Psicodélico: Salvia Divinorum

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Salvia Divinorum

INFORMAÇÃO SOBRE A PLANTA SALVIA DIVINORUM E
SEUS PRINCÍPIOS ATIVOS


CONTEXTO
São abundantes na flora global espécies que possuem propriedades psicoativas. Uma pesquisa recente listou 250 plantas que produzem naturalmente substâncias controladas (Ott, 1993) e o número total de espécies de plantas psicoativas é, sem dúvida, muito maior. Uma entre a multidão de plantas psicoativas menos conhecidas é a Salvia divinorum, uma planta nativa da Serra Mazateca do México, e introduzida pela primeira vez nos Estados Unidos da América em 1962 (Hofmann, 1990, e Wasson, 1962). A Salvia divinorum faz parte da família Labiatae, a mesma da Menta, uma das maiores famílias de angiospermas, que inclui muitas ervas ornamentais, culinárias e medicinais de uso comum ao redor do mundo. Parentes próximos incluem o manjericão, a menta (Mentha), a sálvia comum (Salvia officianalis), o alecrim e o tomilho. Essa família também é uma rica fonte de óleos essenciais, incluindo isomentona, isopinocamfona, carvona, mentol e acetato de metílico. Muitas espécies relacionadas, como a hortelã-pimenta e a yerba buena, têm sido valorizada no decorrer da história pelos Assírios, Babilônios, Chineses, Àrabes, Gregos e Romanos, por suas propriedades medicinais. Essas espécies ainda são utilizadas nesse contexto pelas culturas indígenas ao redor do globo, incluindo os Mexicanos nativos (os mais exemplares são os Mazatecas, os Cuicatecas e os Chinatecas).

Como seu nome reflete, a Salvia divinorum (tradução: "Sálvia dos Divinos" ou "Sálvia dos Profetas (visionários)") é tradicionalmente usada pelos índios mazatecas em cerimônias de mágicas oraculares de cura (Epling & Játiva, 1962). Para os mazatecas, a S. divinorum oferece numerosas aplicações terapêuticas. Infusões da planta são ministradas no contexto de uma cerimônia e são usadas para uma variedade de queixas, como diarréia, dor de cabeça, reumatismo e anemia. Xamãs (pajés) mazatecas usam a S. divinorum como uma planta de indução à visão [espiritual]. Eles dizem que a planta "permite-lhes viajar para o céu e conversar com Deus e os santos sobre profecias, diagnósticos e cura" (Rovinsky & Civadlo, 1998).

DESCRIÇÃO, COMPOSIÇÃO & EFEITOS

A Salvia divinorum também é conhecida, na língua Mazateca, como Ska Pastora ou Ska Maria Pastora, significando "Folha da Pastora" ou "Folha de Maria, a Pastora". Em Náhuatel (antiga língua dos Astecas) é chamada de Pipiltzintzintli e, em espanhol, La Hembra ou Hojas de la Pastora.

Em português e inglês, normalmente é chamada de Menta Mágica ou, mais adequadamente, por sua tradução direta do Latim, "Sálvia dos Divinos" ou "Sálvia dos Profetas (visionários)".

A planta é uma erva perene com caules floridos, que crescem dois ou até três metros de altura. Nunca se observou que a planta produza sementes quando crescendo na natureza, e as flores podem ser vistas de Maio a Setembro, brancas com cálices azul claro.

Apesar de sua disponibilidade para a ciência no decorrer das últimas décadas, as investigações e o uso de S. divinorum ou sua substância psicoativa primária, a salvinorina A (um agente diterpenóide desprovido de nitrogênio) continuam bem limitados. Análise do banco de dados do PubMed da Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA resultaram em apenas cinco citações (Giroud 2000, Valdés 1994, Siebert 1994, Valdés 1986, e Valdés 1983).

