Psicodélico: Excelente Relato sobre Ayahuasca

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Excelente Relato sobre Ayahuasca

Sábado, 11 de Novembro de 2006.

Há uma semana atrás, aproximadamente, em uma sessão de BM (balanceamento muscular – www.balanceamentomuscular.com.br ), foi “testada” a minha participação em um ritual ayahuasca. Na verdade eu somente tinha ouvido de longe este termo e ainda não associado totalmente ao que era. Mas se caiu no BM, vamos ver “qualé!”.

Eis que no fim da tarde do dia 11 eu estava chegando ao local do ritual, em Jundiaí. Uma chácara simpática, com duas áreas planas em níveis diferentes e uma casinha bem arrumadinha entre elas. Muita natureza, árvores nativas entre os belos caminhos da Serra do Japi. Muito bem recebido por todos, deixei meu colchonete, travesseiro e cobertor na lona preta esticada no chão ao lado da fogueira que separava, a céu aberto numa clareira entre as árvores, a área masculina da feminina. Algumas cadeiras e as pessoas chegando. Lendo um pouco sobre o Daime num banner e logo a tarde deu lugar a uma noite fresca e sem nuvens, iniciando uma breve palestra sobre o que seria este ritual.

Para explicar melhor:
Ayahuasca, nome de origem inca, refere-se a uma bebida sacramental produzida a partir da decocção de duas plantas nativas da floresta amazônica: um cipó Banisteriopsis Caapi e folhas de um arbusto Psychotria viridis.

É também conhecida por Yagé, Caapi, Nixi Honi Xuma, Oasca, Vegetal, Santo Daime, Kahi, Natema, Pindé, Dápa, Mihi, "O Vinho da Alma " ou "Pequena Morte", entre outros. O nome mais conhecido, Ayahuasca, é de origem quechua, e significa "Liana (Cipó) dos Espíritos".

Fonte: Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ayahuasca).

A grosso modo, o Ayahuasca é um “chá” de receita indígena há milênios utilizado para a busca de um “transe onde o ser se encontra consigo”.

Bem, eu sempre tive repugnâncias relativas a religiões e outras doutrinas que impõem regras e certos símbolos manipuladores, mas confesso que nada disso encontrei neste ritual, que muito me remeteu a festas indígenas e comemorações de povos antigos.

Voltando ao ponto: Fogueira acesa, fila para receber o “presente” em copos plásticos. Estava ali servido o real Ayahuasca, cujo singular preparo segue inúmeras regras e peculiaridades de colheita, fervura, etc. Fui para o fim da fila! Receio de ingerir substâncias tóxicas após um período de tratamento alimentar rigoroso pós-pancreático. Há mais de um ano que tenho restrições alimentares a carboidratos, açúcar, álcool e muuuuuitas outras cositas. Mas estava ali por força maior e queria, como sempre, ir até o fim da história.

Ansiedade, nervosismo, receio e curiosidade misturados nas mãos entre o copo e a boca, que em goles súbitos findaram um gosto totalmente diferente de tudo o que já havia provado nesta vida. Amargo, azedo e cremoso entre sua cor de água barrenta num rio avermelhado por folhas secas. Inexplicável! Comi alguns pedaços de maçã, não porque queria mascarar o gosto na boca, mas porque achei rudeza recusa-los, servidos com tanta boa-vontade pelas mãos de um dos “padrinhos” do local. Rápida passada no banheiro (só tinha um, mas foi suficiente).

Acho que estávamos em mais ou menos 50 pessoas e mais umas dez como fiscais. Fiscais são chamados os assistentes do padrinho do ritual. O padrinho administra o chá e a cerimônia, gerenciando todos os acontecimentos, sua ordem e duração, enquanto os padrinhos o assistem e prestam auxílio a quem está em “transe”, como por exemplo, acompanham a quem precisa ir ao banheiro.

Deitei-me no colchonete e a esta altura, umas 22horas, a noite já era fria e a brisa balançava as árvores levemente. Coberto e todo “encapotado” com minhas roupas de inverno em pleno novembro no frio da serra.

