Psicodélico: PIONEIROS DO UNDERGROUND VIRTUAL

sábado, 7 de abril de 2007

PIONEIROS DO UNDERGROUND VIRTUAL

PIONEIROS DO UNDERGROUND VIRTUAL
Por Andrew Edmond

Desde os primeiros dias da internet, artistas, psiconautas, maconheiros, exploradores hiperespaciais, jardineiros etnobotânicos, químicos, místicos, ravers e ativistas têm estado trocando idéias e criando projetos que eles esperam que um dia mudem o mundo. Ao contrário do Mundo Real, onde aqueles que adotam a contracultura frequentemente têm de trabalhar duro para encontrar seu grupo, a internet é um lugar onde tribos podem ser formadas sem limites culturais ou geográficos. Aqueles que foram impelidos para o underground no mundo real estão agora descobrindo que a internet é uma incrível ferramenta para a expressão, para a troca de informação e conhecimento, e, mais importante, para encontrar e fazer amigos freaks de todo o mundo.

Uma das primeiras contraculturas virtuais formada na net foi uma lista de discussão chamada FutureCulture, criada por Andy Hawks ainda em 1992. FutureCulture atraiu cybercidadãos enamorados com a idéia de usar a telecomunicação global para lançar uma nova contracultura - uma que mixasse pessoas e idéias do mundo inteiro numa caótica sopa multicultural. Em 92 ainda, só havia cerca de três milhões de pessoas na internet, e o que Hawks consumou com FutureCulture foi um marco divisório. Ele criou uma "comunidade mundial" onde as pessoas de todo canto do mundo poderiam se encontrar diariamente no cyberespaço e fazer planos de mudar e sacudir o mundo como nunca antes. Antes da internet, comunidades criativas ficavam constrangidas pela localidade física. Na net, elas se auto-replicam como vírus - propagando e antecipando memes numa velocidade assombrosa.

Apesar da FutureCulture prosperar por quase dois anos com um diálogo rico e potente, Hawks eventualmente a deixou, e como resultado, muitas outras listas contraculturais começaram a crescer. Fringeware, levada por Paco Nathan, a lista de discussão Leri iniciada por Scotto More, MIndSpace, formada por Jack Burns e a Visionary Plants List moderada por mim, atraíram muitos dos mais novos e mais célebres visionários da contracultura. Como os governos do mundo ainda estavam bastante ingênuos quanto ao mundo virtual, surpreendentes eventos como "net-trips" (pessoas de todo o mundo conversando num chat sob a influência de psicodélicos) passavam totalmente despercebidos pelas autoridades constituídas.

Em 1993, estas primeiras e simples listas de discussão underground começaram a se espalhar pelos fóruns da internet. Boletins (BBS) virtuais se tornaram praças públicas onde as pessoas podiam enviar sua poesia e música favorita, fazer perguntas, compartilhar experiências pessoais, e discutir tópicos que em muitos países eram considerados ilegais. As listas de discussão iniciais como FutureCulture eram comunidades estreitamente ligadas de, no máximo, umas poucas centenas de pessoas - mas fóruns como alt.drugs e outros rapidamente cresceram para grupos de milhares de freaks vagamante associados dentro de um período de meses.

O boom dos fóruns em 1993 é frequentemente referido como a "Era Dourada" da internet. Depois de digerir uma vida inteira de mídia programada, este repentino "livre comércio" de informação tinha netcidadãos insaciavelmente curiosos e levados a quebrar todas as regras. Ativistas como Lamont Granquist começaram a publicar e arquivar informação de substâncias controladas e levaram avante discussões inteligentes e refletidas sobre psicoativos na net. Outras hierarquias de fóruns como rec.music uniu ravers de todo o globo numa aldeia de entusiastas. Mas os fóruns também tinham seus limites.

Quando a internet se tornou comercial, e mais pessoas de grandes servidores como America Online entravam para participar, os fóruns públicos rapidamente ficaram saturados com mais tagarelice desinformada (ruído) que informação realmente útil (sinal).

Felizmente, as coisas na net mudam rapidamente. Logo que os fóruns começaram a transbordar, a World Wide Web entrou em cena. Usuários não estavam mais limitados a rústicos textos ASCII e programa primitivo de chat. Na Web, artistas, ativistas, hippies podiam agora produzir galerias de arte virtuais e arquivos em hipertexto de informação underground. Com habilidade de transmitir conteúdo multimídia e criar links para qualquer documento na net, a Web tinha um vasto potencial como ferramenta de expressão comunitária.

