DADOS DO ARQUIVO
Diretor: Michelangelo Antonioni
Áudio: Inglês
Legendas: PT/Br (separadas)
Duração: 110 min.
Qualidade: DVDRip
Tamanho: 704 MB
Formato: AVI
Servidor: Multiupload (parte única)
UM BLOG PARA DIVULGAÇÃO DE TEXTOS CIÊNTIFICOS OU NÃO SOBRE A UTILIZAÇÃO DOS PSICODÉLICOS E/OU ENTEÓGENOS ! UM ELOGIO AOS ESTADOS ALTERADOS DE CONSCIÊNCIA E QUE ESSES ESTADOS ALTERADOS POSSAM NOS PROPORCIONAR UMA MELHORIA NA QUALIDADE DE VIDA E UMA VISÃO ALTERNATIVA EM DETRIMENTO A ESTE MUNDO MATERIALISTA !
O ocorrido: em noite até então pacífica, dezenas de estudantes se revoltam contra uma dúzia de viaturas e dezenas de policiais. Briga, violência, abusos, prejuízos diversos (que seguem aumentando numa avalanche desproporcional…)
O local: A maior e (ainda tida como) melhor universidade do país, a USP.
O (suposto) problema: Uma planta de uso milenar, com propriedades médicas e científicas valiosas e adorada para uso recreativo por milhares há muitos e muitos anos.
A lei (11.343/2006) resumida: Não se pode plantar, nem vender nem distribuir. Mas consumo próprio não é crime com punição por detenção, pois não oferece danos a terceiros.
Um detalhe da legislação, como nos alertou o jurista Walter Maierovitch: “Não pode o universitário ser objeto de presunção de criminoso, pela mera condição de universitário de cursos superiores”
Apesar das palavras claras do ministro do STF, Celso de Mello, em junho, após a PM paulista brutalmente avançar sobre população pacífica que exercia seus direitos constitucionais de livre expressão de idéias na Av. Paulista, a maconha continua sendo o alvo principal de uma política equivocada, que há mais de 40 anos traz mais prejuízos do que soluções. Se não bastassem os trágicos resultados da Guerra às Drogas, já considerada por uma conferência recente nos EUA como uma empreitada “fora de controle” (Reform Conference) e pelo ex-presidente FHC e uma comissão pluralista e multidisciplinar (Drogas e Democracia) como um equívoco que deve ser revisto urgentemente, a política intolerante de proibição arbitrária de algumas drogas está emperrando também a ciência e o avanço da medicina. SIM, isso mesmo. A maconha tem inúmeros potenciais medicinais e terapêuticos, sendo um deles inclusive o uso recreativo, que tem em sua base uma busca, mesmo que inconsciente, de minimizar tensões e estresses do dia a dia, ocorrências tão frequentes nas cidades atuais. Mais ainda onde reina uma política equivocada que não consegue estabelecer diálogos entre os diversos setores da sociedade nem mesmo dentro da universidade (!), apelando à uma organização militar para mediar o que deveria ser um dos pilares centrais da educação de qualidade: o diálogo franco e não-violento. Aos que se preocupam com a violência e demandam mais segurança, incluindo PM dentro da USP, ja praticamente dentro de salas de aula, vale lembrar que nesse rumo estaremos abdicando do mais importante de todos os preceitos democráticos: a liberdade.
A questão é ainda mais grave porque a PM brasileira é uma das mais violentas do planeta, e está sob sérios problemas de corrupção, sendo inclusive suspeita de assassinato de uma juíza e ameaças de morte a um deputado que teve de fugir do país, ambos do RJ. Coisas do pior nível de tempos nada democráticos. De maneira indireta, combina com um reitor que não foi eleito pela comunidade que atualmente representa na Universidade de São Paulo. Enquanto a guerra as drogas sai totalmente fora de controle, a corrupção policial aumenta, e aqueles que, assustados e amedrontados com a escalada da violência demandam segurança através de maior e mais equipado policiamento, não percebem que os supostos protetores de hoje podem se tornar os grandes abusadores de amanhã. Como há muito profetizou Alan Moore: “Quem vigia os vigilantes?”
