Psicodélico: abril 2007

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Your Brain is God - Timothy Leary - EM PORTUGUÊS

Seguindo a filosofia de divulgar assuntos pertinente a Psicodelia e uso de Enteógenos, segue o livro de Timothy Leary, traduzindo o título seria : Seu Cérebro É Deus.






http://www.badongo.com/file/2866260

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Entrevista com Terence McKenna

Segue abaixo um capítulo do livro FIM DA DIVINDADE MECÂNICA, compilado por John David Ebert, editado no Brasil pela Editora Teosófica.

São entrevistas com grandes pensadores como Terence, Stanislav Grof, Ralph Abraham, etc.


Colocamos aqui o capítulo 05 - Etnobotânica, que é uma excelente entrevista com Terence McKenna.


Vale a pena dá uma lida neste livro, segue a descrição :


"Essa série de conversas com alguns dos principais pensadores do mundo atual descreve e revela a mudança radical que tem alterado a nossa maneira de olhar o mundo. Trata-se de uma transformação cultural revolucionária. No entanto, até agora ela tem ocorrido em grande parte inconscientemente, como se as suas partes não formassem um todo. Essa obra devolve ao leitor a capacidade de enxergar o todo. A visão científica e a visão religiosa, antes separadas, se reencontram. E como resultado disso nós percebemos de outra maneira, nova e abrangente, qual é o nosso lugar no universo. O Fim do Deus Previsível abre um diálogo para que pensadores das mais diferentes áreas expressem suas visões sobre a vida e o mundo, usando suas próprias palavras, e compartilhando o hábito de pensar de modo criativo, multidimensional, inovador e não-dogmático. Deepak Chopra: a ioga do desejo. Ruper Sheldrake: o envelhecimento das células e a física dos anjos. Stanislav Grof: o nascimento, a morte e o que está além. Lynn Margulis: a evolução de Gaia. Ralph Abraham: os alicerces do Caos. Brian Swimme: Deus e o vácuo quântico. Terence McKenna: a etnobotânica. William Irwin Thompson: a imaginação da cultura. São oito conversas profundas, descontraídas. Elas revelam aspectos centrais da civilização humana que surge no século 21"

Terence McKenna e o Jardim dasDelícias Psicodélicas


No que vem a ser um tipo de piada psicodélica interna, os auto­res William Gibson e Bruce Sterling ressuscitam T.H. Huxley, avô do famoso Aldous, para uma cena no romance que escreveram, The Diffe­rence Engine (A Máquina da Diferença). Um paleontólogo que havia acabado de retomar à América dá a Huxley alguns botões de peiote que recebera de um xamã nativo norte-americano. Huxley, recebendo o presente, diz, "Certas toxinas vegetais têm a propriedade de produzir visões." Depois ele guarda os botões numa gaveta da escrivaninha e diz, "...cuidarei para que sejam devidamente catalogadas depois". 1

A piada, claro, é que Huxley não fará absolutamente nada com relação aos botões de peiote, até que, com as experiências de seu neto Aldous com mescalina, em meados do século vinte, o valor do peiote seja descoberto. Pois foi em 1955 que Aldoux Huxley ingeriu quatro décimos de grama de mescalina - o princípio psicoativo do peiote - e descobriu que, nas palavras de James Joyce, "qualquer objeto, intensa­mente considerado, pode tomar-se um portal para o incorruptível eon dos deuses." O livro de Aldous Huxley As Portas da Percepção, no qual ele relata esta experiência, mais tarde cairia nas mãos do menino de 14 anos Terence McKenna, para quem o livro iria prover o ímpeto de toda uma vida de exploração nas profundezas insondáveis da consciên­cia humana.

A atitude de T.H. Huxley, porém - como Gibson e Sterling ima­ginaram - tipifica a atitude do estudioso com relação a esses assuntos: conhecimento bom para as páginas amareladas de volumes desgastados nas estantes das bibliotecas, mas que não tem relação com o mundo da experiência vivida. É extremamente irônico o fato de que o método científico concebido por homens como Leonardo da Vinci e Francis Bacon enfatiza precisamente a validade da experiência individual. A civilização ocidental, aliás, foi moldada pela mitologia da experiência individual, em oposição à ultrapassada noção oriental da confiança na autoridade de outros, e deve seu êxito atual àqueles grandes pioneiros que tiveram a coragem de visitar terras que se pensava estarem apinha­das de estranhas criaturas boschianas que lhes guardavam os portões. É esta mitologia ocidental da experiência pessoal que, por exemplo, im­peliu Vesalius a rejeitar a autoridade de Galeno e a abrir corpos huma­nos, para verificar de uma vez por todas a estrutura da anatomia huma­na; ou a coragem prometeica de Galileu em desafiar aquela encarnação renascentista de Zeus - a própria Igreja Católica - e olhar através do telescópio para o que ninguém jamais ousara olhar antes com tanta in­tensidade; ou as migrações transatlânticas de Colombo (de "columba", pomba) com o intuito de descobrir por si mesmo se as Índias podiam ser alcançadas navegando-se para além do-pôr-do-sol. Até os vôos espaci­ais da Apollo e nossa atual exploração de Marte, nos dias atuais, o mito permaneceu essencialmente sem mudanças.

Aquele "território transcendental da mente", porém, que Aldous Huxley descreveu - os labirintos obscuros e desconhecidos da consci­ência humana - ainda permanece, na maior parte, inexplorado pelos ocidentais. A investigação da mente inconsciente só começou com Freud e seus predecessores românticos alemães do século dezenove.

Terence McKenna é um dos tais Magalhães da consciência, e a sua jornada começou com uma viagem à Ásia em 1967 para estudar a iconografia pré-budista dos thangkas tibetanos. Ele descobriu, em vez disso, que as raízes do Budismo tibetano estão no Xamanismo nativo de Bon-Po, no qual alguns praticantes usam haxixe e a figueira-do-inferno, alucinógena, para catalisar suas viagens xamânicas.

Em 1971, Terence e seu irmão Dennis fizeram uma viagem à bacia amazônica em busca de um experiência xamânica autêntica, e no processo encontraram uma espécie de cogumelo que continha psilocybin (Stropharia cubensis) que, diz McKenna, só fica atrás do DMT (dimetiltriptamina) em seu poder de induzir a uma viagem alu­cinógena ao reino dos Ancestrais. E normalmente é este reino que os xamãs contatam para obter conhecimento e informação valiosa capaz de curar as aflições de suas comunidades, ou as desordens de uma pessoa específica. Tais cosmonautas interiores podem, nas palavras de Aldous Huxley, "tornar-se condutores através dos quais alguma influência be­néfica possa fluir daquele outro campo para um mundo de eus obscure­cidos, cronicamente morrendo por falta dessa influência." As experiên­cias dos irmãos McKenna com a telepatia, a sincronicidade e encontros com OVNIs são descritas com vívidos detalhes no livro de McKenna True Hallucinations (Alucinações Verdadeiras), de 1993.

A maior tarefa que tiveram ao retomarem do submundo xamâ­nico da Amazônia foi, nas palavras de Joseph Campbell, saber "como expressar numa linguagem compreensível para o mundo da luz os pro­nunciamentos do mundo da escuridão que desafiavam a própria capaci­dade de falar". Desafio a que responderam com um livro intitulado The Invisible Landscape (A Paisagem Invisível), de 1975. Nesta obra estra­nha e poética os autores tentam compreender completamente, através de uma síntese de ciência, filosofia e história, as implicações de suas expe­riências na Amazônia. Na teoria geral da ressonância da natureza que eles expandiram como alguma hélice exótica do DNA cultural, o mi­crocosmo da viagem xamânica aos interiores das consciências humana e cósmica está mapeado no macrocosmo do tempo e espaço através de uma filosofia da história que McKenna chama "A Onda do Tempo." Nesta teoria, os eventos da história são descritos como uma onda fraci­onada não-linear na qual as épocas distantes influenciam épocas sepa­radas pelo tempo e pelo espaço através de ressonâncias em sua similari­dade estrutural.

Em 1976, os autores deram prosseguimento a esse trabalho com Psilocybin: the Magic Mushroom Grower's Guide (Psilocybin: Guia do Plantador do Cogumelo Mágico), e em 1991, McKenna juntou uma década e meia de ensaios e entrevistas em The Archaic Revival (O Re­nascimento Arcaico).

Em 1992, apareceu o livro de Terence McKenna Food of the Gods (O Alimento dos Deuses), no qual ele afirma que a sua história das origens da consciência humana foi precipitada pela ingestão de cogumelos psicoativos. Também o livro faz a crônica do longo declínio do uso do cogumelo e sua história insatisfatória de substitutos como o ópio, açúcar, café, e heroína ao longo da evolução humana.

Naquele mesmo ano, o longo intercâmbio de McKenna com o biólogo Rupert Sheldrake e com o teórico do caos Ralph Abraham culminou com o aparecimento do livro deles Trialogues at the Edge of the West (Triálogos nos Limites do Ocidente), ao qual se juntou uma se­qüência, The Evolutionary Mind: Trialogues at the Edge of the Un­thinkable (A Mente Evolucionária: Triálogos nos Limites do Impensá­vel), em 1998.

No momento dessa entrevista, McKenna estava escrevendo um livro em co-autoria com Philippe DeVosjoli, que iria chamar-se Casting Nets into the Sea of Mind (Lançando Redes no Mar da Mente). McKen­na promete uma futura explicitação completa de suas teorias da evolu­ção da consciência humana e sua relação com a linguagem e a tecnolo­gia.

JE: No seu primeiro livro, The Invisible Landscape (A Paisagem Invisível), você e seu irmão Dennis desenvolvem o que parece ser um tipo de teoria geral da ressonância da natureza que inclui a experiência visionária do xamanismo como também as épocas mais elásticas do tempo histórico. Gostaria de discutir como essa teoria surgiu de suas reflexões sobre a natureza do tempo após sua viagem à Amazônia em 1971.

TERENCE MCKENNA: Bem, penso que provavelmente a percepção central em tudo aquilo foi a idéia de que o tempo é realmente, quando você o ana­lisa, metabolismo, que é a única qualidade que se associa com a vida orgânica, por meio do qual a vida cria um sistema aberto longe do equi­líbrio e por aquele meio sustenta-se no tempo e através do tempo. As­sim a estrutura da vida orgânica, especificamente a estrutura do DNA, é, penso eu, uma resposta evolucionária única a este impulso termodi­nâmico em direção ao desequilíbrio que parece caracterizar a biologia. Estudando o metabolismo - o que, em termos práticos, significa olhar para o interior de nossas células - podemos realmente não apenas en­tender o que é o tempo, mas fazer generalizações sobre o tempo que podemos efetivamente estender a outros domínios do universo.

JE: É interessante o modo como você conecta o micro­cosmo com o macrocosmo em True Hallucinations (Alucinações Verdadeiras). Por exemplo, você fala de como construiu toda essa teoria da ressonância em torno do número 64. que você diz ser significativo tanto para o DNA - no qual há 64 seqüências possí­veis de codons - quanto para o I Ching, no qual há 64 hexagra­mas. 2 Você poderia falar um pouco sobre como chegou a essa conclusão meditando sobre esse número?

TERENCE MCKENNA: Sessenta e quatro é um número interessante. São dois para seis e surge a partir do quatro, o que, de acordo com Jung e outros, é uma divisão primária do espaço, do tempo e da realidade. Nós vivemos num universo em quatro dimensões. A minha noção sobre o I Ching era de que se o levássemos a sério - e certamente o levamos - (e por levar a sério quero dizer se o reconhecemos como tendo uma estranha habili­dade para funcionar como anunciado), então parece razoável perguntar, como ele faz isso? Eu creio que o modo como ele deve fazê-lo é sendo, como você mencionou, de algum modo um microcosmo do macrocos­mo maior. E a conclusão de que era diretamente análogo à estrutura do DNA, parecia ser a prova. O I Ching é uma visão primária na estrutura não apenas do universo em que vivemos, mas da Mente na qual estamos incluídos e que observa o universo.

JE: A sua teoria da ressonância do tempo sugere que eventos distantes na história possam ter um efeito ou uma influ­ência sobre eventos presentes através de um tipo de ressonância de suas similaridades estruturais. Por exemplo, você compara o fim do Império Romano com os eventos de hoje em dia. Você pode discutir como ocorre essa ressonância?

TERENCE MCKENNA: Claro. Antes de mais nada relembremos o que pressupõe a teoria histórica convencional: que o momento mais importante em ter­mos de moldar este momento é aquele que imediatamente o precedeu. Eu assumi um ponto de vista diferente, e senti que um determinado momento histórico no tempo é um tipo de onda permanente de padrões de interferência criado por outros momentos no tempo que podem ou não tê-lo precedido imediatamente. Assim, por exemplo, A Idade de Ouro Grega, embora esteja agora situada a 2500 anos de distância no passado, ainda assim continua a moldar nossas idéias a respeito da lei e da sociedade. E em qualquer situação dada há muitas destas influências agindo, algumas delas trivialmente, para dar-nos banheiras com pernas em formas de garras e coisas assim; e algumas muito profundamente, nos querendo passar a durabilidade da democracia ou coisa semelhante.

JE: Você acha que o fato de seu modelo terminar no mesmo ano que o calendário Maia - 2012 d.e - sugere algum tipo de ressonância entre a nossa cultura e a dos Maias? 3

TERENCE MCKENNA: Não tenho certeza do que isso significa. Eu creio que todas as culturas que olhem profundamente no tempo, se chegarem a conclu­sões corretas, terão modelos de algum modo congruentes. Mesmo se olharmos para a civilização ocidental e seus calendários, atravessamos o final de um milênio apenas doze anos antes do fim do calendário Maia. Numa escala de mil anos, esta é uma diferença de ponto doze por cento.
Assim, de modo bastante estranho, a vida inconsciente das cul­turas parece sincronizar-se com estes ritmos cósmicos muito extensos, quer a cultura reconheça estes ritmos ou não. É apenas a canção da pai­sagem temporal, se você quiser.

JE: No lado microcósmico, no seu livro The lnvisible Landscape, você e seu irmão desenvolvem uma teoria de que as experiências visionárias do xamanismo são ativadas quando o psilocybin se liga quimicamente com o DNA neural. Você gosta­ria de discutir esta teoria?

