu fico um pouco confuso com os arcanos mais sutis da micomitologia.
Letcher, como historiador que é, lida com essas afirmações uma por uma, as examina, e, infelizmente para os micocultistas, descobre que lhes falta substância histórica. "Não há um único exemplo de um cogumelo mágico preservado nos registros arqueológicos em nenhuma parte", escreve. "Realmente não sabemos, de uma ou outra maneira, se os antigos veneravam os esporos sagrados de Deus. Se o fizeram, não deixaram uma única prova de tê-lo feito".
Há poucas provas mesmo de cogumelos sacramentos e xamânicos, exceto pelas tribos isoladas na Sibéria, e, mesmo lá, as provas sugerem que os cogumelos serviam tanto para festejar quanto para serem adorados. Também no México, onde muitos sabem que Gordon Wasson conheceu a famosa curandeira (xamã) mazateca María Sabina e comeu a "carne dos deuses" em 1956. Como observa Letcher, María Sabina não era a sacerdotisa primitiva do mito, mas mítica virou, especialmente depois que Wasson fez acontecer a iniciação da idade psicodélica com a publicação de um artigo seu na revista Life sobre as suas experiências.
Certamente foi uma mudança sísmica nas posturas ocidentais a respeito do cogumelo mágico. Até meados do século XX, a intoxicação com cogumelos era rara, quase sempre acidental e quase sempre considerada envenenamento. Cara, como as coisas mudaram! Embora o interesse nos cogumelos psicodélicos, particularmente os psilocibes, tenha cedido lugar ao LSD nos 1960 doidões, os cogumelos relativamente mais suaves continuaram populares entre o grupo psicodélico deste então.
Apesar de serem ilegais nos EUA, por aqui os aficionados podem comprar legalmente kits de esporos "à prova de idiotas" (que não contêm psilocibina, o ingrediente receitado) e os próprios cogumelos continuam confusamente legais em alguns países europeus. A Inglaterra proibiu a venda e o porte de cogumelos em 2005, como o Japão, mas há poucas provas de que os tiras estejam caçando os coletores de cogumelos.
Contudo, embora pareça que o cogumelo mágico está aqui para ficar, decididamente é um gosto adquirido. A maioria das pessoas que o experimenta os experimenta uma vez só ou duas; só um punhado relativo vira consumidor sério de cogumelos. E embora Letcher tente resolutamente não se meter em política, a relativa raridade do consumo de cogumelos e a falta de danos demonstrados o levam a criticar a proibição britânica como "severa e motivada mais pelas preocupações políticas do que por qualquer avaliação sensível das provas". De fato, escreve Letcher, "a proibição pode provar ser um passo retrógrado quanto à redução de danos", já que usuários desventurados coletam os cogumelos errados, compram substitutos ou são afligidos por um sistema de justiça penal mais nocivo do que os próprios cogumelos.
Shrooms é uma história cultural que vale a pena ler, rigoroso em sua análise, incisivo em sua reportagem e cativante com suas descrições da realidade cogumelizada. Faz-me querer sair e pedir um daqueles kits "à prova de idiotas".

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