No intuito de contribuir com o diálogo democrático, a educação, a ciência, a medicina e a paz; e não menos importantemente de repudiar a violência, Plantando Consciência convida para a exibição do documentário “Esperando para fumar: Maconha, Saúde e a Lei” no dia 17/11, quinta-feira, as 20h no Cineclube SocioAmbiental – Sala Crisantempo (R. Fidalga 521 Vl Madalena). A entrada é colaborativa (ou seja, é de graça, mas vc pode levar coisas que esteja disposto a doar). Após o filme, teremos uma CONVERSA com Henrique Carneiro, Prof de História na FFLCH da USP, Renato Filev, doutorando da UNIFESP que estuda o sistema endocanabinóide – o sistema fisiológico natural que todos temos dentro de nossos corpos (até mesmo os PMs), onde atua a famigerada cannabis – e Maurício Fiore, doutorando em Ciências Sociais na UNICAMP e pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento); todos membros do NEIP – Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos.
O filme aborda principalmente a história da maconha nos EUA, os tempos antes de sua proibição, a questão médica outrora e agora e abusos policiais que também ocorrem em terras gringas. A narrativa servirá de base de dados e pano de fundo para uma discussão mais ampla e extremamente pertinente à sociedade brasileira. Divulgue, compareça, participe e contribua!
E como o debate e a informação são essenciais, já fica o convite para o lançamento do livro “O fim da Guerra: A maconha e a criação de um novo sistema para lidar com as drogas“, de Denis Russo Burgierman. Na Livraria da Vila (R. Fradique Coutinho 915) no dia 28/11 as 19 horas
Marcelo D2, Damian Marley e Odd Future foram alguns dos artistas que defenderam a legalização da maconha em suas apresentações no festival de música SWU, realizado neste feriado em Paulínia. Mas não foi só nos palcos, e entre o público dos shows – a partir da infalível máxima “aglomerou, legalizou” que a erva foi assunto no festival. Inspirados no crescente estado de exceção vigorante em todo país, seja na Rocinha seja na USP, a segurança do evento passou a revistar barracas e mochilas em busca da erva, ao que, como também tem sido praxe, felizmente, houve reação. E vitória, como sempre também. Confiram algumas reportagens publicadas na mídia sobre o tema.
No SWU, conferimos o ‘jeitinho brasileiro’ da ‘turma do vapor’
Jornal do Brasil
Nessa Terra Brasilis, batemos no peito para dizer que somos o povo que arruma uma maneira de resolver todo e qualquer problema. É o mundialmente reconhecido e estudado ‘jeitinho brasileiro’. Pois foi justamente ele que veio à nossa cabeça quando começamos a sentir o cheiro suspeito que se mesclou ao aroma da chuva que caiu no segundo dia de SWU. Ele mesmo, o de cannabis sativa queimada. Ou, para sermos mais claros, o cheiro dos cigarros de maconha. Dentre os fumantes que encontramos (que tiveram seus nomes alterados), a técnica de esconder a erva ou o cigarro pronto dentro da cueca é quase unânime para passar incólume pela segurança. “A revista é bem fraca, mas mesmo se fosse mais intensa, o baseado é tão pequeno que é difícil de achar”, explicou Diego, de 22 anos.
UOL entretenimento, sobre show de Marcelo D2:
“Depois do folk de Michael Franti e do reggae do Soja, Marcelo D2 trouxe de volta à programação do SWU o rap e o hip-hop, que já haviam chegado com Emicida no início da tarde. Entre uma forte ventania que chegou ao Parque Brasil 500, em Paulínia, D2 começou seu show pouco depois das 18h com mensagens sobre legalização da maconha. “Eu nasci no subúrbio do Rio de Janeiro, lutamos pela legalização da maconha, pela liberdade de expressão”, disse.”
G1 sobre show de Odd Future:
O show do coletivo de rap no SWU foi enérgico e cheio de macaquices de seus cinco integrantes. O líder Tyler, the Creator, inclusive, mostrou porque é considerado um garoto problema: ao beber uma água engarrafada – brasileira -, fez cara de nojo, cuspiu-a fora e pediu para a produção retirar todas as garrafas do palco. Em outro momento, um segurança do grupo empurrou um segurança da produção que havia retirado um cigarro de maconha de um homem no público. “Vocês fumam marijuana?”, perguntou Domo Genesis logo em seguida. Foi a deixa para uns baseados começarem a serem acesos.
Folha Online sobre show de Damian Marley:
Algumas parcas citações de clássicos (como “Exodus” e “Police and Thieves”, de Junior Murvin e Lee Perry) no meio de outras canções também foram notadas. O público -que, em sua maioria, não havia nem nascido quando Bob Marley morreu, há 30 anos- assistiu ao show com respeito e num clima “campus da USP antes da polícia” (a liberdade para fumar maconha nesse primeiro dia foi incomparávelmente maior do que no SWU passado).
