Psicodélico: novembro 2010

sábado, 20 de novembro de 2010

LSD com Anfetamina ?

Além de entorpecido pelo discurso oficial, que forja consensos para justificar o injustificável da proibição de algumas substâncias psicoativas, o universo das drogas é cercado por diversos mitos, que ninguém sabe ao certo de onde vieram e nem temos muitos argumentos para questioná-los. Semente de maconha dá dor de cabeça? Aconteceu de verdade o verão da lata? LSD tem anfetamina? O crack foi fabricado pelo governo dos EUA?

Algumas dessas questões podem ter resposta afirmativa, outras não, outras podem nem ter resposta. Nosso objetivo neste caso é apenas questionar. Para inaugurar a seção – que não terá peridiocidade definida – fomos atrás de informações para saber se os docinhos vendidos por aí contém ou não anfetamina. Confira, sugira novos mitos, participe com a gente do processo de desentorpecimento da razão.

BLOTTER DE LSD-25 COM ANFETAMINA?

Como muitos já ouviram, corre o boato de que os “blotters” (papel absorvente) de LSD-25 (dietilamida do ácido lisérgico), o popular “doce”, vendidos nas ruas contém anfetaminas (ou fenilisopropilaminas). Isso porque, diversas vezes, quando tomam a substância, alguns usuários relatam um gosto amargo (LSD-25 não tem gosto) e sentem o efeito “speed” semelhante ao provocado pela ingestão de anfetaminas. Assim, de cara, a maioria compra a ideia e sai replicando tal informação. Dessa maneira nascem os mitos, e aos mais inquietos resta à investigação. Com isso, este post objetiva desconstruir e enterrar de uma vez por todas a “lenda do “blotter” de LSD com anfetamina”, contribuindo para o desentorpecimento da razão.

Para começar, vale apresentar a substância em questão. LSD-25, prazer! Sintetizado a partir do ácido lisérgico, que, por sua vez, é fruto do “ergot” (fungo do centeio), pela primeira vez, em 1938, pelo químico Albert Hoffman, acabou proibido vinte e dois anos depois – também pode ser sintetizado a partir da “morning glory”. Trata-se de um psicoativo poderoso, que de acordo com o historiador Henrique Carneiro, em sua “Pequena Enciclopédia da história das drogas e bebidas”, pg 169: “foi objeto de pesquisa secretas da CIA e o dos exércitos do mundo, que se impressionaram com a capacidade de se produzir efeitos mentais tão avassaladores com quantidades tão ínfimas, pois com 100 gramas pode-se obter mais de 1 milhão de doses.” Assim, a dose do LSD é medida em microgramas e, para termos ideia, as doses de anfetamina são medidas em uma escala mil vezes maior, os miligramas.

Desconstrução do mito

Pois bem, vamos às evidências que apontam para a quebra do mito. Segundo Rafael Guimarães dos Santos, doutorando em Farmacologia pela Universidade Autonoma de Barcelona: ”doses de anfetaminas são em miligramas, a superfície do blotter seria muito pequena para doses efetivas de anfetaminas, ainda mais por via oral”. Então, não tem porque não cabe? A resposta poderia ser fácil assim, mas não é. Rafael completa: “…embora o “blotter” seja uma superfície pequena, poderia ser o veículo de doses muito pequenas de anfetaminas”. Segundo estudo publicado no site da revista Nature , uma dose baixa de anfetamina para o homem seria de 0.25 MG/KG, ou 17.5 mg para alguém pesando 70kg – muito além da capacidade de um ‘blotter” que vemos por aí e cem vezes maior do que uma dose regular de LSD, contendo 170 mcgs. Sendo assim, é possível carregar anfetaminas em um “papelzinho”, mas a dose seria tão pequena que não causaria qualquer reação no usuário, não seria uma “dose efetiva”. Mas e o efeito “speed”, o que o provocaria? “Como a maioria dos alucinógenos, o LSD pode produzir ansiedade e estimulação, assim como as anfetaminas. Claro que estas substâncias (os alucinógenos) possuem outras características que as diferenciam das anfetaminas…” , afirma o farmacologista. O site www.erowid.org, um dos maiores e mais respeitados acervos virtuais sobre psicoativos, lista os seguintes efeitos negativos do LSD, que podem ser confundidos com efeitos causados por anfetaminas:

- ansiedade

- tensão muscular e nas mandíbulas

- aumento na transpiração

- dificuldade em regular a temperatura do corpo

- insônia

- tontura, confusão

- megalomania

- paranóia, medo e pânico

(retirado de: http://www.erowid.org/chemicals/lsd/lsd_effects.shtml)

Então, frente ao quadro, o “blotter” de LSD encontrado nas ruas muito provavelmente não apresenta anfetaminas. Afinal, não faria o mínimo sentido um traficante colocar micro-doses do psicoativo em seu “doce”, já que não causaria efeito algum e ainda encareceria o custo da produção.

Mas e o gosto amargo, de onde vem? Uma das explicações mais aceitas, também dando conta do efeito “speed”, aponta para certas impurezas que podem “infectar” o processo de fabricação do LSD, que é muito trabalhoso. Durante seu período na legalidade, grandes laboratórios como o Sandoz (www.sandoz.com) desenvolviam a substância, que precisa de cuidados especiais para ser sintetizada. O próprio Hoffman, em seu livro “LSD, minha criança problema”, (download aqui) pg 35, relata:

“O LSD é muito sensível ao ar e à luz. É oxidativamente destruído no ar pelo oxigênio e é transformado em uma substância inativa sob a influência da luz. Isto deve ser levado em conta durante a síntese e especialmente durante a produção de uma forma estável e estocável de LSD. Informações de que o LSD pode ser facilmente preparado, ou que todo estudante de química em um laboratório meio-decente é capaz de produzir isto, não é confiável. Procedimentos para a síntese do LSD foram realmente publicados e ficaram acessíveis a todo mundo. Com estes procedimentos detalhados na mão, químicos poderiam executar a síntese contanto tivessem ácido lisérgico puro à sua disposição; hoje, porém, sua posse está sujeita aos mesmos regulamentos rígidos como o LSD. Para isolar o LSD na forma cristalina pura a partir da solução de reação de maneira a produzir preparações estáveis requer, todavia, equipamentos especiais e uma grande experiência específica adquirida que não é facilmente obtida, e isto se deve (como declarado anteriormente) pela grande instabilidade desta substância”.

Ou seja, quando caiu na ilegalidade, em 1966, o LSD-25 despencou em qualidade – talvez até tenha se perdido. Na tentativa de sintetizar tal substância, muitas vezes um químico pode chegar a outros derivados do “ergot”. Hoffman e outros, em suas experiências, descobriram “primos” do LSD. Vale lembrar que o LSD-25 é uma molécula única e qualquer mudança no processo pode resultar em outras substâncias como o ALD-52, MLD-41, iso-LSD e etc. Elas seriam parentes “mais fracas” da “criança problema” de Albert Hoffman. Além disso, mesmo com sucesso na fabricação, o armazenamento do LSD teria que ser muito cuidadoso. Visto que se trata de uma molécula instável, os laboratórios que o fabricavam armazenavam suas amostras em frascos fechados a vácuo, em gás nitrogênio. É difícil imaginar que tais cuidados seriam tomados nas famosas biqueiras que hoje comercializam o que chamam de “doce”.

Michael Hollinshead, o homem que proporcionou a primeira viagem lisérgica ao guru da psicodelia Timothy Leary, publicou em seu livro “The man who turned on the world”: “Há agora – 1968 – pouco ácido bom por aí – e o que havia – o assim-chamado “street acid” vinha da Califórnia. Havia alguma coisa errada com a síntese; ele não era puro. E você nunca tinha certeza do que estava realmente usando, então eu só tomei naquelas raras ocasiões quando alguém me dava “Sandoz” ou ácido “cristal” …
Minha avaliação não tem nada a ver com a idéia de que uma droga totalmente sintética produz uma experiência totalmente sintética – a reação intelectual – mas foi baseada em experiência direta, de primeira mão (ao redor de 30 viagens com o “street acid” no total. E em cada sessão eu sentia que havia alguma coisa faltando – era muito elétrico, muito “speedy” e perturbava muito a mente. A claridade inicial do Insight que obtive com o ácido da Sandoz, foi substituído por confusão, debilidade, palavras e mundos através de um desmembramento absoluto, ou até caos completo, ainda que eu deva acrescentar, ligado freqüentemente com um sentimento que só posso descrever como uma sublime presunção, uma super abundância de energia emotiva mas isto não significa mais que uma chama apaixonada, muito menos o sol criador-vida.”

Retirado de um artigo de Bruce Eisner, na revista High Times, publicado em janeiro de 1977.