TERENCE MCKENNA: Bem, no metabolismo comum, o psilocybin é um antago­nista, significando um competidor, em relação à serotonina, que é um simples transmissor cerebral na sinapse. Porém, uma percentagem muito pequena de psilocybin chega até o núcleo da célula. Há afinida­des estruturais muito surpreendentes entre o DNA e muitas dessas mo­léculas psicodélicas que aparecem naturalmente. Como você sabe, o DNA pode ser visualizado como uma estrutura tipo escada, enquanto muitas dessas drogas moleculares são chamadas planares, o que signifi­ca apenas achatadas, e são do tamanho e geometria apropriados para permitirem-se encaixar dentro e fora dos espaços entre os nucIeotídeos do DNA. Este processo é chamado intercalação. É bem estudado, mas ninguém sabe qual pode ser o propósito ou as conseqüências deste ajuste perfeito entre as estruturas do DNA e estas drogas moleculares. 4

JE: Karl Pribram fala sobre o paradigma holográfico do armazenamento da memória, mas ele parece estar preocupado com isso do ponto de vista individual, enquanto que você e o seu irmão expandiram a visão sugerindo que algo como a alma do mundo ou o inconsciente coletivo está também de algum modo acessível na experiência psicodélica?

TERENCE MCKENNA: Sim, se aceitarmos o modelo junguiano de um inconsciente coletivo - um conjunto compartilhado de imagens arquetípicas que não são concedidas culturalmente - então nós temos a considerar, como você mencionou, não apenas o problema da memória individual, mas o problema maior dessas memórias raciais ou arquetípicas. Acho que tomamos as coisas difíceis demais para nós nesta área colocando tanta fobia e estresse ao fazermos a pesquisa psicodélica. O nosso medo pre­coniza que qualquer pessoa que escolha se concentrar nas áreas de far­macologia ou biologia molecular está escolhendo uma vida de pura marginalização. É muito difícil obter financiamento, e há muito pouco apoio institucional.

JE: Eu estou curioso acerca do que você pensa sobre o trabalho de Stanislav Grof com o LSD e a teoria dele de que rea­tiva o trauma do nascimento.

TERENCE MCKENNA: Bem, o Stan é meu amigo pessoal, e ele fez um trabalho muito corajoso com o LSD. Quando o LSD tornou-se ilegal, ele desen­volveu um modelo de técnicas respiratórias para levar as pessoas para a mesma área. Tendo dito isso, a minha própria exploração pessoal da psique não tendeu a apoiar a teoria dele sobre as várias matrizes peri­natais. Eu chamaria isso de uma teoria neo-freudiana. Tenho a mente aberta acerca disso, mas não creio que a maioria das pessoas que não ouviram falar da teoria de Grof fariam experiências que realmente pu­dessem ser mapeadas por aquele sistema.


JE: Você poderia discutir, então, o que são, em sua expe­riência, as diferenças nos conteúdos visionários do LSD versus a experiência com psilocybin?

TERENCE MCKENNA: Bem, sim, de certo modo. Cada uma destas coisas, sendo quimicamente única, é como uma lente feita de vidro com coloração ligeiramente diferente. O LSD vai diretamente à estrutura da personali­dade, às estruturas que surgiram através das experiências na vida do indivíduo, de modo que é muito bom para trabalhar através daquilo que eu penso ser assuntos psicoanalíticos normais. É, de modo relutante, um alucinógeno. Em outras palavras, transforma a qualidade dos pensa­mentos, mas não transforma o input no córtex visual tão dramatica­mente quanto o fazem algumas destas outras coisas.

Os compostos que são derivados de plantas, por outro lado ­psilocybin ou DMT - parecem estar cheios de sua própria informação a qual desejam passar adiante. De modo que muitas vezes não se sai com um profundo insight com relação aos próprios relacionamentos ou situ­ação de paternidade, mas em vez disso com um sentido muito mais profundo de conexão com a dinâmica da natureza ou, quase se pode dizer, com o mundo da energia do espírito ou energia mágica. Agora, por que esta diferença deve ser obtida entre o psilocybin e o LSD ... A causa pode ser estrutural ou pode haver algo mais profundo.

Por exemplo, a causa pode envolver algo como a noção dos campos morfogenéticos de Sheldrake. O LSD, afinal de contas, foi in­ventado no século vinte, ao final dos anos trinta, e está inteiramente caracterizado pelos europeus e americanos do século vinte. Os com­postos como o psilocybin, por outro lado, usado por milênios pelos po­vos tribais das montanhas do México, teriam, certamente, um tipo de campo morfogenético completamente diferente.

JE: Você mencionou que o psilocybin facilita o contato com o que parece ser uma Mente estranha ou inteligência de al­gum tipo. Você tem uma teoria sobre OVNI’s que sugere que eles poderiam de algum modo ser sugestões desta inteligência fora da psique. Você poderia discutir isso?

TERENCE MCKENNA: A psique, ou consciência, é um conceito muito escorrega­dio. Um pesquisador, Julian Jaynes, sugeriu que a consciência humana mudou sua natureza mesmo nos tempos históricos. Jaynes fala que nos tempos homéricos, o ego como o conhecemos não existia, exceto sob extremo estresse. E então se apresentava quase como uma intrusão exte­rior na consciência, como a voz de um deus. 5 Eu acho que a maior dife­rença entre a consciência materialista moderna e a consciência xamâni­ca arcaica é que esta última interpreta muito de suas percepções como vindas de um Outro inteligente e organizado. E eu, após haver passado pela interpretação extraterrestre durante vários anos, cheguei à opinião de que este Outro que contatamos através destas coisas é nada mais nada menos que um tipo de inteligência integrada que permeia o planeta inteiro. Por falta de uma melhor descrição, vamos simplesmente chamá-la de Supermente de Gaia.

Eu acho que durante muito tempo ao longo da história, as pes­soas estavam totalmente conscientes, totalmente à vontade com a lin­guagem e o teatro e os rituais e a magia, mas estavam no berço, diga­mos assim, ou embutidos num diálogo quase contínuo com o resto da realidade, experienciada como uma consciência contínua a que chama­vam o Grande Espírito, ou os Ancestrais, ou simplesmente Deus. A herança cultural e lingüística do Ocidente tem sido em larga escala uma construção de defesas contra este Outro e uma substituição Dele pelo ego de massa da humanidade, politicamente expresso.

Assim, quando entramos na selva, ingerimos plantas psicodéli­cas e executamos antigos rituais paradigmáticos, se conseguirmos dis­solver o condicionamento e as expectativas de modernidade e materia­lismo. descobrimos que este mistério ainda está lá, ainda vivo, ainda capaz de dialogar conosco. E isso deixa as pessoas absolutamente con­fusas. Elas reagem a isso com o êxtase ou com o medo, ou com histórias de conversão religiosa ou abdução alienígena. Depende inteiramente de como a coisa reage sobre você. Neste caso, a revelação de um homem é o pesadelo de outro. Mas a coisa que jaz por trás de tudo isto é algum tipo de mente natural, viva e inteligente, que é simplesmente uma ex­tensão da biosfera, de Gaia.

JE: Em seu livro Food of the Gods (Alimento dos Deu­ses), você lida com algumas das dimensões históricas do uso dos alucinógenos. Você visualiza a história da cultura como um constante declínio no uso de alucinógenos derivados de plantas e a substituição gradual destes por substitutos insatisfatórios como o álcool, o ópio, o fumo, a cocaína, etc. É possível que se as pes­soas usassem alucinógenos de um modo mais rituailizado e con­trolado, tal como, digamos, duas vezes ao mês, que isso poderia reduzir significativamente o uso abusivo de algumas destas ou­tras drogas?

TERENCE MCKENNA: Deus meu, duas vezes ao mês! Isso seria uma revolução, não seria? Eu acredito que as pessoas sem essa mãozinha da inteligên­cia de Gaia sobre a qual estávamos falando estão simplesmente num mato sem cachorro. Elas têm o marxismo, e a moderna publicidade, e quaisquer que sejam os valores culturais nos quais nasceram para guiá­-los, mas inevitavelmente, como destacou Freud no livro O Mal-estar na Civilização, estas coisas levam à neurose.

Penso que a chave para entender a experiência psicodélica, quer você a ame ou a deteste, é que ela dissolve as fronteiras. Dissolve a programação cultural e a substitui por um tipo de programação muito mais básica que está no animal humano. Todas as culturas nos desviam desta fonte original de autenticação pessoal. E nesse sentido, Freud es­tava certo; toda cultura é neurótica. Assim, no livro que você mencio­nou, e também num outro livro meu chamado The Archaic Revival (O Renascimento Arcaico), eu simplesmente assinalo que quando as civili­zações tornam-se massivamente neuróticas, parecem ter um reflexo instintivo de voltar no tempo em busca de um modelo. 6 Por isso a Re­nascença criou o Classicismo como resposta à falha da igreja medieval. É por isso que no século vinte presenciamos surtos de fenômenos que vão do cubismo e surrealismo ao rock and roll. Estes são impulsos em direção a um estado mental arcaico. No centro deste impulso em dire­ção ao estado mental arcaico está a dissolução da fronteira dos valores culturais que ocorre sob o efeito de psicodélicos. Certamente que se pudéssemos encontrar algum meio de trazer isso às pessoas - e eu acho que duas vezes ao mês soa muito mais freqüente do que o necessário ­na razão de uma vez ao ano e de um modo poderoso, seria suficiente para manter as pessoas operando à luz do conhecimento correto de que há valores estruturais maiores que o conhecimento que lhes está sendo passado através da mídia de massa e das convenções culturais.

As pessoas estão ficando absolutamente famintas por autentici­dade, e nesse meio tempo lhes é oferecida uma seleção interminável de carros alemães, produtos para os cabelos, novos sabores de sorvetes e divertimentos sem graça, e nada disso satisfaz, porque aquilo que as pessoas realmente necessitam é um sentido autêntico de seu próprio ser e de sua própria importância no esquema natural das coisas. A cultura não pode responder a isso a não ser que abra espaço para a transcendên­cia de si mesma.

JE: Em Food of the Gods você sugere que a consciência humana pode ter-se desenvolvido da consciência dos seus ances­trais hominídeos como resultado de os hominídeos haverem in­corporado cogumelos alucinógenos em sua dieta. Qual é a evi­dência primária que temos do uso de cogumelos na história hu­mana?

TERENCE MCKENNA: Eu acho que a mais antiga evidência que eu consideraria como tendo algum peso é um grupo de imagens escavadas na rocha no platô Tassili, ao sul da Argélia. Eles continuam dando idades cada vez mais antigas para essas coisas, mas creio que agora chegaram a cerca de 12.000 anos. Aí vemos xamãs com cogumelos brotando de seus corpos e as mãos cheias de cogumelos. 7 Este tipo de evidência, porém, jamais foi buscado, e nas áreas onde eu acho ser mais provável de se encontrar, nenhuma escavação jamais foi feita - especificamente, no sul da Argé­lia. Poder-se-ia fazer estudos polinológicos em busca de esporos de cogumelos. Poder-se-ia tentar encontrar rochas ainda mais remotas e representações de arte em rocha ainda mais antigas, destes xamãs, con­sumidores de cogumelos. o grande embaraço da teoria comum da evolução, você sabe, é a explosão muito dramática no tamanho do cérebro humano num período muito curto de tempo evolucionário. Um biólogo evolucionário, Lurnholz, o chama de a mais dramática transformação de um órgão importante de um animal superior em todo registro fóssil. Bem, é um grande embaraço para a evolução, porque se pode notar que o cérebro é o órgão que criou a teoria da evolução. Assim, se não podemos dar conta de sua origem subimos por uma escada que não tem degrau para descanso.

Algo extraordinário estava acontecendo com a situação hominí­dea, digamos entre 125.000 e 25.000 anos atrás. Todas as outras teorias falharam. Eu me concentrei no psilocybin mas realmente quando con­verso com os meus pares neste campo, o que estou dizendo é que aquilo para o que precisamos olhar é a dieta. A dieta é um dos principais fato­res que afetam as taxas de mutação em qualquer espécie. A razão por que a maioria das espécies animais têm dietas muito definidas e especi­alizadas é que a dieta é uma estratégia evolucionária conservadora para limitar a exposição a compostos mutagênicos, e daí à mutação. Quando uma espécie está sob pressão nutricional e começa a experimentar ali­mento anteriormente considerado marginal ou inaceitável, ora, isso na­turalmente quer dizer que o genoma vai ficar exposto a nova tensão química através da cadeia alimentar, e que se vai adquirir mais defor­midades no nascimento, cegueira, baixo QI, baixa taxa de natalidade. Mas também se vai adquirir a muito rara e positiva mutação, e a taxa dessas mutações positivas será também concomitantemente elevada um pouco.

Assim, penso que o lugar onde procurar a explicação da ruptura na evolução humana é o período em que deixamos de ser uma criatura que vivia ao relento, sob o céu. A mudança subseqüente na dieta e as comoções pela exposição a vários agentes químicos causaram muitas mudanças nos seres humanos. O psilocybin é simplesmente uma das mais dramáticas. Podemos construir um cenário com o psilocybin que considero muito atrativo para os biólogos evolucionários, porque mostra como o psilocybin, contribuindo crescentemente com pequenas vanta­gens, poderia ter provocado uma importante influência química na evolução da arquitetura do cérebro e da consciência.

JE: Em Food of the Gods você traça um arco de difusão histórica de uma sociedade inspirada por uma deusa, original­mente comedora de cogumelos - o povo Tassili no paleolítico no norte da África - e o segue através da Ásia Menor à medida que viaja para o interior do Catal Huyuk anatoliano, de onde migra para a Creta de Mino. Finalmente. os gregos adotam essa cultura da Deusa na forma muito reduzida dos mistérios eleusianos, nos quais a ferrugem alucinógena das gramíneas pode ter sido usada, do mesmo modo que os cretenses usavam o ópio. A minha per­gunta, então, é, você tem alguma idéia de exatamente onde foi, ao longo deste caminho, e por que motivo foi que o consumo do co­gumelo desapareceu?

