Psicodélico: outubro 2008

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Santo Daime - O cipó dos espíritos (Revista Bons Fluidos)

Matéria publicada na Revista Bons Fluidos - 08/2008


Link : http://planetasustentavel.abril.ig.com.br/noticia/cultura/conteudo_294435.shtml



Cipó Jagube, ou Mariri, planta amazônica usado para fazer o chá de ayahuasca

O cipó dos espíritos:

Um xamã apresentou a ayahuasca a um maranhense, que levou a experiência para outro e mais outro, que a dividiu com o mundo. Assim, no boca-a-boca, essa possibilidade de falar com deus se estruturou como seita e agora pode até ganhar a chancela de patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Aqui, você conhece um pouco mais o poder desse chá sagrado, batizado de santo-daime.

Por Michaela von Schmaedel

"O cipó do jagube é uma planta do elemento fogo, seca e de natureza masculina, que necessita da umidade para se multiplicar, apenas os homens trabalham com ele. A folha rainha é do elemento água, de natureza fria e úmida, possui efeito luminoso e sedante, é colhida apenas pelas mulheres. O cipó, com sua origem severa, dá a força e corrige como um pai e a folha dá a luz e conforta como a mãe.
É um casamento perfeito, do homem com a mulher, gerando um novo ser, um filho iluminado, simbolizado na bebida sagrada da ayahuasca. A magia vegetal junta o que se encontrava separado pela natureza.” É desse jeito poético que a historiadora Vera Fróes, presidente do Instituto de Estudos da Cultura Ama zônica e pesquisadora do uso de plantas em rituais das comunidades indígenas na Amazônia, descreve a ayahuasca, ou santo-daime, como é conhecido o chá. A bebida, que tem uso religioso, vem ganhando espaço na mídia ultimamente. Isso porque o santo-daime pode se tornar Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. O pedido é uma iniciativa da deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB-AC) e dos representantes das principais doutrinas que utilizam a ayahuasca, o “cipó dos espíritos”.

A idéia é pedir ao Instituto do Patrimônio Cultural e Artístico Nacional que reconheça o uso ritual do chá, resultado da fervura do cipó jagube com as folhas da chacrona, como uma manifestação cultural do país. O projeto foi bem recebido pelo ministro da cultura, Gilberto Gil, e aguarda a avaliação de uma comissão. Outra novidade em torno do santo-daime é que ele está atraindo cada vez mais adeptos dentro e for a do Brasil. Por aqui, o número de seguidores das principais doutrinas é estimado em 20 mil.

E em países como Espanha, Holanda, Estados Unidos e Japão, essa quantidade cresce a cada ano. “Há duas décadas, os estrangeiros só podiam conhecer o santo-daime vindo para cá. Hoje existem vários centros que o usam lá fora”, diz a antropóloga Beatriz Caiuby Labate, organizadora de O Uso Ritual da Ayahuasca (ed. Mercado de Letras/Fapesp) e de mais outros três livros sobre o assunto. Só para lembrar: o cantor Sting começa sua autobiografia relatando um momento, em 1987, quando participa, juntamente com a mulher, de um ritual no Rio de Janeiro.

Afinal, por que o santo-daime atrai tanta gente? Como consegue fazer sentido tanto para quem vive no Amazonas, na comunidade espiritual Céu de Mapiá, o mais conhecido reduto dos seguidores do chá, como para quem está em Barcelona? “É difícil definir, mas, em geral, são indivíduos que não se identificam com as religiões tradicionais, buscando um tipo de vivência com me nos intermediação entre o ‘eu’ e o ‘mundo espiritual’. Para uma parte das pessoas, tomar ayahuasca é abrir uma porta na mente e algo muda em sua percepção so bre a vida”, com pleta Beatriz, que estuda esses rituais e afirma tomar o chá há 11 anos.
SONHO ACORDADO
Para a historiadora Vera Fróes, o crescente interesse pelo chá tem relação com a busca de um caminho espiritual. “Se as pessoas buscam curtição, percebem que estão no lugar errado. Esse é um estudo sério para quem quer se conhecer. O santo-daime faz parte de um ‘religare’ do homem com a natureza ou a cura de uma doença”, diz.