Acostumado a circular entre famosos graças ao sobrenome (recentemente entrou para o projeto SuperHeavy, com Mick Jagger e Joss Stone), Damian aproveitou para contar a história da canção que fez com o astro pop Bruno Mars (“Ele me chamou para um drinque e eu disse, ‘não, Bruno, vamos fumar marijuana’”) – não que alguém tenha se importado.]
* * *
O festival que nasceu com a falácia publicitária de ser Woodstock do século 21 vem mostrando que não tem nada de libertário. Na verdade, as notícias indicam que a organização do SWU está muito mais ligada ao proibicionismo e a tolerância zero com drogas ilícitas. E vale lembrar que eles também são patrocinados por uma famosa marca de cerveja (a mesma do Rock in Rio).
Como de costume a repressão foi feita apenas na parte mais frágil desta estrutura de entretenimento. Na tarde do último domingo o clima na área de camping ficou tenso quando seguranças começaram a revistar as barracas em busca da erva proibida. Não muito longe dali, nos camarins do SWU, a maconha era queimada por artistas que batem no peito para afirmar que são apreciadores da maconha.
Antes mesmo de subir ao palco Snoop Dogg avisou aos jornalistas que pretendia soltar umas baforadas na frente do público. Já o camarada Marcelo D2 se apresentou a plateia dizendo que “Sou do subúrbio do Rio de Janeiro, lutamos pela legalização da maconha e pela liberdade de expressão”.
Já galera do Odd Future Wolf Gang Kill Them Al comprou a briga contra a repressão e interrompeu o show para criticar um segurança que tomava a maconha de um jovem da plateia. Ao perguntar no microfone ” “Vocês fumam marijuana?”, Tyler, the Creator obteve como resposta uma grande quantidade de baseados sendo acesos simultaneamente.
A noite do último sábado ainda teve show do SOJA e Damian Marley, que dispensam apresentações sobre a ligação íntima com a cultura canábica. De saldo, a organização do SWU deixou de saldo a mensagem que a lei não se aplica de forma igualitária para todos.
Traduzido de http://noticias.lainformacion.com/mundo/republica-checa-quiere-legalizar-el-consumo-de-marihuana-terapeutica_lHFNwYZOu3TfcFoELAnKF6/
Publicado em http://www.une.org.br/2011/11/opiniao-associacoes-de-usuarios-de-maconha-entre-liberacao-e-proibicao-por-sergio-vidal/
Publicado em http://freeculturemag.com/2011/07/news/cannabis-as-cancer-cure/
Estabelecimentos comerciais especializados em vender maconha medicinal na Califórnia estão sofrendo uma forte ofensiva por parte da Justiça Federal americana. Diversos negócios fecharam as portas nas últimas semanas em vários municípios do Estado.
Existem hoje mais de mil lojas desse tipo na Califórnia, às vezes um misto de farmácia e clube, onde as pessoas legalmente identificadas como pacientes para os quais a maconha é prescrita podem comprar o produto. Eventualmente, nesses clubes, podem consumi-lo ali mesmo.
No último dia 7, cooperativas, consumidores-pacientes e proprietários dessas farmácias de maconha medicinal entraram com ações na Califórnia para garantir o cumprimento do acordo anterior com a Justiça federal, que era deixá-los em paz desde que seguissem estritamente a legislação estadual.
Em 27 de outubro passado, um grupo de advocacia chamado Americans for Safe Access (www.safeaccessnow.org) havia dado entrada em outra ação em San Francisco acusando a Justiça federal de fazer um ataque inconstitucional contra a autoridade do Estado de legislar sobre sua própria política de saúde pública.
As leis federais atualmente são claras: a maconha é proibida. Mas as leis locais são diferentes. A Califórnia foi o primeiro Estado americano a aprovar o uso medicinal da maconha, num processo que começou em 1996 com a chamada Proposição 215.
No final de agosto deste ano, o governador da Califórnia, Jerry Brown, aprovou uma lei que pela primeira vez explicitamente reconhece a legalidade dos centros locais de distribuição de maconha e o direito de cada município regulamentar a distribuição de maconha medicinal aos pacientes. Com isso, cada cidade pode ter sua legislação específica, mais ou menos liberal. San Francisco é uma das cidades mais liberais.
