Psicodélico: dezembro 2009

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Psicoterapia psicodélica

Psicoterapia psicodélica refere-se à prática de psicoterapia envolvendo o uso de drogas psicodélicas. Como uma alternativa para os sinônimos tais como "alucinógenos" ou "enteógenos" e outros nomes construídos funcionalmente, o uso do termo psicodélico enfatiza a habilidade que as drogas psicodélicas têm de facilitar a exploração da psique, que é fundamental para a maioria dos métodos de psicoterapia psicodélica.

Segundo Fontana (1969) essas substâncias devem ser consideradas como auxiliares da psicoterapia no sentido de aumentar o insight e favorecer a conexão e não como um uso per se, que pode remover ansiedades latentes que deveriam ser elaboradas no processo psicoterápico. Assinala a indicação para a maioria dos pacientes neuróticos e chama atenção do risco de surto psicótico em pacientes susceptíveis.


Peyote

História

Psicoterapia psicodélica, no mais amplo senso, confunde-se com o estudo e utilização de técnicas de meditação e êxtase religioso pela psicologia que é provavelmente tão antigo quanto o conhecimento humano sobre plantas alucinógenas. Embora predominantemente visto como espiritual por natureza, elementos da prática psicoterapêutica podem ser reconhecidos nos rituais enteogénicos que integram as práticas médicas de muitas culturas. Notavelmente em algumas regiões da América Central (integrantes das culturas Maia e Asteca) e América do Sul (Incas e alguns povos da Amazônia e Nordeste do Brasil) reúnem a maioria das substancias conhecidas como alucinógenos e Enteógenos.

Alguns estudos precursores poderiam ser citados entre estes o estudo sistemático do Peiote o cacto Anhalonium lewinii em 1886 utilizado pelos índios do México e Sudoeste dos Estados Unidos (atualmente integrantes da Native American Church) pelo farmacologiasta Ludwig Lewin que dele isolou a Mescalina a partir do que se iniciaram estudos realizados por psicólogos famosos como Havelock Ellis, Jaensch e Weir Mitchell (Huxley, 1953/ 1965) e os estdos e experiência de Richard Spruce (1817-1893) e Alfred Russel Wallace (1823-1913) com a Aya-huasca na Amazônia na segunda metade so séc. XIX.

O uso de agentes psicodélicos na psicoterapia ocidental se iniciou na década de 1950, depois da distribuição de LSD para pesquisadores, feita por seu fabricante, Sandoz Laboratories. Pesquisas extensivas quanto ao uso experimental, quimioterapêutico e psicoterapêutico de drogas psicodélicas em todo o mundo por 15 anos após sua descoberta. Muitos estudos descobriram que o uso das drogas psicodélicas facilitaram em muito os processos psicoterapêuticos, e provaram particular utilidade para pacientes com problemas que de outra forma seriam de difícil tratamento, incluindo sobretudo alcoólicos, viciados em drogas, pacientes terminais além de autistas, alguns tipos de enxaqueca (cefaléia em salvas), sociopatas e psicopatas.

Em meados da década de 1960, em resposta a interesses em relação a proliferação do uso desautorizado das drogas psicodélicas pelo público em geral (especialmente a contracultura), vários passos foram dados para cortar seu uso. Cedendo à pressão do governo, em 1965 a Sandoz suspendeu a produção de LSD, e em muitos países este foi banido, ou disponilbilizado tão limitadamente que tornou difícil a sua pesquisa. Em 1980 a pesquisa autorizada em aplicações psicoterapêuticas de drogas psicodélicas tinham sido essencialmente descontinuadas ao redor do mundo.

Uso terapêutico

Uma das intrigantes formas de uso de vegetais que contém substâncias alucinógenas é o caso da Ipomoea purpurea ou I. violácea conhecida como Glória da Manhã (Morning Glory) que para alguns autores corresponde ao ololiuhqui que contém ácido lisérgico e faz parte do sistema etnomédico nahuattl dos astecas/toltecas, com a qual se prepara uma essência floral diluída centenas ou milhares de vezes assim como os medicamentos homeopáticos. Observe-se que o seu elemento ativo básico é o LSA – Amida do Ácido Lisérgico (Lysergic Acid Amides) e não a Dietilamida do Ácido Lisérgico (lysergic acid diethylamide) ou LSD do qual ignora-se se contém frações e/ou se ocorre espontaneamente uma biotransformação.

Como essência floral a Ipoméia é comercializada em vários sistemas, como no Sistema Floral de Minas, com o nome de Ipomea, no Sistema Floral do Nordeste com o nome de Água Azul, no Sistema Florais da Califórnia com o nome de Morning Glory a sua indicação é segundo a Rio Flor a recuperação dos usuários de drogas e de todos aqueles que possuem estilos de vida desregrados, auxiliando a alma a se libertar dos vínculos e das dependências que as tiram a oportunidade de viver dentro do mundo real e alcançar seu propósito de vida.

As diferenças entre as distintas substâncias enteógenas ou mesmo sua presença em doses homeopáticas (independente dos questionamentos da sua presença material ou efeito placebo) reforçam a idéia que o efeito da substância e de sua função terapêutica têm que ser compreendidos na perspectiva de um conjunto (set) de expectativas e vivências simbólicas para o que o terapeuta precisa estar preparado para conduzir, pois não é apenas administrar a indicação e o risco de ingestão de um medicamento.

A formação de terapeutas com tal especialização no momento no Brasil, nos Estados Unidos da América do Norte, em alguns países da América do Sul e em muitos países ainda é apenas uma possibilidade teórica, pois a utilização de tais substâncias apenas é permitida no contexto de uso tradicional delimitada pela psiquiatria, psicologia antropologia da saúde da religião e controlada no Brasil pelo CONAD - Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas e nos EUA o é FDA - Food and Drug Administration e o DEA - Drug Enforcement Administration.

Perspectivas teóricas

Apesar de não legalmente instituída pelos órgãos de regulação e controle profissional do Brasil, no plano teórico já existem como referidas pesquisas de resultados terapêuticos de seu emprego na medicina tradicional e/ou segurança quanto a ser inofensivo à saúde o consumo dentro das práticas tradicionais. Contudo no plano teórico ainda não se formou um consenso quanto à forma do método terapêutico ou linha teórica de atuação. Sem dúvida esse conflito reflete a própria dificuldade de conceituação e intervenção das teorias e técnicas psicoterápicas.

Diversos protocolos de pesquisa vêm sendo desenvolvidos a exemplo Psicoterapia com LSD (LSD – assisted psychotherapy) em pessoas sofrendo de ansiedade associado à estágio avançados de doenças terminais, ou proposições de intervenção vem sendo desenvolvidas em centros para tratamento e recuperação de drogadição a exemplo do Takiwasi Centre. Já existem institutos que acompanham apóiam e desenvolvem pesquisas como o MAPS que é uma associação multidisciplinar para o estudo de substâncias psicodélicas e utilização medicinal da Cannabis sativa que tem como objeto de pesquisa o stress pós - traumático, drogadição; Sociedades médicas como a SÄPT - Sociedade suíça de médicos para terapia psicodélica criada por Peter Baumann e no Brasil o NEIP - Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre Psicoativos, entre outras associações.

Considerando então esse conjunto de pesquisas das áreas médicas e sociais o que se pode antever como proposição psicoterápica são a combinação das técnicas que possuem evidências clínicas no tratamento nos transtornos mentais já referidos a exemplo do emprego psicologia analítica jungniana com pacientes terminais, as proposições da psicologia transpessoal principalmente porque inclui pesquisadores de substancia psicodélicas como Stanislav Grof ou terapia cognitivo comportamental no controle da drogadição naturalmente além das intervenções que já se realizam a partir da psicofarmacologia e homeopatia como no caso da Morning Glory.