Há muitas razões do motivo de tão pouca informação existente sobre ambas, S. divinorum e salvinorina A, na literatura médica. Primeiramente, até Agosto de 2002 os neuroreceptores específicos com afinidade pela salvinorina A eram desconhecidos. Em Agosto de 2002, no entanto, um time de pesquisadores publicou suas primeiras descobertas sobre salvinorina A ligar com receptores kappa opióides (Roth, 2002). Segundo, o cultivo de S. divinorum é relativamente trabalhoso e o comércio da planta é atualmente limitado. Terceiro, a planta e sua substância parecem ter pouca toxicidade inata. Estudos com animais estimularam a diminuição de movimentos sem sedação (Valdés, 1994). A administração de altas doses de Salvinorina A em ratos não produziu nenhuma seqüela subseqüente no comportamento que pudesse ser observada (Valdés, 1987). Mais importante, a S. divinorum é uniformemente reconhecida como um agente difícil de ser empregado, com uma "curva de aprendizado" íngreme. É virtualmente ineficaz oralmente porque salvinorina A é insolúvel em água. O amargor intenso das folhas é um obstáculo para muitos, enquanto fumar as folhas exige inalação rápida de grande quantidade de fumaça. Os efeitos psicoativos da planta são inconsistentes e evanescentes. Até a substância química isolada é associada a um efeito muito passageiro em humanos. Poucos consideram os efeitos psicoativos prazerosos e a maioria das pessoas opta por não repetir a experiência após uma única exposição a ela. Muitos descrevem a aparição de formas geométricas na visão, enquanto em doses mais altas um breve efeito dissociativo, "experiências fora-do-corpo" ou verdadeiras alucinações podem ocorrer.

DISPONIBILIDADE & ABUSO POTENCIAL

A Salvia divinorum é endêmica apenas na zona Mazateca da Serra Madre Oriental, no estado mexicano de Oaxaca. É propagada através de mudas e, pelo fato de os únicos espécimes observados em seu habitat natural foram plantadas pelos mazatecas, a maioria das pessoas assume que seja uma variedade cultivada. O cultivo pelos não mazatecas em latitudes mais ao norte foi realizada, mas é difícil, demandando alto grau de habilidades técnicas. A planta pede solo rico e umidade abundante, tolerando o sol apenas se a umidade do solo continuar sendo alta e a umidade do ar seja sustentada. Numerosos sítios da Internet oferecem descrição da S. divinorum e seus poderes de alterar a mente. Alguns dos sítios acentuam os efeitos desagradáveis e anti-sociais decorrentes do uso da planta, enquanto outros descrevem a "dimensão espiritual" do seu uso tradicional. Alguns sítios da Internet são usados para publicar informação sobre seu cultivo e uso e uns poucos herbalistas conduzem negócios online, vendendo mudas e folhas. É interessante notar, muitos relatos da Internet sobre experiências pessoais incluem advertências severas sobre os efeitos psicoativos potencialmente perturbadores da planta. Casos de seqüelas médicas sérias ou estatísticas sobre emergências relacionadas ao uso da planta ou sua substância química são virtualmente inexistentes. Nenhuma citação foi encontrada em uma busca no sítio do Morbidity and Mortality Weekly Report ou Relatório Semanal de Mortalidade e Morbidade dos EUA. O Toxic Exposure Surveillance System (TESS) ou Sistema de Observação a Exposição Tóxica mantido pela American Association of Poison Control Centers (Associação Americana de Centros de Controle de Venenos) não têm nenhuma ocorrência especifica de envenenamento pela ingestão de S. divinorum (Litovitz, 2000).

Nenhum caso de dependência em S. divinorum ou salvinorina A é reportado na literatura. Desconsiderando relatórios raros de ansiedade penetrante associada a más experiências com o seu uso, nenhum caso de deterioração psicótica ou outra complicação médica é conhecido. Qualquer perigo relacionado ao uso da planta ou sua substância química aparece em reações de ansiedade ou a possibilidade de acidentes secundários ao usuário, por estar perambulando ou fazendo outras atividades enquanto sua vista está afetada. Reações de ansiedade são geralmente autolimitadas devido à breve duração dos efeitos, respondendo por segura recuperação da sanidade.