No mesmo artigo, vale conferir o diálogo entre um preocupado Leary e o então senador Ted Kennedy.:

Senador Kennedy do Massachusetts : “O que é que há na qualidade que te deixa alarmado?”
Dr. Leary : “Nos não queremos amadores ou venda no mercado negro ou distribuição de LSD.”
Senador Kennedy: “Por que não?”
Dr. Leary : “Ou os barbitúricos ou bebidas alcoólicas. Quando você compra uma garrafa de bebida-”
Senador Kennedy : “Isto não é uma resposta. Quanto ao LSD, por que você não o quer ?”
Dr. Leary : “Estar de posse?”
Senador Kennedy: “Por que você não quer a fabricação e a distribuição indiscriminada? Isto é porque é perigoso?”
Dr. Leary : “Porque você não sabe o que está comprando…”

Para ler na íntegra o texto sobre a pureza do “ácido das ruas” na década de 70, em inglês, acesse o site do ex-editor da revista americana . Para aqueles que não lêem na língua do Tio Sam, aqui vai uma tradução, parece bem feita. Boa leitura, pois, além de discutir a pureza da substância no mercado paralelo, também esclarece alguns pontos do processo de fabricação do LSD e o porquê dele ser tão complicado de sintetizar:

“A produção dos precursores necessários é um longo processo, e podem surgir várias situações onde ocorrem impurezas. Durante a preparação do principal precursor – monohidrato do ácido lisérgico – vários alcalóides do ergot e cicloalcamidas do ácido lisérgico, contaminarão o produto final se não forem removidos adiante através de procedimento cromatográfico adequado. E os contaminantes que vão aparecer dependerão de qual material de partida foi usado; ergot, tártaro de ergotamina ou semente de morning glory. E uma vez que estes precursores tenham sido sintetizados corretamente em LSD, vários isômeros e Lumi-LSD (LSD saturado com água), podem contaminar o produto final se não forem retirados com os métodos de cromatografia.
Portanto, a cromatografia, um método altamente refinado que os químicos orgânicos usam para isolar substâncias específicas, é o processo chave pelo qual as impurezas podem ou não ser removidas do cristal final de LSD.”

Estudo da PharChem – pureza do LSD-25 vendido nas ruas entre 1972 e 1974

Como vivemos em uma realidade proibicionista, o acesso e a realização de estudos a respeito dessa e de outras substâncias ilegais são raros. O www.erowid.org possui duas pesquisas sobre a pureza do LSD norte-americano na década de 70. Como o primeiro estudo apresenta um número limitado de amostras e poucas em forma de “blotter”, vamos nos atentar ao segundo, que traz dados sobre testes realizados entre 1972 e 1974 pelo grupo de testes PharChem , de Palo Alto, Califórnia. Para facilitar o entendimento, isolamos apenas as amostras em “blotter” para fazer um balanço. Das 77 amostras em “blotter”, uma apresentou a mistura entre LSD e PCP (Fenciclidina), outra apenas DOM ( 2,5-dimetoxi-4-metil-anfetamina, também conhecida como STP) sem presença de LSD, e as outras 13 apresentaram LSD e iso-LSD em um mesmo “blotter”. Entre todas as amostras analisadas, “blotters” e outros formatos, apenas 3 apresentaram a presença de anfetaminas, nenhuma em “papelzinho”, provando que as amostras foram testadas para verificar a presença de tal substância. A primeira se tratava de uma cápsula, que possui capacidade extremamente maior do que um “blotter”, apresentando LSD e anfetamina. A segunda era em forma de pó e só possuía anfetamina. Já a terceira se tratava de um tablete, também maior do que um “doce”, com anfetamina e PCP. Vale ressaltar que testes como esse não detectam as “impurezas” que podem infectar o processo de síntese do LSD-25. Bruce Eisner explica, em seu artigo para a High Times de janeiro de 1977:

“Em uma carta pessoal, Dr. Alexander T. Shulgin, professor de toxicologia da universidade de Berkeley, Califórnia, comentou, “na análise habitual do LSD (como a feita na PharmChem Foundation), faz-se a cromatografia de um extrato da droga sob suspeita, observa-se o resultado da separação sob luz UV e então borrifa-se a placa com algum foto-reagente como o dimetilaminobenzaldeído (PDAB). Se houver impurezas que fluorescem (como o ácido lisérgico ou o iso-lisérgico) e que se deslocam na separação cromatográfica, estes serão vistos. Se as impurezas apresentarem o átomo indol-2-hidrogênio intacto, ocorrem cores entre o azul e o roxo.
Ambos os testes, exigem é claro, que haja quantidades suficientes para serem vistas. Mas se a impureza não fluoresce (como acontece com o Lumi-LSD e as foto-substâncias adicionadas) ou não reagir com o PADB (como aconteceria com duas impurezas substitutas, como 2-oxo-ergots), então as impurezas permaneceriam invisíveis. É completamente possível que uma amostra de LSD poderia estar contaminada grosseiramente com impurezas e, se não acusassem em nenhum destes testes, é provável que sua presença nunca tenha sido suspeitada.”

Realidade perturbadora

Além da muito aceita explicação das impurezas para o gosto amargo, existe outra teoria, popular em fóruns virtuais mundo afora, que também faz sentido e, ao mesmo tempo, assusta qualquer usuário. Ela diz que os “blotters” de LSD-25 vendidos no mercado ilegal, na verdade, não se tratam de LSD, mas de outras substâncias que nem são originárias do “ergot, como a DOB (2,5-dimethoxi-4-bromoanfetamina) e a DOI(2,5-dimethoxi-4-iodoanfetamina). Elas são conhecidas como “cápsula do vento” (quando em cápsulas) e pertencem a “família” da MDA, cujo filho mais conhecido é o “ecstasy” (MDMA). Ambas também são vendidas no formato de “blotters”, apresentando baixa dosagem efetiva (maior que o LSD-25 e menor que a anfetamina, ver quadro após o texto), possuem gosto amargo e trazem efeitos alucinógenos semelhantes aos do LSD. O grupo a qual pertencem é chamado de “anfetaminas psicodélicas”- não confundir com anfetamina, pois a dose efetiva desses psicoativos é extremamente menor. São da mesma “família”, mas dizer que são equivalentes seria como, em comparação grosseira, igualar o crack a cocaína pelo simples fato de se originarem da mesma matéria prima. Vale ficar atento, pois DOB e DOI são substâncias similares entre si e com elevado grau de toxicidade, ao contrário do LSD-25, que é praticamente inofensivo ao organismo.

Blotter de DOB, vai dizer que não engana? Retirado de www.erowid.org

Dada a dificuldade em fabricar LSD-25, o mercado paralelo pode se aproveitar da obscuridade gerada pelo proibicionismo e vender outras drogas, de manuseio mais fácil, como se fossem LSD. O usuário, sem saber, pode ingerir uma substância letal, quando usada em grandes quantidades. O principal dano de alteradores de consciência, como nas anfetaminas, é causado no sistema vascular, ou seja, se tomar um “doce”, sentir um gosto amargo e dormência nas extremidades ou até mesmo dor nas articulações, procure um médico e apresente overdose de DOB e DOI como uma das possibilidades da causa de seus sintomas. Além disso, se sentir desconforto nos olhos e/ou no corpo todo, espasmos e dor nas costas (umas puxadas), é quase certo que ingeriu DOB ou DOI. Fique atento!

Conclusão

Anfetamina no “doce”? Nem pensar! Tudo indica que esse é mais um “narco-mito” que ecoa e ganha vida devido à falta de informações e pesquisas sobre psicoativos. Mas calma lá. Não vá sair falando que é impossível colocar anfetaminas em um “blotter”, é possível, mas a quantidade não causaria qualquer efeito no usuário. Dificilmente um traficante comercializaria a mistura, pois ela só encareceria o processo de fabricação e não traria nenhum benefício. Para os mais chatos, sim, se alguém fizer um “blotter” bem maior do que o usual – cerca de 15 vezes maior – ele poderá carregar doses efetivas de anfetamina. Ou seja, analisando o quadro, se sentir um gosto amargo e o “papelzinho” estiver mais para “papelzão”, desconfie, pois, como sabemos, o verdadeiro e único LSD-25 é inodoro, incolor, sem sabor e não pede plataformas grandes, já que suas doses são microscópicas, pesando praticamente o mesmo que um grão de areia. Para ele, tamanho definitivamente não é documento.

Infelizmente, ao que tudo indica, os usuários, atualmente, ou ingerem “LSD impuro” ou levam outra droga no lugar do filho de Hoffman. O verdadeiro LSD-25 morreu com a sua proibição. Um químico, na clandestinidade, por mais que quisesse fabricar o verdadeiro “ácido”, precisaria de equipamentos caros para produzir, estocar e veicular a substância no mercado. Se alguém tiver acesso a algum “doce” em embalagem farmacêutica fechada a vácuo ou revestido por alguma camada protetora antioxidante, aí sim, grandes chances de ser o puro LSD. Porém, está para circular algo semelhante nas ruas. Aos entusiastas da droga, vai um aviso: talvez você nunca tenha tomado o verdadeiro LSD-25. Com tudo isso, quem perde é a neurociência, a psicanálise e o conhecimento humano de um modo geral.