Ganhamos saquinhos plásticos e alguns já começavam a vomitar. Não por causa do gosto amargo e azedo do chá, mas ouvi que ao ser transportada pela corrente sanguínea, a mistura das ervas força as toxinas do corpo para o estômago. Para alguns o vômito é a forma de limpeza, limpeza de toxinas físicas, de carne, de conservantes, de refinados e agrotóxicos, bem como toxinas mentais, de arrogância, angústia, mágoa e tristeza. Alguns eliminam as toxinas pelo intestino e, neste caso é necessário apressar-se ao banheiro. Talvez pela rigidez alimentar ou pelo “processo” de jejum prolongado que realizei em junho, não vomitei nem tive vontade de ir ao banheiro aquela noite, mas fiquei enjoado por bastante tempo.

Enfim, as estrelas com um fundo azul muito escuro, criava um clima especial junto à iluminação da fogueira e das tochas ao redor. Nenhuma luz elétrica estava acesa e a música encobria os ruídos da floresta. Música! Essa era a condutora de todo o ritual. Tocada por um aparelho de som, extraindo de um CD as faixas cuidadosamente selecionadas por entidades e padrinhos para aquela noite em especial, o som é a estrada pelo qual se guiavam nós, os desbravadores. E enquanto ao meu lado alguns se entregavam às mensagens internas e mergulhavam em seu mais íntimo interior, eu não sentia absolutamente nada. Pois é... conto pelo menos uns 40 minutos de sonolência sem que nada de extraordinário acontecesse. O som era de tambores e terreiros, umbanda e candomblé “do bem”. Nunca tive contato com esta música e cultura até então. Mas nada acontecia, e conforme o sono ia chegando, ia desistindo de ter alguma sensação diferente, já aceitando que somente aquele primeiro copo de Ayahuasca não traria nenhuma experiência nova a minha vida. E acho que o sono veio, ou cochilei por alguns segundos...

Morte.
Meu coração acelerou demais e abri os olhos, tentando me afastar das imagens que se formavam em minha mente. Mandalas, caleidoscópio de cores entre amarelo claro e rosa, girando em movimento entre uma espiral branca que me puxava para o fundo do que seria a experiência mais intensa da minha vida até hoje.

Lutei contra essa imagem, não quero morrer, quem o quer? E o sentimento era justamente este: Vou morrer, estou tendo um ataque! Alguém me ajude por favor! Por alguns instantes, pensei em chamar um dos fiscais ou padrinhos para me levar ao hospital mais próximo o mais rápido possível. Mas alguma coisa me dizia para relaxar. Uma voz interna, que não se ouve pelo aparelho auditivo, se sente e só. “Vai dar tudo certo”, eu ouvia e repetia mentalmente. “Esta é a intenção disso tudo, é assim mesmo que funciona, é para isso que você está aqui”. Tentei ao máximo acreditar nesta afirmação, mas o medo da morte era muito maior. Freneticamente tentava aquecer minhas pernas com as mãos, o corpo tremendo muito, mas não de frio, um tremor intenso em escala reduzida, muito rápido que só se sente por dentro do corpo mas não se vê de fora. Calafrios, coração na boca. Oxum, Ogum e outros nomes estranhos nas músicas densas e profundas, me carregando para o que há de mais íntimo na Terra ou de mim mesmo, as entranhas escuras, úmidas e pesadas deste planeta em terceira dimensão, matéria. Eu era arrastado para a escória do mundo, para a minha escória, dor, tristeza, mágoa. Algo muito forte e cheio de medo, sofrimento. “Me tirem daqui, comprei gato por lebre, quero sair, quero que acabe já!!! Socorrooooo”. Angústia, Aflição, muita aflição, e eu já tinha experimentado sensações parecidas a estas em “bad trips” da minha adolescência. Mas nada se igualava a isso. A garganta aperta, seu corpo se mostra frágil e delicado, retirando-se da cena para que você volte a ser o que sempre foi: parte de tudo, nada.

Enquanto a música era pesada e intensa, terreiro, macumba, igreja, santos e outros símbolos me surgiam em imagens na cabeça. Um negro com cabelos brancos e miçangas no pescoço, me dava passagem para o beco de muros beges de terra e pedra, cavernas escuras e as velhas mandalas. Um rosto sem gênero, figuras da procissão. Uma vela acendeu e revelou duas senhoras com xales negros sobre a cabeça, rezando o decoro católico e me julgando antes de cometerem uma atrocidade qualquer. Um padre sussurrava ao fundo palavras indecifráveis e eu era apenas uma criança.

É como se fosse um sonho real, você está acordado e tem noção de tudo, não perde a consciência. Você sabe exatamente onde está, o que está fazendo, o que está acontecendo ao redor... É só abrir o olho para retornar à mente lógica, racional, que a todo momento briga para manter a ordem no sistema já abalado pela dupla realidade na qual se encontra. Você praticamente tem acesso a uma dimensão paralela, o outro lado da vida terrena, mundana, onde nada é mais o que era e ao mesmo tempo, é tudo, você é tudo, é parte de tudo. Entrar em contato com você mesmo, o planeta e uma realidade paralela é algo inexplicável em palavras. Palavras? Que palavras? Elas não existem nem dentro nem fora da boca nesta hora. Eu? Que eu? Tempo? Que tempo? Não existe mais nada, ao mesmo tempo em que somos tudo. Individualidade acaba, você sente, não pensa.

A música traz a voz de um “preto veio”, mas já não sei definir se é uma voz masculina ou feminina. É forte, fala de umbanda branca, de paz e bem, mas me incomoda. É ruim, mas puro. Até agora, todas as músicas me incomodaram, religiosas. Catolicismo, o maior erro cometido por religiosidades no planeta. O sadismo dos senhores católicos, as mentiras, as manipulações, os tabus. Falsos valores e orgias. A Terra podia ser muito melhor sem esta praga. O que há de mais podre entre tantas vidas que passamos por aqui.

Alguém fala alguma coisa ao meu lado, demoro um tempo para perceber que o padrinho está à minha frente oferecendo a segunda dose (tradicional e costumeira) de Ayahuasca. Mas eu, que na verdade estou tendo visões fortes e pesadas sobre esta Terra, estou sentindo medo e sofrimento, encarando a morte em primeira estância, vou beber mais um copo dessa coisa maluca? Não mesmo! Recusei. Me arrependi depois, mas nada acontece por acaso e assim tinha que ser. Alguns chegam a beber quatro copos em rituais como este. Para mim, um bastou, mas poderia muito bem ter tomado o segundo, sei que seria muito bom.

Dói o peito, agora é impossível ficar parado. Estou comigo, dentro de mim e sinto seres à minha volta. Não os seres que consigo observar ao abrir os olhos, em volta da fogueira e nos colchonetes encostados ao meu, mas seres sem corpo, muitos deles. Sinto-os ao meu redor, juntos num círculo de proteção, me guiando para esses locais onde estou chegando. Meu peito dói fisicamente e ao mesmo tempo que o medo vai diminuindo, começo a entender melhor as “visões”.

Dentro do que “somos”, sou e são todos UM. A morte vence e me mostra um outro lado de tudo. Minhas costas doem como meu peito. _”Isso é normal? Vou morrer mesmo?”
Morri.

E fui levado pela trilha e pelo ar, sem pesos físicos, tudo deixado para trás, tudo meeesmo. Daqui nada foi comigo, nem meu corpo, nem meus sonhos, nada.

O silêncio se estende longamente, sem tempo, pois tudo é eterno e fugaz. A vida é ilusão dentro do todo que nos abraça e mostra mais uma porção de outras possibilidades aleatórias entre os planos. Voltei a abrir os olhos e vi uma estrela mais brilhante no céu iluminado por tantos pontos alvos. Senti saudade.

_ Índios. A vida natural. Me vi entre tribos, uma criança indígena, feliz e vivendo livremente entre a tribo unida. Riso, festas, sou um guerreiro da floresta, sei tudo e sinto, vivo a vida de índio. Esta, para mim, foi uma cena de regressão, como se eu realmente tivesse me lembrado de estar lá, assim como me lembrava que estive numa festa bacana há alguns anos. E tentei desafiar a imagem, sabendo que algo havia acontecido à “parede” de uma das casas à frente.
Sentado junto a um amigo índio, bebemos, alguma coisa, a fogueira ao centro de uma enorme clareira de terra batida, um círculo formado por pedras brancas. Estamos sentados num meio tronco de árvore pintado com desenhos geométricos parecidos aos que estão em nossa pele. Vermelhos e pretos, os traços diagonais que vêm desde os cabelos são adornos para a celebração. Reconheci mais tarde, o meu amigo índio era minha mãe num encontro entre as inúmeras visitas a este denso, pesado, porém belo planeta. Olhei para a casa de “sapê” à frente. Sapê? Fibras finas de árvores trançadas que se juntam na ponta. Passa-se entre o “bambu” (ou madeira fina e um pouco flexível) e junta-se com mais dessas fibras longas para trançar as paredes da casa. Ali havia um buraco, alguém tinha feito um buraco no sapê, e eu sabia disso antes de ir até lá perto ver. Impressões que me impressionam. E o buraco era ótimo, pois tínhamos um desafio à frente: consertar o buraco, e os desafios são chances de nos tornarmos melhores, de aprendermos algo. Ninguém naquela tribo reclamou a formação daquele buraco, mesmo que todos soubessem quem fosse o responsável. Viver é deixar-se levar pela vida, aceitar os desafios, correr os riscos e buscar os sentimentos bons o máximo possível. Daqui não se leva nada, nada mesmo, portanto, siga a vida, desprenda-se dos bens materiais, seja humano e entre em contato com o planeta, a natureza e os outros humanos ao seu lado.

O intenso frio dá lugar a um calor muito forte que vem das minhas mãos e atravessa meu corpo até aquecer o próprio chão. Alguém me cobriu com mais um edredom, senti muita gratidão e fiquei ainda mais feliz. Juntando minhas mãos senti uma energia muito forte, um poder de cura, um calor que limpa. Talvez seja uma forma de utilizar esta energia tão forte, curando a mim mesmo e aos outros na força das mãos.

Céu de azul escuro, amigos, uma felicidade simples me envolve e já não sinto mais medo, meu corpo responde aos estímulos da música sem parar, mas agora estou deitado, batendo os pés como um tambor, relaxando e aproveitando os ensinamentos que esta experiência me traz. Me guio pela música que agora é indígena, frases em línguas antigas, vozes serenas, homens, mulheres, Apaches, Xavantes, Xingu... Eu estava lá, e é aqui mesmo. Seja qual for a etnia dessas tribos, o ensinamento me veio como um só. Somos, ao final de tudo, um só.

Índio não tem espelho, ele vê no outro como está. Se outro está bem, estamos todos, se outro está doente, estamos todos... Índio não julga, índio vive, segue a natureza e sente a vida, inteira como ela deve ser. Ou não...

A música agora é tensa, grave. Um tambor, um instrumento de sopro e um de cordas, grave. Me traz muito medo, fico assustado e decido investigar os motivos. Me vejo criança índio, dentro de uma oca construída de barro, muitos “amiguinhos” ao meu lado só ouvindo a história de monstro que o ancião está contando. Ele levanta os braços, fica enorme, fala de uma sombra com olhos de fogo que surge da floresta e conversa com os índios podendo até mata-los! Eu olho para meu amiguinho ao lado, tremo de medo. O medo é tanto que saem gargalhadas e berros, curtindo a história como se fosse boa, pois medo, alegria, tristeza e felicidade são sentimentos interligados, precisam ser sentidos sem julgamento. O ancião ri e continua a história de medo, no tom grave de sua voz, que se mistura com a música e vai se desfazendo enquanto outros jovens adultos dão risadas fora daquela oca.