Numa lista provisória de pesquisadores com contribuições relevantes inclui-se:
- Gordon Wasson
- Rick Strassman
- Jonathan Ott
- Stanislav Grof
- Peter Baumann
- Albert Hofmann
- Rick Doblin
- Samuel Widmer
- Humphry Osmond
- Alberto E. Fontana

Contudo não se pode ignorar as contribuições dos principais centros urbanos de utilização da hoasca: o Santo Daime a União do Vegetal e a Igreja Nativa Americana que em função de sua legitimação social e convívio com pesquisadores vêm produzido uma nova interface entre a ciência terapêutica e a religião.

Referências

- FONTANA, ALBERTO E. (org.) Psicoterapia com LSD e outros alucinógenos. SP, Mestre Jou, 1969

- GROF, STANISLAV LSD Psychotherapy, 1980. (3ª ed., editora MAPS, ISBN 0-9660019-4-X [2001]). Em inglês.

- HUXLEY, ALDOUS. As portas da Percepção e O céu e o Inferno. RJ, Civilização Brasileira, 1965

- MYRON STOLAROFF, The Secret Chief: Conversations with a pioneer of the underground psychedelic therapy movement, Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (MAPS) 1997. ISBN 0-9660019-0-7 (hardcover) ISBN 0-9660019-1-5 (paperback). Em inglês.

- BLEWETT, D.B., PH.D; CHWELOS N., M.D., A Handbook for the Therapeutic use of LSD-25 [1]. Este texto está parcialmente desatualizado, mas ainda é um boa referência (em inglês).
- PiHKAL (ISBN: 096300965) e TiHKAL (ISBN: 0963009699), de Ann & Alexander Shulgin, incluem capítulos sobre psicoterapia psicodélica (em inglês).

- STOLAROFF, MYRON,Thanatos to Eros [2]. Apesar de não ser estritamente sobre psicoterapia, esse livro discute muitos aspectos da terapia psicodélica (em inglês).

Ligações externas

History of LSD Therapy (Ch. 1 of Grof's, LSD Psychotherapy)

Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (MAPS)

Free online books about psychedelic psychotherapy at MAPS, including The Secret Chief

Recent Psychedelic Research, summary at MAPS site

Athanasios Kafkalides, psychedelic therapist and researcher : biography, information and writings

Eleusis, Alcohol and Drug Addiction Treatment Center: Featuring the pioneering technique of Ketamine psychedelic psychotherapy

Documents for serious Psychonauts, Research papers and articles on the role of psychoactive substances in psychological and shamanic healing practices

Council on Spiritual Practices

Secretaria Nacional Antidrogas - SENAD

EROWID Documenting the Complex Relationship Between Humans & Psychoatives

Takiwasi Centre - Centro de Rehabilitación de Toxicómanos y de Investigación de Medicinas Tradicionales

LSD

Como funciona o LSD

A droga psicodélica LSD foi chamada de ácido, selo (blotter), sol da Califórnia, ponto, microponto, açúcar e incontáveis outros nomes coloridos desde que foi vendida pela primeira vez nas ruas, no começo dos anos 60. Faz sentido que o LSD fosse tão popular. Ele é fácil de tomar - sem cor, sem cheiro e sem gosto -, e ingerir apenas uma minúscula quantidade (25 microgramas, ou 0,000025 gramas, menos que o peso de dois grãos de sal) é o suficiente para sentir os efeitos. Ele também é fácil de ocultar, já que as doses de hoje são geralmente encontradas em minúsculos quadrados de papel absorvente. O LSD ainda é difícil de detectar devido à pequena quantidade ingerida e ao fato de que ele é rapidamente metabolizado pelo corpo. Finalmente, LSD é barato se comparado com outras drogas. Uma dose custa cerca de US$ 5, e frequentemente pode ser conseguida de graça.

Um "Ônibus Mágico" em exposição no The Museum at Bethel Woods Center of the Arts, que foi construído no lugar onde aconteceu o festival Woodstock, de 1969


As mesmas coisas que fazem o LSD tão popular também o tornam assustador, e nós somos avisados sobre seus muitos perigos de tempos em tempos. Por exemplo: você deve ter ouvido que o LSD pode fritar ou esburacar seu cérebro, ou pode deixá-lo louco, ou fazê-lo fazer coisas perigosas. Supostamente, pessoas pularam de prédios ou pontes enquanto estavam "viajando" ou se afogaram porque pensavam que poderiam andar sobre a água. Há histórias de pessoas que, querendo atrair crianças para o LSD, colocavam a droga nos selos postais ou em tatuagens de chiclete. Nada disso é verdade. Na verdade, muitas dessas coisas que ouvimos que o LSD faz, e o que a pessoa faz sob sua influência, são mitos ou exageros criados para assustar adolescentes impressionáveis.

A verdade é que, embora o LSD exista há mais de 60 anos e tenha sido tomado por milhares e milhares de pessoas, ele ainda não é bem compreendido pela maioria de nós. Ainda que esteja associado para sempre com os hippies e o movimento da contracultura dos anos 60, o LSD foi sintetizado pela primeira vez por pesquisadores procurando criar novos medicamentos. Vamos começar com o começo do LSD - em um laboratório na Suíça.


A história do LSD


O químico suíço Albert Hoffmann trabalhava em um laboratório da companhia farmacêutica Sandoz quando sintetizou o LSD pela primeira vez. A Sandoz estava trabalhando em um projeto de pesquisa envolvendo um fungo parasita chamado ergot que cresce no centeio, conhecido como Claviceps purpurea. Na Idade Média esse fungo envenenou milhares de pessoas que comeram pão de centeio infectado. O fungo também era usado por parteiras, que às vezes o davam a mulheres grávidas para acelerar o trabalho de parto. No século 19, a maioria dos médicos considerava a prática perigosa demais porque altas dosagens levavam a contrações muito fortes, colocando o bebê em perigo. Apesar disso, às vezes os médicos usavam o ergot para parar o sangramento após o nascimento da criança.


Albert Hoffman, que descobriu o LSD


Nos anos 30, pesquisadores do Instituto Rockefeller, em Nova York, isolaram o ácido lisérgico de um composto do ergot. Essa pesquisa foi a base para o trabalho de Hoffmann na Sandoz. Enquanto estava derivando diferentes compostos do ácido lisérgico, Hoffmann desenvolveu vários medicamentos, incluindo drogas que baixavam a pressão arterial e melhoravam as funções cerebrais em idosos. Em 1938, Hoffmann isolou o 25o composto em uma série desses experimentos. Era a dietilamida do ácido lisérgico, o LSD-25. Ele achava que o LSD-25 podia estimular a respiração e a circulação. Mas testes não mostraram nada de especial, e a Sandoz abandonou estudos adicionais.


Cinco anos depois, os pensamentos de Hoffmann voltaram para o potencial do LSD-25. Ele sentiu que o LSD-25 não tinha sido totalmente explorado, então deu um passo incomum ao sintetizar outro lote para testes adicionais. Durante o processo, contudo, Hoffmann começou a se sentir estranho. Ele parou seu trabalho e foi para casa cedo, "sendo afetado por uma inquietação memorável, combinada com uma leve tontura". Já em casa, ele estava em um "estado irreal" e percebeu um fluxo ininterrupto de imagens fantásticas, formas extraordinárias com um caleidoscópio de cores intenso". Naquele momento, Hoffman percebeu que tinha ficado com um pouco da solução nos dedos. (Mais tarde ficaria comprovado que ele colocou seu dedo na boca, já que o LSD não podia ser absorvido pela pele.)