O nascimento da Web teve um tremendo impacto no revival da contracultura virtual. As pessoas criavam sites na Web especificamente para promover o uso permitido de enteógenos, a cultura rave, a redução da violência, eventos pagãos, técnicas hiperespaciais, sociedades utópicas e todos os tipos de ideais de mudanças de paradigma. Eventualmente, estes sites cresceram até se tornarem bibliotecas virtuais de informação underground, e começaram a atrair milhares de acessos por dia.

Um dos primeiros sites de contracultura a marcar presença de verdade na web foi o Hyperreal, criado por Brian Behlendorf nos fins de 1993. Behlendorf tinha dirigido uma lista de discussão chamada SF-RAVES quando a internet deu luz à Web, e ele rapidamente montou um site num servidor que ele tinha acesso na Universidade de Stanford. Logo, Hyperreal estava hospedando uma massiva compilação de FAQ ( Perguntas Mais Frequentes) de substâncias controladas; promoções de raves e discussões; resenhas de techno, house e música ambient; revistas online; e mais. À medida que as pessoas afluíam à procura de informação acurada, uma comunidade começou a florescer.

A era que segue à criação da Web (esse piscar de olhos de 1994 a 1996) é frequentemente referido como a "explosão da Internet". Foi durante esta época que muitos outros sites igualmente criativos e informativos começaram a proliferar. Paranoia, dirigido por KevinTX, quebrou praticamente todas as regras ao publicar volumes de informação sobre sexo, psicoativos e religião que poderiam ter sido banidos apenas algumas décadas atrás. A informação "indecente" de KevinTX estava disponível para toda nação do mundo - de Israel à Nova Zelândia, e este surpreendente poder de transpor barreiras sociais motivou outros a levarem a coisa ainda mais longe. No período de dois anos, sites como Druglibrary disponibilizaram ampla quantidade de informação sobre substâncias controladas para o público geral. Estes sites, incluindo o meu, o Lycaeum, têm crescido até se tornarem algumas das maiores e mais versáteis bibliotecas enteogênicas no mundo.

Uma evolução particularmente interessante para a coesão das contraculturas virtuais veio na forma da Drug Reform Coordination Network (DRCNet), criada por David Borden e Adam Smith em 1993. A DRCNet pegou o entusiasmo da contracultura e combinou-o com a funcionalidade da Web para coordenar o ativismo na luta contra o establishment anti-drogas.

Enquanto na DRCNet, não só você pode encontrar informação útil sobre cânhamo e maconha medicinal, embaraçosas estatísticas de quantos dólares de imposto estão sendo utilizados na "Guerra às Drogas", e artigos que expõem a corrupção dentro das agências que tiram proveito do reforço destas leis, você também pode mandar cartas em e-mail sobre temas de proibição específica para os representantes no congresso americano.

Organizações como o Island Group, o Council on Spiritual Practices, revista Wired e uma miríade de outras empresas zippies, hippies, ravers, ativistas e pagãs evoluíram na Web e viram a participação de membros crescer numa maré de entusiasmo. Você pode agora encontrar praticamente toda comunidade contracultural, organização e publicação representada na Web, e muitas estão igualmente conduzindo listas e fóruns de discussão para reforçar as comunidades e encorajar novas idéias. E você sabe de uma coisa? Isso está fazendo muita diferença.

O impacto da internet no crescimento da contracultura não pode ser subestimado. Nos anos 90, nós temos visto um aumento na exploração psicodélica, expressão artística, música transcedente, ritos e rituais pagãos e uma multidão de outras práticas espirituais de poder. A internet tem sido uma catalizadora para estas explosões na cultura porque ela permite a você localizar pessoas, informação e recursos que seriam de outra forma indisponíveis.

Pela primeira vez na história, milhões de pessoas de todo o mundo tem acesso a informação inesgotável e troca de novos conhecimentos em tempo real. Membros da contracultura estão usando este poder para fazer nada menos que tentar mudar o mundo como eles conhecem. E de onde estou sentado, parece que eles podem finalmente estar vencendo.

Fique ligado.

Andrew Edmond é um programador de computador por profissão, e formado como botânico. Ele é o Diretor do Lycaeum, a Maior Comunidade e Biblioteca Enteogênica Online do Mundo. Você pode mandar um e-mail para ele no edmond@lycaeum.org

Tradução de Ricardo Rosas

Texto traduzido do sítio da revista The Ressonance Project - (www.resproject.com).

Links para pioneiros do underground virtual

The Island Group - www.island.org
The Lycaeum - www.lycaeum.org
Hyperreal - www.hyperreal.org
FutureCulture - www.eerie.fr/~alquier/Cyber/culture.html
Fringeware - www.fringeware.com
DRCNet - www.drcnet.org
Druglibrary - www.druglibrary.org
Paranoia - www.paranoia.lycaeum.org
Council on Spiritual Practices - www.csp.org
Wired - www.wired.com/

Nenhum comentário: