Psicodélico: Redução de Danos para Cannabis sativa (maconha)

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Redução de Danos para Cannabis sativa (maconha)

Segue um resumo do Artigo Redução de Danos para Cannabis Sativa (Maconha) escrito pelo Edward.

Leia o texto na íntegra no site: http://www.neip.info/downloads/t_edw4.pdf

Transportando para a prática algumas das idéias desenvolvidas por Becker, Zinberg e Grund, entre outros, podemos sugerir que seria importante adotar as seguintes medidas para reduzir os danos associados ao uso de substâncias psicoativas em geral e da Cannabis em particular:

1º) Reconhecendo que os piores danos do uso da Cannabis advém do seu status ilícito, defender a legalização e regulamentação da disponibilidade dessa substância e seus derivados e, possivelmente, dos psicoativos em geral. Ajudaria-se, assim, a evitar o desenvolvimento de estruturas criminosas e violentas associadas ao tráfico e a assegurar um controle de qualidade. Valeria também reconhecer a importância de usos formais e ritualísticos de enteógenos, como modelos de redução de danos.

2º) Enquanto ainda predominam políticas proibicionistas, buscar parcerias com faculdades de direito para constituir grupos de defesa jurídica para usuários presos pela polícia, e procurar contatos com órgãos de defensoria pública, chamando sua atenção para problemas específicos dos usuários de drogas em sua relação com a lei;

3º) Fomentar a disseminação e a discussão em torno dos saberes eruditos e leigos existentes a respeito dos psicoativos. Para tanto serviriam publicações dos mais diversos tipos, a criação de sítios na Internet e a constituição de grupos de discussão para usuários;

4º) Apontar que, embora relativamente inócuo, o uso da Cannabis não deixa de apresentar seus perigos, assim como o de outras drogas, lícitas ou ilícitas, sendo indicada a busca de estratégias para reduzir seus danos;

5º) Reduzir o sensacionalismo em torno do tema, chamando atenção para aspectos mais amplos do uso de psicoativos lícitos e ilícitos, deixando de enfocar exclusivamente a Cannabis.

6º) Paralelamente é importante desmitologizar a figura do “traficante”, já que sua representação atual como uma poderosa ameaça à ordem social instituída o torna um modelo extremamente atraente para aqueles que se sentem excluídos de seus benefícios, além de dificultar abordagens mais eficazes para os diversos problemas que o uso de drogas apresenta de fato para a saúde física, psíquica e social da população;

7º) Incentivar discussões intere intrageracionais sobre o tema de maneira isenta de preconceitos. Para tanto se podem incentivar debates nas escolas, famílias, grupo de jovens, etc, sobre a questão, deixando aflorar novas perspectivas e sugestões.

8º) Evitar posturas de censura, tanto em discussões familiares quanto públicas sobre o tema e buscar incentivar o desenvolvimento de normas, regras de conduta e rituais sociais relacionados aos: métodos de aquisição e consumo, à seleção do meio físico e social para o uso, às atividades empreendidas sob o efeito da substância e às formas de evitar efeitos indesejados;

9º) Promover uma melhoria na estruturação da vida do usuário, combatendo sua marginalização econômica, social e cultural. Tendo em vista a estrutura essencialmente desigual e pouco democrática da nossa sociedade, isso pode parecer irrealista por ser demasiadamente ambicioso, mas a instituição de programas, oficiais ou não, de redução de danos e a criação de grupos de usuários são passos iniciais que podem ser tomados nessa direção;

10º) Promover serviços de atendimento psicológico e social especializados para aqueles que apresentam dificuldades em estabelecer uma relação controlada com a substância. Estes poderiam visar o deslocamento do lugar ocupado pela droga na vida do usuário, de maneira a retirar a sua centralidade e diminuir sua carga simbólica e afetiva.

Mais concretamente, em relação à abordagem direta de usuários da Cannabis podemos fazer algumas sugestões complementares:
Primeiramente, sempre adotando uma posição de diálogo franco e democrático, lembrar a eles a natureza ilícita de suas práticas e as severas sanções penais às quais se expõe. Na persistência da intenção de uso, sugerir e reforçar normas, regras de conduta e rituais sociais condizentes com o uso controlado, incluindo modos de evitar efeitos indesejados e a importância de se escolher ambientes físicos e sociais de natureza tranqüila e protetora para o uso.

Incentivar debates sobre as melhores maneiras de fazer frente aos piores perigos apresentados pelo uso ilícito da Cannabis: a violência da repressão e do submundo do tráfico de drogas ilícitas.
Conscientizar os usuários de seus direitos legais e discutir formas de evitar contato desnecessário com os traficantes; levantar os prós e contras de estratégias como a formação de cooperativas de compradores ou o desenvolvimento de pequenas plantações caseiras.

Promover a conscientização do usuário sobre quais os benefícios que busca, e atentar para a importância de se impor limites ao uso, para que este não se torne um simples hábito acompanhado de tolerância aos princípios ativos da Cannabis e deixando de prover satisfação.
Quando isso ocorre o usuário pode considerar mudar seu padrão de uso, buscando a potencialização dos efeitos através da redução no consumo e não na busca incessante por variedades mais potentes ou no aumento da sua freqüência. Na persistência de problemas na relação com a substância o usuário deveria considerar a possibilidade de buscar o auxílio de profissionais especialistas no tratamento de toxicomanias.