No dia seguinte, Hoffman propositalmente tomou o LSD. Ele pegou 250 microgamas, dez vezes mais que a típica dose mínima de hoje. Hoffmann ficou delirante e mal podia falar. Inicialmente, ele entrou em pânico e pediu a seu assistente de laboratório para chamar um médico. O médico não encontrou nada errado com Hoffmann além do fato de suas pupilas estarem dilatadas - ele tinha a pressão arterial, batimentos cardíacos e respiração normais. Logo seu pânico deu lugar à euforia, e Hoffmann mais uma vez viu formas belas e coloridas. No dia seguinte, contou aos outros na Sandoz o que havia acontecido, e eles experimentaram resultados similares. Nenhuma outra droga conhecida tinha efeitos tão fortes em tão pequenas doses.


Após testes em animais, a Sandoz deu o LSD para institutos de pesquisas e médicos usarem em experimentos psiquiátricos, tanto em pacientes saudáveis quanto em mentalmente doentes. A pesquisa foi persuasiva o suficiente para convencer a Sandoz a patentear o LSD e levá-lo ao mercado como Delysid em 1947. Ele foi vendido em tabletes de 25 microgramas para uso na psicoterapia analítica. A Sandoz também sugeriu que psiquiatras tomassem a droga eles mesmos, assim poderiam entender melhor seus pacientes. Dois anos depois, médicos do Hospital Psicotrópico de Boston estavam usando o LSD em seus pacientes. Em 1960, havia centenas de pesquisas publicadas nos jornais médicos e científicos sobre os vários usos do LSD - era a palavra da comunidade psiquiátrica. Mas em 1966, a Sandoz parou de fabricar de vez o LSD.
Agora vamos ver como o LSD passou a ser ilegal.


Como fazer LSD


A Sandoz manteve a patente do LSD até 1963 e parou de fabricá-lo logo depois. A empresa alegou que estava preocupada com a falta de regulamentação e com as informações imprecisas sobre a droga que estavam sendo perpetuadas. Naturalmente, isso não impediu ninguém de fazer o seu próprio LSD - o que era permitido até 1965.


Fazer LSD requer um forte conhecimento de química orgânica, um laboratório completo montado (incluindo a capacidade de esterilizar equipamentos bem como acesso a uma sala escura), e várias substâncias químicas que estão atualmente ou com venda restrita ou têm suas vendas monitoradas de perto pela Agência Antidrogas dos EUA (DEA). Ao contrário das substâncias químicas usadas na fabricação de metanfetamina, as do LSD não podem ser encontradas nos costumeiros itens domésticos.


Há duas formas diferentes de fazer LSD. Algumas "receitas" podem começar com ácido lisérgico. Outras receitas online pedem por sementes de morning glory (Ipomoea violacea), que podem ser especialmente perigosas porque são frequentemente vendidas com uma cobertura tóxica para desencorajar o consumo. As sementes de morning glory e as sementes de algumas plantas relacionadas contêm LSA, ou amido de ácido lisérgico. O LSA pode ser extraído de sementes e produz um leve barato. Ele é considerado um precursor do LSD, embora a quantidade de LSA nas diferentes sementes varie tanto que a qualidade da droga feita dele também varia. Aqui, nós vamos ver uma receita que começa com o fungo ergot.


Um químico que faz LSD precisa ser extremamente cuidadoso e bem-informado sobre como trabalhar com o ergot devido à sua toxicidade. Lembra das pessoas envenenadas por pão de centeio na Idade Média? Uma vez que o químico obtém o fungo, tem que, cuidadosa e precisamente, fazer sua cultura para extrair o alcalóide de ergot (um alcalóide é um composto contendo átomos básicos de nitrogênio). A montagem da sala escura se torna necessária aqui, porque o fungo vai decompor sob luzes claras. Na realidade, o LSD em si pode entrar em dissolução rapidamente quando exposto à luz.


Como se trabalhar com o fungo tóxico não fosse suficiente, os solventes e reagentes (compostos usados para provocar reações químicas) também são incrivelmente perigosos. O solvente hidrazina anidra, por exemplo, pode explodir quando aquecido. É extremamente venenoso e um cancerígeno conhecido. Outro composto frequentemente usado no processo, o clorofórmio, também pode causar câncer, bem como danos severos ao rim e ao fígado. Ambos os compostos - a hidrazina e o clorofórmio - podem ser facilmente absorvidos pela pele ou inalados.

Uma folha de selos ácidos decorada com o Chapeleiro Maluco, de "Alice no País das Maravilhas"

O alcalóide do fungo é sintetizado em um composto lisérgico chamado hidrazida de ácido iso-lisérgico, por meio da adição de compostos químicos e processos de aquecimento. Em seguida, a hidrazida de ácido iso-lisérgico é isomerizada, o que significa que os átomos em suas moléculas são rearranjados por meio de processo químico. Ela é resfriada, misturada com um ácido e uma base e evaporada. O que resta é a dietilamida iso-lisérgica, que é isomerizada novamente para produzir o LSD ativo. O LSD é então purificado e cristalizado.

O que acontece depois? No passado, o LSD era feito em tabletes (micropontos), simplesmente dissolvido em água ou outros líquidos para ser transformado em gotas, ou em quadradinhos de gelatina. Contudo é raro ver o LSD nessas formas hoje. Em vez disso, ele é normalmente dissolvido em etanol. Folhas de papel para selo são, então, mergulhadas na solução de LSD e secas. Essas folhas de selo ácido são normalmente impressas com personagens de desenho animado ou outros gráficos coloridos. As folhas são perfuradas de modo a formar pequenos quadrados de cerca de 6,35 mm de largura. Cada quadrado é uma dose, e uma folha pode conter até 900 doses.

Esses quadrados são mastigados e engolidos. Embora o LSD possa ser injetado, especialmente em usos terapêuticos, isso não é necessário por a droga ser rapidamente absorvida pelo corpo quando ingerida. Então, como é a viagem do LSD? Descubra a seguir.

Viagens com o LSD

É comumente dito que o LSD provoca alucinações, mas isso não é bem verdade. Quando uma pessoa tem uma alucinação, acredita que tudo o que vê ou sente é real. O LSD muda a maneira como a pessoa percebe o mundo à sua volta, bem como o que ela pensa e sente, mas as pessoas sob efeito do LSD não veem coisas que não estão lá. Elas veem o que já está lá de forma diferente, e na maioria da vezes, estão conscientes de que as percepções alteradas são causadas pela droga.

Depois de tomar o LSD, os efeitos - conhecidos como "viagem"- começam normalmente em uma hora e podem durar até 12 horas, com um pico no meio da experiência. A maneira como o LSD afeta exatamente cada pessoa varia amplamente. Algumas mudanças físicas no corpo durante a viagem incluem pupilas dilatadas, aumento da pressão arterial e alta da temperatura do corpo. Pessoas sob efeito do LSD podem sentir-se tontas, suar, ter visão borrada e sentir formigamento nos pés e nas mãos. Podem sentir-se adormecidas, mas não sonolentas.

Os principais efeitos do LSD são visuais. As cores parecem mais fortes, e as luzes, mais brilhantes. Objetos que são fixos podem parecer mover-se ou ter um halo em torno deles. Às vezes, objetos têm trilhas de luz saindo deles ou parecem menores ou maiores do que realmente são. Usuários de LSD frequentemente veem padrões, formas, cores e texturas. Às vezes, parece que o tempo está andando para trás, ou se movendo rápida ou lentamente. Em ocasiões muito raras (embora muitas vezes seja colocada como comum), a viagem pode causar sinestesia - uma confusão de sensações entre diferentes tipos de estímulos. Algumas pessoas descreveram isso como ouvir cores e ver sons.