Ademais, barulhos estranhos ou até mesmo abrir os olhos pode terminar totalmente os efeitos psicoativos. Diferentemente dos agentes dissociativos de outras plantas sujeitas ao uso recreativo ocasional, como a Datura spp. ou a Brugmansia spp., a Salvia divinorum e seu ingrediente ativo, a salvinorina A, são de curta duração, não havendo indícios de intoxicação de tecidos ou seqüelas cardiovasculares ou gastrintestinais.

USO MÉDICO POTENCIAL E COMPROVADO

Por séculos, os índios mazatecas têm usado a planta Salvia divinorum em cerimônias de cura, obtendo alívio para anemia, dor de cabeça e reumatismo (Valdés, 1983).
Até muito recentemente, os neuroreceptores usados pela Salvinorina A eram desconhecidos, apesar da bateria de testes realizados pela NovaScreen®. No entanto, no Outono de 2002 um time de pesquisadores publicou seus resultados sobre a Salvinorina A ser um potente agonista do receptor kappa opióide (Roth, 2002). Os pesquisadores perceberam que a afinidade da Salvinorina A com os receptores kappa opióides foi surpreendente e que isso prometia em relação ao desenvolvimento de remédios psiquiátricos inteiramente novos:

A Salvinorina A, desta forma, representa, para o nosso conhecimento, a primeira ocorrência natural de um agonista seletivo de subtipo de um receptor opióide não-nitrogenado. Pelo fato de a Salvinorina A ser um psicotomimético seletivo de receptores kappa opióides, os agonistas seletivos de kappa opióide podem representar novos compostos psicoterapêuticos para doenças manifestadas por distorção perceptual ( e.g., esquizofrenia, demência e transtorno bipolar) (Roth, 2002).

Um artigo do Jornal of Clinical Psychopharmacology (Jornal de Psicofarmacologia Clínica) relatou o caso da "Srta. G", uma mulher de 26 anos com uma história de depressão não abrandada, que eventualmente encontrou alivio com a Salvia divinorum. Tendo percebido que outros medicamentos falharam em fornecer alívio satisfatório, a Srta. G se automedicou com uma dose oral de folhas de Salvia divinorum três vezes por semana. Como resultado do seu uso de Salvia divinorum, "ela mostrou continuamente uma remissão total dos seus sintomas de depressão de acordo com a contagem de HAM-D na escala de 0-2 e tem mantido essa melhoria nos últimos seis meses, não mostrando sinais de recaída e relatando apenas efeitos colaterais mínimos, como ocasionais tonturas por até uma hora depois de usar a erva" (Hanes, 2001). O autor do Relatório de Caso conclui:
...não é inimaginável que a pesquisa usando os ingredientes ativos desta erva possa apontar um mecanismo único de ação antidepressiva para esses compostos. Isso, por sua vez, poderia levar a métodos para o gerenciamento da depressão ou de subtipos resistentes a tratamento dessa condição... Podemos estar lidando com um agente singular que tem pesquisas significativas e potencial terapêutico em campos como da psicofarmacologia, psiquiatria e disciplinas complementares, como medicina herbal". (Hanes, 2001).

QUESTÕES DE ENQUADRAMENTO LEGAL

A Salvia divinorum não está relacionada no Ato federal de Substancias Controladas, nem é controlada por nenhuma lei estadual. Seu principio ativo, a salvinorina A, é igualmente não relacionada em leis federais e estaduais.

A estrutura química da Salvinorina A parece ser única entre outras moléculas psicoativas e entre substâncias controladas existentes (Valdés, 1994). Por não ser "essencialmente similar" em estrutura química a substâncias controladas existentes, a salvinorina A não entra no Ato Análogo de Substancias Controladas (21 USC802(32)(A)).