Desde 2003, consumidores-pacientes na Califórnia podem manter suas próprias plantações com seis pés maduros ou até 12 pés não maduros da planta, para uso próprio, além de ter o direito de portar até oito onças (cerca de 200 g) de maconha seca. Mas não podem embarcar no aeroporto com a droga, pois o aeroporto está sob administração federal.
Um programa do Departamento de Saúde Pública da Califórnia providencia cartão de identidade aos pacientes que o demandam voluntariamente, e teoricamente garante sigilo, para evitar que eles sejam perseguidos.
Outros Estados americanos que aceitam a carteirinha de paciente da Califórnia são Michigan, Montana e Rhode Island. Mas vários outros Estados americanos também aprovaram o uso medicinal da maconha, entre eles Alabama, Arizona, Alaska, Oregon, Colorado e Maine.
Em julho passado, o prefeito de Seattle fez o que o governador do Estado de Washington havia se recusado a fazer: assinou medidas para regulamentar as farmácias que oferecem acesso legal à maconha medicinal.
Na prática, o sistema para o uso legal da maconha na Califórnia é bastante simples, tanto para portadores de doenças como glaucoma, câncer ou Aids, quanto para pessoas que querem apenas fazer uso recreativo da erva.
Funciona assim: primeiro é preciso marcar uma consulta médica. Custa por volta de US$ 120, mas pesquisando durante algumas semanas, encontrei anúncios de médicos em toda parte, com preço começando em US$ 25.
Se o médico for mais sério, no consultório o paciente normalmente terá de preencher um longo questionário, contando detalhes do seu histórico de saúde e informando se sofre algum dos males para os quais a erva é indicada, incluindo estresse e insônia.
Aí vem a entrevista pessoal, que pode durar segundos, minutos ou horas, a depender do médico e do paciente. Então, vem a prescrição da droga e a carteirinha de paciente, que é feita ali mesmo, na hora. Muitos médicos ostentam em seus cartões profissionais o desenho ou o nome da planta, e estimulam seus pacientes a distribuir esses cartões para amigos e conhecidos, alimentando o chamado Cannabusiness, o negócio da cannabis.
Cannabis é uma palavra de origem grega que designa essa planta de origem asiática usada há milênios, para fins diversos.
Ao paciente, então, caberá escolher uma das inúmeras farmácias especializadas no produto, mostrar a carteirinha e ir às compras. A farmácia legal não vai vender mais que oito onças do produto por pessoa por dia. Porém não há um controle centralizado, de modo que qualquer pessoa pode comprar uma quantidade maior, se quiser, e se for a farmácias diferentes. Mas as farmácias legais, obviamente, vendem o produto a um preço muito maior do que no mercado ilegal.
Há também tipos diversos de farmácias legais, desde as famosas por vender produtos a preços mais baixos até as grandes e modernas, voltadas a um público de poder aquisitivo maior.
Na Califórnia a maconha é vendida de muitas formas.
Nas farmácias, a erva é vendida em embalagens em parte transparentes, para o cliente ver o produto. Pequenas latas ou embalagens plásticas contêm folhas e flores, frequentemente com informações técnicas bastante explicitadas --se é da espécia Índica, Sativa ou híbrida, a gramatura, a quantidade de THC (tetraidrocanabinol) e CBD (canabidiol), que são os princípios ativos da maconha.
Mas a maconha também é vendida em forma de manteiga, chocolates, pretzels, biscoitos, bolos, cápsulas, óleos, tinturas, ou em quantidades maiores para uso culinário.
A última moda no consumo da maconha parece ser a vaporização, ou seja, a inalação do produto a uma temperatura menor do que a da queima ocorrida quando se fuma um cigarro. Digo isso pela quantidade de aparelhos para vaporização de maconha que estão sendo lançados, alguns chegando a custar mais de US$ 800, fora a erva.
Os entusiastas dizem que a maconha é o principal produto agrícola da Califórnia, se somadas as plantações legais e ilegais. Fui checar no site do Departamento de Alimentação e Agricultura do Estado e simplesmente não encontrei menção ao cânhamo nem à maconha nas estatísticas.
Entretanto, um reporte anual do Centro de Diagnósticos de Pestes em Plantas, que encontrei no site do governo da Califórnia, afirma ao mesmo tempo que o cânhamo não é uma plantação na Califórnia; que a Cannabis (maconha) é não oficialmente a maior plantação do Estado; e que a Cannabis Índica (uma das espécies de maconha) pode se tornar em breve a maior plantação legal da Califórnia.