Dose DOB via oral
Limiar 0.2 mg
Leve 0.2 – 0.75 mg
Comum 0.75 – 1.75 mg
Forte 1.75 – 2.5 mg
Pesado 2.5 – 3.5 mg
Overdose 3.5 + mg
Dose LSD via oral
Limiar 20 ug
Leve 25 – 75 ug
Comum 50 – 150 ug
Forte 150 – 400 ug
Pesado 400 + ug
Dose letal 12,000 ug

*a “dose letal” matará 50% dos animais testados.Retirado de www.erowid.org.

Legalização da Maconha : não se, mas quando

Ethan Nadelmann

Fonte e Tradução : Coletivo DAR -> http://coletivodar.org/

Iniciativa de legalização da maconha na Califórnia, a Proposição 19 não conseguiu a maioria dos votos ontem mas ainda assim representa uma extraordinária vitória para ampliar o movimento pela legalização.

O que é mais importante é o modo como a mera presença da votação combinada com uma campanha de rua transformaram o diálogo público sobre maconha e políticas para ela. A cobertura da mídia sobre o assunto não só na Califórnia como ao redor do país e até internacionalmente foi excepcional, em quantidade e qualidade. Mais pessoas sabiam sobre a Proposição 19 do que sobre qualquer outra questão colocada nas cédulas deste ano – não só na Califórnia mas nacionalmente.

O debate está migrando de se a maconha deve ser legalizada para como deve ser. Pesquisas de opinião revelam que na maioria dos estados os cidadãos apoiam a legalização. Uma liderança da campanha “Não à 19” admitiu que até mesmo seus próprios apoiadores estavam divididos entre os opositores à legalização da maconha e aqueles que são a favor mas têm dúvidas quanto a questões específicas da Prop.19 ou quanto à ameaça do governo federal de bloquear a implementação dela.

A Proposição 19 elevou e legitimou o discurso público sobre maconha. É pequeno mas crescente o número de políticos eleitos que endossaram a 19 ou disseram que votariam por ela – e a também crescente e frequente expressão de apoio privado por candidatos e eleitos que disseram que gostariam poder ir à público sobre suas posições. Está aumentando o número de apoios por parte de sindicatos, inclusive SEIU Califórnia, e organizações de defesa de direitos civis, incluindo a seção californiana da NAACP e a National Latino Officers Association.

A atenção internacional, especialmente na América Latina, foi intensa. O presidente do México, Calderon, e o presidente Colombiano Juan Manuel Santos criticaram a 19, pontuando-a como uma evidência da inconsistência da política de drogas dos EUA. Mas a possibilidade dela ser aprovada fez com que ambos presidentes defendessem um debate mais aberto sobre a legalização e outras alternativa a atual política de drogas. Diplomatas mexicanos em público castigavam a Proposição 19 mas no âmbito privado diziam torcer por sua vitória. Ninguém pensou que a vitória da 19 poderia instantaneamente tirar os traficantes mexicanos do negócio, mas todos reconheceram que representaria um passo fundamental para a legalização da maconha definitiva nos dois lados da fronteira. E definitivamente iria minar as organizações criminais, que iriam perder sua vantagem comercial assim como o fim da proibição nacional ao álcool fez com os vendedores de bebidas.

Como seria ótimo se a Califórnia transformasse isso num exemplo”, disse o ex presidente mexicano Vicente Fox numa entrevista de rádio semana passada. “Tomara Deus que passe. Os outros estados dos EUA irão seguir esse passo”.

Existem agora sólidas e crescentes evidências de que a legalização da maconha é um problema com o qual os jovens se preocupam bastante – e colocando-a em votação aumentam as chances de que eles passem a votar. Os dois maiores partidos não tiveram escolha senão prestar atenção, especialmente quando a fidelidade política de seus jovens eleitores está sendo capturada. Os democratas corretamente observaram que o problema da maconha está lhes trazendo mais votos do que para os republicanos. Perguntado sobre o que iria mobilizar os jovens que elegeram Obama a votarem com os democratas novamente, o presidente do Partido Democrata na Califórnia, John Burton, respondeu com apenas uma palavra: maconha.

É notável ainda que Meg Whittman, a candidata republicana ao governo da Califórnia, não tenha atuado ativamente na campanha contra a 19, principalmente porque não queria se afastar de jovens eleitores que não se identificam com os democratas mas são convictos sobre legalizar a maconha. Jovens eleitores que estão num espectro político inclinado ao libertarismo, especialmente em questões como a maconha. Democratas e republicanos necessitarão repensar o problema quando Garu Johnson, ex governador do Novo México que já defendeu a legalização da maconha e a redução de danos para outras drogas, candidatar-se para as eleições primárias que elegerão o candidato a presidente pelo Partido Republicano como ele parece decidido a fazer. Jovens eleitores podem gravitar num número substantivo em direção a essa mensagem.

Para aqueles de nós engajados numa estratégia de longo prazo para a reforma da lei sobre maconha, o plano é o mesmo que seria se a 19 tivesse ganho: colocar a questão aos eleitores nos estados onde as sondagens mostram o apoio da maioria para legalizar, e introduzir leis semelhantes em assembleias estaduais. O apoio público para a legalização já atinge hoje a faixa dos 50% não só na Califórnia mas num crescente número de estados, incluindo Washington, Oregon, Alaska, Colorado e Nevada – então é razoável esperar que iniciativas eleitorais como a 19 aconteçam nestes estados nos próximos anos. É muito cedo para dizer se a questão vai voltar às urnas na Califórnia em 2012 mas ao menos sabemos que uma proposta de regulamentar e taxar a maconha será considerada pela câmara estadual, assim como uma foi neste ano. E diversas outras propostas similares podem ser esperadas ao redor do país, estimuladas pela Proposição 19 e rapidamente aumentando o apoio nacional pela legalização.

Enquanto isso, a 19 já pode reivindicar uma grande vitória: o governador Schwarzenegger recentemente assinou uma lei que reduz a penalidade para posse de maconha de uma contravenção para uma infração não passível de prisão, assim como uma multa de tráfego. Este não é um problema menor em um estado que prende anualmente por posse maconha um total de 61 mil pessoas – mais que o triplo do que o número de 1990. É largamente assumido que a principal razão para o governador assinar tal lei, proposta por um senador liberal, Mark Leno, foi minar uma das argumentações centrais em favor da 19.

Demográfica, econômica e moralmente apresenta-se um ambiente favorável à morte da proibição da maconha. Mais da metade dos eleitores californianos menores de cinquenta anos declarou que votaria pela Proposição 19, e assim o fez. Os eleitores mais jovens são os mais favoráveis enquanto os mais idosos os mais opositores. Enquanto isso, os argumentos econômicos para a legalização – incluindo diminuição de gastos com repressão e incrimento do orçamento através de impostos da maconha legal – só irão se tornar mais persuasivos. A maconha não se legalizará sozinha, mas o momento está próximo como nunca esteve, com estadunidenses de todo o espectro político pensando que é tempo de tirá-la do armário e da justiça criminal.

Ethan Nadelmann é fundador e diretor executivo da Drug Policy Alliance (www.drugpolicy.org )

Saiba mais sobre o Sativex - Remédio feito de Maconha!

por Dr. Moura Verdini

sativex O Sativex, medicamento a base de extrato de cannabis, tem ganhado cada vez mais espaço em tratamentos pela medicina convencional em países por todo o mundo. Desde que foi aprovado no Canadá, a eficácia dos testes em tratamentos contra dores neuropáticas e em pacientes que sofrem de câncer e AIDS, vem estimulando países de todo o mundo a permitir o uso deste medicamento sob certas condições especiais e para um tipo específico de paciente. Para cada dose do remédio (aplicado sob a forma de sprays orais) temos 2.7mg de THC e 2.5mg de cannabidiol, canabinóides que formam as bases dos princípios ativos do medicamento.

Os canabinóides agem sobre o organismo através de interações com receptores em células de diversos órgãos e tecidos, incluindo o sistema nervoso, servindo como moduladores de hormônios e funções ativadoras e/ou inibidoras de determinadas respostas do organismo a estímulos do ambiente (ambiente neste caso sendo o meio interno ao organismo, meio que está em contato direto com as células e tecidos). Os canabinóides produzidos pelo nosso corpo, assim como os produzidos pela maconha possuem, portanto uma importante função de regulação e equilíbrio de diversas funções no organismo.

Por se tratar de um medicamento feito a base de compostos psicotrópicos, o uso de Sativex deve ser realizado com as devidas precauções na medida em que se deseja evitar alguns de seus efeitos indesejáveis. Este medicamento ainda se encontra em fases de teste em muitos países devido à preocupação de médicos e cientistas de que o uso prolongado de maconha pode estar associado ao aparecimento de doenças psicológicas, como a esquizofrenia, síndrome amotivacional, além de causar prejuízos na capacidade cognitiva.