TERENCE MCKENNA: Sim, eu o associo inteiramente a lentas mudanças no clima. Em outras palavras, provavelmente de 100.000 a 125.000 anos atrás ocorreu o período mais propício em termos de tamanho e extensão das chuvas, e a sobreposição mais propícia, também, de ecossistemas de cogumelos e de habitats humanos. Toda a África do Norte era um vasto pasto com animais ungulados evoluindo e muitas correntes de água descendo das terras altas. E aquelas pastagens tinham surgido de uma mudança climática. Antes disso, em um tempo ainda anterior, houvera florestas. Mas à medida que as pastagens deram lugar ao deserto ao longo dos milênios, os cogumelos - o seu alcance, a disponibilidade, e a potência - todos sofreram retração ou diminuição. À medida que o pro­cesso continuou, a população humana ou passou sem, ou começou a procurar substitutos. E nenhum substituto tem realmente o mesmo efeito que o original, e assim se tem os cultos da cerveja, a fermentação de sucos de frutas em vinho, experiências com cânhamo e ópio. Mas foi simplesmente uma série de desastres climatológicos, e o que liquidou a coisa toda - que também foi uma resposta a esta mudança climatológica - foi a invenção da agricultura. Eu acredito que Frazer em The Golden Bough (O Ramo Dourado) diz alguma coisa sobre o fato de que, quando os deuses se tornaram alimento, as grandes orgias e celebrações ficaram marginalizadas, porque os valores culturais que se tornaram importantes naquele tempo foram a habilidade de levantar-se de manhã bem cedo, pegar a enxada e ir trabalhar.

JE: Alguns estudiosos têm dito que o consumo de alu­cinógenos é um substituto pobre para a longa e difícil estrada da disciplina espiritual que é necessária, dizem eles, para se tomar verdadeiramente iluminado. Como você responde a este ponto de vista ? 8

TERENCE MCKENNA: Bem, eu não sei, acredito que eles estejam verdadeiramente iluminados. Esse é um assunto difícil de se tocar. Este é um ar­gumento corrente e interminável em todos os níveis da antropo­logia. O grande proponente deste ponto de vista de que eu tenho conhecimento é Mircea Eliade, que assumiu a posição de que o que ele chamava "xamanismo narcótico" era de algum modo de­cadente, e que o verdadeiro xamanismo era passar por provações e perder-se na selva e coisas desse tipo. Eu não acredito que os povos aborígines gostavam mais de desconforto e desprazeres do que nós. Frente a um sem-número de métodos para chegar ao mesmo fim, a maioria de nós escolheria o método mais eficaz e não-destrutivo. Eu realmente acredito que quando o acesso direto ao mistério ou ao espírito se torna problemático por qualquer ra­zão, é então que se tem a codificação do dogma, a nomeação de classes especiais de pessoas para interpretar para o restante de nós as vontades do mundo invisível. E então se tem listas morais do que se deve fazer e não fazer. E tudo se torna religião organi­zada. A fobia que a maioria destas religiões organizadas mostra em relação à experiência psicodélica é simplesmente que elas sentem aí um competidor muito poderoso para seus clientes.


JE: Você mencionou que viajou por um tempo pela Ásia experimentando estas várias técnicas de Ioga e que não fizeram efeito em você?

TERENCE MCKENNA: Bem, não é que não funcionem; elas não produzem a expe­riência psicodélica. Produzem experiências muito interessantes e úteis, e certamente ensinam autodisciplina e tudo o mais. Mas eu acho que com a religião organizada há uma tensão interna porque a religião está no momento e procura responder às aspirações do homem além deste mundo, e ainda inevitavelmente a religião volta-se para os seus esque­mas de investimento, seu próprio auto-engrandecimento, seu desejo de atrair mais pessoas e mais território para sua área de influência. Assim eu sempre senti que a autêntica viagem religiosa era algo que ia aconte­cer entre um simples ser humano e os Espíritos. Eu penso que é uma pena que a religião tenha tanto medo da experiência direta que acabe colocando inevitavelmente um tipo de elite entre o homem comum e o mistério.

JE: Você já tomou psilocybin em conjunção com um tan­que de isolamento?

TERENCE MCKENNA: Na realidade jamais fiz isso num tanque. Não creio que se tenha de ir tão longe, mas o melhor meio para estas coisas é o que eu chamo de confortável escuridão silenciosa. Algumas pessoas querem ouvir música e isso certamente causa arrebatamento. Mas nada pode­mos fazer com a notícia de que Bach é Deus; já sabemos disso. Eu acho que quando as pessoas têm que ter música ou livros de arte empilhados à sua volta, elas já estão se deixando influenciar. As riquezas interiores da silenciosa mente humana estão além de qualquer coisa que já tenha­mos criado em qualquer situação elegante ou em qualquer sociedade esplendorosa que já tenhamos tido neste planeta. E essa notícia em ter­mos existenciais é realmente bastante fortalecedora. Toda a sociedade de consumo de que fazemos parte é na realidade um sistema para causar maravilhas. Brinquedos, roupas, jogos e divertimentos: tudo isso é para deixá-lo atônito e para arrebatá-lo. Bem, se você estivesse cultivando cogumelos no esterco de vaca no seu quintal, você rapidamente desen­volveria um relacionamento completamente diferente com tais maravi­lhas. Você certamente chegaria à conclusão de que há uma infinitude de tais maravilhas, e que a maioria delas está dentro de você.

Assim, novamente eu vejo a cultura oferecendo substitutos ba­ratos da experiência autêntica. A cultura quer que você rejeite o passa­do, antecipe o futuro, e mal perceba a presença sentida da experiência imediata. Do meu ponto de vista, esse é o valor mais tóxico que tolera­mos; a desvalorização de nossos sentimentos à medida que eles ocorrem no ato de viver no momento, num lugar determinado no espaço e no tempo. Isso é o que nós somos, isso é tudo o que sempre seremos, e um mundo feito de esperança e arrependimento é um substituto muito páli­do para aquele sentimento de estar vitalmente conectado e presente no mundo vivo.

JE: As suas idéias sobre a ressonância através do tempo têm muito em comum com a ressonância mórfica de Rupert Shel­drake e com as pesquisas sobre vibrações de Ralph Abraham. Fora os Trialogues (Triálogos), você acha que vocês três seriam capazes de trabalhar juntos num livro?

TERENCE MCKENNA: Estamos muito próximos, e aliás fizemos todo um segundo conjunto de Trialogues. Tudo o que precisamos é de um editor sufici­entemente louco para publicá-los, embora eu não ache que o primeiro livro tenha ido bem em inglês, mas foi muito bem recebido na Alema­nha. Mas sim, me sinto muito próximo a esses caras. Eu acho que anologia à medida que nos movemos em direção a ambientes de comuni­cação assistidos por drogas quase-telepáticas e por máquinas.

JE: Você acredita que a tecnologia de realidade virtual terá influência preponderante em tudo isso, ou apenas vai se tor­nar uma novidade?

TERENCE MCKENNA: Acredito que tem um potencial tremendo porque é real­mente uma tecnologia que nos permitirá mostrar uns aos outros o interi­or de nossas cabeças. Isso é algo que jamais fomos capazes de fazer. Você e eu estamos tendo esta conversa e educadamente pressupondo que temos abertos diante de nós dicionários idênticos, e portanto você entende o que eu quero dizer. Mas nada é mais capaz de trazer a con­versa para uma situação estridente do que alguém dizer para outrem, "você poderia me explicar o que eu acabei de dizer?" E você sabe, em face a esse desafio, a suposição da comunicação é algo bastante rare­feito. 9

Se nós realmente pudéssemos mostrar uns aos outros o que que­remos dizer construindo meios esculturais da nossa intencionalidade em 3-D, seríamos capazes de eliminar a enlouquecedora ambigüidade que acompanha o ruidoso estilo de conversação bucal de baixa freqüência. É surpreendente para mim que tenhamos uma civilização global baseada em ruidosa comunicação bucal, visto que há 500 línguas e ninguém tem o mesmo dicionário, ninguém teve a mesma educação, e todos têm conjuntos diferentes de experiências. Assim, acredito que fizemos um trabalho incrível com o instrumento grosseiro que nos foi dado, mas o futuro da comunicação é o futuro da evolução da alma humana, e à me­dida que nos comunicarmos com maior facilidade, as fronteiras e a ilu­são da diferença simplesmente irão tornar-se indefinidas e desaparece­rão.

NOTAS:

1 Gibson e Sterling (1992), p.II?
2 Veja, por exemplo, The Mayan Factor. de José Arguelles (1987), p.86.
3 De acordo com o software de McKenna, Timewave Zero, a história é composta de uma série de ondas de novidades, na qual novas invenções surgem ao final de um ci­clo. Já que o I Ching é composto de 64 haxagramas, as datas na história podem ser divididas por esse número para produzir pontos de Novidades. Por exemplo, 1.3 bi­lhões de anos atrás marca a invenção da reprodução sexual pelos organismos eucari­óticos. Divida esse número por 64 para produzir um ciclo começando há 18 milhões de anos no período Mioceno no apogeu do período dos mamíferos ( e talvez não co­incidentemente, 15 milhões de anos atrás, uma grande catástrofe teve início pelo im­pacto de algum planetóide). Divida isso por 64 para produzir um número por volta de 200.000, uma data associada com o advento das populações Neanderthal. Nova­mente divida por 64 e chegue a um número por volta de 4.300, que é o começo das invasões Kurgan das civilizações da deusa da Europa antiga, o prólogo do nasci­mento de uma alta civilização após cerca de mil anos ou coisa assim. O último destes ciclos de Novidades começa em 5 de agosto de 1945 - um dia antes do bombardeio de Hiroshima - e termina em 21 de dezembro de 2012 d.e. Veja trabalho publicado, Temporal Resonance em McKenna (1991) pp.104-113. Veja também Arguelles, ibid., embora McKenna diga que ele apresentou a idéia de 2012 a Arguelles.
4 Para observar uma ilustração deste processo de intercalação veja figo 9, p.76 em McKenna, Terence e McKenna, Dennis (1993).
5 Jaynes (1976).
6 A propósito dessa questão, o MahaTerence McKennaa Koot Hoomi, um raja iogue dos Himalaias,
escreveu em 1880 em uma carta ao jornalista inglês Alfred Sinnett: "Temos a ten­dência a crer em ciclos que voltam sempre periodicamente e esperamos poder acele­rar a ressurreição do que já passou e já se foi. Nós não poderíamos impedi-Io ainda que quiséssemos. A 'nova civilização' será apenas filha da antiga, e nos basta deixar que a lei eterna siga o seu próprio curso para que os nossos mortos saiam dos seus sepulcros; mas estamos certamente ansiosos por acelerar o desejado acontecimento." Veja Cartas dos MahaTerence McKennaas, Ed. Teosófica, Brasília, volume I, Carta li, pp. 81-82. No entanto, a filosofia esotérica e a literatura teosófica propõem a expansão da inte­ligência espiritual sem o uso de quaisquer drogas ou substância intoxicantes, que constituem atos de violência contra o corpo e a consciência do indivíduo. ( N. ed. bras. )
7 Veja ilustrações dessas figuras alucinógenas em McKenna (\ 992). pp. 72-73. Veja também a ilustração em Campbell (1988a), p. 83, figo 146. Sobre a importância da arte do plateau Tassili, Campbell cita o trabalho do erudito Henri Lhote: "Parece", diz Lhote ao discutir essas descobertas, "que estamos diante das primeiras obras de arte negra - de fato, somos tentados a dizer isso, em relação à sua origem".
8 Por exemplo, William Irwin Thompson escreve: "Infelizmente, o modo de vida do hippie californiano '" deve-se tomar o consumidor típico americano e pensa que o caminho para a iluminação é através do consumo de cogumelos e curtição da ilumi­nação sem necessidade de todo o trabalho árduo da sadhalla iogue. Veja Thompson (1996), p.189. Sobre o comentário de Ken Wilber veja também nota de fim de página número 6, da entrevista de Grof (Em outro capítulo)
9 Contraste com Thompson: "Eu acho que o problema principal com a realidade virtualé que ela é uma tecnologia tóxica, é uma violação dos seus lobos frontais. Eu acho que vai causar efeitos sobre a saúde das pessoas como faz o mal de Alzheimer no seu início. Quando eu era menino, costumava entrar em sapatarias e colocar os pés nas máquinas de raios-X. O que parecia ser progressista e rotineiro estava na realidade causando câncer nas pessoas." Veja Brown e McClen (1995), p.297.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

“AYAHUASCA - A UNIVERSIDADE GAIA” - Artigo de Ralph Miller

“AYAHUASCA - A UNIVERSIDADE GAIA” - Artigo de Ralph Miller


fonte:http://www.heartoftheinitiate.com/articles_gaia.htm



Por 20 anos eu formei minha família, trabalhando como agente de viagens. Nos últimos anos conduzi Workshops no Brasil usando uma planta ancestral, “medicina” ou chá, a qual tem sido usada por tribos indígenas da Amazônia há milhares de anos. Esse chá é chamado Ayahuasca e contém uma poderosa substância psicoativa e visionária chamada DMT (Dimetiltriptamina). A DMT é encontrada em todas as coisas vivas, incluindo nós, humanos.

Quando descobri a Ayahuasca, logo entendi que continuaria sendo um agente de viagens, mas agora mostrando às pessoas como fazer jornadas interdimensionais.Em nós, humanos, a DMT é produzida na glândula Pineal e pesquisas recentes indicam que a Pineal irá produzir DMT em grandes quantidades em pelo menos dois momentos das nossas vidas: no nascimento e na morte. Talvez ela prepare a chegada e a partida da alma. Pessoas que experimentam “situações de quase morte” – vendo luzes fortes, portais, ícones religiosos – relatam efeitos semelhantes aos das experiências com DMT.


O processo visionário da Ayahuasca também traz o efeito de permitir que uma pessoal se resolva e se cure espiritual, psicológica, emocional e fisicamente. O chá é referido como “enteogênico”, o que significa “contém Deus dentro”.


Muito provavelmente parece (minha crença pessoal) que o cérebro humano é de alguma maneira atrofiado, e que o processo xamânico de re-introduzir DMT usando Ayahuasca tem o efeito de “ligar” a Pineal de uma maneira extraordinária. Outros estudos foram conduzidos e sugerem que os cérebros pós-Ayahuasca encontram-se literalmente “re-configurados” (novas sinapses).


As moléculas de DMT são similares às moléculas da Serotonina e se encaixam nos mesmos receptores do cérebro. Isto é extraordinário porque, assim como a Serotonina, a DMT é uma chave específica que naturalmente se encaixa nesta “trava” do cérebro.


Nota-se, nos diagramas abaixo, que as estruturas da DMT e da Serotonina são muito similares. Ambas se encaixam nos mesmos neuro-receptores do cérebro.








A Ayahuasca é um chá muito interessante e complicado feito a partir de duas espécies de plantas amazônicas: um arbusto chamado Psychotria Viridisfo (Chacrona) e um cipó chamado Banisteriopsis Caapi (Mariri).

A Chacrona é uma planta fonte de uma quantidade relativamente grande de DMT, que é a principal fonte da experiência visionária. Todavia a DMT é inativa quando administrada oralmente porque é destruída no estômago pela enzima digestiva Monoamina Oxidase (MAO).