Há um senso geral de felicidade e euforia. Tudo é lindo, interessante e mágico. Pessoas sob LSD frequentemente tornam-se muito emotivas e sonhadoras. Grandes doses da droga podem fazê-las sentir-se especialmente contemplativas. Elas sentem que sua mente ultrapassou as fronteiras normais, e frequentemente alegam ter tido experiências que são espirituais ou religiosas, com um novo entendimento de como o mundo funciona.

Pessoas viajando no LSD são geralmente impulsivas e têm capacidade de julgamento muito pobre. Esta é parte da razão pela qual usuários de LSD preferem viajar em grupo, com pessoas que tenham experiência, e em lugares calmos, como em casa ou em um parque. Grandes amizades foram formadas entre pessoas que viajaram juntas. Para quem não está viajando, mas observando, usuários de LSD podem parecer assustadores: podem gastar muito tempo ponderando sobre algo que parece incrivelmente sem importância, e não são sempre fáceis de entender. Quando eles falam, falam rapidamente e pulam de um assunto para outro.

Viagens como as descritas acima são consideradas "good trip". A maioria das pessoas que usaram LSD sabe que há sempre a possibilidade de uma experiência desagradável, ou "bad trip". Não está realmente claro o que causa a bad trip, já que cada viagem pode ser muito diferente dependendo da pessoa. Usuários de LSD muitas vezes dizem que é devido ao "set and setting" (indivíduo e ambiente). Isso significa que se você já está de mau-humor, ou viaja em um ambiente altamente estruturado, que exige que você pense logicamente, pode ter uma bad trip. Isso pode incluir perder de vista o aspecto ilusório da viagem, o que resulta em medo e paranóia. A perda de controle é assustadora, e parece que a viagem nunca vai acabar. Muitas vezes quando alguém tem uma bad trip, é levado para o hospital. Contudo, não há muito o que os médicos possam fazer além de dar à pessoa um lugar calmo para restaurar a confiança. Eles podem administrar um ansiolítico ou um tranquilizante leve para acalmar o pânico do paciente. Quando a viagem termina, o paciente pode sentir-se tonto e nauseado, mas geralmente se recupera sem efeito colateral.

Para alguns, uma única bad trip é suficiente para amaldiçoar o LSD para sempre. Mesmo se os usuários de LSD não têm uma bad trip, o uso pesado da droga pode causar uma série de problemas. A seguir, vamos ver como o LSD funciona no corpo e seus efeitos na saúde mental e física.

Efeitos do LSD no corpo

Pesquisadores não estão 100% certos sobre o que o LSD faz no sistema nervoso central, ou exatamente o que provoca os efeitos alucinógenos. Isso é em parte porque nunca houve estudos científicos sobre como o LSD afeta o cérebro. Acredita-se que o LSD funcione de maneira similar à serotonina, o neurotransmissor responsável por regular o humor, o apetite, o controle muscular, a sexualidade, o sono e a percepção sensorial. O LSD parece interferir na maneira como os receptores de serotonina do cérebro funcionam. Ele pode inibir a neurotransmissão, estimulá-la, ou ambos. Ele também afeta a forma como a retina processa a informação e conduz essa informação ao cérebro.


Apenas 0,25 microgramas de LSD para 1 quilo de peso do nosso corpo pode produzir efeitos. Uma dose típica de hoje tem essa quantidade; nos anos 60, a dose era até quatro vezes maior. Quando uma pessoa toma LSD, a droga é rapidamente metabolizada no fígado e com o tempo excretada na urina. Uma pequena quantidade é deixada no corpo no final da viagem e provavelmente terá ido embora completamente semanas depois.

Já foi dito que o LSD permanece para sempre no corpo em minúsculas quantidades no cérebro ou na medula espinhal, mas não há evidências que suportem essa afirmação. Quem acredita nisso, contudo, diz que o cérebro retém o LSD e pode liberar suas moléculas com o tempo, e isso pode causar "flashbacks". Um flashback ocorre quando a pessoa que usou LSD no passado tem uma experiência (durando de segundos a horas) de forma similar à de uma viagem de verdade. Alguns usuários de LSD gostam desses flashbacks e os consideram "viagem grátis", enquanto outros os acham extremamente chatos. A maioria dos usuários de LSD relata nunca ter tido flashbacks, e algumas pessoas defendem que eles nem sequer existem. Esse tópico é muito controverso entre usuários de LSD e pesquisadores.

Dos que relataram experiências de flashback, muitos são também mentalmente doentes. Alguns médicos sugerem que o que o usuário percebe como um flashback é, na verdade, uma forma de psicose ou doença mental que pode ter emergido devido ao uso do LSD. Há um transtorno reconhecido pelos médicos chamado Distúrbio de Percepção Alucinógena Persistente (Hallucinogen Persisting Perception Disorder, HPPD), em que algumas pessoas que tomaram LSD constantemente experimentam alucinações visuais (como oposição aos breves flashbacks). Ainda não se sabe exatamente o que faz algumas pessoas mais suceptíveis a isso que outras.
Na próxima página, vamos ver o pior dos cenários.

Perigos e abuso do LSD

Houve poucos relatos de overdoses de LSD que resultaram em morte ou problemas de saúde permanentes. Em 1973, um caso foi relatado pelo "The Western Journal of Medicine", em que oito pessoas tomaram overdoses massivas de LSD em uma festa. Elas pensaram que o pó branco sendo passado na festa era cocaína e cheiraram miligramas dele. A maioria desmaiou. No hospital, tiveram febre, vômito e hemorragia interna. Contudo, todos os pacientes se recuperaram em 12 horas e sem nenhum efeito duradouro. Cinco deles foram examinados regularmente durante um ano para problemas de longo prazo.

Houve relatos de ataques cardíacos (infartos), derrames e outras mortes associadas ao uso do LSD, mas muitos desses usuários também tinham outras drogas recreativas em seus sistemas, de modo que a culpa do LSD não foi provada.


Dirigir sob efeito de LSD pode não ser uma boa idéia

O dano físico real associado ao LSD vem do que pode acontecer quando alguém perde a inibição e tem alterações de comportamento, percepções distorcidas ou senso de imortalidade durante a viagem. Usuários de LSD mataram-se acidentalmente ao andar na frente de um carro, ou envolvendo-se em um acidente de carro durante a viagem, ou caindo de janelas ou edifícios.

Essas pessoas não enlouqueceram. O LSD não tem a tendência de fazer alguém enlouquecer ou tornar-se psicótico. Ele pode interagir com outras drogas e provocar sintomas psicóticos (especialmente outras drogas que atuam nos neurotransmissores). Algumas pessoas com histórico de certas doenças mentais, como esquizofrenia ou psicose, pode ter os sintomas exacerbados pelo LSD. A droga também pode acelerar o início dessas doenças se alguém já vai desenvolvê-la.

Usuários pesados de LSD também podem desenvolver problemas sociais profundos, arruinar completamente seu ciclo de sono e perder o interesse em comida e na higiene pessoal. Eles também perdem o interesse em participar do mundo à sua volta e sentem-se completamente desconectados de todo o mundo. O grande problema é que por estarem tomando o LSD com tanta frequência, eles pensam que o LSD está criando a ilusão de que sua vida é uma bagunça, em vez de reconhecer que ela é realmente uma bagunça.

Você não vai ouvir falar de alguém que esteja fazendo reabilitação por abuso de LSD, porque ele não é uma droga que vicia. Usar o LSD por dias seguidos pode levar a pessoa a desenvolver rapidamente uma tolerância, por isso, ele é raramente usado por mais de uma semana. Uma pessoa que usa LSD duas vezes por semana é considerada um usuário pesado. Fora isso, repetidas viagens tendem a perder sua novidade, e o que uma vez pareceu mágico se torna lugar comum. Os efeitos causados pelo LSD não são confiáveis como o são os efeitos de outras drogas - você nunca sabe como vai se sentir ou o que vai ver. Viciados anseiam por confiabilidade.