A procura por um contato mais profundo consigo foi o que levou o poeta Edson Lodi ao chá. Lodi vive em Brasília, toma ayahuasca há 35 anos e é coordenador de Relações Institucionais do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (UDV), um dos lugares que fazem uso da bebida. Ele conta que estava sem rumo quando foi levado por um amigo a um ritual em Porto Velho. “Senti que precisava mudar de vida e deixar meus hábitos ruins. Até hoje, a cada vez que eu bebo o Vegetal, sinto uma renovação. Ele tem a capacidade de aumentar a percepção. É como se você vivesse um sonho acordado”, afirma. Vale saber: é comum o relato de pessoas que passam mal ao tomar o chá, mas isso é encarado como uma expurgação necessária antes de se clarear a consciência.
DAI-ME LUZ
A doutrina do santo-daime foi criada pelo maranhense Raimundo Irineu Serra, neto de escravos, que se mudou para o Acre nos anos 1930 para trabalhar na exploração de borracha. Lá, ele conheceu a bebida por meio de um xamã peruano – acredita-se que o chá tenha origem inca e é consumido há séculos em rituais xamânicos de tribos da Amazônia e em países vizinhos.

Conta a história que, depois de tomá-lo, Irineu teve uma visão de Nossa Senhora da Conceição, que ele chamou de Rainha da Floresta. Ela lhe pediu que criasse uma religião em torno do chá sagrado. Assim, em Rio Branco, mestre Irineu fundou a doutrina, de cunho cristão e com elementos do espiritualismo, das religiões afro-brasileiras e do xamanismo. O nome santo-daime veio das preces repetidas antes de tomar o chá: “Dai-me luz, dai-me força, dai-me amor”. Nos anos 1970, a igreja do mestre Irineu gerou várias ramificações.
Com rituais e regras diferentes, os grupos têm em comum o chá e o fato de usarem a música nas cerimônias. No santo-daime, acontece o bailado, ao som de hinos e maracás, instrumentos indígenas antigos. Há também outro consenso entre os diferentes grupos: a prática do ritual. “A ayahuasca é consciência natural, um canal que amplia a percepção do ser. Por causa de sua força, ela não deve ser usada sozinha, sem uma filosofia ou religião que dê uma base de apoio, indique o caminho a seguir”, finaliza Ramy Arany, co-fundadora do Instituto KVT, de São Paulo, que estuda rituais xamânicos.
O QUE DIZ A CIÊNCIA
Em função da preocupação das autoridades brasileiras com relatos sobre o uso indiscriminado do chá de ayahuasca, em 2001 a Associação Brasileira de Psiquiatria recebeu uma solicitação governamental para que elaborasse uma revisão científica sobre o tema. Ana Cecilia Roselli Marques, médica psiquiatra e pesquisadora da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Unifesp e coordenadora do Departamento de Dependência da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), explica uma das conclusões desse trabalho: “Os estudos mostram que o chá atua no sistema límbico e faz com que o cérebro libere substâncias que produzem diferentes efeitos: desde o rebaixamento da crítica do usuário diante das mais diversas situações até a produção de alucinações visuais”.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Ayahuasca

O que é a ayahuasca?

A ayahuasca é uma bebida enteógena preparada com segmentos da planta trepadeira da ayahuasca (Banisteriopsis caapi). Partes da planta são fervidas com folhas de qualquer uma de várias outras plantas possíveis, tais como a chacrona (Psychotria viridis) ou a jurema-preta (Mimosa hostilis), resultando numa poção que contém o poderoso alcalóide alucinógeno DMT, misturado com um inibidor da enzima MAO, tais como a harmalina, a harmina ou a d-tetrahidroharmina - contidas na planta da ayahuasca ou nas sementes da arruda síria (Peganum harmala). Por isso a espécie pode variar, mas os alcalóides são sempre consistentes.A potência da poção varia radicalmente de uma preparação para outra, tanto em força como no efeito psicoactivo, dependendo basicamente na perícia do xamã que a prepara, e noutras mesclas que podem ser acrescentadas.

É significante notar que nenhuma destas plantas seria normalmente psicoactiva sozinha em doses orais. Diz-se que a harmina/harmalina tem efeitos alucinógenos em níveis altamente tóxicos, mas em quantidades menos heróicas é no seu melhor um tranquilizante, e no seu pior um purgante. O DMT, em qualquer quantidade, não actua oralmente a não ser quando misturado com uma substância inibidora da enzima monoamina oxidase (MAO). Este princípio é precisamente o que torna a ayahuasca efectiva; os alcalóides de harmala na planta da ayahuasca são potentes inibidores da MAO por curto tempo, que cooperam com plantas que contêm DMT para produzirem o que tem sido descrito como uma das mais profundas experiências psicadélicas.

