Enviada para o Ilmo . Coronel Raimundo Guarino.
Comandante do 4 BEF.
Utilização da Santa Maria
A erva Santa Maria conhecida cientificamente como por Cannabis Sativa e vulgarmente conhecida no Brasil por maconha, tem uma origem milenar.
Tem-se conhecimento que os egípcios e os chineses utilizavam as suas propriedades analgésicas há mais de 2000 mil anos antes de Cristo.
Na Europa a cultivavam para extrair-lhe as fibras e confeccionar cordas e tecidos.
Na África e no Oriente Médio, conhecida como haxixe, seu uso é comum ligado ao aspecto místico. Heródoto já descrevia seu uso sagrado na Assíria, Babilônia e Palestina. Na América os índios a conhecem e a utilizam a séculos. Os colonizadores europeus, ajudavam a sua difusão no novo continente. No Brasil a cannabis chega na bagagem do negro africano. Hoje varias tribos no nordeste a cultivam como os Canelas, Krikati, e os Quajajaras.
Também no Norte de Goiás ela faz parte da cultura indígena.
Nas últimas décadas, rompendo a marginalidade, que estava inserida, a cannabis passou a ser consumida, por um número considerado da população mundial de jovens e adultos.
Alguns estudiosos, crêem que esse fato deve-se a incapacidade da sociedade em atender as necessidades espirituais das pessoas, principalmente dos jovens, relacionando as últimas décadas com movimentos de valorização humana, como os movimentos hippies, e comunidades agrícolas.
Essa ampla utilização e as implicações legais do uso da cannabis fizeram com que governos de vários países criassem comissões especiais para estudarem o assunto.
Segue os resultados de algumas dessas comissões:
Relatório da Comissão Nacional dos EUA, ( 1972) " ....O uso experimental ou intermitente desta droga, determina um risco mínimo para a saúde pública, e a este fenômeno não deve ser dada atenção excessiva.... O cultivo, a venda e a distribuição, visando lucro e a detenção de maconha com o intuito de vendê-la devem ser considerados crimes graves ... distribuição em caráter privado de pequenas quantidades, sem remuneração, ou com remuneração insignificante, que não implique em lucro, não é crime. "
Relatório da Comissão Indiana ( 1894 ) : " o uso ocasional da cannabis, pode ser benéfico, o uso moderado não dá nenhuma consequência negativa, o uso moderado é regra o abuso é exceção....."
Relatório da Comissão Canaddense ( 1972 )... " os efeitos passageiros são insignificantes do ponto de vista físico, não fica estabelecida nenhuma relação de causa e efeito entre o uso de cannabis e de drogas mais perigosas.
Não há relação entre o seu uso e a criminalidade., o governo federal deveria adotar uma política a nível nacional para sua regulamentação semelhante a já existente, para a venda do álcool .... todas as etapas da produção e da venda de maconha deveriam ser gerados pela autoridade federal ou estadual".
" O relatório da comissão do governo Holandês de ( 1972 ), propõem três alternativas para a legalização do uso e do tráfico: A exclusão como crime e porte da cannabis para uso pessoal e de pequenas quantidades, o tráfico no entanto seria passível de pena de prisão, impunibilidade total do uso, e da posse e a legalização,através de um sistema, de licenças para venda.." A partir de 1976 o governo Holandês não considera crime a posse de quantia inferior a 30 gr. Em 1978, no Novo México a cannabis foi re-introduzida como medicamento, recomendada em casos de inapetência em quimioterapia e nos casos de glaucoma. Na medicina ocidental ela tem uma utilização tanto na homeopatia quanto na Alopatia, dentro da medicina natural.
Na homeopatia, ela serve para histeria, eplepsia, psicoses, dor de cabeça doenças cardíacas, asma, catarata e etc...
A aplicação alopática da cannabis através de chá e mais raramente como fumaça, foi comprovada constatando vários efeitos terapêuticos, como analgésico, estimulante do apetite anti-epilético e anti-espasmódico, anti-asmático, analgésico nos trabalho de parto e antibiótico para uso local.