O Mariri contém apenas alcalóides mediamente psico-ativos, especificamente Beta-carbolinas (Harmina, Harmalina e Tetrahidrahamina), os quais agem como inibidores de re-absorção da Serotonina pelo organismo, assim como têm propriedades pró-Dopamina. A Serotonina e a Dopamina são substâncias produzidas pelo organismo humano, similares a hormônios, e são poderosos neurotransmissores que criam estado de alerta, assim como colocam a pessoa num estado psicologicamente receptivo. Adicionalmente, esses alcalóides também agem como poderosos inibidores da enzima MAO.

O interessante sobre a Ayahuasca é que, enquanto a DMT é inativa quando tomada oralmente e sozinha, os inibidores de MAO do chá permitem que a DMT permaneça intacta e ultrapasse as barreiras do sangue e do cérebro.

Assim, você tem a DMT se encaixando aos receptores do cérebro, o que produz visões, enquanto as propriedades pró-Serotonina e pró-Dopamina do chá criam um estado de alerta e receptividade.

Além disso, as propriedades de cura física da Ayahuasca são extraordinárias, para dizer pouco. A Ayahuasca tem sido investigada como um possível tratamento eficaz para o Mal de Parkinson, por exemplo.

Já em 1928, uma substância natural chamada Banisterene foi usada com sucesso no tratamento do Mal de Parkinson. Banisterene é também um antigo e bem conhecido produto de plantas chamado Harmina. Harmina é o componente Beta-carbolina mais presente na Ayahuasca.

Infelizmente o uso de Banisterene deixou de ser usado no tratamento do Mal de Parkinson, à medida que a indústria farmacêutica evoluía no estudo de drogas sintéticas que são patenteáveis, diminuindo o interesse por produtos naturais – que não o são. Mais interessante ainda é o fato de que muitas das drogas experimentais usadas atualmente para tratar o Mal de Parkinson, que podem ser encontradas na lista da Associação da Indústria Farmacêutica Britânica, contêm poderosos inibidores de MAO, assim com possuem propriedades pró-Dopamina.

Jeremy Narby, no seu livro “A Serpente Cósmica”, comenta: “Aqui estão pessoas sem microscópios eletrônicos que escolheram, entre 80.000 espécies de plantas amazônicas, as folhas de um arbusto contendo um hormônio cerebral, as quais eles combinam com um cipó que contém substâncias que inativam uma enzima do trato digestivo, o que de outra forma bloquearia o efeito. E eles fazem isso para modificar seus estados de consciência. Isso ocorre como se eles soubessem sobre as propriedades moleculares das plantas e a arte de combiná-las. E quando qualquer um os questiona sobre como eles tomaram conhecimento dessas coisas, eles dizem que esse conhecimento adveio diretamente das plantas”.

Ayahuasca é a Universidade de Gaia. A Natureza alcançando os humanos. A metáfora da “escola” na verdade não é uma metáfora de forma alguma. Tudo na Ayahuasca é sobre aprendizado. Durante uma cerimônia com a Ayahuasca, você começa num lugar e termina em outro. A próxima cerimônia traz você de volta ao lugar que você deixou. As aulas começam às 09:00h... o sino toca... e a “mãe-Aya” dá a lição do dia!

Falando de forma geral, as lições são universalmente profundas. As propriedades de cura e expansão de consciência da planta-mestre levam-nos a uma magnífica experiência de quem nós somos. A Ayahuasca facilita a resolução do ser humano. Resolver a condição humana requer uma consciência grandemente expandida sobre duas questões fundamentais: Onde estamos? e Quem somos?

Uma das lições da experiência com a Ayahuasca é uma percepção bastante expandida do quê nós crescemos chamando Realidade. O véu é levantado. Nós percebemos em 3-dimensões, com certeza. Mas nossa percepção se expande para além, para abranger uma realidade muito maior que “contém” a realidade 3-D. Essa realidade expandida, ou talvez realidade 10-D ou multi-D, não é restrita pela linha do tempo ou mesmo por causa-e-efeito.

A percepção de 10-D não é algo que você fica verdadeiramente ciente apenas. Você fica também, de alguma forma, re-codificado com a memória dela. Muito tempo após a experiência com a Ayahuasca ter terminado, você se lembra do caminho de volta à extraordinária quietude desse lugar que você já habita. Você o habita como o seu Eu Superior.

Eu mencionei a questão: “Quem Sou Eu?” Os seres humanos gastam seu seus melhores esforços para viver suas vidas, para superar inseguranças, para mascarar sua dor e para ganhar status e aceitação. Infelizmente o verdadeiro Eu de um indivíduo permanece quase que universalmente oculto. Nós definimos quem somos pelo status que temos, pelo quê fazemos e por quem estamos casados.

A integração do eu (humano) com o Eu Superior (divino) é uma conseqüência natural de uma percepção expandida. A partir desta integração emerge o verdadeiro Eu. O “cérebro visionado”, agora totalmente funcional, elimina as questões baseadas no medo, que o ego constrói – as questões que são a praga da condição humana. A máscara do nosso falso-eu se torna irrelevante. Não é mais necessário impressionar os outros ou se envergonhar de quem somos. Nós nos tornamos resolvidos na nossa humanidade e na nossa divindade. E isto não é uma coisa para se pensar. É uma coisa para se saber. E esse saber é uma experiência atemporal para os nossos corações.

O centro do coração se expande. Nós nos movemos em direção a uma nova experiência humana que é quase como os súbitos sentimentos do coração. Compaixão, intuição, percepção extra-sensorial, entrega, verdade, são todos resultados de trazer o coração intuitivo feminino como equilíbrio para o cérebro analítico masculino.

Pesquisa recente sobre o próprio coração revela que ele contém um expressivo sistema neurológico que de fato age como um segundo cérebro. Esse “cérebro-coração” funciona coerentemente com o cérebro, à medida que o envia quantidades massivas de informação. O coração comunica com o cérebro através do sistema límbico contido no último. E a glândula Pineal (responsável pela produção da DMT) é adjacente ao sistema límbico.
A realidade consensual é uma experiência masculina, lógica e cognitiva. Nós reagimos a eventos baseados nos dados armazenados na nossa memória, os quais usamos para tomar decisões. O cérebro sozinho não pode lidar com a multi-dimensão atemporal.

A realidade multi-dimensional é uma experiência feminina e intuitiva, que não está restrita pela relação causa-efeito ou pela lógica. A reativação do cérebro atrofiado, a re-configuração de nossas mentes, mais uma vez, traz equilíbrio.

Muitas pessoas acreditam (esperam) que a humanidade está às portas de um extraordinário salto. Esse salto, essa mudança, é realmente sobre o retorno da Energia de Deus à Terra. A cura está vindo para a humanidade a partir da natureza, a partir da Mãe-Terra, de Gaia. Tudo isso é sobre o retorno do feminino.

O Espírito da Terra, ou Gaia, está literalmente trabalhando com os seres humanos para a conclusão desta era e o advento de uma nova. A Natureza está trabalhando para curar a si mesma.

Terrance McKenna disse: “Uma coisa é quando você se torna interessado nas plantas (Ayahuasca) e outra coisa é quando as plantas se tornam interessadas em você.” De alguma forma, o mistério dessa mudança de era está contido no fato de que as plantas são sensitivas. Elas possuem uma consciência coletiva.

Algumas plantas nos nutrem. Algumas são usadas para curar nossos corpos físicos. E outras plantas são remédios (medicina) para a alma. Elas nos ensinam o caminho de volta para o divino em nós. Elas infundem nossa consciência com a consciência da natureza.

No seu livro “Universo Holográfico”, Michael Talbot escreve: “Nós estamos de fato numa jornada xamânica, meras crianças se esforçando para se tornar técnicas do sagrado. Nos estamos aprendendo como lidar com a plasticidade que é parte e parcela de um universo no qual a mente e a realidade são um continuum e esta jornada é uma lição que está acima de todas as outras. Enquanto a sufocante e disforme liberdade do Além continuar nos assustando, continuaremos a sonhar um holograma para nós mesmos – um sonho que é confortavelmente sólido e bem definido.”

O problema real com a humanidade é que nos esquecemos. Através das eras, nós concordamos em viver em uma prisão. Nós nos esquecemos quem somos, e nós nos esquecemos da eterna paisagem que habitamos.
A Ayahuasca está aqui para mudar tudo isso.

© Ralph Miller 2003

Tradução: Sérgio Garcia Paim

Entrevista com Patrick Druot na Isto É.

Patrick Druot, 53 anos, pós-graduado na Universidade de Columbia, consegue enxergar a virada do milênio com um otimismo contagiante, apesar do quadro de guerras, desemprego e desigualdade social. Ele arrisca dizer que nos espera um tempo de mais tolerância, compreensão e amor. Esse otimismo é resultado de 20 anos de experiências com expansão da consciência e contatos com culturas antigas. Nesse período, conviveu com tribos indígenas e aborígenes na América do Norte e na Oceania, onde estudou o trabalho dos xamãs, líderes espirituais conectados com a natureza. Segundo Druot, em breve ocorrerá uma mudança porque as pessoas buscam cada vez mais respostas espirituais para dar sentido à existência. "Acho que o Brasil terá um papel importante neste despertar", ele anuncia. Até os 35 anos, ele mesmo acharia graça no que acredita hoje. De família católica, deixou de ir à missa aos 15 anos para tornar-se um cético convicto. Foi depois de se pós-graduar em Física que começou a ter contato com o fenômeno da expansão da consciência e especializou-se em Terapia de Vidas Passadas (TVP), que pesquisa e pratica no Instituto de Pesquisas Físicas e da Consciência, em Paris. "Essas experiências me reconectaram a Deus." Quanto a frequentar uma igreja, ele diz: "Sim. Uma floresta, uma praia, o mundo todo é uma catedral." Em sua sétima visita ao Brasil, para dar workshops sobre vidas passadas e lançar seu quinto livro, O físico, o xamã e o místico (Editora Nova Era), ele deu esta entrevista.

ISTOÉ – O que é um xamã?

Patrick Druot – É uma pessoa investida de dons de profecia, dons de cura, de percepção a distância. Os xamãs dizem que os primeiros professores nos tempos antigos eram as plantas e os animais. Eles foram os primeiros líderes religiosos, os artistas, os médicos. Sua herança enorme influenciou, milênios mais tarde, as primeiras religiões organizadas. Cristianismo, budismo, taoísmo, tudo isso tem origem xamânica.

ISTOÉ – O que levou um físico como o sr. se interessar pelo tema?

Druot – Há 20 anos, comecei a me interessar pelo que se costuma chamar de estados alterados de consciência. Conhecia-se a atividade da superfície do cérebro, mas nunca explicaram como ele funcionava e o que o fazia funcionar. Durante muitos anos, me interessei pelo fenômeno da vida antes do nascimento e tentei entender onde essa memória estava gravada. A ciência não respondia a essas indagações, então comecei a estudar diversas tradições orientais: as escolas de ioga, o budismo e, como morei dez anos nos Estados Unidos, trabalhei e vivi com índios americanos. Conheci suas cerimônias e seus rituais de cura e me interessei pela origem desses estados de consciência. E aí foi preciso voltar mais de 20 mil anos, ao tempo dos primeiros xamãs. Foram eles, no período paleolítico superior, os primeiros a passarem para o outro lado e a explicar como era estruturado o mundo xamânico.

ISTOÉ – O xamanismo faz parte da história de todos os povos?

Druot – Sim. O termo xamã foi adotado pelos antropólogos para definir todos os representantes religiosos e seres particulares de todas as raças. O termo tem origem siberiana. Saman, quer dizer aquele que sabe, aquele que é. Na tradição xamânica mundial, os xamãs são aqueles que vêem o mundo como um composto de três mundos. Um físico, povoado pelos espíritos da natureza, um mundo subterrâneo e um terceiro, sublimado. Em todos os grupos, seja na Sibéria ou na Nova Zelândia, as tradições sempre batem: são três mundos ligados por um eixo central. A imagem varia. Pode ser uma corda, uma escada, uma montanha. O dom do xamã é viajar pelo intermundo, ao longo dessa corda que atravessa os três mundos.

ISTOÉ – Em seu livro, o sr. afirma que a ciência moderna ainda não distingue psicose de despertar xamânico. Por quê?

Druot – Há um psiquiatra inglês que diz que o sábio e o psicótico estão no mesmo oceano. Mas enquanto o sábio nada, o psicótico se afoga. Eles têm percepções idênticas, mas o psicótico não sabe ordenar o saber. Até o fim dos anos 50, a ciência pensava que o xamã era um esquizofrênico. Foi preciso que o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss afirmasse que eles sabiam exatamente o que os xamãs faziam e que havia uma lógica em seus rituais. Não eram selvagens porque moravam na floresta, era o mundo deles.

ISTOÉ – O que é a física xamânica?

Druot – Eu queria saber como o xamã viajava pelos três mundos, onde estão esses mundos. Em física, sabemos que o universo é feito de vibrações. Supus que o xamã era capaz não apenas de se projetar num mundo de vibração, mas de mudar essa vibração. Na física quântica, diz-se que tudo está ligado ao chamado tecido subjacente do universo. No mundo do xamanismo dizem que estamos todos ligados. Os celtas e os druidas viam o mundo como uma teia de aranha tridimensional. Se puxarmos um pedacinho aqui, toda a teia vibra. Em física quântica diz-se que o universo está ligado por cordas supersensíveis. Para mim, havia uma ligação entre o xamanismo e a física quântica porque ambos trabalham com vibrações, oscilações, sons. E os xamãs sabem disso. Foram os primeiros físicos da história.

ISTOÉ – Por que as tradições xamânicas são apenas orais?

Druot – Nossa cultura ocidental privilegia o lado esquerdo do cérebro, lógico, racional, ligado ao tempo linear. E também é ligado à palavra escrita. Esse tipo de tradição xamânica funciona principalmente no lado direito do cérebro, ligado à tradição oral. No Taiti, encontramos os sacerdotes maoris que conservam a tradição do povo. Eles são capazes de contar a história de 20 gerações de sua família. Levam-se de 30 ou 40 anos para aprender a tradição oral, mas nada é deformado. É o mesmo motivo pelo qual a maioria dos povos tradicionais não acredita em reencarnação. Eles não têm a mesma concepção de tempo, que não é linear para eles.
Esses povos vivem o agora.

ISTOÉ – E o que o sr. acha?