História

A harmalina foi isolada pela primeira vez das sementes de arruda síria (Peganum harmala) em 1841, e o primeiro relatório ocidental dos efeitos psicoactivos da planta da ayahuasca (no Peru) data de 1851. Vários relatórios foram publicados em meados do século 19 sobre o uso da planta da ayahuasca. Em 1922-1923 foram filmadas cerimónias tradicionais do uso da poção de ayahuasca, e mostradas no encontro anual da associação farmacológica americana. A popularização da poção da ayahuasca por escrito e nos média nos finais do século 20 levou muitos norte-americanos e europeus a viajarem à América do Sul para experimentarem a poção no seu ambiente “tradicional”, criando uma nova indústria à volta deste “enteóturismo”. Esta indústria ajudou a causar uma grande alteração no modo com a poção da ayahuasca é vista nas suas terras nativas.

Hoje em dia a bebida é grandemente usada na Amazónia peruviana, equatoriana, colombiana, boliviana, brasileira, e de partes da bacia do rio Orinoco. Há provavelmente milénios que é usada na Amazónia ocidental, e está rapidamente a ganhar popularidade pela América do Sul e noutras partes através do desenvolvimento de movimentos religiosos sincréticos como as igrejas de Santo Daime, União do Vegetal (UDV), e Barquinha, entre outras.

Botânica

Informação botância dos ingredientes mais comuns da poção de ayahuasca.

Ayahuasca (Banisteriopsis caapi), também conhecida como caapi ou yage, é uma planta trepadeira da selva sul-americana, da família Malpighiaceae. As substâncias activas desta planta encontram-se no interior da casca dos ramos recentemente cortados.

Capim-amarelo (Phalaris arundinacea), é uma erva invasora, alta, perene e de aspecto grosseiro, que normalmente forma extensos povoamentos puros ao longo das margens dos lagos e das correntezas e em áreas molhadas e abertas. Os ramos podem chegar aos 2 m de altura. As folhas são azul-esverdeadas quando frescas, e cor de palha quando secas. As flores nascem no caule por cima das folhas e têm tons rosa quando florescem totalmente.

A arruda síria (Peganum harmala) é um membro da família das Zigofiláceas. Cresce do Mediterrânio ao norte da Índia, Mongólia, e Manchúria.

A chacrona (Psychotria viridis) é nativa dos vales da Amazónia, mas também se cultiva no norte da América do Sul e na maior parte da América Central. É uma árvore ou grande arbusto tropical, perene, que cresce ao sol ou meia sombra. Tem folhas grandes (crescem até aos 24 cm), ovais e pontiagudas. As suas pequenas sementes castanhas são derramadas das bagas vermelhas. Cresce normalmente em solos muito ricos e férteis.

A jurema-preta (Mimosa hostilis) é uma planta que cresce naturalmente no Brasil. Algumas das raízes crescem acima do solo; são fibrosas e partem-se facilmente. Normalmente vê-se uma cor rosa muito bonita na polpa.

Química

Substâncias bioquímicas principais: os alcalóides betacarbolinas harmina, harmalina, tetrahidroharmina, harmol, ácido harmínico, amido metil ester-harmínico, acetilnorharmina, N-óxido de harmina, ácido harmalínico e quetotetrahidronorharmina estão presentes na raiz, caules e troncos da planta da ayahuasca (Banisteriopsis caapi) e noutras espécies de Banisteriopsis.

A tetrahidroharmina ocorre em maior concentração na planta da ayahuasca que em quaisquer outras plantas com alcalóides de harmala, tais como a arruda síria (Peganum harmala) e certas espécies de maracujá (Passiflora sp.). Isto pode causar os efeitos terapêuticos mais profundos e duradouros produzidos pela poção de ayahuasca genuína comparada com outras preparações “análogas”.