A seguir vamos dar uma olhada no LSD que é usado para outros fins que não recreativos.

LSD como medicamento

Antes de ser uma droga recreativa, o LSD era usado na terapia psiquiátrica. No começo, os psiquiatras esperavam que o LSD provasse ser a cura para algumas formas de doença mental. Acreditava-se que dar LSD a um paciente dispensaria a necessidade de anos de psicoterapia e provocaria mudanças permanentes no comportamento e na personalidade. Entre 1950 e 1965, aproximadamente 40 mil pacientes receberam tabletes de Delysid, da Sandoz [fonte: Henderson]. Isso incluiu esquizofrênicos, obsessivos-compulsivos, depressivos e autistas. Ele também foi administrado em pessoas consideradas mentalmente doentes com perversões sexuais, como homossexualidade.

Houve dois tipos principais de terapia que incorporaram o uso do LSD. Na Europa, a terapia psicolítica era comum. Psiquiatras davam aos pacientes doses baixas de LSD (50 microgramas ou menos) durante várias sesões e os encorajavam a se concentrar na infância e no subconsciente. Psiquiatras americanos tenderam a usar mais a terapia psicodélica. Eles davam aos seus pacientes altas doses de cerca de 200 microgramas por algumas poucas sessões. Em vez de trazer à tona memórias da infância, esses médicos esperavam que as altas doses de LSD provocassem um despertar espiritual positivo e encorajasse os pacientes a encontrar um significado em suas vidas e a querer melhorar.

A abordagem do despertar espiritual também foi usada em alcoólicos, que eram difíceis de tratar por outros tipos de terapia. Alguns psiquiatras tentavam induzir uma forma de delirium tremens, que podia levar os alcoólicos a "corrigir-se". O LSD também era dado a criminosos na esperança de que eles pudessem ser corrigidos. Embora muitos pisquiatras tenham relatado bons resultados, houve poucos estudos abrangentes. Os estudos em pequena escala são considerados falhos hoje porque eles não empregaram controles.

A Sandoz recomendava doses muito específicas de LSD e determinou que a droga só deveria ser administrada por um psiquiatra em um ambiente médico controlado. Claro que houve um mercado negro da droga em 1962. Como o uso recreativo cresceu, o governo federal ficou progressivamente preocupado com os efeitos do LSD e tomou providências para restringir seu uso oficial. Muitos pesquisadores sentiram que seus estudos foram abortados antes que eles pudessem chegar a uma conclusão definitiva sobre os efeitos terapêuticos do LSD. Em 1965, bem poucos pesquisadores nos EUA ainda tinham permissão para possuir LSD. Havia apenas seis projetos conduzidos em 1969, e, em 1974, o Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH) declarou que o LSD não tinha valor terapêutico real.

O último estudo terapêutico com LSD nos EUA aconteceu nos anos 80. Os pesquisadores acreditavam que o LSD poderia ser benéfico para pacientes terminais porque os ajudava a ter consciência de seu ambiente, aliviava suas dores e fazia-os sentir-se mais conectados com seus familiares. O estudo terminou, contudo, antes de a idéia ser completamente explorada.

Atualmente há estudos usando o LSD em humanos em outros países, como Suíça e Reino Unido. Em setembro de 2008, a Food and Drugs Administration (FDA) abriu as portas novamente para pesquisas clínicas com pacientes terminais usando LSD. Isso pode sinalizar um interesse renovado em outros usos terapêuticos da droga.

Na próxima página, vamos falar sobre um grupo de pessoas comumente associado com o LSD: os hippies.

História cultural do LSD

O LSD teve um papel importante no movimento da contracultura dos anos 60. À medida que o uso saiu dos projetos de pesquisa das universidades e foi para as ruas, o LSD ganhou o mérito de expandir as mentes de jovens que estavam desiludidos com o status quo. Vamos dar uma olhada em algumas pessoas e seus meios para difundir e popularizar a droga.

Os hippies representaram o movimento da contracultura nos anos 60 e estão associados ao uso de LSD

Dr. Timothy Leary era professor de psicologia em Harvard quando experimentou a psilocibina de cogumelos pela primeira vez em 1960. Ele ficou tão mexido pela experiência, que criou, junto com o colega de Harvard Richard Alpert, um estudo para testar os efeitos de drogas psicodélicas. Leary acreditava que eles poderiam tratar um grande número de doenças mentais e modificar profundamente aqueles que as tomassem. Reclamações de pais e outros, contudo, levaram Harvard a demitir Leary em 1963.

Em 1964, ele co-escreveu um livro sobre drogas psicodélicas e, no ano seguinte, fundou a Liga da Descoberta Espiritual. Esta religião declarou o LSD um sacramento sagrado que deveria ser mantido legalizado para a liberdade religiosa. Leary viajou o país com uma apresentação que tentava demonstrar a experiência de viajar. Ele cunhou a frase que viria exemplificar o movimento LSD, "turn on, tune in, drop out", durante um discurso em 1967 em São Francisco diante de 30 mil hippies. Mais tarde Leary declarou em sua bografia que "'turn on' significava ativar o equipamento genético e neural [..] 'Tune in' significava interagir harmoniosamente com o mundo à sua volta [...] e 'Drop out' queria dizer só depende de você mesmo"[fonte: Leary]. Ele ficou desapontado por as pessoas pensarem que ele quis dizer "Fique chapado e abandone toda a atividade construtiva".

Ken Kesey era um escritor cuja primeira experiência com LSD aconteceu quando foi voluntário em um estudo da CIA sobre os efeitos das drogas psicodélicas. Como experimento social, ele e seus amigos, conhecidos como "The Merry Pranksters", viajaram pelo país em um ônibus escolar chamado "Furthur". Suas aventuras foram documentadas pelo jornalista Tom Wolfe no livro "The Electric Kool-Aid Acid Test".

Enquanto Timothy Leary defendia um uso mais sério e controlado do LSD, Kesey era um populista do ácido, que acreditava que se pessoas suficientes usassem a droga, a sociedade como um todo poderia ser transformada. Em 1965, ele começou a organizar festas divulgadas com cartazes em que se lia "Você pode passar no teste do ácido?". Kesey acreditava que os testes do ácido expandiriam a consciência e começariam uma revolução.

Garota com olhos de caleidoscópio"Lucy in the Sky with Diamonds", dos Beatles, é a música do LSD? John Lennon não negou que a letra foi inspirada pela experiência com drogas, mas afirmou que ele não notou, até que alguém mostrasse, que o título formava a sigla LSD. Ele disse que o título foi dado por seu filho Julian, que pintou um quadro de sua colega de classe Lucy cercada por estrelas cintilantes. Quando Lennon perguntou a Julian como se chamava a pintura, este respondeu "Lucy in the sky with diamonds". Lennon mostrou a pintura e sustentou até a sua morte que ela era a origem do título.

Owsley Stanley era um químico auto-didata que ajudou a tornar o LSD popular e acessível na influente seção Haight-Ashbury, de San Francisco. Quando estudante na Universidade da Califórnia, em Berkeley, Stanley experimentou LSD, mas foi frustrado pelas amplas diferenças em qualidade e pureza. Ele, então, montou seu próprio laboratório para fazer o LSD puro, de alta qualidade, que ficou conhecido como "Owsley LSD", ou simplesmente "Owsley". O Owsley se tornou o padrão pelo qual outros LSD eram medidos depois que a Sandoz parou de fabricar a droga e esta se tornou ilegal. Stanley frequentemente distribuía seu LSD gratuitamente, e calcula-se que ele tenha preparado meio quilo de LSD - suficiente para 10 milhões de tiras de 50 microgramas. Ele também criou uma síntese de LSD que era 99 porcento puro chamado White Lightning, bem como a droga psicodélica STP.