Druot – Buda tem uma boa resposta. Ele disse que não se pode dizer que existe, mas também não se pode dizer que não existe. Conheço um número enorme de pessoas que tiveram experiências de vida anterior. Não podemos provar cientificamente, mas há muitas evidências. E o potencial terapêutico da regressão é impressionante. Muita gente passa por diversos médicos sem conseguir se curar e, com duas ou três sessões de regressão, descobrem-se os motivos da doença e ela passa. Funciona em cerca de 80% dos casos.

ISTOÉ – Ainda há muitos xamãs hoje?

Druot – Com o expansionismo branco, a partir do século XVI, essas culturas tradicionais foram proibidas e seus territórios foram tomados. Nos Estados Unidos, o xamanismo desapareceu quase totalmente. Nos anos 60, no entanto, os índios americanos começaram a resgatar antigos ensinamentos. Só em 1978 o presidente Jimmy Carter assinou o American Indian Religious Freedom Act (lei da liberdade religiosa indígena). Atualmente, muitos americanos com problemas psicológicos vão se tratar com os índios. Esses xamãs são inacessíveis, não falam facilmente. Encontrei um xamã maori na Polinésia que disse: "Vocês tiraram nossa língua e nossa cultura e nossos filhos não falam mais taitiano. Não vamos ensinar nossas tradições." É um trabalho muito lento. Levamos muitos anos. Só se você começa a pensar com o lado direito do cérebro, consegue se comunicar com eles.

ISTOÉ – É possível desenvolver o lado direito do cérebro?

Druot – Sim. Mas leva algum tempo. Porque o mundo ocidental faz parte de uma cultura do lado esquerdo, enquanto os povos tradicionais têm uma cultura do lado direito. O ideal não é usar apenas um dos lados, mas conseguir sincronizar os dois. Viver no mundo material, mas com uma percepção diferente. Dessa maneira, o mundo torna-se um teatro mágico. Quando o lado esquerdo pára de bloquear, pode-se ir ao mundo dos sonhos. O escritor mexicano Carlos Castañeda já contava em seus livros como aprendeu com um xamã mexicano a ir ao mundo dos sonhos e disse que é tão real quanto este aqui.

ISTOÉ – Como foi a sua experiência com o Santo Daime?

Druot – Não era o Santo Daime que me interessava, mas a ayahuasca (planta que produz um chá alucinógeno utilizado pela seita amazônica). Mas eu não tinha contatos diretos. Não se pode ir à floresta buscar a planta sozinho. Em 1994, meu antigo editor brasileiro fez um contato com Alex Polari, um dos líderes da seita em Céu do Mapiá. Tenho respeito pelos rituais, pela igreja, mas não participei. Disse desde o início que me interessava pela planta que, no princípio, era uma planta xamânica. Em abril de 1995, eu e minha mulher, Liliane, passamos duas semanas na floresta e fizemos muitas experiências sob o efeito da ayahuasca. O cérebro funciona de forma totalmente diferente. Tudo se abre. Você pode ver espíritos, as auras. Fizemos até contato telepático. Por três ou quatro minutos, soubemos exatamente o que o outro pensava. Sentia e via a Terra respirar, num movimento claro. Tudo se organizava em fractais.

ISTOÉ – De que serviu a experiência?

Druot – A ayahuasca é usada para propósitos religiosos, alguns usam para curar, tirar pessoas da dependência de drogas, álcool. Mas em minha opinião, é muito mais do que isso. Acho que ainda não se sabe usá-la para conhecer o outro e a si. Com ela, se poderia descobrir muito sobre as causas de doenças físicas e emocionais. Essa experiência provou o que estudei por 15 anos: só utilizamos uma parte mínima do cérebro. Não tomamos mais a planta, mas ainda temos algumas vibrações e percepções que vêm dela. Não vemos mais uma floresta como antes. Nosso contato com a terra foi modificado. Há uma percepção mais aguçada. Traz sentimentos de tolerância, de respeito e de amor.

ISTOÉ – É possível passar por este tipo de experiência sem a ayahuasca?

Druot – Talvez. Eu já tinha percepções desde 1985, estimulando uma visão vibracional. Há um campo magnético ou vibracional que circunda todas as coisas vivas, até nós mesmos. E tudo o que acontece com você está escrito neste campo. É uma técnica. Tem de ser feito com sons, sobretudo com tambores, que são os batimentos cardíacos do criador. Quando se está em sincronia com uma batida de tambores, é possível fazer a viagem. Passei por essas experiências com os índios do Canadá, nas ilhas do Pacífico, nos EUA. O uso de plantas é específico da América do Sul e Central, onde se usa o peiote.

ISTOÉ – A experiência é similar?

Druot – A ayahuasca é mais imediata ao abrir as portas psíquicas, as portas da percepção. É como se o cérebro se abrisse. Tecnicamente falando: normalmente, vemos o mundo através de nossos olhos. Mas não vemos como o cérebro vê. O olho é um instrumento de análise de frequência, como o ouvido. Isso só foi descoberto nos anos 60. Isso significa que vemos e escutamos através dos olhos, mas não é como o cérebro vê e escuta. Com a ayahuasca, você vê e escuta como o cérebro. É uma percepção holográfica do mundo. Porque o cérebro é um holograma. Ele se abre para você. Mas acho que não se pode tomá-la de qualquer jeito, é preciso uma boa orientação, alguém que te ajude a passar pelos vários estágios da ayahuasca. E também é preciso estar junto à natureza. Não acho cabível tomá-la num lugar fechado, por exemplo. O que acontece é que a planta abre todos os canais, as pessoas vêem cores, caleidoscópios e ficam felizes. Mas é muito mais do que isso.

ISTOÉ – Como o sr. se preparou para a experiência?

Druot – Antes de tomar a ayahuasca, estudei o trabalho de um etnofarmacobiologista da Finlândia, desenvolvido durante seis anos. Eu sabia que não havia efeitos colaterais nem risco de dependência.

ISTOÉ – O sr. sentiu medo?

Druot – Sim, porque nunca tinha tomado nada parecido na vida, nenhuma outra substância alucinógena. Não sabia exatamente o que esperar. Quando comecei a sentir os efeitos, me senti mais confortável, entendi o que a planta me ensinava.

ISTOÉ – O sr. acha que há hoje uma maior abertura do mundo ocidental para estes ensinamentos?

Druot – Sim. Em 15 anos, vendi um milhão dos meus cinco livros, e recebi cerca de 60 mil cartas. Acho que estes números podem ser tomados como uma prova de um interesse crescente. As pessoas querem saber quem são, qual o seu lugar no mundo. Não somos robôs, somos seres humanos. Entre muitos povos índios, o próprio nome do povo significa seres humanos, como os cheyenes americanos. No Havaí, os locais chamam os brancos de haoles, que significa os que são mortos por dentro. Eles dizem que não estamos vivos, porque não estamos conectados com os espíritos e a natureza.

ISTOÉ – A que o sr. atribui esse interesse?

Druot – No século XVII, houve dois gênios que criaram os fundamentos da ciência moderna: René Descartes e Isaac Newton. Eles começaram a explicar muitos fenômenos que não se explicavam antes, mas o problema de suas visões foi ver o ser humano como uma máquina, um relógio. Desprezaram a consciência e o espírito. A ciência se pulverizou. Olha-se apenas o corpo, não o espírito. Acho que o terceiro milênio trará a reunião de tudo. Os xamãs dizem que as doenças entram quando a pessoa está separada dela mesma e do mundo. Os índios navajos americanos têm um sistema médico que reconecta a pessoa a ela mesma e ao universo. Agora, há na Universidade de Medicina de Phoenix, no Arizona, um departamento intercultural com xamãs navajos e médicos americanos, que tentam entender como eles curam pessoas desenganadas de câncer, por exemplo.

Fonte: Revista ISTOÉ, Nº 1571 - 10 de novembro de 1999

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SEUS PRINCÍPIOS ATIVOS


CONTEXTO
São abundantes na flora global espécies que possuem propriedades psicoativas. Uma pesquisa recente listou 250 plantas que produzem naturalmente substâncias controladas (Ott, 1993) e o número total de espécies de plantas psicoativas é, sem dúvida, muito maior. Uma entre a multidão de plantas psicoativas menos conhecidas é a Salvia divinorum, uma planta nativa da Serra Mazateca do México, e introduzida pela primeira vez nos Estados Unidos da América em 1962 (Hofmann, 1990, e Wasson, 1962). A Salvia divinorum faz parte da família Labiatae, a mesma da Menta, uma das maiores famílias de angiospermas, que inclui muitas ervas ornamentais, culinárias e medicinais de uso comum ao redor do mundo. Parentes próximos incluem o manjericão, a menta (Mentha), a sálvia comum (Salvia officianalis), o alecrim e o tomilho. Essa família também é uma rica fonte de óleos essenciais, incluindo isomentona, isopinocamfona, carvona, mentol e acetato de metílico. Muitas espécies relacionadas, como a hortelã-pimenta e a yerba buena, têm sido valorizada no decorrer da história pelos Assírios, Babilônios, Chineses, Àrabes, Gregos e Romanos, por suas propriedades medicinais. Essas espécies ainda são utilizadas nesse contexto pelas culturas indígenas ao redor do globo, incluindo os Mexicanos nativos (os mais exemplares são os Mazatecas, os Cuicatecas e os Chinatecas).

Como seu nome reflete, a Salvia divinorum (tradução: "Sálvia dos Divinos" ou "Sálvia dos Profetas (visionários)") é tradicionalmente usada pelos índios mazatecas em cerimônias de mágicas oraculares de cura (Epling & Játiva, 1962). Para os mazatecas, a S. divinorum oferece numerosas aplicações terapêuticas. Infusões da planta são ministradas no contexto de uma cerimônia e são usadas para uma variedade de queixas, como diarréia, dor de cabeça, reumatismo e anemia. Xamãs (pajés) mazatecas usam a S. divinorum como uma planta de indução à visão [espiritual]. Eles dizem que a planta "permite-lhes viajar para o céu e conversar com Deus e os santos sobre profecias, diagnósticos e cura" (Rovinsky & Civadlo, 1998).

DESCRIÇÃO, COMPOSIÇÃO & EFEITOS

A Salvia divinorum também é conhecida, na língua Mazateca, como Ska Pastora ou Ska Maria Pastora, significando "Folha da Pastora" ou "Folha de Maria, a Pastora". Em Náhuatel (antiga língua dos Astecas) é chamada de Pipiltzintzintli e, em espanhol, La Hembra ou Hojas de la Pastora.

Em português e inglês, normalmente é chamada de Menta Mágica ou, mais adequadamente, por sua tradução direta do Latim, "Sálvia dos Divinos" ou "Sálvia dos Profetas (visionários)".

A planta é uma erva perene com caules floridos, que crescem dois ou até três metros de altura. Nunca se observou que a planta produza sementes quando crescendo na natureza, e as flores podem ser vistas de Maio a Setembro, brancas com cálices azul claro.

Apesar de sua disponibilidade para a ciência no decorrer das últimas décadas, as investigações e o uso de S. divinorum ou sua substância psicoativa primária, a salvinorina A (um agente diterpenóide desprovido de nitrogênio) continuam bem limitados. Análise do banco de dados do PubMed da Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA resultaram em apenas cinco citações (Giroud 2000, Valdés 1994, Siebert 1994, Valdés 1986, e Valdés 1983).

Há muitas razões do motivo de tão pouca informação existente sobre ambas, S. divinorum e salvinorina A, na literatura médica. Primeiramente, até Agosto de 2002 os neuroreceptores específicos com afinidade pela salvinorina A eram desconhecidos. Em Agosto de 2002, no entanto, um time de pesquisadores publicou suas primeiras descobertas sobre salvinorina A ligar com receptores kappa opióides (Roth, 2002). Segundo, o cultivo de S. divinorum é relativamente trabalhoso e o comércio da planta é atualmente limitado. Terceiro, a planta e sua substância parecem ter pouca toxicidade inata. Estudos com animais estimularam a diminuição de movimentos sem sedação (Valdés, 1994). A administração de altas doses de Salvinorina A em ratos não produziu nenhuma seqüela subseqüente no comportamento que pudesse ser observada (Valdés, 1987). Mais importante, a S. divinorum é uniformemente reconhecida como um agente difícil de ser empregado, com uma "curva de aprendizado" íngreme. É virtualmente ineficaz oralmente porque salvinorina A é insolúvel em água. O amargor intenso das folhas é um obstáculo para muitos, enquanto fumar as folhas exige inalação rápida de grande quantidade de fumaça. Os efeitos psicoativos da planta são inconsistentes e evanescentes. Até a substância química isolada é associada a um efeito muito passageiro em humanos. Poucos consideram os efeitos psicoativos prazerosos e a maioria das pessoas opta por não repetir a experiência após uma única exposição a ela. Muitos descrevem a aparição de formas geométricas na visão, enquanto em doses mais altas um breve efeito dissociativo, "experiências fora-do-corpo" ou verdadeiras alucinações podem ocorrer.

DISPONIBILIDADE & ABUSO POTENCIAL

A Salvia divinorum é endêmica apenas na zona Mazateca da Serra Madre Oriental, no estado mexicano de Oaxaca. É propagada através de mudas e, pelo fato de os únicos espécimes observados em seu habitat natural foram plantadas pelos mazatecas, a maioria das pessoas assume que seja uma variedade cultivada. O cultivo pelos não mazatecas em latitudes mais ao norte foi realizada, mas é difícil, demandando alto grau de habilidades técnicas. A planta pede solo rico e umidade abundante, tolerando o sol apenas se a umidade do solo continuar sendo alta e a umidade do ar seja sustentada. Numerosos sítios da Internet oferecem descrição da S. divinorum e seus poderes de alterar a mente. Alguns dos sítios acentuam os efeitos desagradáveis e anti-sociais decorrentes do uso da planta, enquanto outros descrevem a "dimensão espiritual" do seu uso tradicional. Alguns sítios da Internet são usados para publicar informação sobre seu cultivo e uso e uns poucos herbalistas conduzem negócios online, vendendo mudas e folhas. É interessante notar, muitos relatos da Internet sobre experiências pessoais incluem advertências severas sobre os efeitos psicoativos potencialmente perturbadores da planta. Casos de seqüelas médicas sérias ou estatísticas sobre emergências relacionadas ao uso da planta ou sua substância química são virtualmente inexistentes. Nenhuma citação foi encontrada em uma busca no sítio do Morbidity and Mortality Weekly Report ou Relatório Semanal de Mortalidade e Morbidade dos EUA. O Toxic Exposure Surveillance System (TESS) ou Sistema de Observação a Exposição Tóxica mantido pela American Association of Poison Control Centers (Associação Americana de Centros de Controle de Venenos) não têm nenhuma ocorrência especifica de envenenamento pela ingestão de S. divinorum (Litovitz, 2000).