Efeitos

O início depende na quantidade e na última vez que a pessoa comeu, assim como no próprio indivíduo. Os efeitos começam entre 20 a 60 minutos após a ingestão. Com doses menores os efeitos duram menos, com doses maiores mais. Variam entre 2-6 horas de efeitos máximos, e 1-8 horas de pós-efeitos, dependendo na dose e no indivíduo. Os diferentes efeitos da poção de ayahuasca seguem um trilho progressivo que inclui processos purgativos e abreactivos. O tempo é um factor importante neste progresso. Cada experiência revela padrões e níveis de compreensão de acordo com a profundidade de experiências anteriores e o nível de consciência do participante. A poção da ayahuasca não é uma substância que possa ser definida por uma consistência de efeito. As constelações da memória activadas pela ayahuasca não podem ser programadas, embora a viagem possa ser direccionada. As propriedades farmacológicas do composto psicoactivo em interacção com os antecedentes biológicos não são suficientes para definirem a influência na psique. O composto vai sempre interagir com o conjunto psicológico de cada indivíduo (motivação, personalidade, disposição, experiências anteriores) e a estrutura do local escolhido. A equação dessas estruturas será o resultado que influencia o efeito e o tipo de viagem a serem experimentados. A substância muda o seu efeito no cérebro de acordo com a influência exterior do local, uma síntese do ambiente que rodeia o particpante e a presença do seu professor, até mais que o estado emocional do participante. Uma pessoa que toma ayahuasca sozinha, por exemplo, terá uma experiência totalmente diferente que se tomar com alguém que possa direccionar a energia criada pela ayahuasca, aumentando os efeitos e moldando as viagens através do local na mente onde reside deus, que é a fonte da transformação.

Após a ingestão sentirás algumas náuseas, possivelmente com vómitos. Esta é uma fase que tens de experimentar, por isso não tentes evitá-la. É considerada parte do processo de purificação. Quando este termina, inicias a primeira parte do efeito, que é a mudança da modalidade dos sentidos. Durante os primeiros 90 minutos a audição acentua-se e as emoções expandem-se. A partir daqui a viagem pode tomar qualquer direcção. Enquanto entras noutras dimensões, deixando o plano do corpo físico, pode ocorrer-te a sensação de flutuares no ar. Uma pessoa que experimenta sessões de ayahuasca mostra melhorias notáveis a nível mental e físico, comparáveis apenas às que se procuram através de psicoterapia intensa. A ayahuasca estabelece mudanças significativas num curto espaço de tempo. A ayahuasca cria uma aceitação e um alinhamento com a simplicidade da identidade espiritual do indivíduo. A mudança resultante dos nossos valores e prioridades transforma a nossa presença, o nosso permanente sentido do ego.

Algumas experiências visionárias com ayahuasca mostrando paisagens celestiais com anjos, seres espirituais ou domínios místicos, tornam a viagem muito rica e criam uma ponte para o interior sagrado, preenchendo vários aspectos da busca espiritual.Todas essas experiências têm grande importância para a cura do indivíduo, pois criam um ponto comum para explorarem os muitos aspectos da identidade espiritual do indivíduo, num espaço de amor por si próprio e entrega, confiando na sua voz interior.

Uso tradicional

Conhecem-se pelo menos 42 nomes indígenas para esta preparação. É notável e significante que pelo menos 72 tribos indígenas diferentes da Amazónia, por mais que a distância, a língua e as diferenças culturais as separem, manifestem conhecimentos comuns e detalhados da ayahuasca e do seu uso. Por isso a ayahuasca tem sido usada há milhares de anos. Conhecemos cinco aplicações diferentes: como meio religioso de iniciação, como remédio, para iniciar clarividência, para fazer viagens astrais, e para relaxar/meditar. As tribos índias conhecem muitos rituais de ayahuasca onde há danças e cantos.

Não há muito tempo que surgiu no Brasil um novo movimento católico espiritual. Nele a poção da ayahuasca tem um papel central. Em resumo, a já mencionada igreja de Santo Daime é uma tendência, especialmente entre os índios pobres nas cidades. Encoraja-os a voltarem à Amazónia e a criarem pequenas comunidades religiosas. Nos seus encontros, nos quais também ha crianças envolvidas, toda a gente bebe ayahuasca. O êxtase enteógeno é disfrutado enquanto se canta e dança.

Uso médico

Não se conhece muita informação exacta sobre os aspectos medicinais específicos da poção da ayahuasca. Sobretudo devido à possibilidade de clarividência durante a transe, esta também é usada para procurar as causas da doença ou as situações que possam de algum modo causar a doença. Noutros países da América do Sul, por exemplo no Peru, a ayahuasca usa-se para efeitos medicinais por xamãs conhecidos como “curanderos” ou “ayahuasqueros”. Através da sua suposta intercessão com entidades espirituais, a ayahuasca revela os remédios próprios ou espiritualiade ou magia curativas. Em contraste com as noções de medicina ocidentais, acredita-se que a ayahuasca é curativa quer seja o paciente ou o xamã a tomá-la. Adicionando estes processos, disse alguém, "a natureza cura a doença enquanto o xamã entretém o paciente".