A associação dos anestesistas dos EUA num relatório sobre o THC ( tetrahidrocanabinol) princípio ativo responsável pela maioria dos efeitos psicológicos e físicos, posicionou-se a favor da utilização pelos seguintes motivos: peculiaridade dos efeitos farmacológicos, ausência de dependencia física, toxidade absolutamente baixa e auasência de ação depressiva sobre os centros respiratórios.
No sentido farmacológico que define que substâncias químicas, natural ou artificial, que modifica a patologia ou a atividade mental dos seres humanos, é considerado droga, a cannabis entra na categoria das drogas juntamente com o álcool, tabaco, café e etc...
Várias pesquisas foram publicadas, descrevendo seus efeitos psicológicos. Nos EUA em 1969 Charles Tartcomprova que no campo de percepção sensorial os efeitos mais comuns são o aumento da percepção ao som, percepçãomais aguçada dos contornos e das cores, maiorimaginação a nível do pensamento e os da leitura. Foi cosntatado também uma maior frequência de fenômenos paranormais entre os consumidores da cannabis.
Os efeitos psicológicos da cannabis são descritos pelo médico Marcio Bontempo, "..... aumento da sensação de bem-estar e de euforia, acompanhado de sensações de relaxamento a sonolência é menos pronunciada e geralmente ocorre hilariedade espontanea, seguida de uma fase de introspcção, e mais e raramente de depressão. Os usuários de longa data demostram maior controle dos quadros psicológicos.
Pesquisas realizadas na Itália pelo médico Giancarlo Ainao demosntra que a cannabia não é afrodisíaca, mais registram-se nos consumidores, estimulos sexuais mais intensos, no semtido de tornar o ato sexual, mais atraente quando o impulso já está presente.
Os efeitos nocivos atribuídos a cannabis como a psicose, atrofia cerebral, redução do ímpeto de testoterona,dependencia, redução das defesas imunitárias e danos aos cromossomas, não foram comprovado.
Observa-se que a noção de nocividade está diretamente ligado a ilegalidade, o mesmo não aconteceram com outras drogas legalizadas como o álcool e o tabaco, de comprovada nocividade.
Outro aspecto importante e evidenciado nas pesquisas são os " fatores complementares " que interferem no psiquismo: a maneira como é utilizada, a dosagem, a personalidade do indivíduo, condições psicológicas e físicas, o local, as companias, tipo de sociedade e de cultura.
Uma vez situada a cannabis sativa dentro dos estudos científicos, passamos a situá-la no contexto cultural de comunidade do Seringal Rio do Ouro, onde ela é denominada de Santa Maria.
A origem da planta na comunidade é datada por volta de 1975, quando alguns joves passaram pela comunidade 5 Mil e levaram algumas sementes para o Sr. Sebastião Mota.
Acostumado a plantar toda qualidade de sementes, nada o causou de estar transgredindo as leis.
Nesta ocasião, conta o Sr. Sebastião tivera um sonho., Estava caminhando numa estrada quando um homem montado num cavalo preto e de espressão amiga disse: - " você vai entrar em outra linha, e terá que aprender ser as suas custas".
Depois disso ele se viu, num jardim formado de pequenos arbustos de uma planta que não conhecia, quando apareceu uma mulher muito bonita e vestida de branco, que caminhou em sua direção com os galhos de plantas dizendo que aquelas plantas eram para cura.
Perguntado como a maconha chegou em suas mãos, o Sr. Sebastião explica " ...a maconha chegou as minhas mãos não como maconha, porque eu não recebi maconha, mas sim como algo espiritual, recebido de um espírito que me levou á um centro de mata, me contando tudo enquanto devia fazer com esta árvore. Esta árvore é uma grande sabedoria que o ser dela falou nesse ouvido aqui, que quem usasse, buscava a sabedoria do espirito santo.
A terceira pessoa é o Espírito Santo é a Virgem Soberana Mãe, que inclui todas as árvore e nós também estamos incluídos nelas."