Não é recomendado a pacientes com histórico pessoal ou familiar de doenças psicológicas ou de abuso de drogas, incluindo o álcool, o uso de remédios à base de drogas que podem causar a dependência. No entanto, esse tipo de cuidado não é normalmente levado em consideração quando se trata de outros remédios que podem causar sérias dependências e são aprovados e utilizados independentemente do histórico do paciente, causando efeitos colaterais mais exarcebados e perigosos do que os efeitos provocados pela maconha.

A aprovação do uso do Sativex ao redor do mundo se dá para pacientes que sofram dos sintomas inclusos na lista abaixo:

Náuseas e anorexia associados ao câncer ou à AIDS.

Dores crônicas (incluindo dores advindas do câncer), para as quais outros tratamentos são ineficientes ou possuem efeitos colaterais muito pronunciados.

Dores neuropéticas (associada a condições que incluem esclerose múltipla, câncer, danos na medula espinhal, traumas físicos severos e neuropatia periférica devido à diabetes).

Espasmos musculares associados à esclerose múltipla ou danos na medula espinhal.

Os efeitos farmacológicos do Sativex são dose-dependentes e estão sujeitos a consideráveis variações entre os pacientes. A absorção através de sprays bucais são semelhantes a inalação através do fumo porém a intensidade dos efeitos é ainda maior. Como exemplo, a dosagem recomendada para esclerose múltipla estabelece que o paciente inicie com um spray a cada 4 horas com um máximo de 4 dosagens no primeiro dia.

O paciente então aumenta a dosagem conforme necessário e tolerado nos dias subseqüentes. Para cada paciente se estabelece um limite superior de aplicações de acordo com as respostas individuais ao medicamento e à tolerância aos efeitos colaterais indesejáveis. Para pacientes idosos, a dosagem deve iniciar no limite inferior da faixa permitida eficiente, devido ao funcionamento reduzido das funções hepáticas, renais e cardíacas, além da concomitância com outras doenças, aumento da quantidade de gordura corporal e uma probabilidade aumentada de uso de outros remédios concomitantemente.

Alguns efeitos psicológicos advindos da ingestão de THC pode ocorrer, tais como, ansiedade e disforia e uma possível dependência. O surgimento de efeitos indesejáveis está relacionado a fatores como a dosagem do medicamento, uso de outras drogas ou aparecimento de outras doenças concomitantemente. O risco-benefício do uso deste medicamento deve ser avaliado para cada paciente individualmente, pois a resposta as doses variam de pessoa para pessoas em termos de eficiência e tolerância.

Semana que vem voltaremos a falar do Sativex, mostrando as contra-indicações e os seus efeitos no metabolismo quando utilizado juntamente com outras drogas. Até lá! Vale lembrar que a VEJA publicou matéria recente dizendo que o Sativex deve chegar ao Brasil em breve. A empresa fabricante já está em contato com a ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Fonte : Hempadão

Pela legalização da maconha

Professor universitário, jornalista, Milton Mauer comenta a Frase do dia, de hoje, sobre a legalização da maconha:

Sou totalmente favorável à legalização da maconha. As várias finalidades de seu cultivo gerariam ganhos econômicos. As fibras do cânhamo (a conhecida maconha) podem ser utilizadas para fabricar roupas, levantar paredes e compor a estrutura de um carro, devido à sua resistência (ela é duas vezes mais forte que outras fibras orgânicas). As sementes, no entanto, costumam ser descartadas. Mas isso está para mudar.

Aproveitando o potencial oleaginoso das sementes da maconha, o programa Polymer, da Universidade de Connecticut nos EUA, desenvolveu um biodiesel com altíssima taxa de aproveitamento: 97% do óleo das sementes foi convertido em combustível.

Outra vantagem da Cannabis sativa é a capacidade da erva de crescer em solo pobre e de baixa qualidade sem necessidade de pesticidas. Por isso, não é necessário cultivá-la em lavouras destinadas ao plantio de alimentos. “A produção de combustíveis sustentáveis muitas vezes compete com o cultivo de alimento”, afirma Richard Parnas, coordenador do Polymer, em artigo publicado no site da Universidade. “Nesse contexto, produzir biodiesel a partir de plantas que não são alimentos e que não precisam de terra de alta qualidade é um grande passo”.

O Polymer planeja construir uma unidade piloto de produção de biodiesel da cannabis, que contaria com um reator capaz de produzir até 200 mil litros de biocombustível por ano. Os cientistas pretendem testar novas formas de produzir biodiesel e realizar análises econômicas para a comercialização de seus métodos.

O biodiesel é um combustível biodegradável e renovável produzido a partir de matérias-primas vegetais, como soja, dendê, mamona e, agora, maconha. Ele possui um teor de poluição equivalente ao do álcool (feito de cana-de-açúcar, ele também é um biocombustível) e emite menos gases poluentes que a gasolina.
Fonte:http://super.abril.com.br/blogs/planeta/abasteca-seu-carro-com-maconha

Deve servir também como cobertura verde para proteger o solo no período entre-safras. Incorporado à terra melhora a sua fertilidade.
Se alguns quiserem “viajar” um pouco com a sua substância, beleza!!!

História Natural e Química do Ololiuhqui!


por Fernando Beserra

Páginas 118 a 121 (in Pharmacotheon de Jonathan Ott)

Ololiuhqui Depois da conquista do México em 1521 uma série de cronistas espanhóis, dos séculos XVI e XVII, fazendo referência as práticas religiosas dos astecas e de outros grupos indígenas, descreveram o uso ritual de umas sementes enteogênicas chamadas ololiuhqui “coisas redondas”. Se afirmava que as sementes procediam de uma planta chamada coaxihuitl ou coatlxoxouhqui “planta serpente” ou “serpente verde”. A planta aparecia ilustrada no Codex Florentino de Sahagún, e pertenciam de forma inconfundível a família das Convulvulaceae, a família da enredadera e dos dondiegos de dia (Hernández 1651; Hofmann 1980; Sahagún 1950; Sahagún 1982; Schultes e Hofmann 1980; Taylor 1944; Taylor 1949; Wasson 1963). Sahagún descrevia o uso das sementes ololiuhqui em diversos rituais e em fitoterapia como tratamento tropical contra a gota, combinado com fungos (hongos) enteogênicos (veja capítulo 5), diversas espécies de Datura (ver apêndice A) e outras plantas. Para o tratamento da “febre aquática”, que se supõe ser a malária ou outra enfermidade similar, os médicos astecas prescreviam a ingestão de um super-enteógeno que consistia da combinação de sementes ololiuhqui, peyote (ver capítulo 1), fungos (hongos) enteogênicos e espécies de Datura (Sahagún 1950; Sahagún 1982).

Em 1897, Urbina identificou o ololiuhqui como as sementes da Ipomoea sidaefolia (hoje conhecida por Rivea corymbosa ou Turbina corymbosa; Urbina 1987), identificação aceita posteriormente por B. P. Reko (B.P.Reko 1919). Alguns botânicos sustentaram de forma equivocada que a “planta serpente” dos astecas não era na realidade um dondiego, mas uma espécie de Datura, gênero que pertence a mesma família da batata, tomate, beleno, mandrágora, etc., as Solanaceae (Hartwich 1911; V.A.Reko 1936; Safford 1915) (10). Finalmente, em 1938, Bas Pablo Reko e Richard Evans Schultes coletaram os primeiros exemplares em boas condições de coaxihuitl e de ololiuhqui, identificando definitivamente a planta como Turbina Corymbosa (Schultes 1941).