Quanto mais eu leio e busco informações, mais confusa eu fico.
Quem planta, vende ou compra legalmente, paga imposto. As cooperativas, farmácias e/ou clubes não podem ter fim lucrativo. As que obviamente têm fins lucrativos parecem ter sido as primeiras a sofrer ameaças.
Quem planta, vende ou compra ilegalmente não paga imposto e também se arrisca, seja às penas da lei, seja na mão de traficantes e seus cartéis. O produto ilegal não vem com garantia de qualidade nem especificações técnicas, mas também é vendido em áreas mais do que conhecidas de cidades como San Francisco, incluindo partes deterioradas e coalhadas de sem-teto, mas também parques onde famílias fazem piqueniques nos fins-de-semana.
Pela lei, há distâncias a serem respeitadas entre escolas e praças para a implantação de um estabelecimento comercial de maconha. Nem sempre respeitadas.
A ofensiva atual tem sido não apenas contra as farmácias e/ou clubes, mas também contra os locadores de imóveis e os jornais que publicam anúncios desses lugares. Proprietários de imóveis começaram a receber em outubro cartas ordenando o final da locação para as farmácias em 45 dias, sob risco de multas.
Parte dos eleitores do presidente Barack Obama entende essas ações como uma traição a uma promessa de campanha, que era deixar os Estados adotarem suas próprias políticas quanto à maconha medicinal.
Além disso, Obama já admitiu ter fumado maconha e, quando era senador, votou a favor da legalização do cânhamo, a planta que há milênios fornece fibras têxteis de grande resistência, além da erva.
O futuro próximo vai dizer se a guerra contra a maconha medicinal será benéfica, desastrosa ou desimportante na campanha para a reeleição do presidente Obama.
No próximo dossiê: Oakland tem museu e até “faculdade” sobre maconha.
Caro ex-presidente e ex-professor da USP Fernando Henrique Cardoso:
Não lhe escrevo essa carta, na verdade não existe carta nenhuma, porque falar de maconha é um tema proibido em nosso país. Nos últimos anos, o senhor tem inclusive contribuído para trazer este debate à tona, ao propor publicamente a descriminalização da maconha em palestras e com o documentário “Quebrando o Tabu”. Mas nem mesmo o senhor, sendo idolatrado pela mídia do jeito que é, tem sido capaz de romper a hipocrisia que reina no Brasil em torno deste assunto. Até marcha pela descriminalização é proibida por aqui, como se a liberdade de expressão não valesse para a “erva maldita”.
O senhor deve ter assistido à tragédia da Polícia Militar invadindo a Universidade de São Paulo, onde estudou e ensinou. As cenas foram tristes para quem, como a sua geração, lutou pela democracia: soldados apontando fuzis na cara de estudantes desarmados. É verdade que eles haviam tomado a atitude extrema de invadir a reitoria da Universidade, mas veja só como tudo começou. Há duas semanas, policiais que estavam ali para defender a comunidade universitária de assaltos e estupros, abordaram três garotos que estavam fumando um mísero baseado no estacionamento da Faculdade de História e os levaram para a delegacia. Seguiram-se conflitos e protestos que culminaram na invasão da reitoria.
Se pudesse escrever estas palavras, eu perguntaria ao senhor: quem provocou quem? Quem eram os donos da casa e quem eram os forasteiros? Quem chegou disposto a criar confusão reprimindo hábitos das pessoas que fazem parte daquele lugar? Fumar maconha é proibido por lei e não posso falar isto para um ex-presidente, de forma alguma, imagina. Mas se eu pudesse, diria que aposto que, em tantos anos na USP, o senhor deve ter visto inúmeras vezes cenas semelhantes às que os policiais reprimiram. Ou, no mínimo, sentido o cheiro familiar dos cigarros de maconha sendo acendidos, sempre discretamente, aqui e ali em recantos aprazíveis da Cidade Universitária.
Se a hipocrisia reinante me permitisse, eu argumentaria que fumar maconha no campus é um hábito disseminado e tolerado há décadas não só na USP como em quase todas as universidades do País – e, desconfio, do mundo. É como se o ambiente universitário fosse um oásis, onde o jovem em formação tem a liberdade para conhecer coisas novas, existencial e intelectualmente falando: livros, pessoas, música, cinema, arte. E, algumas vezes, maconha. De causar estranheza naquele local, é, isso sim, a presença de policiais militares fazendo a ronda: a rigor, a segurança do campus não deveria ser militarizada, mas de responsabilidade de uma Guarda Universitária.