Variedades

Como já mencionámos anteriormente, existem muitas variedades diferentes de ayahuasca. Há muitas receitas em circulação (na internet) com várias misturas de plantas/sementes.

Uso

O uso moderno da poção da ayahuasca é altamente debatido. Muitas pessoas usam a ayahuasca simplesmente como mais uma droga alucinógena para “tripar”. A maioria dessas pessoas nunca mais voltará a experimentar a poção. Um uso mais aceitável é enteógeno por natureza. As pessoas procuram respostas das plantas da ayahuasca. Mas mesmo assim esquecem-se frequentemente da reverência e do estatuto sagrado da ayahuasca. É importante salientar que quanto maior for a preparação para a experiência maior será o resultado da mesma.

Avisos

Há poucos, se alguns, casos de danos ou morte associados ao uso da ayahuasca, mas é bastante possível que uma pessoa se danifique. Como um dos componentes principais da ayahuasca é um inibidor da enzima MAO, que actua para inibir essa enzima chave do nosso corpo que é responsável por processos no cérebro e no organismo inteiro, é possível teres severas reacções negativas à poção de ayahuasca. Tem o cuidado de investigar sobre as interacções dos inibidores da enzima MAO com medicamentos e certas comidas antes de tentares qualquer uso.Quando um inibidor da MAO é misturado com certos outros medicamentos ou drogas, os resultados podem ser muito desagradáveis ou mesmo fatais. Para além disso, como com qualquer outra substância psicadélica forte, a ayahuasca pode precipitar mudanças curtas ou de longo termo na personalidade, ou catalizar episódios psicóticos ou neuróticos.

Contra-indicações

A poção da ayahuasca pode ter efeitos secundários extremamente negativos se for misturada com certos tipos de medicamentos… especialmente antidepressivos tais como o Prozac e outros inibidores da recaptação da serotonina. A não ser que tenhas conhecimentos específicos sobre a interacção entre os inibidores da MAO, os inibidores da recaptação da serotonina e a poção da ayahuasca, evita qualquer experiência se estás a tomar antidepressivos.

A internet e a comunidade psicodélica

A internet e a comunidade psicodélica



Como a internet alimenta a comunidade psicodélica global

Neste ano e no próximo, as Nações Unidas irão avaliar a guerra contra as drogas. Desde o seu início em 1998, temos sido bombardeados com estatísticas oficiais sobre o uso das drogas, da dependência, do tráfico, dos preços do mercado negro, dos casos de tribuna, e tantas outras. Mas o que nos diz esta informação? As drogas são más, são caras, são viciantes, as drogas são crime. Estes números obviamente mostram-nos que as drogas, apesar da sua má reputação, fazem inegavelmente parte da sociedade.



Vou falar mais detalhadamente sobre uma categoria de drogas que não é mostrada nas estatísticas fornecidas pelas instituições de controle oficiais, as quais estão mais preocupadas com drogas como a cocaína e a (meta)anfetamina. As drogas da categoria que eu vou descrever têm muito em comum: são 100% naturais, legais na sua maior parte, não criam dependência, permitem uma expansão da consciência que pode descrever-se como uma experiência espiritual, são usadas por um número crescente de jovens, e vendem-se sobretudo na internet. Como posso ter a certeza disto tudo se as estatísticas não fornecem informação sobre o assunto? É simples: a internet demonstra-o.



Drogas legais

Na lista há sementes de plantas com nomes exóticos tais como a trepadeira-elefante e a glória-da-manhã. Podes comprar ingredientes para poções xamãs poderosas tais como a ayahuasca, e outros sacramentos indígenas das profundezas da Amazônia. Há também ervas relaxantes tais como a erva de são joão, a valeriana, a lótus azul, ervas estimulantes como a kratom, e ervas alucinógenas que ganharam recentemente má reputação entre os preocupadíssimos pais americanos, tais como a Salvia divinorum. Existem inúmeros vendedores na internet que oferecem estes produtos psicodélicos legais na sua forma natural, ou seja, plantas e ervas. Ao trabalhar para um destes fornecedores, testemunhei o aumento contínuo das vendas e dos seus clientes habituais desde 1999. Também testemunhei um aumento contínuo do número de concorrentes, e um igual aumento das suas vendas. Alguns deles mantêm um sortido de centenas de produtos psicodélios naturais: outros focam apenas numa droga em moda que seja fácil de obter e de vender.