Morning Glory Reko havia enviado com anterioridade sementes ololiuhqui a C.G Santesson da Suécia, quem confirmou sua psicoatividade, mas foi incapaz de isolar o princípio ativo (Santesson 1937ª; Santesson 1937b; ver também capítulo 5, nota 6). Os resultados dos trabalhos de Santesson indicaram a hipotética presença de um glucoalcaloide ativo na droga. Um quarto de século mais tarde, dois grupos de investigadores (incluindo W.B.Cock, a serviço da CIA no projeto MKULTRA; ver capítulo 5, nota 8) isolaram de forma independente um glucósido, a turbicorina, a partir das sementes da Turbina Corymbosa (Cock e Kealand 1962; Pérezamador e Herrán 1960). Posto que este glucósido não está presente nas sementes da Ipomoea Violacea, que são ainda mais potentes, se considera que não contribuem em grande medida ao efeito psicofarmacológico das sementes do dondiego (Hofmann 1963ª), embora mostrou leves indícios de atividade em uma dose oral de 30mg (Hoffer e Osmond 1967). Em alguns dos primeiros estudos que se realizaram sobre os efeitos do ololiuhqui, baseados em autoexperimentos, seus autores duvidaram das propriedades enteogênicas destas sementes (Kinross-Wright 1959; B.P.Reko 1934). Em 1955 foram levadas a término uma série de autoexperimentos que permitiram estabelecer claramente as propriedades enteogênicas das sementes da Turbina Corymbosa (Osmond 1955) (11). Foi no verão de 1959 quando R.G.Wasson (um investigador estadunidense que estava estudando os cultos dos fungos [hongos] sagrado mexicanos; ver capítulo 5) enviou uma pequena amostra (21g) das sementes de ololiuhqui a Albert Hofmann da Sandoz, junto com uma quantidade maior (204g) de umas sementes relacionadas, conhecidas na zona Zapotéca do México com o nome de Ipomoea Violacea badoh negro, para distingui-las do badoh ou autêntico ololiuhqui (Hofmann 1963ª; Wasson 1963). A segunda mostra de sementes foi identificada como pertencente a espécie Ipomoea violacea (sinônimos: I.rubro-caerulea, I.tricolor), outro dondiego cultivado como planta ornamental. O uso das sementes de I.violacea por parte dos índios zapotecas como substituto das de T.corymbosa foi descoberto por T.Macdougall, publicando seu achado em 1960 (Macdougall 1960). Wasson sugeriu que a I.violacea podia ser a droga conhecida pelos astecas como tlitliltzin (“coisas negras sagradas”; Wasson 1963), e pelos maias como yaxce´lil (Garza 1990). Tanto I.violacea como T.corymbosa seguem sendo usadas como embriagantes chamânicos no México, por exemplo, entre os índios mixe de Oaxaca. A Ipomoea violacea é conhecida popularmente no México como quiebraplato, nome que provem da palavra em língua mixe piH pu´ucte.sh ou “flor del plato roto”. (Lipp 1990). Os mixe consideram que a I.violacea é mais potente que a T.corymbosa (o que foi corroborado pelas análises químicas; ver abaixo), pelo que preparam uma infusão da primeira em água fria, utilizando para isso 26 sementes que são moídas na metade por uma virgem (prática que Wasson pode presenciar entre os zapotecas em 1963; igualmente os mixtecas o serviram o jugo dos fungos [hongos] enteogênicos triturados por uma virgem em 1960, ou o jugo da planta Salvia divinorum também preparado por uma virgem mazateca em 1962; Wasson 1963). Antes de servir a infusão das sementes do dondiego, os índios mixe, zapotecas e mazatecas invariavelmente filtram os restos sólidos através de um pano.

Um nome genérico utilizado pelos mixe para referir-se a estas sementes é masung-pahk ou “ossos das crianças” (Lipp 1991). Os zapotecas também chamam a semente da Ipomoea violacea la´aja shnash ou “semente” da virgem, da onde provavelmente deriva o termo mexicano contemporâneo, sementes da virgem (Wasson 1963). Embora correntemente se aceita que o nome se refira a virgem da religião católica, é provável que este provenha do termo zapotéca, que se refere claramente a virgem encarregada de moer as sementes.

Turbina corymbosa Com as pequenas mostras iniciais de ambas sementes, Hofmann pôde determinar a presença de alcalóides indois (indólicos) nelas, o que o motivou a pedir a Wasson quantidades maiores que o permitiram isolar os princípios ativos. A princípios de 1960 Wasson o enviou 12 kilos de sementes de Turbina corymbosa e 14 kilos de sementes de Ipomoea violacea (Hofmann 1963a). Wasson havia obtido as sementes com a ajuda do eminente antropólogo Robert Weitlaner, e sua filha Irmgard e Thomas MacDougall. Antes de terminar este ano, Hofmann e seus ajudantes conseguiram isolar e identificar os princípios ativos. O constituinte principal de ambas as espécies resultou ser a amida de ácido d-lisérgico ou ergina (LSA-111). Encontraram-se também quantidades menores de isoergina, chanoclavina e elimoclavina. Além de traços de lisergól e de ergonovina na T.corymbosa e I.violacea respectivamente (Hofmann 1961, Hofmann 1963a, Hofmann e Tscherter 1960). Posteriormente se viu que parte da ergina e isoergina se encontravam na planta em forma de N-(1-hidroxetil) amidas, que se hidrolizavam facilmente para dar a ergina e isoergina (Hofmann 1971). A concentração total de alcalóides se estimou em 0,012% na Turbina Corymbosa e em 0,06% na Ipomoea violacea (Hofmann 1963a). O leitor atento recordará que a ergonovina foi o terceiro alcalóide que se conseguiu isolar do cornezuelo. A ergina e a isoergina já haviam sido sintetizadas e ensaiadas nos laboratórios Sandoz nos anos 40, comprovando-se sua psicoatividade na mesma série de investigações que foram levadas a cabo com o LSD. Ambos compostos foram encontrados também no cornezuelo que infecta a erva silvestre Paspalum (Arcamone et al 1960). A chavoclavina e a elimoclavina haviam sido também isoladas anteriormente do cornezuelo que parasita os gêneros Pennisetum e Elymus (Abe et al. 1955; Hofmann et al. 1957), enquanto que o lisergól só havia sido obtido como derivado artificial dos alcalóides do cornezuelo (Hofmann 1963a). No seu livro sobre as aplicações psicoterápicas dos enteógenos, Roquet e Favreau qualificam erroneamente a ergina de “glucósido com uma função amida”, baseando-se em antigos informes de Santesson (Santesson 1937a; Santesson 1937b) e o posterior isolamento do glucósido turbicorina das sementes da T.corymbosa (Cook e Kealand 1962; Pérezamador e Herrán 1960; Roquet e Favreau 1981).

Apesar do ceticismo inicial que rodeou a presença de alcalóides do cornezuelo no dondiegos (Hofmann 1980; Taber e Heacock 1962), a descoberta de Hofmann foi rapidamente confirmada (Taber et al. 1963a; Taber et al. 1963b), descobrindo-se mais tarde que estes alcalóides estavam presentes em muitas outras espécies de Ipomoea (ver quadro 2; Der Marderosian 1967; Der Marderosian e Youngken 1966; Der Marderosian et al. 1964a; Der Marderosian et al. 1964b). A concentração mais elevada. 0,3%, de alcalóides se encontrou na “baby Hawaiian woodrose”, Argyreia nervosa (Chao e Der Marderosian 1973a; Chao e Der Marderosian 1973b; Hylin e Watson 1965). Os mesmos alcalóides estão presentes nas folhas e talos da Ipomoea violacea e Turbina corymbosa (Genest e Sahasrabudhe 1966; Hofmann 1963a; Taber et al. 1963b; Weber 1976; Weber e Ma 1976). No Equador a Ipomoea cárnea, que se conhece com o nome de borrachero ou matacabra, é utilizado tradicionalmente como enteógeno e se tem visto que suas sementes possuem alcalóides ergolínicos (Lascano et al. 1967; Naranjo et al. 1964). Numerosas espécies de Argyreia e Ipomoea possuem alcalóides ergolínicos (ver quadro 2; Chao e Der Marderosian 1973b; Gardiner et al. 1965; Genest e Sahasrabudhe 1966; Staba e Laursen 1966) igual a espécie Stictocardia tiliaefolia (Hofmann 1961). Ademais, com base em seu uso em etnomedicina, é provável que diversas espécies de Convolvulus (Albert-Puleo 1979; Genest e Sahasrabudhe 1966), Ipomoea crassicaulis (Zamora-Martinez e Nieto de Pascual Pola 1992), I.involucrata (Akendengué 1992; MacFoy e Sama 1983); I.littoralis (Austin 1991), I.medium (Beaujard 1988) e I. pes-caprae (Dagar e Dagar 1991; Ponglux et al. 1987; Pongprayoon et al. 1991), tenham a sua vez alcalóides ergolínicos com propriedades enteogênicas (12).

FONTE : Hempadão.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Dia D para as drogas

Californianos vão as urnas nesta terça-feira para decidir a nova configuração do Congresso e a legalização da maconha no Estado. O professor Henrique Carneiro afirma que caso aprovada, a legalização pode levar ao fim da guerra às drogas. A Bruno Huberman. Foto: AFP

O professor Henrique Carneiro afirma que caso aprovada em referendo hoje na Califórnia, a legalização da maconha pode levar ao fim da guerra às drogas no México

No mesmo dia que os Estados Unidos vai às urnas decidir a nova formação do Congresso, os eleitores da Califórnia votam nesta terça-feira 2 a proposição 19, que caso aprovada liberará a posse e a plantação de maconha para uso pessoal, além de permitir aos municípios e condados locais regularem a taxação de impostos sobre a comercialização legal da substância.