Stanley também se tornou amigo da banda Grateful Dead (que tocou nos testes ácidos de Kesey) e trabalhou como seu engenheiro de som. Ele não apenas influenciou pesado o som da banda, como também desenhou o logo de caveira com raio e foi a inspiração para o logo dos ursos dançantes, em razão de seu apelido "The Bear". Então, o que aconteceu entre os anos 60 e hoje?

As leis da droga LSD hoje

Nos Estados Unidos de hoje, o LSD é uma substância controlada da Tabela 1 da Lei de Substâncias Controladas (CSA). Isso quer dizer que o governo federal acredita que o LSD tem alto potencial de abuso, uso com ausência de segurança aceitável quando ingerido sob supervisão médica e nenhum uso médico atual. O último critério é importante; LSD é uma droga da Tabela 1, mas a cocaína é da Tabela 2, devido a alguns usos médicos (como anestesia local). Há maiores ramificações legais, em outras palavras, para o LSD do que para a cocaína.

O guitarrista dos Rolling Stones, Keith Richards, foi processado por porte de LSD e cocaína em 1977

A penalidade federal para o primeiro delito por posse de LSD é no máximo um ano na prisão ou no mínimo multa de US$ 1.000. Novas transgressões podem aumentar o tempo de prisão até três anos.

As penas por fazer ou vender LSD são baseadas não apenas no número de delitos, mas na quantidade envolvida. Assim, mesmo se for a primeira transgressão, se a quantidade é até 10 gramas, o infrator pode passar de 5 a 40 anos na cadeia e ainda pagar uma multa de US$ 2 milhões. Quantidades maiores podem resultar em prisão perpétua. Decisão da Suprema Corte em 1991 determinou que quando da pesagem do ácido blotter, o peso do papel pode ser incluído. Já que a verdadeira quantidade do LSD no papel é tão pequena, algumas pessoas alegaram que isso resulta em sentenças injustamente duras. Há poucas prisões federais por LSD, contudo - menos de 2% de todas as prisões da DEA.

E quem são esses usuários de LSD? De acordo com a 2007 National Household Survey on Drug Use & Health, cerca de 9% de americanos acima de 12 anos usaram LSD ao menos uma vez na vida.

Este é o perfil do usuário médio de LSD:
- Homem branco entre 18 e 22 anos que experimentou pela primeira vez a droga entre 15 e 19 anos.
- Mora mais provavelmente no Oeste dos EUA, vem de família abastada e tem pais educados.
- Usou LSD apenas algumas vezes, mas também tende a usar álcool, maconha e cocaína.

À medida que a faixa etária na pesquisa aumenta, o uso de LSD geralmente cai, significando que usuários de LSD têm carreira curta. Houve um leve aumento do uso do LSD entre formandos do high school (curso equivalente ao ensino médio brasileiro) no comeco dos anos 90, mas isso se manteve entre 8% e 10% desde que a pesquisa começou, em 1975.

Mais informações sobre LSD

Artigos relacionados:
A CIA testou LSD em americanos inocentes? (em inglês)
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Como funciona a maconha?
Como funciona a maconha para uso médico? (em inglês)
Como funciona o crack
Como funciona o tráfico de drogas

Mais links interessantes:
The Albert Hofmann Foundation
Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies
National Institute on Drug Abuse: Hallucinogens
U.S. Drug Enforcement Administration: LSD


Fontes

- The Albert Hofmann Foundation
- Cavallo, Dominick. "A Fiction of the Past: The Sixties in American History." St. Martin's Press, 1999.
- Henderson, Leigh A. and William J. Glass. "LSD: Still With Us After All These Years." Jossey-Bass, 1998.
- "The Hippies: Philosophy of a Subculture." Time Magazine, July 7, 1967.
- Hofmann, Albert. "LSD: My Problem Child." McGraw-Hill, 1980.
- Klock, John C., et al. "Coma, Hyperthermia and Bleeding Associated with Massive LSD Overdose: A Report of Eight Cases." Western Journal of Medicine, Vol. 120, issue 3, March 1974.
- Leary, Timothy. "Flashbacks." Tarcher, 1997.
- Lee, Martin. "Acid Dreams: The CIA, LSD, and the Sixties Rebellion." Grove Press, 1985.
- Lewisohn, Mark. "The Complete Beatles Chronicle." Hamlyn, 2006.
- "LSD." U.S. Drug Enforcement Administration, August 2006.
- Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies
- "NIDA Info Facts: Hallucinogens." National Institutes on Drug Abuse, July 2008.
- "Safety Data for Hydrazine (Anhydrous)." Physical and Theoretical Chemistry Laboratory, Oxford University, November 12, 2008.
- Solomon, David. "LSD: The Consciousness Expanding Drug." Berkley, 1965.





terça-feira, 29 de dezembro de 2009

DMT

O que é o DMT?


O DMT é um sólido cristalino branco de cheiro pungente, que derrete aos 49-50 graus Celsius, em sal higroscópico hidroclorido aos 171-172 graus Celsius, e em metiodida aos 215-216 graus Celsius. É insolúvel em água, mas dissolve em solventes orgânicos ou ácidos aquosos.


O DMT é o maior constituinte da raiz da planta brasileira epená (Virola calophylla), mas também se encontra nas:


1 – sementes de angico-branco (Anadenanthera peregina)
2 – sementes de jurema-preta (Mimosa hostilis), usadas no Nordeste brasileiro para preparar uma bebida chamada ajuca ou ajurema
3 – folhas de chaliponga (Diplopterys cabrerana), as quais se misturam com bebidas harmalinas derivadas de outras plantas do género Banisteriopsis para preparar ayahuasca
4 – folhas de chacrona (Psychotria viridis), que também se misturam nas bebidas de ayahuasca.


O DMT deve ser misturado com inibidores da monoamina oxidase (MAO) para se tornar activo por ingestão e causar alucinações. Este é o caso da poção xamã da ayahuasca. Vê a nossa página sobre ayahuasca para mais informação.



História



O DMT foi sintetizado pela primeira vez em 1931, e demonstrou-se ser uma substância alucinogénia em 1956. Foi encontrado em muitos géneros de plantas (Acacia, Anadenanthera, Mimosa, Piptadenia, Virola) e é um componente principal de muitos “cheiros” alucinogénios (cohoba, paricá, angico), sementes e bebidas.



Química


Nome: N,N-dimetiltriptamina
Nome químico: N,N-dimetil-1H-indol-3-etanamina
Nomes químicos alternativos: 3-[2-(dimetilamina)etil]indol, DMT
Fórmula química: C12H16N2





O DMT é um derivado da triptamina formada pela substituição de grupos metil por dois átomos de hidrogénio anexados ao nitrogénio não aromático na molécula da triptamina. Tanto o composto original (triptamina) como o sistema N-metil transferase (o último é capaz de converter o primeiro em DMT) ocorrem nos seres humanos, mas não há ainda provas de que o DMT se forma in vivo.

Todavia o DMT foi identificado em pequenas quantidades no sangue e na urina tanto de pacientes normais como de pacientes esquizofrénicos, mas as suas origens e funções são desconhecidas.

Efeitos

Idênticos aos do LSD, mas geralmente mais intensos. Como não é ingerido, os efeitos são repentinos e podem ser demasiado fortes. O termo “mind blowing” (explosão mental) poderá ter sido inventado para esta droga. Pensamentos e visões acumulam-se a grande velocidade; uma sensação de abandono temporal ou transcendental e dos objectos perderem toda a forma e dissolverem-se numa dança de vibrações são características comuns. O efeito pode ser descrito como uma transportação instantânea para outro universo.