Nenhum caso de dependência em S. divinorum ou salvinorina A é reportado na literatura. Desconsiderando relatórios raros de ansiedade penetrante associada a más experiências com o seu uso, nenhum caso de deterioração psicótica ou outra complicação médica é conhecido. Qualquer perigo relacionado ao uso da planta ou sua substância química aparece em reações de ansiedade ou a possibilidade de acidentes secundários ao usuário, por estar perambulando ou fazendo outras atividades enquanto sua vista está afetada. Reações de ansiedade são geralmente autolimitadas devido à breve duração dos efeitos, respondendo por segura recuperação da sanidade.

Ademais, barulhos estranhos ou até mesmo abrir os olhos pode terminar totalmente os efeitos psicoativos. Diferentemente dos agentes dissociativos de outras plantas sujeitas ao uso recreativo ocasional, como a Datura spp. ou a Brugmansia spp., a Salvia divinorum e seu ingrediente ativo, a salvinorina A, são de curta duração, não havendo indícios de intoxicação de tecidos ou seqüelas cardiovasculares ou gastrintestinais.

USO MÉDICO POTENCIAL E COMPROVADO

Por séculos, os índios mazatecas têm usado a planta Salvia divinorum em cerimônias de cura, obtendo alívio para anemia, dor de cabeça e reumatismo (Valdés, 1983).
Até muito recentemente, os neuroreceptores usados pela Salvinorina A eram desconhecidos, apesar da bateria de testes realizados pela NovaScreen®. No entanto, no Outono de 2002 um time de pesquisadores publicou seus resultados sobre a Salvinorina A ser um potente agonista do receptor kappa opióide (Roth, 2002). Os pesquisadores perceberam que a afinidade da Salvinorina A com os receptores kappa opióides foi surpreendente e que isso prometia em relação ao desenvolvimento de remédios psiquiátricos inteiramente novos:

A Salvinorina A, desta forma, representa, para o nosso conhecimento, a primeira ocorrência natural de um agonista seletivo de subtipo de um receptor opióide não-nitrogenado. Pelo fato de a Salvinorina A ser um psicotomimético seletivo de receptores kappa opióides, os agonistas seletivos de kappa opióide podem representar novos compostos psicoterapêuticos para doenças manifestadas por distorção perceptual ( e.g., esquizofrenia, demência e transtorno bipolar) (Roth, 2002).

Um artigo do Jornal of Clinical Psychopharmacology (Jornal de Psicofarmacologia Clínica) relatou o caso da "Srta. G", uma mulher de 26 anos com uma história de depressão não abrandada, que eventualmente encontrou alivio com a Salvia divinorum. Tendo percebido que outros medicamentos falharam em fornecer alívio satisfatório, a Srta. G se automedicou com uma dose oral de folhas de Salvia divinorum três vezes por semana. Como resultado do seu uso de Salvia divinorum, "ela mostrou continuamente uma remissão total dos seus sintomas de depressão de acordo com a contagem de HAM-D na escala de 0-2 e tem mantido essa melhoria nos últimos seis meses, não mostrando sinais de recaída e relatando apenas efeitos colaterais mínimos, como ocasionais tonturas por até uma hora depois de usar a erva" (Hanes, 2001). O autor do Relatório de Caso conclui:
...não é inimaginável que a pesquisa usando os ingredientes ativos desta erva possa apontar um mecanismo único de ação antidepressiva para esses compostos. Isso, por sua vez, poderia levar a métodos para o gerenciamento da depressão ou de subtipos resistentes a tratamento dessa condição... Podemos estar lidando com um agente singular que tem pesquisas significativas e potencial terapêutico em campos como da psicofarmacologia, psiquiatria e disciplinas complementares, como medicina herbal". (Hanes, 2001).

QUESTÕES DE ENQUADRAMENTO LEGAL

A Salvia divinorum não está relacionada no Ato federal de Substancias Controladas, nem é controlada por nenhuma lei estadual. Seu principio ativo, a salvinorina A, é igualmente não relacionada em leis federais e estaduais.

A estrutura química da Salvinorina A parece ser única entre outras moléculas psicoativas e entre substâncias controladas existentes (Valdés, 1994). Por não ser "essencialmente similar" em estrutura química a substâncias controladas existentes, a salvinorina A não entra no Ato Análogo de Substancias Controladas (21 USC802(32)(A)).

Com o intuito de colocar a S. divinorum ou a salvinorina A na Listagem I do Ato de Substâncias Controladas, três critérios devem ser atendidos. A planta precisaria mostrar ter: (1) alto potencial para abusos; (2) nenhum uso médico aceito para tratamentos aceito nos Estados Unidos da América; e (3) falta de segurança aceita para uso sob supervisão médica (21 U.S.C. Séc. 812(b)).

A colocação da planta ou sua substância química na Listagem (Schedulo) I não pode ser justificada cientificamente. A planta e sua química têm abuso potencial mínimo e nenhum potencial para vicio. Estudos recentes publicados em periódicos científicos revisados por turmas têm enfatizado que pesquisas mais profundas com a Salvinorina A e/ou S. divinorum podem levar ao desenvolvimento de "novos compostos psicoterapêuticos" (Roth, 2002) com "pesquisa significativa e potencial terapêutico em campos como os da psicofarmacologia, psiquiatria e disciplinas adicionais como herbalismo". (Hanes, 2001). Essas descobertas são corroboradas por dados etnobotânicos.

Dados disponíveis sustentam a segurança para uso da S. divinorum ou salvinorina A sob supervisão médica. Colocar a Salvinorina A ou sua planta-mãe no Schedule I inibiria seriamente pesquisas científicas que têm potencial para o entendimento de novos sistemas de neurotransmissores, cuja importância é grande para o avanço da pesquisa neurofarmacológica e o tratamento de doenças.

Nota do Revisor da Tradução: No Brasil, tanto a Salvia divinorum quanto a Salvinorina A estão fora da lista de substâncias e plantas proibidas da ANVISA (v. Portaria 344), sendo assim livre seu consumo, manipulação e comércio.

SUMÁRIO & RECOMENDAÇÕES

A Salvia divinorum é uma planta psicoativa poderosa, que até recentemente permanecia desconhecida para todos, a não ser para um grupo de etnobotanistas especializados. O gosto amargo da planta, os efeitos mentais de curto tempo, ocasionais e imprevisíveis, combinados com parâmetros de cultivo exigentes, fazem-na uma candidata improvável para uso em massa.
Assim, enquanto as coberturas jornalísticas periodicamente produzem um pouco de interesse na planta como "alucinógeno legal", não se espera que o uso da planta jamais atinja o mesmo nível de prestígio do de outras drogas ilegais.

Nem a S. divinorum nem a salvinorina A têm um "alto potencial para abusos", e estudos científicos recentes, sustentados por dados etnobotânicos, sugerem fortemente possíveis aplicações terapêuticas que garantam pesquisas mais profundas.

De conformidade, nem a planta nem seus princípios ativos são candidatos apropriados para que sejam colocados no Schedule I. A educação focada no aumento da consciência crescente sobre os imprevisíveis e ocasionais efeitos psicoativos desagradáveis da planta, ao invés de focada na proibição criminal, é a chave para reduzir danos sociais e individuais com respeito à Salvia divinorum e seus princípios ativos.


BIBLIOGRAFIA
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Mexico. BotanicalMuseumLeafletsHarvardUniversity 20(3):
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Giroud,C., et al. 2000. Salvia divinorum: an hallucinogenicmint
whichmight become a newrecreational drug in Switzerland.
Forensic Sci Int 112(2-3):143—50.

Hanes,K.R. 2001.Antidepressant Effects of theHerb Salvia divinorum:
ACase Report. Journal ofClinical Psychopharmacology
21:634—635.

Hofmann,A. 1990.Ride Through the Sierra Mazateca in search of
themagic plant 'SkaMaría Pastora'. In The SacredMushroom
Seeker: Essays for R.GordonWasson, edited byThomas
Riedlinger. Vermont: Park Street Press 115—127.

Jones, R.L. 2001.NewCautionsOver a PlantWith aBuzz. NewYork
Times, 9 July, late edition.

Litovitz, L. et al. 2000. 1999AnnualReport of theAmerican
Association of PoisonControlCenters Toxic Exposure
Surveillance System. American Journal ofEmergencyMedicine
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Ott, J. 1993. Pharmacotheon: Entheogenic drugs, their plant sources
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RothB.L.,BanerK.,Westkaemper R., SiebertD., RiceK.C.,
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Rovinsky, S.A., Cizadlo, G.R. 1998. Salvia divinorum Epling et
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TheMcNair Scholarly Review Volume 3:142—156.

Siebert, D. J. 1994. Salvia divinorumand salvinorin A:New
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Valdés III, L.J. et al. 1987. Studies of Salvia divinorum(Lamiaceae),
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CentralMexico. Economic Botany 41(2):283—291.

Valdés III, L.J. 1986. Loliolide fromSalvia divinorum.JNatProd49
(1):171.

Valdés III, L.J. et al. 1983. Ethnopharmacology of SkaMaría Pastora
(Salvia divinorum, Epling and Játiva-M.). J Ethnopharmacol 7
(3):287—312.

Wasson, R.G. 1962.AnewMexican psychotropic drug fromthe
mint family, BotanicalMuseum LeafletsHarvardUniversity 20
(3):77—84.


FONTES PARA
MAIS INFORMAÇÃO

Toxic Exposure Surveillance System(TESS)
American Association of PoisonControl Centers
Telefone: (202) 362-7217
E-mail: aapcc@poison.org
PubMed (National Library ofMedicine)
Telefone: http://www4.ncbi.nlm.nih.gov/PubMed/

Medical Use& Abuse Potential
Ethan Russo,M.D. (médico)
Especialista Neurocomportamental de Montana
Telefone: (406) 327-3372
E-mail: erusso@blackfoot.net

Law &Public Policy
RichardGlen Boire, J.D. (doutor em Direito)
Centro para a Liberdade Cognitiva & Ética
Telefone: (530) 750-7912
E-mail: rgb@cognitiveliberty.org

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Comunicação programada durante experiências com DMT
Psychedelic Review No. 8, 1966


por Timothy Leary



Durante os primeiros dois anos do Harvard Psychedelic Research Project (Projeto de Pesquisa Psicodélica de Harvard) circularam rumores sobre um "poderoso" agente psicodélico chamado dimetiltriptamina: ou DMT. O efeito dessa substância deveria durar menos que uma hora e produzir efeitos estilhaçantes e aterrorizadores. Dizia-se que era a bomba atômica da família psicodélica.



O farmacologista húngaro Stephen Szara foi quem primeiro reportou, em 1957, que as substâncias N,N-Dimetiltriptamina (DMT) e N,N-Dietiltriptamina (DET) produziam efeitos no homem similares ao LSD e mescalina. A única diferença era na duração: enquanto LSD e mescalina tipicamente duravam de 8 a 10 horas, o DMT durava de 40 minutos a uma hora, e o DET de duas a três horas. Também foi relatado que os homólogos dipropiltriptamina e dibutiltriptamina eram ativos, mas menos potentes. A substância-mãe, triptamina, por si só não tem efeito. Quimicamente, o DMT está intimamente relacionado com a psilocibina e a psilocina (4-hidroxi-N-dimetiltriptamina), assim como à bufotenina (5-hidroxi-N-dimetiltriptamina). O mecanismo de ação do DMT e componentes relacionados ainda é um mistério científico. Como LSD e psilocibina, o DMT tem a propriedade de aumentar o modificação metabólica da serotonina no corpo. Uma enzima capaz de converter triptamina natural do corpo em DMT foi recentemente descoberta em alguns tecidos de mamíferos. Isso sugere que pode haver mecanismos para o corpo converter substâncias internas naturais em componentes psicodélicos. (1,2,3,4,5).



O DMT foi identificado como um dos componentes da semente Mimosa hostilis, de onde os índios Pancaru do Pernambuco, Brasil, preparam uma bebida alucinógena que eles chamam de Vinho da Jurema. Também é, junto com a bufotenina, um dos componentes das sementes da Piptadenia peregrina, de onde os índios do Orinoco Basin e Trinidad preparam um pó alucinógeno que eles chamam de yopo (6).



William Burroughs experimentou a substância em Londres e relatou-a nos termos mais negativos. Burroughs estava trabalhando na época em uma teoria da geografia neurológica -- algumas áreas corticais seriam celestiais; outras, diabólicas. Como exploradores chegando a um novo continente, seria importante mapear as áreas amistosas e as hostis. Na cartografia farmacológica de Burroughs, o DMT lançava o viajante em um território estranho e decididamente não amigável.



Burroughs contou uma história interessante sobre um psiquiatra em Londres que experimentou DMT com um amigo. Após alguns minutos, o assustado amigo começou a pedir ajuda. O psiquiatra, ele mesmo já rodopiando em um universo de pigmentos móveis e vibratórios, alcançou sua agulha hipodérmica (que já tinha se fragmentado em um composto trêmulo de mosaicos ondulares) e se inclinou para aplicar o antídoto. Para seu desgosto, seu amigo -- se contorcendo de pânico -- foi subitamente transformado em um réptil serpenteante, encrustado de jóias e faiscante. O dilema do doutor: onde aplicar uma injeção intravenal em uma cobra marciana-oriental se debatendo?



Alan Watts tinha uma história de DMT a contar. Ele experimentou a droga como parte de uma pesquisa na Califórnia e tinha planejado provar que poderia manter controle racional e fluência verbal durante a experiência. O equivalente mais próximo disso seria tentar uma descrição momento-a-momento das reações de alguém que foi atirado de um canhão atômico de neon bizantino. O Dr. Watts deu uma descrição assombrada sobre fusão perceptiva.



No outono de 1962, durante uma série de três dias de palestras na Southern California Society of Clinical Psychologists, me encontrei em uma discussão com um psiquiatra que estava coletando dados sobre o DMT. Ele havia ministrado a droga para mais de 100 cobaias e apenas 4 tiveram experiências prazeirosas. Isso era um desafio para a hipótese de "ambiente-condição" (set-setting). Conforme nossas evidências -- e alinhado com nossa teoria -- encontramos poucas diferenças entre drogas psicodélicas. Estávamos ceticamente convencidos que as elaboradas variações clínicas alegadamente encontradas em reações a diferentes drogas eram puro folclore psicodélico. Estávamos firmes em nossa hipótese de que drogas não têm efeitos específicos na consciência, com exceção daqueles da expectativa, preparação, clima emocional e relações com o "fornecedor" da droga -- fatores responsáveis por todos os diferentes tipos de reação.