Alguém se levanta ao meu lado. Abro os olhos para ver o que é e observo um fiscal acompanhando um rapaz, provavelmente, até o banheiro. Eles dão um passo em minha frente. Volto a viajar internamente e estou mais uma vez entre os índios, dançando de dia, com mulheres e crianças, todos envolvidos na música cantada e tocada de forma rústica e natural, adorando o céu, a terra, as frutas, os animais, as flores... enfim, sendo essa a função humana, integrar os elementos nesta biblioteca viva que é o planeta. Passo dias lá, aprendo com os índios lembrando que sou um deles. Abro os olhos, o fiscal e o rapaz dão um segundo passo em direção ao banheiro, ainda em minha frente. O tempo já não existe mais fora desta dimensão.
Penso na minha família... Estou mais livre agora, ainda sou guiado e sinto que muitas energias estão ao meu redor, mas posso ir onde quero, visitar os infinitos quartos do meu ser inter-dimensional.

A velha enrugada e feia se aproxima. Sinto receio, angústia, repugnância. Ela vem chegando e posso observar suas rugas profundas, os olhos embaçados e esbranquiçados, apresentando um aspecto despido de qualquer beleza. Ela põe a mão sobre mim e está envolta de uma luz leve, branca com borda azulada. Eu a sinto, posso toca-la, beijo sua mão, pois a beleza agora é fato. A mesma velha, as mesmas rugas, a beleza não está aí. Proteção, amparo, segurança. Ela estava lá de verdade, no astral e não dentro de mim. Estou em contato com o que há de mais natural e puro, e sinto que desde o começo, quando as mandalas apareceram, tudo teve o mesmo sentido, a mesma beleza. O bem e o mal, interagindo como se fosse a mesma coisa e por fim o é.
Tudo é o mesmo, um só.

Voltei à família, minha mãe, vi meus irmãos e os abracei muito forte por serem tão parte de mim, por sermos tão próximos e nos deixarmos distanciar por fatos impensados, por sentimentos que se distanciam do perdão, da compreensão e do amor que nos acolhe a todo instante. Amor, uma palavra que, com toda certeza, tem um significado totalmente diferente hoje. Amor por tudo e todos, como o amor que sinto por mim e, sendo assim, por tudo. Imenso, básico, puro, e pleno. Inexplicável.

Meu pai. Tantas diferenças, tantas ofensas e provocações um para o outro. Sutis, mas marcadas em nosso íntimo como uma dor de um amigo que se foi, a perda de um companheiro confidente. Senti meu pai ali, ao meu lado, junto comigo neste ritual que me afeta e afeta a todos por conseqüência. Toquei meu pai e pedi perdão. Neste momento a emoção era tão intensa que chorei. Lembrei de sentimentos que há muito não faziam parte da minha vida, lembrei que minha função aqui, minha missão, é levar amor em pulsos, em mensagens, em música e palavras a todos os cantos. Sentir isso é algo gigantesco que me coloca novamente no rumo certo deste desafio que é ser vivo e seguir para trazer a luz a este sistema já anestesiado e arrasado pelas trevas. Trevas de sentimento, trevas de atitude e julgamento. Somos todos um e, assim, precisamos nos curar, precisamos tomar atitudes nobres e sentir os bons sentimentos, emanar o amor pelo todo, pois assim estaremos curando, amando e salvando a nós mesmos.
No final, tudo é amor, tudo é lindo e tudo é nada. Nada é material como vemos aqui, não temos posse sobre nada, a busca é interior.

Voltei à minha família e suguei com a boca as sujeiras e as emoções congeladas nas paredes da minha casa. Soprei ao céu para transforma-las em chuva de estrelas. Elas brilharam como fogos e sumiram, voltando à terra em sua verdadeira essência de intenção. Busquei meus outros irmãos, irmãos de vida, a minha banda, meu maior projeto para conseguir transmitir as mensagens e vibrações positivas desta minha missão. Abracei cada um deles e nos vi como um, construindo uma ponte de sentimentos bons e iluminados rumo aos nossos sonhos. Minhas intenções agora são outras, são as originais e verdadeiras. Me vejo conquistando o sucesso na emanação de bons fluidos estampados nas nossas músicas, letras e performances de palco. Ainda é possível mudar o mundo.

Sinto uma viagem para dentro, sonhando acordado, sentindo tudo intensamente, sem me desligar em nenhum momento da consciência. Eu sempre soube onde estava, mesmo sendo guiado pelas forças da Terra, a mesma força que nos une todos a este planeta vivo, que sente, vibra e se expressa de diversas maneiras.