O que se observa na comunidade é a ausência de culpa, de medo.
Sabe-se que o medo é a principal emoção negativa que está associado ao uso da cannabis. O medo pode ser acompanhado de uma paranóia, a sensação de estar sendo perseguido, acrescido dos sentimentos de culpa inconsciente nos consumidores, pelo fato de estar usando uma substância ilegal, condenável, pela nossa sociedade.
A " Santa Maria " é considerada sagrada tendo tanta importância quanto ao Santo Daime na hierarquia da Doudrina, conforme esclarece um dos membros da comunidade. " A nossa igreja tem duas bandeiras, são duas torres, uma é o Daime e a outra é a Santa Maria. Uma o mestre recebeu e a outra o Padrinho p recebeu. A história dele ele sabe contar, é bonita e grande. Agora está parado, desde que houve este problema ( apreensão na 5 mil ) porque hoje em dia além de não ser liberada, está suspensa, a bandeira não está subindo mais".
A questão de disciplina da Santa Maria gerou boatos que para não deixar as pessoas irem embora, se dava cigarros de fumo para obriga-las a trabalhar no roçado. Isto se transformou emn acusação da polícia federal.
Membros da comunidade contam que no início chegavam muitos " cabeludos " na Colônia 5 Mil, encostavam as mochilas, comiam, dormiam, fumavam sem compreender o sentido do trabalho. Achavam que a Santa Maria ali plantada era a mesma maconha que queriam fazer uso semelhante, fumando à toda hora sem nenhum propósito.
Nessa época, Alfredo Mota, administrador da comunidade sentiu necessidade de disciplinar a sua utilização, passou a distribuí-la nos trabalhos de concentração na igreja e por vezes no trabalho coletivo nos roçados.
Com o estudo desenvolvido com a Santa Maria, no tempo em que ela era usada, a dosagem chegou a ser de um " pito ", correspondente à um cigarro, por dia para serem fumado as seis horas da tarde, na oração. Passou a ser utilizada depois, um pito num intervalo de oito em oito dias para trabalhos de concentração.
Sobre o abuso o Padrinho afirma que " O homem ou a senhora entrar para entender a vida espiritual, que conheça de tudo, use mas não abuse, porque o problema não é usar é abusar. Quem abusa não pode receber nada. Quem vive de abusar os outros não quer nada, O uso da erva Santa Maria todo dia tem esse porém, o homem trespassa, ele pode trespassar para o lado espiritual, mas pode também se relaxar e ficar permanentemente uma estátua".
Um hino do seu filho Alfredo chamado " Santa Maria " reforça o sentido do uso:
Quem não conhece Santa Maria
Faz uso dela todo dia
E vive sempre em agonia
Mas agora chegou como eu queria
Meu senhor São João Batista
Jesus Cristo e São José
Agora chegou como eu queria
Agora chegou co mo Deus quer
Chegando como Deus quer
Chegou como eu queria também.
Na vontade da Virgem Maria
Ela agora vai vigorar
Ela é do meu comando
E manda eu comandar
Eu comando todo aquele que crê
Em Jesus Cristo e São João
Que esta é a verdade
que temos em nossas união
Vou dizendo assim para todos
E quero cumprir o que digo
Quem não for me ajudando
Não prova que é meu amigo
Para todos nos manda esta ordem
Agora respeita quem quer
mas aqui eu digo para todos
Vamos fazer o que Deus quer.
Olhem todos bem para sol
E todos olhem bem para mim
Se ainda tem confusão
Mas meu Pai não faz assim
Deus Pai e Espiríto Santo
Na nossa Mãe se encerra
vamos todos afirmar paz
E deixa quem quiser afirmar a guerra.