Mas já que o governador, do seu partido, e o reitor, alarmados com o assassinato de um aluno dentro do campus, acharam por bem assinar um convênio com a Polícia Militar, eu gostaria muito de pedir ao senhor, mas não posso, que pudesse lhes aconselhar um pouco de bom senso. Jamais escreveria absurdos assim, de jeito nenhum, longe de mim. Mas o ideal seria que o senhor, em primeiro lugar, lembrasse a eles que um dia foram jovens como os estudantes que foram levados à delegacia naquele primeiro momento. Tenho certeza que muitos pais como eu não gostariam de ver seus filhos sendo presos por um delito tão insignificante quanto fumar um baseado junto a um grupo de colegas de faculdade.
É uma pena que não possa lhe dizer também que pondere com o governador e o reitor que policiamento no campus é para coibir assaltos e estupros, não para reprimir estudantes que estão pacificamente fumando um beck e conversando sob uma árvore qualquer. Que correr atrás deles é uma perda de tempo e é uma incitação ao conflito, que voltará a ocorrer em situações similares. Não é porque policiais apontaram armas na cara de estudantes que os estudantes deixarão de fumar baseados –ou de reagir quando forem reprimidos. E, olha só, o senhor nem precisaria aparecer, poderia fazer isso tudo discretamente, bem ao gosto dos que tentam dourar a pílula e fingir que a maconha não existe. Enfim, não posso lhe falar nada disso: é ilegal, imoral e ainda por cima tira votos. Mas, ah, se eu pudesse…
Sabemos pelos historiadores que um dos momentos importantes da humanidade aconteceu quando o homem descobriu o cultivo e o cultivo domestico de plantas, no que ficou conhecido como [ a descoberta da agricultura. Foi nesta época que se deu o fim do período Paleolítico e se inaugurou o período Neolítico, fazendo com que o ser humano não dependesse apenas da caça, estabelecendo-se assim em um lugar, no que conhecemos como o início da civilização.
Nesse universo, um vegetal que tem interagido com a humanidade desde o advento da agricultura é a Cannabis sativa, nome científico do cânhamo ou maconha. A planta era cultivada por conta das fibras, usadas para fazer cordas e tecidos, e também por suas propriedades alucinógenas e farmacológicas.
A maconha foi mencionada pela primeira vez numa farmacopeia produzida na Ásia central por volta 2740 a.c . Na China, a maconha era mais utilizada para construção, pelo fato de suas fibras serem resistentes e não pelo seu fator alterante, que atualmente é bastante desenvolvido.
Já na Índia, a maconha era cultuada como um presente dos deuses à humanidade. Um dos itens imprescindíveis do hinduísmo, é fumada por gurus e sadhus em forma de haxixe ou consumida como bangha.
Da Índia, a maconha alcanço o Oriente Médio. Embora não fosse usada em rituais religiosos, mas para recreação, mais uma vez a religião teve papel importante na divulgação da droga. Como o islamismo proíbe o álcool, a cannabis foi imediatamente adotada como principal alucinógeno pelos mulçumanos. Na verdade, foi aqui, pela primeira vez, que o uso de haxixe ficou conhecido.
Já no ocidente, as invasões árabes dos séculos 9 a 12 introduziram a maconha no norte da África, no Egito, seguindo até o leste da Tunísia, a Argélia e o Marrocos. Com as cruzadas (séculos 11 a 13), o uso das propriedades farmacológicas da maconha foram introduzidos na Europa.
Na Europa, durante o Iluminismo, grupos de artistas e intelectuais começaram a usar a maconha como aluconógeno. O rito maçom dos Illuminatti, do qual o escritor alemão Goethe (1749-1832) era membro, fazia uso do haxixe para obter um estado “iluminado” de consciência. Ao longo do século 19 a maconha continuou a ser a droga da vanguarda européia.
No final do século 19 e no início do 20, porém, algo determinante veio a ocorrer nos Estados Unidos: o Movimento da Temperança ganhava força política em todo país. Esse movimento de massa defendia a livre concorrência e culpava o álcool por todos os problemas sociais. Seus participantes que demonstravam forte oposição ao uso de alucinógenos, propuseram regulamentar seu consumo. Assim, os círculos conservadores americanos lideraram inúmeras campanhas contra o comércio de todos os psicotrópicos, inclusive o álcool. Era o chamado Proibicionismo que mais tarde se voltara apenas contra a Maconha.