Uma característica invulgar da intoxicação induzida é a rapidez do começo e a curta duração da trip. Dentro de 5 minutos após a administração as pupílas dilatam-se (midríase), os batimentos cardíacos aceleram (taquicardia), a tenção arterial aumenta consideravelmente, e dão-se distúrbios vegetativos relacionados, os quais normalmente continuam durante a experiência.Dentro de 10 a15 minutos dá-se a intoxicação, e esta caracteriza-se geralmente por alucinações de olhos fechados ou abertos, e grande movimentação no campo visual.

Há dificuldade na expressão dos pensamentos, e na concentração em assuntos específicos. Normalmente dá-se uma mudança de disposição para euforia e riso sem sentido, mas ocorreram casos em que a ideação paranóica promoveu ansiedades e pressentimentos que levaram ao estado de pânico.

Aos 60 minutos o sujeito está grandemente livre de sintomas, embora alguns efeitos restantes já tenham sido obervados na segunda hora.Com a administração por inalação a escala temporal contrai-se, e o começo dos efeitos nota-se em 10 minutos, dá-se um curto período de intoxicação em 2-3 minutos, e a completa libertação de qualquer efeito restante em 10 minutos.Em doses mais altas os sintomas vegetativos aumentam, e estes tomam o controlo da experiência psicadélica em doses de 150 mg.

Uso

O DMT não funciona por via oral; tem de ser fumado ou injectado. Com a injecção intramuscular os efeitos mínimos sentem-se a partir dos 30 mg, e uma experiência psicadélica completa resulta da administração de 50 a 70 mg (75 mg subcutaneamente, 30 mg por inalação).

O uso repetido não causa dependência física ou psicológica.

Quando tomares DMT certifica-te de que estás num ambiente confortável e familiar, de preferência numa sala iluminada onde te possas sentar ou deitar. Um xuto de DMT de pé quase de certeza te fará cair de rabo no chão assim que começares a sentir o efeito.A dose recomendada é cerca de 40 a 50 mg. A dose deve ser pesada para determinar o peso preciso. As doses inferiores a 25 mg surtem apenas efeitos físicos e psicadélicos mínimos. As doses entre 25 e 40 mg são geralmente insuficientes para causarem a totalidade dos efeitos únicos do DMT como descritos acima. As doses excessivas de 55 mg, especialmente se conseguires reter todo o vapor nos pulmões, podem ser MUITO fortes e não se recomendam a iniciantes.

A maneira mais comum de inalar o DMT é a seguinte: Arranja um cachimbo de ar para base-livre com o tubo mais largo que conseguires encontrar. Introduz o maior filtro de cachimbo de aço inoxidável com a rede mais fina que caiba no tubo. Depois espalha uniformemente o DMT por cima do centro da rede. Certifica-te de que manténs o DMT longe das pontas do filtro para que quando derreta não derrame por aí.Segura um fósforo ou maçarico por cima do filtro e inala profunda e vagarosamente. Não deixes que a chama toque no DMT, pois isto destruirá a maior parte da droga. O DMT derrete e vaporiza facilmente, por isso o objectivo é deixar o ar quente passar com a chama para dentro do cachimbo para vaporizar o DMT e conseguir que a câmara de ar fique cheia do vapor branco do DMT.A cada passa tenta manter a respiração o maior tempo possível. Expira e dá outra passa imediatamente. Os efeitos físicos, uma tremura ou vibração pelo corpo inteiro, dão-se primeiro.A intensidade dos efeitos não é um guia fiável para a dose de DMT que consumiste. Continua a dar passas profundas e a manter o fumo nos pulmões até teres consumido todo o DMT previamente pesado.

Avisos


Esta não é uma droga para festas; os efeitos são melhores quando experimentados num ambiente calmo. Certifica-te de que tens contigo um ou mais amigos que possam olhar por ti e retirar o cachimbo das tuas mãos (se escolheste esse meio de consumo), pois entrarás numa transe mais rápido do que esperas e a partir daí terás pouco controlo motor e provavelmente os olhos fechados.


Não te levantes. Não operes maquinaria pesada. Não conduzas. As pessoas que atravessam problemas emocionais ou psicológicos devem ter cuidado ao decidirem usar drogas psicadélicas como o N,N-DMT, pois estas podem causar ainda mais problemas. As pessoas com história familiar de esquizofrenia ou doenças mentais devem ter extremo cuidado, pois as substâncias psicadélicas podem despertar casos psicológicos e mentais latentes.

O DMT sintético tem sido extensivamente pesquisado por autoridades médicas na Europa e na América. É perfeitamente seguro e sem efeitos físicos permanentes nas doses indicadas. Todavia, como o DMT fumado causa um aumento abrupto da tensão arterial, é provavelmente desaconselhável às pessoas com uma tensão arterial muito elevada. Os efeitos do DMT aumentam muito se tomares inibidores da MAO. Estes encontram-se em alguns medicamentos e alimentos. Vê a nossa página sobre inibidores da MAO para mais informação! Esta mistura pode ser muito perigosa!

Substitutos


A brevidade da experiência torna a sua intensidade suportável e, para alguns, desejável. Pelo menos duas drogas sintéticas nas quais o grupo metil do DMT é substituído são psicadélicas.A droga DET actua com a mesma dose que o DMT, e os efeitos duram um pouco mais (cerca de hora e meia a duas horas). O DPT actua ainda durante mais tempo, e tem menos efeitos secundários autonómicos.

Fontes :

A1b2c3 on DMT

Erowids DMT Vault

Wikipedia on DMT

domingo, 20 de dezembro de 2009

Drogas & Magia na Grécia Antiga



A literatura clássica está cheia de histórias sobre feiticeiros, mágicos e bruxas. Mas as traduções raramente revelam que os seus poderes derivavam dos seus extensos conhecimentos sobre drogas. Os feiticeiros eram os antigos vendedores de drogas, e os efeitos destas eram considerados mágicos naqueles tempos.

David Hillman escreve no seu livro “The Chemical Muse (2008)” que “Os Gregos e os Romanos usavam ópio, anticolinérgicos (da família Solanaceae), e numerosas toxinas botânicas para induzirem estados de euforia mental, criarem alucinações, e para alterarem a sua própria consciência; isto é um facto indisputável”.

Hillman mostra como os tradutores se enganaram ao traduzirem polifármaco e fármaco como alguém com conhecimentos de “artes mágicas” e possuidor de “charmes”. Os feitceiros eram membros honrados e respeitados pela sociedade. Tinham de saber como extrair substâncias químicas necessárias das plantas e dos animais. Esta era uma ciência exata, pois quantidades ou extracções erradas podiam matar.

O método favorito de administração de drogas dos Gregos e dos Romanos era em misturas com vinho. Isto permitiu aos professores de História apresentarem os convivas dos festins antigos como consumidores de álcool – e não de “drogas ilegais”.

Como escreveu o professor Carl A.P. Ruck no seu livro "Sacred Mushrooms Of The Goddess": "O vinho antigo, tal como o vinho da maioria das primeiras culturas, não continha álcool como único inebriante, mas era geralmente uma infusão variável de toxinas naturais num líquido vinoso. Unguentos, especiarias e ervas, todos com propriedades psicotrópicas reconhecidas, podiam ser misturados no vinho”.

Isto dá-nos uma visão completamente diferente do simpósio grego. Nessas “festas de bebida barulhentas” grandes mentes como Sócrates e Platão debateram e desenvolveram as suas teorias sobre as grandes questões filosóficas.

Outra pista diz-nos ainda mais. Os estados de consciência alterados eram vistos como loucura proveniente de fontes divinas. Platão escreveu: "Mas aquele que, sem loucura divina, alcança as portas das Musas, confiante de que será um bom poeta pela arte, não encontra o sucesso, e a poesia do homem são desfaz-se em nada perante a poesia do inspirado homem louco".