Fui atrás de todos. Procurei cada um e senti amor por todos. Busquei toda minha família e amigos ou filhos de amigos. Fiz meu melhor, curando em mim seus problemas, vendo-os livres de toda confusão que o ego, a mente lógica, insiste em trazer e nos manipular, mostrando fatores muito maiores e complexos.

E me lembrei do início, enquanto a música era tensa, agora é uma paz, um mantra. O medo e a dor, a fuga, a luta para se manter vivo, a troca por uma realidade menos material, menos pesada e densa, muito forte, triste e enorme.

Visitei as tribos, das Américas à África, mulheres vestidas de peças únicas, dos seios até os joelhos, vermelho e amarelo desbotado, a terra subindo pelos pisares no ritmo dos tambores. Fui a lugares onde já estive, vivendo de modo diferente em outras histórias, outros tempos. Juntei todos os que fui, ao mesmo tempo em que são você e todos os outros. Perdoei.

Muita informação, muita mesmo. 5 horas, aproximadamente, de trabalho interior, para mim e para o mundo, vivendo dias inteiros enquanto percorria vias inalcançáveis anteriormente. Audição e visão distorcidas mas muito ampliadas, sente-se a vibração de tudo e participa-se de todos os eventos ao mesmo tempo. Bom, tempo não existe, agora está provado para mim.
Da mesma forma que se vai a coordenação para levantar-se rápido, andar e falar, aumenta-se a percepção de tudo ao redor.

Vejo os lobos... Seguindo a mudança da tribo, amigos distantes que nos admiram. A neve não é tão fria e me vejo sentado no alto de uma pedra, sobre a copa de pinheiros e árvores altas. Giro uma corda que mantém em sua extremidade um artefato de madeira ou pedra. Danço e abro os braços, sentindo meu nariz maior, meus cabelos negros, minha pele parda. Sou um índio dançando, não, sou meu pai... o índio que senti era meu pai. Olhei para as estrelas. Eu vim de lá. Está valendo muito “a pena”. Não vejo a hora de voltar, são tantas e tantas vidas, seqüências de uma história que se iniciou há tanto tempo atrás. Ao mesmo que tempo que dá saudades para voltar ao céu, já dá saudade de tudo aqui, dessa coisa linda e misteriosa que é a vida na Terra.
Vim das estrelas, virei índio: _Bem vindo à Terra.

Talvez seja assim com todos quando chegaram aqui pela primeira vez. Conhecemos a essência de tudo aqui, sendo índios e, conforme as novas espécies eram criadas, fomos moldando nossas histórias de modo diferente. Criamos nossas revoluções, nossos erros e nossas civilizações. Construímos tudo o que existe hoje e estamos à beira de outro chacoalhão, onde mais uma vez decidiremos o que será disso tudo aqui daqui pra frente. Podemos voltar a ser índios com ou sem opção de salvar o que escrevemos.

Levanto-me do colchonete, já apto a caminhar devagar sem cair. Tropeço um pouco, mas reaprendo a andar em alguns instante. Alguns se juntam ao redor da fogueira, dançamos sem regras, livres para interpretar as reações do corpo que seguia à música como se fosse de praxe. Os passos vinham naturalmente como se já conhecesse aquele ritmo, aquela dança, aquele ritual. Dançamos por uma vida mais real, pelo amor à tudo.

Me aqueci junto à fogueira até as estrelas vagarosamente darem lugar ao Sol tímido e lindo de uma manhã de domingo que, seguindo o chavão, seria o primeiro dia do resto de minha vida. Sou outra pessoa!

Tudo é tão claro e simples. Tudo está aqui, na nossa frente, distante dos olhos mas muito próximo dos sentimentos. Esta mistura de duas plantas mágicas me permitiu ver o que podemos alcançar a qualquer momento.

A morte é uma mudança, uma passagem. Quando ela chegar, se você assim decidir, nada mais restará, nada perdura, exceto o amor e as aventuras que você experimentou. Mais uma vez: daqui nada se leva.