A adesão da proposição não se resume apenas aos californianos. A legalização da maconha pode representar o fim da guerra contra às drogas. Mais da metade da população carcerária americana está presa por crimes ligados à drogas, a maior parte por posse e tráfico de maconha. Na segunda-feira 1, um dia antes do referendo, foram aprendidas treze toneladas de maconha em Tijuana, no México, na fronteira com a Califórnia. A batalha contra o narcotráfico já teria levado a morte de 7.700 pessoas no último ano e meio no México.

“Se a Califórnia legalizar, a tendência seria o México fazer o mesmo”, prevê o professor de História da USP Henrique Carneiro. Em entrevista, ele analisa a proposição 19 e esboça a nova conjuntura internacional que deve ser formada caso a maconha seja legalizada na Califórnia. Carneiro fala de como a “indústria da maconha” deve funcionar, que para ele é o principal motivo do provável sucesso da lei na votação desta terça-feira. Há grandes empresários interessados nas benéfices econômicas da cultivação da cannabis, a planta da maconha. Na semana passada, o milionário George Soros doou um milhão de dólares para a campanha a favor da legalização. “As drogas são, como outros produtos, gêneros de primeira necessidade. São algumas das principais commodities, mesmo que não sejam oficiais”, ressalta Carneiro.

Leia abaixo a entrevista com Carneiro, que além de discutir o combate às drogas e sua viabilidade econômica, aponta para os malefícios das drogas legais e sua exaltação em detrimento da demonização das ilícitas.

CartaCapital: O que você acha da proposição 19?

Henrique Carneiro: Eu acho um avanço, se estivesse lá votaria a favor. Ela representa uma mudança de paradigma em relação a visão da maconha, mas também em relação ao conjunto das drogas. O que não significa que ela tenha aspectos questionáveis. Já existe hoje uma espécie de legalidade oficiosa que criou toda uma cultura de cooperativas na Califórnia, de grupos que fazem um plantio em pequena escala. Essa proposição tem um sentido que alguns acusam de privatista. Porque ela vai no sentido de legalizar o auto-consumo, o que é muito positivo, mas em um limite bastante estrito. Para vender, ela vai exigir não só o pagamento de imposto, mas o pagamento de uma licença que é bastante alta que poderia chegar a quantidade de muitas dezenas de milhares de dólares. Isso levaria a absorção do mercado por grandes empresas limitando o funcionamento das cooperativas porque elas não poderiam mais comercializar.

CC: Vai capitalizar o negócio da maconha.

HC: Seria uma forma de não apenas auferir arrecadação fiscal, que é a grande questão de fundo que teria levado a mudança de paradigma de forma muito semelhante a Lei Seca. Depois da crise de 1929, se viu que era insustentável uma mercadoria de demanda tão alta como o álcool, e como é hoje a maconha, funcionar num sistema clandestino sem pagamento de impostos. Contudo, o efeito mais geral dessa medida é uma espécie de decretação da falência da guerra contra as drogas. Inclusive está sendo encarado assim por alguns presidentes bastante conservadores da América Latina, como o Vicente Calderón do México e o Juan Manuel Santos da Colômbia, porque fica uma situação completamente insustentável para eles. Eles são hoje objeto de uma guerra sanguinária entre grupos por causa desse comércio clandestino. Se a Califórnia legalizar, a tendência seria o México fazer o mesmo.

CC: O presidente Obama disse que manterá a guerra porque as leis federais são soberanas e não interessa o que os cidadãos da Califórnia decidam nesse referendo.

HC: Vai abrir uma situação de conflito político com o governo federal, mas a existência de uma decisão, ainda mais por plebiscito que leve a legalização, vai ser só uma pequena peça no dominó que vai desabar em relação a toda a lógica da guerra contra as drogas. A opinião pública nesses países já é bastante favorável nesse sentido. O problema é o Estado prescindir de um mecanismo de controle político, jurídico e policial. O grande sentido da guerra contra as drogas é esse, não tem nenhum sentido ligado a saúde pública. O sentido da saúde pública é um pretexto ridículo e insustentável porque a maconha é infinitamente menos danosa do que o álcool e o tabaco.

CC: O Danny Glover, um dos principais líderes do movimento pela proposição 19, diz que a criminalização da maconha prejudica principalmente negros e latinos, que acabam sendo presos por causa de pequenas quantidades. O combate as drogas acaba sendo um meio do Estado criminalizar essas pessoas?

HC: Certamente. Tanto lá, quanto aqui no Brasil, a situação é a mesma. Agora lá esse é um dos problemas da proposição, ela não incorre na anistia para os que já estão presos, que é da ordem de quase metade da população carcerária norte-americana. São quase um milhão de pessoas detidas por crimes ligados às drogas, a maior parte por posse de maconha.

CC: Qual seria o ideal a ser feito?

HC: O modelo ideal seria um que equalizasse os três circuitos de circulação de drogas que existem na sociedade contemporânea e que são artificialmente mantidos em circuitos separados. Um é o das drogas da indústria farmacêutica, os chamados remédios, mas que são drogas psicoativas. O outro é o das recreacionais lícitas que são o álcool, o tabaco e uma série de excitantes como os cafeínicos. E finalmente o campo das drogas ilícitas. As três deveriam ser equalizadas não no sentido de que todas sejam iguais, tem drogas que exigem um maior controle e tem drogas que exigem menos. O álcool exige um controle por causo dos efeitos comportamentais, você não pode permitir que a pessoa dirija, por exemplo. O tabaco, embora não tenha efeitos comportamentais, não pode ser permitido que afete o direito de um sujeito querer fumar em um ambiente fechado, assim como a maconha. Tem que ter uma série de critérios que estabelecessem níveis diferenciados de controle e permissibilidade ao acesso.

CC: Na França está correndo um processo para permitir o uso de certas drogas em salas especiais.

HC: Isso já existe em outros lugares como no Canadá, na Suíça e na Inglaterra de uma forma bastante bem sucedida. Isso é uma boa alternativa para a situação do crack no Brasil. Para o crack, o Estado teria que fornecer uma sala com cuidados médicos, psicológicos, onde as pessoas pudessem ter acesso a drogas puras e a programas de desabituação, mas se ela não quisesse largar a droga e apenas consumir, que ela pudesse obter nessas condições.

CC: Voltando a questão da legalização das drogas ilícitas, os presidente do México e da Colômbia dizem que a legalização das drogas tem que acontecer internacionalmente.

HC: Sem dúvida. Essa seria a chave do problema, seria uma ruptura da ordem global que rege esse negócio que está baseada em ações internacionais, que vem desde o início do século XX, com o objetivo não só inviável, como indesejável, de erradicação de algumas plantas. São exatamente algumas das plantas de maior uso no planeta, os derivados da papoula, da cannabis e da coca. Teria que haver uma ruptura desses tratados. Até hoje nenhum Estado tomou essa iniciativa, nem o Evo Morales na Bolívia. Ironicamente o primeiro país que vai tomar medidas que vão abalar essa ordem é o próprio país que foi o responsável pela instalação dela, os Estados Unidos.

CC: Alguns políticos democratas, inclusive, já disseram que é mais lucrativo plantar maconha do que algodão na Califórnia.

HC: Já é um faturamento superior a qualquer outro ramo da agricultura. No Canadá, que é outro país importante no agrobusiness, o faturamento da cannabis é maior ainda.

CC: Já está comprovado que a cannabis é economicamente lucrativa.

HC: Todo um setor do establishment mundial já se deu conta que é um situação permissiva em si mesmo porque ela cria várias irracionalidades sistêmicas. Uma irracionalidade econômica que faz com que você tenha um setor altamente rentável fora do circuito oficial, tanto fiscal como financeiro. E depois as consequencias indiretas, as “externalidades” como se chama em economia, que são os efeitos da violência e da guerra crescente em torno disso. Em contrapartida, há uma viabilidade política, que vem sendo a razão dessa política proibicionista adotada que é a de controle político de minorias sociais de setores pobres da população, de grupos de imigrantes. Sempre foi esse o grande objetivo: tentar estabelecer uma espécie de controle sociopolítico sobre as populações.

CC: A partir do momento que os Estados Unidos discutem essa questão, haverá um avanço no debate mundial?

HC: Sem dúvida, influenciará o debate no sentido de desarmar inclusive o falso consenso existente sobre a questão das drogas que boa parte da imprensa ajuda a manter, que é uma visão demonizante. É uma visão destituída de fundamento científico que elege algumas substâncias para considerá-las a expressão do mal em si. Essa visão acaba escondendo que os grandes problemas com drogas ocorrem tanto com as drogas lícitas quanto com as da indústria farmacêutica, que são substâncias de uso abusivo a nível superior ao das ilícitas. Um dos grandes problemas da sociedade é o uso excessivo e dependente, e muitas vezes até em overdose, dos remédios.

CC: Como está o debate no Brasil?