Fim
Outras pessoas da comunidade também " receberam " hinos sobre a Santa Maria, como Ramiro, menino de 2 ano9s que recebeu um hino depois que a polícia federal acabou com os jardins existentes na Colônia Cinco Mil:
Meu senhor São João Batista
E meu São José
Minha sempre Virgem Maria
E Santa Luzia
Minha Santa Maria todo mundo judiou
Porque ela aqui na terra
Deus louvou
Meu Senhor São Pedro
Ele é bom discípulo
Ele vem , ele vem
Ele vem nos socorrer
Fim
A principal finalidade da Santa Maria explica Alfredo que é a cura pelo chá ou pela fumaça, a cura pelo ritual. Segundo ele, uma pessoa pode esztar doente pela maconha e se curar pela Santa Maria, só pelo mudar de uso, pelo ritual...." o uso é determinado, tem os seus porquês, tem ritual de ser usada como o Daime, nós não fugimos às nossas normas de ser usada some nte quando se faz necessário. Só agora é que eu sei o que é maconha. Maconha pode nem ser só com esta erva como qualquer outro componente de força, todo uso mal dirigido poderá ser chamado de maconha, porque nós aqui desconhecemos o uso de maconha...nós estamos na batalha de estudar a Santa Maria e reafirmar tudo aquilo que a espiritualidade nos afirmou, que é harmonia, amor, verdade e justiça... estamos levando ao conhecimento geral esses dois componentes do nosso centro, que é o Santo Daime e a Santa Maria. Se não fosse a espiritualidade essas coisas, tenho certeza que teria ido abaixo, não teríamos esta amizade com grande população brasileira, muitas autoridades, tenho certeza que é Deus no sustentáculo deste centro que está nos dandoesta oportunidade, de levar em conhecimento que está dentro de nós mesmos".
" A erva Santa Maria serve pra vômito, asma, pertubação na cabeça, ela tira, busca mesmo, deixa o homem ou mulher límpidos como deve ser " ( Padrinho Sebastião )
Os hinos, que são a linguagem escrita da Doutrina explicam o que é o Daime e o que é a Santa maria, e foi com um hino que o Padrinho Sebastião respondeua pergunta: Se o Daime já era responsávelo pelo trabalho espiritual, porque a Santa Maria junto?
Meu Pai é um só
Meu Pai é um só
Minha Mãe não desmerece
Minha Mãe me dá o frio
O sol sempre me aquece
se não existesse o sol
O que era da terra
O sol é quem me dá a luz
E ilumina toda Terra
O sol é um bom guia
Para quem quer aprender
Ouvindo o que ele diz
Todos tem que vencer.
Fim
Padrinho Sebastião completa: "....mas quando a gente tem o pai, deve ter a mãe, quando o pai não cuida do filho, a mãe tem aquele maior cuidado com o filho. Assim nós temos o sol e temos a lua, temos todas as ervas que foram extraídas da natureza.....que todos os remédios são tirados das santas ervas santas, e ai não tem nenhuma que não tenha um valor profundo, o difícil é conhecer".
A Santa Maria é identificada com a parte feminina da doutrina a mãe espiritual, que cura, revela sabedoria, inspira o amor à e o gostopelo trabalho, o Santo Daime é o pai espiritual. Os dois juntos representam o princípio universal da vida.
O Padrinho Sebastião revela que assim como o Santo Daime, ela está sendo agora perseguida, mas tem esperança que ela seja liberada dentro do culto. " Eu não estou atráz de liberação para vagabundo, a liberação que eu quero é para aquelas pessoas que realmente sabe o que é, usa, trabalha direitinho. "
Altamiro, um dos responsáveis pelo setor administrativo do seringal compementa: - " Nós não temos o menor interesse de defender a maconha, não estamos lutando pela liberação da maconha, de jeito nenhum, porque issoé ir contra tudo, isso é um problema político, social e econômico da sociedade de consumo. Já o nosso caso é uma luta pra provar a existencoia real da Santa Maria, como ela é usada".
3 comentários:
Bom post.
Onde conseguiu essa carta? Trabalho com a Vera e ela quer falar com você! Por favor, entre em contato com a gente pelo deborahkarina@gmail.com, abraço
tambem acho.
Postar um comentário