Lê mais (em inglês) aqui: Classical Drug Use: Greek and Roman Drug Freedom

Governo checo aprova posse de drogas

Fonte: http://www.ceskenoviny.cz

Praga – O governo checo aprovou hoje uma lista de plantas e cogumelos alucinogénios, incluindo canábis, coca, cactos com mescalina e cogumelos mágicos, que declara que as pessoas podem cultivar em casa até cinco especímenes dessas plantas e quarenta cogumelos mágicos.

O gabinete do primeiro-ministro iria discutir também as quantidades permitidas de drogas sintéticas na posse individual. Este debate foi todavia adiado por duas semanas.

O novo Código Penal, que entrará em vigor no dia 1 de Janeiro, está formulado para especificar a directriz do governo. Contém uma provisão sobre o cultivo de canábis e cogumelos mágicos.

A lei distingue entre a posse de marijuana e haxixe para uso pessoal, pela qual as pessoas arriscam até um ano de prisão, e a posse de outras drogas, pela qual podem receber até dois anos de prisão.

Segundo a proposta do ministro da justiça, que o governo ainda não aprovou, a posse de mais de 15 gramas de marijuana seca ou mais de duas gramas de metanfetamina, cocaína e heroína será punível por lei.

Até agora a quantidade tolerada de drogas que o indivíduo podia ter em posse legalmente era definida por directivas internas da polícia. Por isso ninguém sabia que quantidade seria considerada “maior que uma pequena quantidade da droga”, a posse da qual seria punível por lei.

Se o governo aprovar a proposta do ministro da justiça dentro de duas semanas, as pessoas poderão ter quatro comprimidos de ecstasy na sua posse e até cinco gramas de haxixe.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Alguns apontamentos sobre o consumo de substâncias psicoativas como objeto antropológico

Alguns apontamentos sobre o consumo de
substâncias psicoativas como objeto antropológico

por Maurício Fiore (*)

publicado em http://www.antropologia.com.br/, Coluna (ed. n. 51)

Dentre às ciências sociais, a Antropologia tem, nas últimas décadas, se destacado no estudo das questões relativas às substâncias psicoativas – aquelas que, de diversas formas, interferem nas atividades cerebrais humanas, alterando o comportamento e a consciência. Embora muitas substâncias possam ser consideradas psicoativas, algumas delas foram, ao longo do século XX, proibidas e consideradas problemas sociais, recebendo a alcunha cotidiana de “drogas”.

Desde os estudos pioneiros de Howard Becker, na década de 1950, muitos trabalhos foram realizados sobre o tema em diferentes perspectivas. Ainda que seja bastante arriscado, nesse curto espaço, sintetizá-los, é possível apontar algumas conclusões mais gerais que, de alguma maneira, configuram pressupostos para se compreender o tema:

1. Diferentemente do que uma análise superficial pode indicar, o estatuto legal e social das diversas substâncias não diz respeito somente às suas características farmacológicas, ou seja, sua produção e consumo foram e são permitidos, controlados ou proibidos por conta processos históricos complexos, que envolvem questões econômicas, políticas, religiosas, étnicas e morais. Desse ponto de vista, ainda que o consumo sistemático de substâncias psicoativas seja imemorial, a questão das “drogas”, enquanto problema social, é bastante recente, tendo pouco mais de um século.

2. Algumas substâncias psicoativas são utilizadas tradicionalmente ao redor do mundo, muitas vezes em rituais de origens milenares (como no caso da coca nos Andes). Embora sejam permanentemente “reiventadas”, como qualquer prática humana, essas formas de consumo tradicionais de substâncias psicoativas, entre as quais podemos citar o Ayahuasca como exemplo brasileiro, se inserem num estruturado e sofisticado repertório religioso.

3. O consumo de substâncias psicoativas não se esgota na interação entre um organismo humano genérico e determinadas moléculas: um amplo leque de fatores sociais, psicológicos e culturais confere formas e sentidos à ingestão de drogas. Não se trata de negar a objetividade farmacológica, mas colocá-la em questão frente aos mais diversos sentidos e dimensões que interferem, inclusive, nos efeitos esperados e obtidos no consumo de determinadas substâncias.

4. A relação entre consumo de algumas drogas e violência não deve ser tomada como intrínseca. Ainda que existam algumas evidências sobre o aumento da propensão para atitudes violentas sob o efeito de algumas drogas (álcool e crack, especialmente), é o tráfico e não o consumo o motivador da violência e da criminalidade nas últimas décadas.

Essas constatações são importantes para balizar não apenas o debate público sobre drogas, mas também uma pauta de pesquisa nas ciências sociais. Aliás, de maneira equivocada, a participação dos pesquisadores no debate público é considerada, por alguns, diminuidora da relevância científica dos trabalhos sobre o tema. Ora, o crescimento do interesse pelo tema nas ciências sociais é proporcional às expectativas para o subsídio do debate público e a sua presença deve ser comemorada, já que o debate tem sido conduzido, academicamente, sob a hegemonia biomédica.

No entanto, é importante que as pesquisas se apartem, do ponto de vista epistemológico, das controvérsias cotidianas do debate público. Por ser um tema polêmico, é comum que alguns pesquisadores confundam o posicionamento político com questões teóricas. Longe de defender a impossível e indesejada neutralidade científica, é importante que não se perca de vista as discussões teóricas, pois a questão do consumo de psicoativos além de ser um problema social candente, é uma via de acesso privilegiada a diversos desafios do conhecimento sócio-antropológico.

Exemplo de relevante discussão teórica, para ficar num único exemplo, é tensão que o consumo de psicoativos apresenta à dicotomia Natureza e Cultura. Diferentes abordagens vêm questionando a repartição do trabalho científico que confere às ciências sociais apenas os aspectos culturais do fenômeno. Ou seja, questiona-se o fato de se dividir o tema em aspecto que seria eminentemente natural e, assim, inquestionável, já que englobaria os efeitos farmacológicos das substâncias e um outro aspecto, que poderia ser definido como sócio-cultural. Aos antropólogos e outros cientistas humanos caberia apenas o estudo do segundo, sendo esse, conseqüência direta do primeiro. Essa discussão, que põe em questão conceitos fundamentais da sociologia e da antropologia, como indivíduo e sociedade, escapa aos propósitos desse pequeno texto, mas revela como o estudo do consumo de substâncias psicoativas não pode ser visto desimportante ou encerrado em si próprio.

Um marco importante, não apenas para as ciências sociais, mas para todas as humanidades, é o recente lançamento do livro Drogas e Cultura: novas perspectivas (EDUFBA/Ministério da Cultura/Fapesp). Independente de sua qualidade, que sou impedido de avaliar por ser um dos cinco organizadores do volume, o livro agrupa um conjunto de importante atores do conhecimento sobre o tema produzido no Brasil. Mesmo que a perspectiva antropológica seja, no livro, mais numerosa, reforçando minha convicção da importância crescente da disciplina no tema, sociólogos, cientistas políticos, historiadores e juristas contribuíram para fazer uma obra que tem como um de seus principais objetivos consolidar a importância da pesquisa e do debate acadêmico e político sobre o tema.

(*) Maurício Fiore é graduado em Ciências Sociais e mestre em Antropologia Social pela USP. Atualmente é doutorando em Ciências Sociais pela UNICAMP, pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) e do Núcleo de Estudos Interdisciplinar sobre Psicoativos (NEIP). É autor e organizador de livros e artigos sobre o tema, entre os quais Uso de “drogas”: controvérsias médicas e debate público (Mercado de Letras/Fapesp, 2006).
Atualizado em 24/11/09