Além de evitar usar o psicoativo por simples conformismo a padrões de comportamento grupais ou só porque está disponível, o usuário deve pensar sobre o melhor momento para seu uso, levando em conta as suas necessidades de estudo e trabalho.

Para isso pode também procurar identificar as atividades são mais adequadas ao seu estado de “barato”, evitando, assim, o uso dessa substância quando isso possa ser um fator de perturbação.
Alguns usuários alegam poder ler, estudar e se concentrar melhor sob efeito do Cannabis, outros dizem o contrário. Certas atividades simples e repetitivas como varrer a casa ou capinar um terreno podem se tornar mais agradáveis, outras, requerendo precisão e coordenação psicomotora, reflexos rápidos e orientação espacial, como a condução de veículos, são dificultadas e devem ser evitadas. A ingestão de bebidas alcoólicas e a sonolência agravam ainda mais essas perturbações. Assim, cada um deve buscar um auto-conhecimento em torno dessas questões, uma vez que os efeitos de psicoativos tendem a variar de indivíduo para indivíduo.

Embora pesquisas médicas tenham demonstrado uma relativa inocuidade da Cannabis, é indubitável o efeito danoso ao sistema respiratório de se inspirar grandes volumes de fumaça, seja qual for a sua origem e composição. Assim, torna-se importante discutir maneiras de se realizar o consumo de formas mais eficientes e menos agressivas para o organismo.

Com essa finalidade, se pode discutir a relevância de diversas sugestões de redução de danos como as seguintes, colhidas entre usuários e em documentos que circulam nos ambientes onde se usam produtos canábicos na Europa e na Austrália.

Evitar reter o fumo no pulmão mais que alguns segundos. Isso basta para absorver grande parte do THC, o resto do tempo representando uma exposição desnecessária aos componentes cancerígenos do fumo como o alcatrão.

Evitar a presença de fungos que possam afetar o sistema respiratório (pode-se sugerir deixar a Cannabis ao sol ou aquecê-la no forno brando), assim como produtos químicos, como amônia, que podem vir misturados com a droga (nesse caso recomenda-se deixar o produto imerso em água durante algumas horas e depois secá-lo ao ar livre ou em forno brando).

Igualmente, ao enrolar baseados, seria recomendável usar papel fino, desprovido ao máximo de corantes e outros produtos químicos, sendo também importante evitar “maricas” e cachimbos de plástico ou outros materiais que possam soltar vapores tóxicos ao serem aquecidos.

Evitar um fumo demasiadamente quente, deixando de fumar pontas, utilizando cachimbos de água, ou, mais simplesmente, improvisando um cachimbo com a mão (prendendo o baseado entre os dedos, fazendo um oco com a mão fechada e aspirando através dele).

Não usar filtros de cigarros em baseados, já que eles podem reter muito do THC e aumentam a absorção de tóxicos como o alcatrão.

Atualmente já existem na Europa vaporizadores e outros produtos que permitem inalar os vapores de THC sem levar a Cannabis à combustão. São especialmente recomendados para usuários debilitados que consomem a substância com fins medicinais.

Aqueles com a imunidade prejudicada ou que estejam consumindo maconha na companhia de pessoas sofrendo de doenças transmitidas pela saliva, devem evitar a exposição a patógenos, deixando de colocar a ponta do baseado diretamente na boca. Isso pode ser feito da maneira já descrita acima, onde o baseado é fumado através de um oco formado com a mão fechada.

O aparecimento de dificuldades em respirar, tosses constantes ou outros problemas do aparelho respiratório podem sinalizar danos sendo causados pelo fumo. Nesses casos, tal como com tabagistas, é recomendável a cessação ou redução no uso e, possivelmente, a adoção de outras vias de consumo, tal como a ingestão de comidas preparadas com Cannabis.Esse antiqüíssimo método de consumo tem, porém, suas especificidades e difere do fumar especialmente em relação ao controle da dosagem. Quando se consome a Cannabis em bolos, doces, etc, os efeitos da ingestão levam entre 30 e 60 minutos para se manifestar. Isso torna fácil um consumo de quantidades excessivas do produto por aqueles acostumados a sentir os efeitos imediatamente após as primeiras inspirações de fumo. Além disso, o fígado produz um metabolito denominado 11-hidroxi-THC, que é de 4 a 5 vezes mais potente que o THC. Embora a overdose de THC não seja fatal, ela pode ser desagradável e durar várias horas.

Mulheres grávidas devem levar em conta os riscos ao feto apresentados pelo hábito de fumar, tanto tabaco quanto maconha. Embora o tema ainda seja controverso, há evidências de que o uso da substância durante a gravidez pode produzir efeitos sutis no nascituro e até afetar suas capacidades de aprendizagem em anos posteriores (Kalant 1999:425).

Mesmo baixas doses de THC costumam causar dilatação nas veias sanguíneas nos olhos, tornando-as mais visíveis. Embora não haja evidência de nenhum risco maior, pessoas com conjuntivite, ou olhos inflamados, deveriam levar isso em consideração.Não é recomendável o uso de colírios que constringem essas capilares para esconder a vermelhidão “bandeirosa” (Conrad 2001:118).

Atentar para os efeitos sinergizantes da mistura da maconha com bebidas alcoólicas e outras drogas, assim como para o efeito devastador da “larica” em programas de regime alimentar, etc.Lembrar que indivíduos com propensão a certas doenças mentais, como a esquizofrenia, devem evitar o consumo de Cannabis que pode desencadear crises em indivíduos suscetíveis.

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