Busque o que há dentro de você, seja e viva o que é você. Busque a felicidade e saiba que ela está nas coisas simples, no amor, na compreensão, no deixe ser, deixe viver.
E, de vez em quando, olhe para os índios.

Voltei para casa e já não era mais a mesma, com toda certeza, pois eu já não era mais o mesmo. A estrada segue, mas acho que peguei um atalho mais bonito.

Ivan Volpe
23/11/2006

12 comentários:

Chade disse...

cara adorei essa historia, ja algum tempo ouvi flar do daime, ja estou pronto para tomar mas por motivos banais acabei nao indo num ritual ainda, hj ia ir mas nao deu aki acontece de 15 em 15 dias, espero nao perder a próxima chance!

tabata disse...

Que bom que voce descobriu o amor interior,por que o daime é isso auto conhecimento.Eu ja fui a um ritual e foi a experiencia mais linda que ja tive sai de la outra pessoa me amo muito hoje e minha missao é passar meu auto conhecimento para outras pessoas todo mundo deveria passar porisso concerteza o mundo seria melhor..

Unknown disse...

Onten tive minha primeira experiencia com ayahuasca e foi simplismente divino, tive mais ou menos as mesma visoes, voltei a ser crianca e brinquei com meus pais que me falavam que aquela era a vida de verdade como se devia viver em paz consigo e com os outros, deitei na terra e fui me desmaterilizando ate virar terra tb, minha limpesa foi maravilhosa tive toda consciencia doque estava colocando pra fora, e olha que coloquei muita coisa ruin pra fora hein, depois senti uma vontade enorme de dancar ao som das musicas que rolavam, naquele momento entrei em total comunhao com o mundo.

txai.online disse...

Quantos detalhes!!!! Maravilhoso este relato. Muitas coisas das quais você falou eu vivenciei e lendo seu maravilhoso texto me fez lembrar de experiências incríveis com essa bebida maravilhosa e milagrosa.

Gratidão!!!

Unknown disse...

Não senti absolutamente nada quando tomei... Fui no Céu Sagrado em Sorocaba.. Ainda tive que desembolsar os.30.00 da entrada e depois de quatro horas de culto não terminava nunca o tal do padrinho atrasou o sermão pra caramba e obrigou todo mundo a ficar até o final... Resultado... Sai de lá quase 1 hora da madrugada e ainda um pouco mais pobre...

txai.online disse...

É bem desde jeito mesmo Natalia, quanto mais apegado ao mundo físico e a coisas materiais menos se consegue se percebe do mundo espiritual.

Um conhecido meu, Doutor em Psicologia foi com o intuito de cronometrar todas as sensações, um estudo científico e da mesma forma não sentiu nada o que é bem óbvio.

Ao contrário do que muitos imaginam, o chá não é uma bebida alucinógena, voce nao vai pagar 30,00 pra curtir um barato diferente, ele é um chá enteógeno que vai lhe conectar com o mundo espiritual, com seu verdadeiro Ser.

Se os portais serão abertos para você ou nao é um julgamento deles mediante o seu momento evolutivo e aos pensamentos que esta alimentando.

A contribuição é para cobrir os custos de produção e preservação desta santa bebida que cura e trás a verdadeira consciência cósmica e divina a humanidade.

Anônimo disse...

Lindo relato. Me identifiquei. Eu tb voltei pra casa, mas voltei outra. Renasci.

Anônimo disse...

Lindo relato. Me identifiquei. Eu tb voltei pra casa, mas voltei outra. Renasci.

Unknown disse...

Maravilhoso.
Parabéns pelo artigo.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Substâncias enteógenas assim como as psicodélicas reagem de forma diferente em cada organismo, pois depende de fatores físicos, psicológicos e emocionais, como o chá de Ayahuasca não causa overdose, nao há risco em tomar uma dose maior que os outros, quando fui paguei 70 dinheiros e foi usado no ritual o Ayahuasca mel, o mais concentrado, bateu em 15 min ou menos, o tempo ficou muito relativo depois disso hehe.

Marcelo disse...

Voce conseguiu expressar muito bem algo muito dificil de ser transmitido em palavras. Só valeu!