HC: Ele ainda é incipiente. Há uma falta de iniciativa política apesar de haver alguns setores, mesmo de pessoas ligadas ao PSDB, como o Fernando Henrique, que reviram um posição histórica, mas a consequencia disso nas políticas públicas, na própria campanha dos partidos no processo eleitoral, é nula. Esse exemplo dos EUA trará uma completa mudança do panorama, não só por uma razão ideológica de influência no sentido cultural desse uso, mas por uma razão econômica. As drogas são, como outros produtos, gêneros de primeira necessidade. São algumas das principais commodities, mesmo que não sejam oficiais. Cabe a qualquer país do mundo ter interesse em controlar os recursos naturais, garantir o abastecimento desses produtos. Falta no Brasil discutir questões ligadas a indústrias desses produtos. A maconha, por exemplo, não é um produto de uso apenas psicoativo, tem uma série de outras viabilidades econômicas que estão abafadas pelo uso como droga. Há um campo imenso para surgir um setor bastante rentável e deve haver uma discussão de como deve ser a natureza do modelo econômico que deve reger essa esfera da atividade industrial.

Bruno Huberman

O Popeye fumava espinafre ou comia maconha?

Popeye é uma das personagens mais conhecidas e queridas da televisão brasileira e mundial instigando milhões de crianças a comer espinafre para crescer forte e saudável como o nosso marinheiro lendário. Mas o que será que dá a ele toda essa força? Será mesmo o espinafre ou será o espinafre uma metáfora para a, até então, erva proibida?


O Popeye fumava espinafre ou comia maconha?

As evidências são circunstanciais, mas quando as idéias se organizam, fica muita mais clara a evidência de que o espinafre é na verdade uma metáfora sobre as 1001 utilidades da cannabis.

Desde a criação do desenho em 1929 por Elzie Segar, o Popeye passou por diversos artistas. Em seu princípio, Popeye era só mais uma personagem nos quadrinhos nomeados "Thimble Theatre". Foram 10 anos de aventuras com Olive Oyl (Olívia Palito), seu irmão Castor Palito e noivo Ham Gravy, que mais tarde foi substituído por Popeye. Quando em uma nova aventura Castor e Ham iriam embarcar em uma viagem marítima, e contratam Popeye.

Em pouco tempo Popeye se tornou uma das personagens principais e foi transformado no mais novo amor de Olive Oyl. Dudu e Gugu, o bebê órfão que Popeye adota em 1933. No começo não havia explicação para tanta forca repentina mas a sua fonte foi logo revelada. Quando Popeye finalmente chega as telinhas o espinafre se tornou uma parte essencial em cada capítulo.

Vamos às evidências:

  • Em 1920 e 1930, época quando Poeye foi criado "espinafre" era uma gíria para "maconha" nos Estados Unidos, aparecendo até em músicas da época com a banda de Jazz Julia Lee and her Boyfriends na música The Spinach Song, e outras músicas como Sweet Marijuana
  • Propagandas anti-maconha da época passavam a mensagem que o uso de maconha dava super-força, documentários apresentados na mídia afirmavam que usuários de maconha desenvolviam uma força tão extraordinária que os deixavam resistentes a armas de fogo.
  • E por último, como um bom marinheiro, espera-se que Popeye seja familiarizado com ervas exóticas de locais distantes, assim como mostrado no artigo sobre a história da maconha no Brasil, a erva chegava com as embarcações Portuguesas.

Referências à maconha

Em 1960, a idéia ficou mais explícita com o Popeye comendo o seu espinafre pelo seu cachimbo. Ele também ganhou um cachorro chamado "Birdseed" (Semente de Pássaro), quem já leu o nosso primeiro artigo sabe que semente de cannabis é uma ótima alimentação para pássaros e era de fato utilizado como ração até ser banido nos Estados Unidos.

Uma leve referência a cocaína é feita em 1954 quando Popeye conta para seu sobrinho sobre a mitologia grega e a história de seu ancestral Hércules, onde ele aparece cheirando alho para ficar forte e no final do conto ele descobre o espinafre e faz a troca.

Em outro capítulo Popeye cuida da sua plantação de "espinafre", fazendo a poda delicadamente, pegando partes específicas da planta e mergulhando em um gel especial para ajudar no enraizamento da planta clonada, que ele então leva para o seu quintal na rua. Ele até rega as plantas com uma mamadeira cujo conteúdo tinha sido especialmente preparado.

Espinafre Boliviano Purinho

Em 1980 houve a primeira referência explícita a maconha, quando Popeye e Dudu (o amigo do Popeye eternamente faminto...) pegam um carregamento de "Espinafre Boliviano Purinho".

Popeye e a sua mitologia

Diz-se que Popeye representa o ciclo natural na época dos marinheiros onde livros, bíblias, diários, mapas, bandeiras, velas de barco, cordas, tintas, vernizes, combustível para seus lampiões e colas eram produtos derivados do cânhamo. Brutus representa as empresas gananciosas que não cuidam do meio-ambiente.

Ambas as personagens fazendo de tudo para ter a Olive Oyl (Óleo de Oliva, traduzido para Olívia Palito), a fonte do melhor óleo no mercado. Brutus nota que Popeye é muito competitivo e decide eliminá-lo. Entre sequestros e brigas, Popeye sempre consegue vencer comendo seu espinafre mágico, ficando forte e se libertando e livrando o óleo das garras das empresas poluentes e da opressão.

Aliviado e feliz ela volta ao ciclo natural e então Popeye sorri, pisca o olho e assovia com o seu cachimbo.

E ai, convencido(a)?

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Popeye
Fonte: http://cannabisculture.com/v2/articles/3568.html (versão em inglês)

É Hoje o Dia - Prop 19 está em Votação e Califórnia pode Legalizar a Maconha!


Hoje é um grande dia para o rumo da história canábica. Como todos sabemos, os californianos estão indo às urnas para votar, dentre outras coisas, sobre a legalização da maconha da Prop 19. A Hempada preparou 10 abordagens sobre ela, pra matar sua larica de curiosidade. Infelizmente um acompanhamento ao vivo, que alguns sonham, não é possível. Lembrem-se que lá o voto é no papel e não na nossa tão sagrada e secreta "urna eletrônica".

1. O que é Prop 19?

A Proposição 19 nada mais do que uma proposta para legalizar o consumo, comercialização, produção e também no que diz respeito às taxas desse mercado. Ela está sendo votada hoje. A disputa acendeu um debate em todo o mundo, afinal pode ser dado um passo inédito na relação de liberdade em relação à erva. Malucos do mundo inteiro oram à Jah.

2. Financiadores do SIM!

Agora já quase na reta final apareceu mais um milhão de dólares para ajudar na campanha para que o sim ganhe. A grana vem do bolso do milionário investidor das causas impossíveis, George Soros. Apesar de ter sido a maior das doações, Soros foi um tanto quanto sequelado, já que deixou para doar uma semana antes da votação.

Outros doadores foram Sean Parker, um dos fundadores do Facebook e do Napster, que deixou US$ 100 mil (cerca de R$ 167 mil) para apoiar a campanha da legalização; e também outro co-fundador do Facebook, Dustin Moskovitz, que passou o cheque de 70 mil dólares a favor da ganja!

3. Arnold descriminalizou Califa...

Antes do remoto mês de novembro chegar , o governador republicano Arnold Schwarzenegger, num estado com déficit financeiro de US$ 19 bilhões, teve a ideia de sancionar uma norma que altera a legislação sobre drogas proibidas. Tudo com a intenção de explorar uma nova fonte de receita.

Para que prender maconheiros? Porque não pegar o dinheiro deles? O governo californiano descriminalizou a possa de maconha por lá, tranformando o que antes era crime em uma infração administrativa. Isso certamente vai ajudar propostas ainda mais libertárias em relação às votações de hoje.

4. Maconheiras de Salto Alto - Aí sim...

A campanha pela legalização tem também o apoio de mulheres bem-sucedidas e revolucionárias. Gatas e sagazes, sem medo de assumir isso, um grupo conhecido como stiletto stoners se reuniram em um ensaio fotográfico glamouroso para tentar convencer os eleitores. A ideia é mudar o estereótipo dos usuários da droga.

O movimento é reflexo de um número cada vez maior de mulheres profissionais e mães responsáveis que optam por este tipo de relaxamento, em detrimento ao álcool, por exemplo. Aí sim... viram?

5. E o não?

O não tem muita força. Não só dentro dos EUA, com conservadores de todos os lados, mas também pressões internacionais. Sei que o site é um desastre, literalmente, como se vê. Diz sobre um acidente causado pelo álcool ao volante, sugerindo que se a maconha fosse legalizada o trânsito poderia se tornar mais perigoso.

Indo mais fundo, percebe-se que o discurso é contrário sobretudo ao uso da maconha de forma recreacional. No site deles as comemorações se baseam nas pesquisas, que de fato não animam...

6. Pesquisas apontam o Não na frente

Infelizmente o não foi apontado com 51% das indicações na última pesquisa feita antes da votação. O sim conseguiu somar apenas 44% das intenções de voto. Margens de erro a parte, é preciso admitir que tá difícil para a marijuana deixar de ser uma planta a margem.