Estávamos ansiosos para ver se a lendária "droga do terror", o DMT, se enquadraria na teoria do "ambiente-condição".



Uma sessão foi arranjada. Fui para a casa do pesquisador, acompanhado de um psicólogo, um monge Vedanta e duas amigas. Após uma longa e amigável discussão com o médico, o psicólogo deitou em um sofá. A cabeça de sua amiga repousava em seu peito. Me sentei na extremidade do sofá, sorrindo reconfortantemente. Uma dose intramuscular de 60 mg de DMT foi aplicada.



Em dois minutos, o rosto do psicólogo já estava brilhando de alegria serena. Pelos próximos 25 minutos ele respirou profundamente e murmurou de prazer, mantendo um relato divertido e de êxtase sobre suas visões.



"Os rostos na sala se tornaram mosaicos de bilhões de faces em tons ricos e vibrantes. As características faciais de cada um dos observadores em volta da cama eram a chave para suas heranças genéticas. Dr. X (o psiquiatra) era um índio americano bronzeado com pintura cerimonial completa no corpo; o monge hindu era um profundo e espiritual habitante do meio-oeste com olhos que, de uma só vez, refletiam perspicácia animal e a tristeza de séculos; Leary era um irlandês malandro, um capitão com pele encouraçada e rugas nos cantos de olhos, que já haviam olhado longa e duramente o inescrutável, um comandante aventureiro ansioso por mapear novas águas, explorar o próximo continente, exsudando a confiança que vem com a bem-humorada consciência cósmica de sua missão -- genética e imediata. Próximo a mim, ou melhor, sobre mim, ou melhor, dentro de mim, ou melhor, além de mim: Billy. A pele dela estava vibrando em uma harmonia com a minha. Cada estalar de músculo, o exato curso do sangue em suas veias... era um assunto de intimidade absoluta... Mensagens do corpo de uma suavidade e sutileza tanto estranhamente eróticas quanto deliciosamente familiares. Profundamente dentro, um ponto de calor em minha virilha lentamente -- mas poderosa e inevitavelmente -- irradiou por todo meu corpo até que cada célula se tornou um sol emanando seu próprio fogo originador da vida. Meu corpo era um campo de energia, um conjunto de vibrações com cada célula pulsando em fase com todas as outras. E Billy, cujas células agora dançavam a mesma dança, não era mais um entidade discreta, mas uma parte ressonante do conjunto único de vibrações. A energia era amor".



Exatamente 25 minutos após a administração, o psicólogo sorriu, suspirou, sentou jogando as pernas no lado do sofá e disse: "Durou por um milhão de anos e uma fração de segundo. Mas acabou e agora é a sua vez".



Com esse precedente assegurador, tomei posição no sofá. Margaret sentou no chão segurando minha mão. O psicólogo sentou ao pé do sofá, irradiando benevolência. A droga foi administrada.



Minha primeira experiência com DMT



"Minha experiência com DMT ocorreu na mais favorável condição. Tínhamos acabado de presenciar a experiência extática de meu colega e a radiância de sua reação forneceu uma estrutura otimista e segura. Minhas expectativas eram extremamente positivas."



"Cinco minutos após a injeção, deitado confortavelmente na cama, senti os sintomas típicos da aproximação psicodélica -- uma soltura somática prazeirosa, um afinamento sensitivo a sensações físicas."



"Olhos fechados... visões típicas de LSD, a beleza rara do maquinário retinal e físico, transcendência da atividade mental, desapego sereno. Consciência reconfortante da mão de Margaret e a presença de amigos."



"De repente, abri meus olhos e sentei... a sala era celestial, brilhando com iluminação radiante... luz, luz, luz... as pessoas presentes estavam transfiguradas... criaturas que pareciam deuses... estávamos todos unidos em um organismo. Abaixo da superfície radiante pude ver o delicado e fantástico maquinário de cada pessoa, a rede de músculos, veias e ossos -- excelentemente lindo e unido, tudo parte do mesmo processo."



"Nosso grupo estava comungando uma experiência paradisíaca -- cada um no seu turno estava recebendo a chave da eternidade -- agora era a minha vez, eu estava experimentando esse êxtase pelo grupo. Mais tarde, outros iriam embarcar. Éramos membros de uma coletividade transcendente."



"O Dr. X me auxiliou delicadamente... me deu um espelho onde vi meu rosto como um retrato em vidro manchado."



"O rosto de Margaret era como o de todas as mulheres -- esperta, bela, eterna. Seus olhos eram completamente femininos. Ela murmurou exatamente a mensagem certa: 'Pode ser sempre desse jeito'."



"A incrível unidade complexa do processo evolutivo -- incrível, infinita em sua variedade -- por quê? Para onde está indo? etc... etc. As velhas perguntas e então a gargalhada de aceitação divertida, extática. Demais! Muito! Esqueça! Não pode ser deduzida. Ame-a em gratidão e aceite! Iria me inclinar para buscar significado na face tingida e chinesa de Margaret, mas caí de volta no travesseiro em reverência. Gargalhada estupefata."



"Gradualmente, a iluminação brilhante foi recuando para o mundo tridimensional e me sentei. Renascido. Renovado. Radiante com afeição e reverência."



"Essa experiência me levou ao ponto mais alto da iluminação com um enteógeno -- um satori -pedra-preciosa. Foi menos interno e mais visual e social que minhas experiências usuais com LSD. Não houve um segundo de medo ou emoção negativa. Só alguns momentos de paranóia benigna (agente do grupo divino etc)."



"Fui deixado com a convição de que o DMT oferece muito potencial como um gatilho transcendental. A brevidade da reação tem muitas vantagens -- fornece segurança com a certeza de que acabará em meia hora e pode possibilitar a exploração precisa de áreas transcendentais específicas."



Ambiente-condição na experiência programada



Imediatamente depois de minha primeira viagem com DMT, a droga foi administrada ao monge hindu. Esse dedicado homem esteve 14 anos em meditação e renúncia. Era um sannyasin, ordenado para vestir o manto sagrado laranja. Ele havia participado de diversas sessões com drogas psicodélicas, com resultados extremamente positivos, e estava convencido de que a estrada bioquímica para o samadhi era não apenas válida mas talvez o método mais natural para pessoas vivendo em uma civilização tecnológica.



Sua reação ao DMT foi, contudo, confusa e desconfortável. Catapultado na súbita perda do ego, ele lutou para racionalizar sua experiência em termos de técnicas hindús clássicas. Se manteve olhando indefeso e perdido para o grupo. Prontamente, em 25 minutos ele se sentou, riu e disse: "Que viagem foi essa?! Realmente terminei preso em alucinações cármicas!".



A lição era clara. O DMT, como outras chaves psicodélicas, podia abrir uma infinidade de possibilidades. Mas ambiente, condição, sugestionabilidade e estrutura da personalidade estavam sempre lá como filtros, através dos quais a experiência extática podia ser distorcida.



Na volta a Cambridge, arranjos foram feitos com uma empresa farmacêutica e com nosso consultor médico para conduzirmos uma pesquisa sistemática com a nova substância. Durante os próximos meses fizemos mais de 100 sessões -- no início, exercícios de treino para pesquisadores experientes e, depois, testes com pessoas completamente inexperientes em assuntos psicodélicos.



A porcentagem de sessões de sucesso, extáticas, foi alta -- acima de 90%. A hipótese ambiente-condição claramente contou a favor do DMT, em relação a experiências positivas. Mas havia certas características definidas da experiência que eram notavelmente diferentes de psicodélicos clássicos -- LSD, psilocibina e mescalina. Primeiro de tudo, a duração. A transformação de 8 horas do LSD foi reduzida para 30 minutos. A intensidade também era maior. Isso significa que o estilhaçamento da percepção "aprendida" das formas, o colapso da estrutura adquirida, era muito mais pronunciado. "Olhos fechados" produziam uma suave, silenciosa, na velocidade da luz, dança redemoinhante de formas celulares incríveis -- acre sobre acre, milha sobre milha de formas orgânicas em giro suave. Uma volta de foguete convolutiva, acrobática e suave através da fábrica de tecidos. A variedade e irrealidade dos precisos, fantásticos e delicados mecanismos da maquinaria orgânica. Muitos que experimentam LSD reportam odisséias sem fim através da rede de túneis circulatórios. Não com DMT. No lugar disso, uma volta na nuvem sub-celular em um mundo de beleza móvel e ordenada que desafia a busca por metáforas.



"Olhos abertos" produziam um colapso similar da estrutura adquirida -- mas desta vez dos objetos externos. Rostos e coisas não mais tinham forma, mas eram vistos como um fluxo tremeluzente de vibrações (que é que elas são). A percepção de estruturas sólidas era vista como uma função de redes visuais, mosaicos, teias de energia luminosa.



A transcendência do ego-espaço-tempo foi o relato mais frequente. As pessoas frequentemente reclamavam que se tornavam tão perdidas no amoroso fluxo de existências infinitas que a experiência terminava muito rápido, e era tão suave que faltavam pontos de referência para tornar as memórias mais detalhadas. As costumeiras referências de percepção e memória estavam faltando! Não podia haver memória da sequência de visões porque não havia tempo -- e nenhuma memória de estrutura porque o espaço foi convertido em um processo fluído.



Para lidar com esse problema, instituímos sessões programadas. Seria solicitado que a pessoa respondesse a cada dois minutos, ou ela seria apresentada a um estímulo para resposta a cada dois minutos. Os pontos de referência seriam, assim, fornecidos pelo pesquisador -- a sequência temporal poderia ser quebrada em estágios e o fluxo de visões seria dividido em tópicos.



Como exemplo de uma sessão programada usando DMT, vamos considerar o relatório que se segue. O plano para essa sessão envolveu a "máquina de escrever experimental". Esse dispositivo, descrito em uma artigo anterior (7), é projetado para permitir comunicação não-verbal durante sessões psicodélicas. Há dois teclados com dez botões para cada mão. As 20 teclas são conectadadas com um polígrafo de 20 canetas que registra uma marca em um rolo de papel em movimento cada vez que uma tecla é pressionada.



A pessoa precisa aprender os códigos de classificação da experiência antes da sessão e é treinada para responder automaticamente, indicando a área de sua consciência.



Nesse estudo foi combinado que eu seria questionado a cada dois minutos, para indicar o conteúdo de minha consciência.



A sessão aconteceu em uma sala especial, de 8 por 20, completamente coberta: teto, paredes e piso, por telas indianas alegres e coloridas. A sessão seguiu o modelo de "revezamento de guia": outro pesquisador, uma psicofarmacologista, iria agir como interrogador para minha sessão. O farmacologista então repetiria a sessão, com Leary como interrogador.



Às 20h10, recebi 60 mg de DMT



Deitado no travesseiro, arrumando almofadas... relaxado e aguardando... de certa forma entretido por nossa tentativa de impor referências ao conteúdo temporal no fluxo do processo... ruído, suor, zunindo... olhos fechados... de repente, como se alguém tivesse apertado um botão, a escuridão estática da retina é iluminada... fábrica gigante de relógios preciosos de brinquedo, a fábrica de Papai Noel... não impessoal ou arquitetada, mas alegre, cômica, leve. A dança evolucionária, zunindo de energia, bilhões de formas derivadas girando, estalando através de seus turnos determinados no suave balé...



2º MINUTO. TIM: ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA? A voz de Ralph, declarativa, gentil... o quê? onde? você? olhos abertos... ali espalhados perto de mim estão dois insetos magníficos... pele polida, com metal brilhante, com jóias incrustadas... ricamente adornados, eles olham para mim docemente... queridos grilos venusianos radiantes... um tem um bloco em seu colo e está segurando uma caixa encrustada de jóias com brilhantes seções ondulantes trapezóides... olhar interrogativo... incrível... e perto dele o Sr. Grilo Diamante entra suavemente em vibrações... o Dr. Grilo Rubi-Esmeralda sorri... TIM ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA?... move a caixa na minha direção... ah sim... tente dizer a eles... onde...



Aos dois minutos, o paciente está sorrindo de olhos fechados. Ao ser questionado ele abriu os olhos, olhou para os observadores curiosamente, sorriu. Quando a pergunta sobre orientação foi repetida ele deu de ombros, moveu seu dedo procurando a máquina de escrever e (com um olhar de tolerância entretida) golpeou a tecla de "atividade cognitiva". Ele então caiu de volta com um suspiro e fechou seus olhos.



Use a mente... explique... olhe para baixo nas caixas ondulantes... lutando para focar... use a mente... sim COGNITIVA... ali...



Olhos fechados... de volta ao workshop dançante... alegria... beleza incrível... a maravilha, maravilha, maravilha... obrigado... obrigado pela chance de ver a dança... tudo se encaixa junto... tudo se adequa ao padrão úmido, pulsante... um gigantesco penhasco acinzentado-branco, se movendo, cravado de pequenas cavernas e, em cada caverna, uma tira de antena de radar, insetos-elfos alegremente trabalhando, cada caverna a mesma, a parede cinza-branca infinitamente adornada por... infinitude de formas de vida... redes de energia alegres e eróticas...



4º MINUTO. TEMPO, ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA? Rodando pela tapeçaria do espaço, vem um voz lá de baixo... voz terrestre bondosa e querida... base na Terra chamando... onde está você?... que piada... como responder... estou no tubo de ensaio borbulhante do alquimista cósmico... não, agora o pó de estrela cadente suave me explode gentilmente... rostos estilhaçados em mosaico de vidro manchado... Dr. Lagosta da Tiffany segura o cesto de seções trapezóides... olha para chave brilhante... onde está a chave venusiana do êxtase?... onde está a chave para a explosão estelar do ano 3000?... IMAGENS DE PROCESSOS EXTERNOS... sim... pegou a chave...



Aos quatro minutos, o paciente ainda estava sorrindo de olhos fechados. Ao ser contatado para reportar, abriu seus olhos e riu. Olhou para os observadores com olhos brilhantes, examinou o teclado da máquina de escrever experimental e apertou a tecla de IMAGEM DE PROCESSO EXTERNO. Então caiu de volta e fechou seus olhos.