Com o intuito de colocar a S. divinorum ou a salvinorina A na Listagem I do Ato de Substâncias Controladas, três critérios devem ser atendidos. A planta precisaria mostrar ter: (1) alto potencial para abusos; (2) nenhum uso médico aceito para tratamentos aceito nos Estados Unidos da América; e (3) falta de segurança aceita para uso sob supervisão médica (21 U.S.C. Séc. 812(b)).

A colocação da planta ou sua substância química na Listagem (Schedulo) I não pode ser justificada cientificamente. A planta e sua química têm abuso potencial mínimo e nenhum potencial para vicio. Estudos recentes publicados em periódicos científicos revisados por turmas têm enfatizado que pesquisas mais profundas com a Salvinorina A e/ou S. divinorum podem levar ao desenvolvimento de "novos compostos psicoterapêuticos" (Roth, 2002) com "pesquisa significativa e potencial terapêutico em campos como os da psicofarmacologia, psiquiatria e disciplinas adicionais como herbalismo". (Hanes, 2001). Essas descobertas são corroboradas por dados etnobotânicos.

Dados disponíveis sustentam a segurança para uso da S. divinorum ou salvinorina A sob supervisão médica. Colocar a Salvinorina A ou sua planta-mãe no Schedule I inibiria seriamente pesquisas científicas que têm potencial para o entendimento de novos sistemas de neurotransmissores, cuja importância é grande para o avanço da pesquisa neurofarmacológica e o tratamento de doenças.

Nota do Revisor da Tradução: No Brasil, tanto a Salvia divinorum quanto a Salvinorina A estão fora da lista de substâncias e plantas proibidas da ANVISA (v. Portaria 344), sendo assim livre seu consumo, manipulação e comércio.

SUMÁRIO & RECOMENDAÇÕES

A Salvia divinorum é uma planta psicoativa poderosa, que até recentemente permanecia desconhecida para todos, a não ser para um grupo de etnobotanistas especializados. O gosto amargo da planta, os efeitos mentais de curto tempo, ocasionais e imprevisíveis, combinados com parâmetros de cultivo exigentes, fazem-na uma candidata improvável para uso em massa.
Assim, enquanto as coberturas jornalísticas periodicamente produzem um pouco de interesse na planta como "alucinógeno legal", não se espera que o uso da planta jamais atinja o mesmo nível de prestígio do de outras drogas ilegais.

Nem a S. divinorum nem a salvinorina A têm um "alto potencial para abusos", e estudos científicos recentes, sustentados por dados etnobotânicos, sugerem fortemente possíveis aplicações terapêuticas que garantam pesquisas mais profundas.

De conformidade, nem a planta nem seus princípios ativos são candidatos apropriados para que sejam colocados no Schedule I. A educação focada no aumento da consciência crescente sobre os imprevisíveis e ocasionais efeitos psicoativos desagradáveis da planta, ao invés de focada na proibição criminal, é a chave para reduzir danos sociais e individuais com respeito à Salvia divinorum e seus princípios ativos.


BIBLIOGRAFIA
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FONTES PARA
MAIS INFORMAÇÃO

Toxic Exposure Surveillance System(TESS)
American Association of PoisonControl Centers
Telefone: (202) 362-7217
E-mail: aapcc@poison.org
PubMed (National Library ofMedicine)
Telefone: http://www4.ncbi.nlm.nih.gov/PubMed/

Medical Use& Abuse Potential
Ethan Russo,M.D. (médico)
Especialista Neurocomportamental de Montana
Telefone: (406) 327-3372
E-mail: erusso@blackfoot.net

Law &Public Policy
RichardGlen Boire, J.D. (doutor em Direito)
Centro para a Liberdade Cognitiva & Ética
Telefone: (530) 750-7912
E-mail: rgb@cognitiveliberty.org