Mas é preciso considerar que esse é mais um passo de muitos que já fora dados. E se o jogo virar e o Sim ganhar, amigo... aí é uma correria de milhares de passos em direção a liberdade. Não tá fácil.

7. Bom Dia Brasil

O apresentador não gosta, mas a Globo a gente sabe que apoia essa idéia. Olha que matéria interessante saiu no programa Bom Dia Brasil. Dá gosto de ver, presta atenção no que o repórter diz. "Qualquer pessoa vai poder fumar um cigarro de maconha na rua", é isso que tá em jogo. Dá play:

8. O mundo Mágico da Internet

A internet é uma ferramenta que revolucionou a forma de militar, sobretudo a favor das contraculturas. No entanto, fica quase impossível perceber como o Não pode estar na frente mesmo com a gigantesca predominância do Sim, pelo menos nas redes mundiais de computadores.

Aí que tá. Infelizmente a interent ainda está restrita ao universo dos jovens e ela é capaz de criar um universo que reflete nada mais que a vontade e instinto da maior parte dos usuários. Se dependesse só da movimentação online, a maconha já estaria legalizada até no Brasil. Com a Prop 19 não é diferente.

E o maior expoente dessa militância, pelo menos em nossa opinião, é o vídeo que tivemos a honra de legendar, o Should Be Legalizes. Click na imagem e veja.

9. Nem tudo são Flores, Mesmo no Mar do Sim

Mesmo que o sim consiga vencer, há possibilidade de problemas sérios em relação ao arbítrio da lei estadual em relação às leis federais, que ainda veem a maconha com o pior dos olhos. Já houve pronunciamento do governo federal em tentativa de inibir as chances dessa autonomia do Estado.

Portanto, na pior das hipóteses é assim para o governo federal dos EUA. Se perder, perdeu. Se ganhar, não vale. Embora tenhamos que lembrar que a repressão do governo federal diminuiu muito após a eleição de Barack Obama.

10. Que mais? BOA SORTE!

Desejamos sorte aos californianos, que construiram politicamente e tem agora a chance de mudar a história dos EUA, que é tão negra. Eles criaram repressão e difundiram ao mundo - ainda hoje investem toneladas de dólares para matar 'traficantes' no México. Mas de qualquer forma, é preciso reconhecer que a cannabis não tem nacionalidade. A legalização é um avanço global.

Fonte : http://hempadao.blogspot.com/

Entrevista com Henrique Carneiro sobre a Legalização da Maconha


Fonte : http://operamundi.uol.com.br/

Legalização da maconha "romperia a relação do consumidor com o crime", diz historiador Henrique Carneiro

Pesquisador do efeito das drogas na sociedade, o historiador Henrique Carneiro defende que elas fazem parte da cultura e são essenciais para todas as sociedades. Para ele, a proibição ao consumo da maconha, droga considerada leve, reflete preconceitos históricos no Brasil e no mundo. Henrique é professor de História Moderna na USP e autor de diversos livros sobre o tema. Foi organizador dos livros Álcool e Drogas na História do Brasil, da editora Alameda, e Drogas e Cultura: Novas Perspectivas, da Edufba. Ele falou ao Opera Mundi sobre o plebiscito na Califórnia.

O que vai mudar na Califórnia se for aprovada a lei?
Hoje em dia, o uso medicinal exige a intermediação de uma instituição médica que dê uma indicação para o usuário. O “pretexto” é medicinal. Mas às vezes o cara não consegue dormir, tem angústia, na verdade o uso é muito mais amplo. Eu prefiro dizer que é lúdico. E a nova Proposição 19 autoriza esse uso também.

Mas, na prática, faz muita diferença?
Pode trazer uma grande mudança ao alterar o paradigma. Cria uma ruptura de um paradigma que é global e precisa ser rompido. Altera na prática porque vai criar um clima novo em que não vai ter mais a limitação do direito ao uso. Isso pode se espalhar para outros estados americanos e causar uma mudança imediata na relação com o México, um dos casos mais agudos de violência causada pela guerra contra as drogas. E pode gerar uma influência no sentido de se legalizar no México também. Seria, aí sim, uma alternativa viável para começar a combater o problema estrutural do crime organizado.

O senhor é favorável à legalização?
Eu acho que a maconha tinha que ser que ser legalizada para que houvesse o direito do consumidor não depender de circuitos clandestinos e ligados ao crime. Romperia a relação do consumidor com o crime. E isso é importante, sobretudo porque é um produto de jardinagem que pode ser produzido em pequena escala, numa proporção de auto-abastecimento.

A proposição será aprovada? As pesquisas têm apontado crescente oposição...
Mesmo se não for aprovada, vai ser por uma pequena margem. O apoio à legalização nunca foi tão grande, quase metade da população. O debate está sendo feito com grande convicção e vai ficando marcado como uma questão de direito civil, que remete aos aspectos mais importantes da formação das lutas democráticas nos EUA. A ideia é que ser um consumidor de maconha é ter um direito civil, como ser homossexual ou qualquer tipo de opção de vida que tenha relação com questão do próprio corpo. A sociedade aceita que você faça praticamente tudo, inclusive práticas de risco, menos as drogas. Então o plebiscito incorpora à agenda de direitos civis o uso não abusivo de substâncias controladas, que não é garantido em praticamente nenhum país do mundo.

O senhor diz que as drogas fazem parte da cultura de todas as sociedades. Por que então há tanta proibição?
Mais que o simples preconceito, a proibição tem a ver com o interesse político concreto de se reprimir as populações pobres e permitir um pretexto de intervenção social. A grande repressão é contra traficantes e não assaltantes, como se o tráfico fosse a metonímia de todos os crimes. Vide o número de presos, é impressionante como se encarceram as massas. Nos EUA, a grande maioria são negros. Ali como aqui também, há uma pressão enorme no sistema carcerário, que está lotado.

Quando a maconha foi proibida no Brasil?
A primeira menção conhecida que existe na documentação é de 4 de outubro de 1830, que é uma resolução da Câmara municipal do Rio de Janeiro proibindo os escravos do uso do “pito de pango”, como chamavam. A República proclama um código penal em 1890, cujo artigo 159 proíbe substâncias venenosas, mas não há menção específica à maconha. Em 1921 há outro decreto sobre substâncias de qualidade entorpecente. Mas apenas em 1936 a maconha vai ser mencionada explicitamente. É criada uma comissão nacional fiscalizadora de entorpecentes, e acontece uma campanha contra a maconha. A grande criminalização no mundo veio depois do fim da Lei Seca nos EUA. E no Brasil aconteceu de forma simultânea.

Como o Brasil participou desse movimento mundial?
O Brasil de certa forma ajudou a criminalizar a maconha mundialmente a partir de intervenções de médicos e políticos brasileiros, com a estigmatização do uso da maconha, relacionando-a ao ópio na Ásia - o que é improcedente, já que a maconha não tem letalidade e nenhuma síndrome de abstinência. Um exemplo é o médico Rodrigues Dória, que era também presidente da província de Sergipe. No começo do século, Rodrigues Dória diz em um congresso que a ideia de que a maconha é a vingança dos ex-escravos contra seus senhores, que agora escraviza os ex-senhores, como tinha sido o ópio nos EUA. Na verdade toda essa posição é porque era uma droga negra. Tanto que, no início da República, havia uma inspetoria de “entorpecentes, tóxicos e mistificação”, a mesma que combatia a umbanda, o esoterismo e até o espiritismo.

Ou seja, a cultura de uma classe inferior.
Sim, é a exploração da ideia eugenista e racista, de raças superiores, que relaciona a maconha com esses hábitos negros. Essa ideia está presente em todos os clássicos, de Gilberto Freyre, Mário de Andrade e até folcloristas como Alceu Maynard. E isso é muito semelhante ao que aconteceu em outros lugares do mundo, por exemplo, com os árabes nos EUA e na Europa. Mais do que uma droga de pobre, a maconha é uma droga do pobre estrangeiro. E é estigmatizada sempre como sendo uma coisa exótica.

Hoje isso ainda persiste no Brasil?
Sem dúvida. Esse é o fundo da questão. Subsiste um preconceito de ordem social – e falar de ordem social no Brasil é falar em ordem racial – que vê a maconha ligada aos hábitos populares, não à tradição da elite, que consome o álcool sem grande condenação. E hoje é muito pior isso, por causa do sistema que gera. Como a maconha e as drogas em geral se tornaram um circuito de hiperacumulação de capital – é uma das mercadorias mais vendidas no mundo –, seu preço não tem relação com o custo de produção, mas com o custo da proibição. Então tem uma rentabilidade extraordinária, que atrai os meninos do morro, por exemplo, que veem a venda da droga como a única possibilidade de subir na vida. Aí se estigmatiza ainda mais.