A grande rede global



Parece que a internet tem exactamente as qualidades essenciais para a formação de uma extensa comunidade psicodélica global. Mais que qualquer outro fenómeno social não mediático, o uso de substâncias psicodélicas é alimentado pelos maiores sucessos da internet: o acesso a informação imparcial, a comunicação interactiva, e o comércio virtual. A informação directa dos utilizadores experientes provou-se essencial para quem deseja experimentar drogas pela primeira vez. O http://www.erowid.org/, com 45.000 documentos, em geral considerado a fonte de informação virtual mais extensiva sobre substâncias psicodélicas, foi um dos primeiros websites que percebeu a importância da informação dada pelos utilizadores. Alguns relatórios de trips podem informar-te melhor sobre as armadilhas e os potenciais de cada droga que a maior parte dos textos educativos estáticos e moralistas. Mas há mais sobre a rede psicodélica que popula densamente a internet: numerosos blogues, fascinantes trabalhos artísticos, notícias sobre pesquisas sobre substâncias psicodélicas ( http://www.maps.org/ ), podcasts com palestras de “gurus” como Terence McKenna e vídeos de, por exemplo, eventos psicodélicos como o festival Burning Man http://www.burningman.com/. Podemos incluir aqui os Fórum de pesquisa e discussão como PlantasEnteógneas e CogumelosMágicos.




A relação entre as substâncias psicodélicas, o comércio e os computadores é já de si interessante. Os desenhos hippies “tripantes” nunca perderam o impacto no desenho gráfico moderno. A gráfica, a animação e a realidade virtual dos computadores foram sempre marcadas por padrões psicodélicos. E embora o festival Burning Man costumasse ser carimbado como “demasiado hippie para mencionar”, é hoje em dia considerado um extremo de criatividade, liberdade e felicidade pelos numerosos trabalhadores do Vale Silicone e pelos executivos da Wall Street que se juntam ao desfile dos artistas cósmicos.

Problemas e desafios das vendas pela internet

A venda de produtos psicodélicos naturais não é tão natural como pode parecer, pelo menos na maioria dos países. Hoje em dia vendem-se e comercializam-se os psicodélicos naturais (e toda a sua parafernália) de acordo com o uso verdadeiro apenas em alguns países. Nos anos 70 costumavam estar disponíveis na obscuridade das lojas de fumos londrinas e no bairro vermelho de Amesterdan. Foi nos princípios dos anos 90 que a Conscious Dreams ( http://www.conscious.nl/ ) abriu a primeira “smart shop” em Amesterdan, uma loja com drogas 100% naturais e legais para adultos. Os comprimidos energéticos sem substâncias químicas e os chamados “cogumelos mágicos”, à venda legalmente pela primeira vez em 1994, foram os maiores sucessos. Espanha, Itália e outros países seguiram-se. A Azarius ( http://www.azarius.net/ ), também holandesa, foi a primeira “smart shop” europeia a vender pela internet. Pessoas do mundo inteiro podem comprar produtos naturais e obter informação sobre o seu uso e história. No entanto, as coisas são um pouco complicadas para estas lojas virtuais que funcionam dentro do sistema legal. São necessárias restrições de envio, mas descobrir o que se pode e não pode enviar para um determinado país ou estado é difícil, devido às leis nacionais pouco claras e frequentemente alteradas. Por exemplo, se é legal vender um extracto de determinada planta, isto aplica-se também às suas sementes, aos seus frutos e à forma sintetizada da sua substância ativa? Para evitar problemas legais, a maioria das lojas não comercializa os seus produtos como bens de consumo. Infelizmente isto não torna as coisas mais seguras para o consumidor, que, consequentemente, não recebe informação sobre a dosagem ou outras instruções sobre os produtos encomendados. Mas a solução para este problema é-nos dada também pela liberdade e neutralidade da internet, onde toda a informação pode ser encontrada com alguns cliques do mouse.

Aplicações sociais tais como fóruns, sites de book marking, comunidades, e redes online mostram-nos que o movimento psicodélico não é uma subcultura separada, mas um movimento perfeitamente integrado na sociedade. Existem os grupos Facebook e MySpace direccionados ao uso de substâncias enteógenas, o Amazon pode ajudar a encontrar bastantes estantes com trabalhos sobre substâncias psicodélicas, e até o teu vizinho pode ter marcado uma sessão de ayahusca durante a sua viagem à América do Sul. Toda a gente pode ser um psiconauta. Embora ainda falemos de um nicho que lida com grande opressão política e religiosa, este está tão vivo e em expansão como a própria internet.

- Jakobien van der Weijden