Que bom... eles estão aqui embaixo... esperando... sem palavras aqui para descrever... eles têm palavras lá embaixo... ondas de formas coloridas girando... repicando alegremente... de onde eles vêm... Quem é o arquiteto... impiedoso... cada fábrica dançante e ondulante devorando a outra... me devorando... padrão cruel... o que fazer... terror... ah deixa vir... me devorem... me engolfem no oceano de bocas de flocos de neve... tudo bem... como tudo se encaixa... piloto-automático... está tudo pensado... tudo no piloto-automático... de repente meu corpo estala e começa a desintegrar... fluindo para o rio de energia... tchau... fui... o que eu era está agora absorvido em um flash de elétrons... dirigido através do espaço sideral em pulsos orgásmicos de movimentos de partículas... libertação... emitindo luz, luz, luz...



6º MINUTO. TIM, ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA? Voz terrestre chamando... você aí em órbita nuclear... incorporação... agarre a partícula com feixe de energia... devagar... pare na estrutura do corpo... volte... com o abrir dos olhos a dança nuclear subitamente congela em forma fixa... vendo dois blocos de elétrons tremeluzindo... a galáxia Ralph chamando... a galáxia Sr. Ralph sorrindo... a dança de energia capturada momentaneamente na forma de robô amigável... olá... perto dele uma vela brilha... o centro da teia de um milhão de fechos de luz... a sala é capturada em uma rede de energia-luz... tremeluzindo... toda visão é luz... nada a enxergar a não ser ondas de luz... fótons refletidos do sorriso enigmático de Ralph... espera a resposta... fótons quicando das teclas da vibrante máquina de escrever... como é fácil transmitir uma mensagem... o dedo aperta IMAGENS DE PROCESSOS EXTERNOS...



Aos seis minutos, o paciente terminou de fazer caretas que pareciam ser de algum medo ou problema passageiro. Ao ser contatado para reportar, espiou pela sala e sem hesitar pressionou a tecla PROCESSOS EXTERNOS. Então fechou os olhos.



Olhos fechados... mas pós-imagens da chama da vela persistem... globos oculares presos em órbita em torno de um centro de luz interno... radiância celestial no centro de luz... luz do sol... toda luz é sol... luz é vida... vida, lux, luce, vida... tudo é uma dança de luz-vida... toda vida é o fio... carregando luz... toda luz é o frágil filamento de luz... som solar silencioso... transmitido das chamas do sol... luz-vida...



8º MINUTO. TIM, ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA? No coração da explosão de hidrogênio do sol... nosso globo é um globo de luz... abrir os olhos joga cortina sobre o clarão do sol... olhos abertos trazem cegueira... trancam a radiância interna... vendo Deus em contraste-escuro segurando uma caixa de sombra... onde é a vida?... pressione a TECLA DA LUZ BRANCA. Aos oito minutos, o paciente, que estava deitado imóvel sobre as almofadas, abriu seus olhos. Sua expresão era de confusão, surpresa. Sem expressão, pressionou a tecla LUZ BRANCA.



Mantendo olhos fechados... parado... capturado... hipnotizado... toda a sala, paredes floridas, almofadas, vela, formas humanas todas vibrando... todas as ondas não tendo nenhuma forma... imobilidade terrível... apenas fluxo de energia silencioso... se você se mover, vai destroçar o padrão... todas as memórias de formas, significados, identidades... sem significado... foi... tudo é uma emanação impiedosa de ondas físicas... fenômenos são pulsos televisivos estalando através de um programa interestelar... nosso sol é um ponto em uma tela de TV astrofísica... nossa galáxia é um minúsculo agregado de pontos em um canto de uma tela de TV... cada vez que uma supernova explode é apenas aquele ponto na tela mudando... o ciclo de dez milhões de anos do universo é um flash de milissegundo de luz na tela cósmica que flui infinita e rapidamente com imagens... sentado imóvel... não desejando movimento ou impor movimento no padrão... ausência de movimento em movimento na velocidade da luz...



10º MINUTO. TIM, ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA? Torre de controle transmitindo mensagem de averiguação... inundação de amor fantástico por podermos nos contatar... permanecemos em contato... onde estava aquele agregado mesmo... alucinando... metáforas de ficção científica... onde está a chave... ali... ALUCINAÇÕES EXTERNAS...



Dos oito aos dez minutos o paciente sentou-se imóvel, olhos abertos em um estado de transe. Não houve tentativa de comunicação. Contatado, ele se moveu devagar mas determinado e pressionou a TECLA DE ALUCINAÇÕES EXTERNAS.



Trechos do Questionário de Pesquisa preenchido depois da sessão: perda do espaço-tempo... fusão com fluxo de energia... vendo todas as formas de vida como ondas físicas... perda do corpo... existência como energia... consciência de que nossos corpos são blocos momentâneos de energia e de que somos capazes de nos afinar com padrões não-orgânicos... certeza de que processos vitais estão no "piloto-automático"... nada a temer ou se preocupar... a complexidade e infinitude do processo vital... entendimento repentino do significado de termos da filosofia indiana como "maya", "maha-maya", "lila"... insight dentro da natureza e diversos estados transcendentais... a vazia-luz-branca-do-não-conteúdo, êxtase da estruturação temporária da forma-meta-vida-inorgância da estrutura do código genético musical e o...



12º MINUTO. TIM, ONDE VOCÊ ESTÁ AGORA? Olhos abertos... risada... pego pela torre de controle vigilante ao orbitar em torno de uma área da mente terrena e descobridora... onde é a tecla para pensamentos terrenos?... alucinações... não, o jogo do pensamento... pressione TECLA COGNITIVA...



Do 10º ao 12º minuto, o paciente sentou olhando sem expressão e sem movimento para a parede da sala. Ao ser contatado, sorriu e pressionou a tecla COGNITIVA.



Acima da cabeça está a lâmpada coberta com enfeites de escurecimento para luz azul... circulando a sombra brilhante estão faixas ondulares... silenciosas... acenando... convidando... junte-se a dança... deixe seu robô... um universo inteiro de coreografias aéreas prazeirosas aguarda... sim, juntar-se a eles... de repente, como fumaça subindo de um cigarro, a consciência subiu... indo em caminhos de gaivota até a fonte da luz e, silenciosamente, para outra dimensão...



Do questionário de pesquisa: uma descrição do nível atingido é uma yoga em prosa além da realização atual... havia bilhões de cartas de arquivo, em hélice, que num passar de olhos me confortava com uma biblioteca sem fim de eventos, formas, percepções visuais -- não abstratas, mas empíricas... um bilhão de anos de experiências codificadas, classificadas, preservadas em claridade brilhante, pulsante e fria, que fazia a realidade ordinária parecer um show barato, fora de foco, esfarrapado, desengonçado, indeciso, gasto e de mau gosto... qualquer pensamento, uma vez pensado, instantaneamente se tornava vivo e piscava através do diafragma da consciência... mas ao mesmo tempo não havia ninguém para observar... eu... ele... aquele que está consciente... todos vibrando em uma visão eletrônica em technicolor, VEJA!, para aquele que tem estado cego por séculos...



14º MINUTO. TIM, ONDE VOCÊ ESTÁ AGORA? Oh, onde estamos agora?... oh, escute, aqui está onde estamos... uma vez havia um ponto elétrico brilhante... piscar repentino em lama pré-crambriana... o ponto se balança e se agita em uma contorção tremida com traços de alegria, cantoria, soluçar e calafrios... para cima... uma serpente começa a se torcer em direção à suave e quente fenda... minúsculo, do tamanho de um vírus... crescendo... o comprimento enorme de um bacilo microscópico... fluindo exultante, sempre cantando a melodia da flauta hindu... sempre explodindo, se esfoliando... agora do tamanho de uma raiz de musgo, zunindo através de espamos úmidos... crescendo... crescendo... sempre desfolhando sua própria visão... sempre cego, exceto pelo ponto frontal da luz-olho... agora correias de pele de cobra, sacudindo mosaicos de jóias ritmicamente, adiante como cobra... agora do tamanho de um tronco de árvore, sensual com o graxa espérmica correndo dentro... agora inchando em uma enchente de esticamento de tecido... rosa, corrente lamaçal de fogo melodioso... agora circulando o globo, apertando oceanos salgados verdes e montanhas marrom-argila entalhadas em um abraço constritor... serpente fluindo cegamente, agora uma torcida cobra de vértebras elétricas de um bilhão de milhas sem fim cantando a melodia hindu da flauta... cabeça de pênis palpitando... mergulhada em todos os odores, toda a tapeçaria colorida de tecido... contorcimento cego, serpente intumescida circular cega, cega, cega, exceto pelo único olho de jóia que, por um fragmento de piscar, a cada célula no desfile progressivo é permitido aquele momento cara-a-cara de insight de chama solar no futuro-passado.



TIM, TIM, ONDE VOCÊ ESTÁ AGORA? A torre de La Guardia repete solicitações de contato com um navio perdido além do abrangência do radar... onde?... sou o olho da grande cobra... uma dobra na pele da serpente, dando mergulhos trapezóides... registrando conteúdos da consciência... onde está você?... aqui... ALUCINAÇÕES INTERNAS.



Do 12º ao 14º minutos, o paciente sentou silenciosamente com olhos fechados. Ao ser contatado, falhou em responder e, após 30 segundos, foi contatado novamente. Então pressionou a tecla ALUCINAÇÃO EXTERNA.



A sessão continuou com interrupções de dois minutos até o 20º minuto no mesmo padrão: vôos atemporais pelos alucinantes campos de vibração de energia pura com repentinas contrações em direção à realidade para responder às questões do observador.O relatório da sessão preenchido no dia seguinte continha os seguintes comentários sobre esse método de sessão programada:Essa sessão sugeriu algumas soluções para o problema da comunicação durante experiências psicodélicas. A pessoa "lá em cima" está passando por experiências que rodopiam tão rápido e contêm conteúdo estrutural tão diferente de nossas formas macroscópicas familiares que ela, possivelmente, não consegue descrever onde está ou o que está experimentando. Considere a analogia do piloto de avião que perdeu a orientação e que fala com a torre de controle. O piloto está experimentando muitos eventos -- pode descrever as formações de nuvens, flashes de luz, a cristalização de gelo na asa visível da janela --- mas nada disso faz qualquer sentido para os técnicos da torre que tentam traçar o curso na linguagem tridimensional de navegação. A pessoa "lá em cima" não pode fornecer coordenadas. A equipe de controle no chão deve transmitir: "Cessna 64 Bravo, nosso radar mostra que você está a 15 milhas a sudoeste do Aeroporto Internacional. O brilho vermelho que você vê é o reflexo de Manhattan. Para entrar na rota para Boston você precisa mudar o curso em 57 graus e manter uma altitutde de 5500".



Mas a linguagem da psicologia não é sofisticada o suficiente para fornecer tais parâmetros. Nem há compassos empíricos para determinar a direção.



O que podemos fazer, nesse ponto, é configurar "planos de vôos". O paciente pode trabalhar, antes da sessão, as áreas de experiência com que quer interagir; e ele pode planejar a sequência temporal de sua viagem visionária. Ele não será capaz, durante o vôo, de dizer aos "controladores" onde está, mas eles podem contatá-lo e dizer como ele deve proceder. Assim, durante essa sessão, quando Ralph perguntou, ONDE VOCÊ ESTÁ AGORA?, não pude responder. Tive que descer, diminuir o fluxo da experiência e então contar a ele onde acabei chegando.



Quando fizeram a pergunta de contato, eu poderia estar esbarrando em outras galáxias. Para poder responder, tive que parar minha jornada livre e errante, chegar perto da terra e dizer: "Estou sobre New Haven".



Essa sessão foi um contínuo e serial venha-para-baixo. Repetidamente, tive que parar o fluxo para poder responder. Meu cortex estava recebendo centenas de impulsos por segundo, mas para responder às perguntas da torre de controle tive que reduzir a nave para uma marcha lenta: "Estou aqui".



Essa sessão sugere que um modo mais eficiente de mapear experiências psicodélicas seria:



1 - Memorizar o teclado da máquina de escrever experimental, para que a comunicação com o controle de solo seja automática.
2 - Planejar a sessão de modo que os controladores não perguntem coisas irrespondíveis -- "Onde realmente estou?" -- mas digam ao paciente onde ir. Então a tarefa de comunicação do viajante seria indicar se ele está no curso, isto é, se ele está ou não seguindo as instruções de vôo transmitidas pelos controladores.




O controle de solo deveria enviar estímulos. A sugestionabilidade está totalmente aberta. A torre La Guardia direciona o vôo.



VOCÊ APRENDEU ALGO DE VALOR COM ESSA SESSÃO? SE SIM, POR FAVOR ESPECIFIQUE: "A sessão foi de grande valor. Estou forte e claramente motivado a desenvolver métodos de controle de solo e vôos planejados".



APROXIMADAMENTE QUANTO DA SESSÃO (EM %) FOI GASTO EM CADA UM DESSES ASPECTOS?



1 - JOGOS INTERPESSOAIS (afeição pelos observadores) - 10%
2 - EXPLORAÇÃO OU DESCOBERTA DE SI, OU JOGOS DO EGO - 0%
3 - OUTROS JOGOS (SOCIAIS, INTELECTUAIS, RELIGIOSOS) - 70% (intelectuais, lutando com o problema da comunicação)
4 - TRANSCENDÊNCIA ALÉM DOS JOGOS - 20% (continuamente)




Referências




1 - Szara, S: Hallucinogenic effects and metablism of tryptamine derivatives in man. Fed. Proc. 20: 858-888, 1961.
2 - Szara, S: Correlation between metabolism and behavioral action os psychotropic tryptamine derivatives. Biochem. Pharmacol., 8: 32, 1961.
3 - Szara, S: Behavioral correlates of 6-hydroxylation and the effect of psychotropic tryptamine derivatives on brain serotonin levels. Comparative Neurochemistry, ed. D. Richter, pp. 432-452. Pergamon Press, Oxford, 1964.
4 - Szara, S. & Axelrod, J.: Hydroxylation and N-demethylation N,N-dimethyltryptamine. Experientia, 153: 216-220, 1959.
5 - Szara, S., Hearst E. & Putney F.: Metabolism and behavioral action of psychotropic tryptamine homologues. Int. J. Neuropharmacol., 1: 111-117, 1962.
6 - Schultes, R.E. Botanical Sources of the New World Narcotics. In Weil, G.M., Metzner, R. & Leary, T. (eds). The Psychedelic Reader, University Books, New Hyde Park, 1965.
7 - Leary, T. The Experiential Typewriter. Psychedelic Review, No. 7. 1965.