Psicodélico: Peiote, o cacto sagrado

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Peiote, o cacto sagrado

Quando no século XVI os exploradores e missionários espanhóis começaram a penetrar nas regiões mais remotas do território mexicano, tiveram os primeiros contatos com uma pequena planta verde, esférica, macia e sem espinhos, que formava colônias de pequenos botões, chamada "peyotl" ("hículi, huatari"). Os indígenas a consideravam divina, pois através de seu uso podiam se comunicar com seus deuses e a usavam para curar suas enfermidades, prever o futuro, dar força e coragem nas batalhas ou executar tarefas prodigiosas. Essa planta, que conhecemos como peiote, tem o nome botânico Lophophora williamsii e pertence à família Cactaceae.





Ela é nativa do México e sul dos Estados Unidos e sabe-se que tem sido usada há milênios pelos indígenas mexicanos. Tem um crescimento lento, levando muitos anos para atingir um tamanho apreciável.



O primeiro relato sobre o peiote foi feito em 1560 pelo frei franciscano Bernardino de Sahagun, cronista da Nova Espanha, em sua Historia general de las cosas de Nueva España, publicado na Europa em 1880.

A forma de peiotismo encontrada pela primeira vez pelos conquistadores espanhóis persiste entre várias tribos do norte do México e se caracteriza como um complexo culto comunitário, que enfatiza o papel do xamã. Ele, através do uso do peiote e também de outras plantas, realiza rituais de cura de doentes ou possuídos por maus espíritos. Tradicionalmente o peiote era coletado inteiro e cuidadosamente esmagado em um pilão até a obtenção de uma pasta, que era então misturada com água ou com uma bebida a base de milho fermentado, o "tesguino". Os indígenas usavam também ingerir a parte superior da planta fresca ou seca.

O conhecimento da grande importância do peiote na vida religiosa e social dos indígenas, aliada à intolerância do clero católico, levou os conquistadores espanhóis, ávidos em impor sua cultura, a combaterem veementemente o uso da planta entre os nativos, concluindo que os "milagres" ligados a ela somente poderiam ser obra do diabo. No entanto a repressão imposta teve efeitos quase nulos, pois os indígenas continuaram a usar o peiote e professar suas crenças, surgindo então um sincretismo com os cultos católicos, que foi também combatido pelo clero e condenado até a morte pela Inquisição.

No século XIX os índios americanos apaches, kiowas e comanches levaram o peiotismo para o sudoeste dos Estados Unidos, de onde se espalhou até os Grandes Lagos, chegando ao território canadense. O culto praticado era, no entanto, diferente do peiotismo mexicano e se caracterizava por uma atividade mais individual e contemplativa.
No início do século XX, as diversas tribos americanas que professavam o culto foram unificadas na Native American Church, que sofreu também impiedosa repressão. Ela porém persistiu e é hoje uma organização que congrega milhares de indígenas americanos e canadenses, tendo o uso do peiote, somente nesse caso, permitido por lei.

A fama do peiote chegou até o meio científico europeu no final do século XIX. Químicos, farmacólogos e médicos desejaram conhecê-lo e experimentar seus efeitos.

A primeira publicação a respeito da química do peiote foi feita pelo farmacologista alemão Louis Lewin, em 1888. Ele extraiu da planta, fornecida pela Companhia Parke-Davis, o alcalóide ao qual chamou anhalonina, baseado na classificação botânica incorreta do peiote naquela época: Anhalonium lewinii. Este material não produziu efeitos alucinógenos e provavelmente era uma mistura de diversos alcalóides. Outros farmacologistas alemães começaram a estudar o peiote, e em 1897 Arthur Heffter publicou o isolamento e as propriedades farmacológicas de cinco alcalóides presentes nele. Por experimentação em animais e auto-experimentação ele determinou que um deles era a principal substância psicoativa da planta, a qual denominou mescalina. Esse foi o primeiro estudo sistemático de um material psicodélico de ocorrência natural.

Em 1919, Ernest Spath sintetizou a mescalina permitindo aprofundar estudos nos efeitos clínicos da substância.

O peiote contém mais de cinqüenta e cinco alcalóides, muitos dos quais provavelmente existem em quantidade suficiente para afetar a fisiologia humana. Entretanto, pouco foi estudado para determinar seus efeitos. Desses alcalóides, além da mescalina, já foram estudados farmacologicamente a lophophorina, anhalodina, anhalonidina, anhalonina, hordenina e pellotina.


Um dos maiores problemas de se entender e descrever a experiência com o peiote ou mescalina é a dificuldade de quem usa de comunicar o que se passou. São duas as principais razões para isto: a primeira é que normalmente torna-se difícil descrever uma profunda experiência mística, e a segunda é que o peiote e a mescalina causam uma desorientação dos sentidos que resulta na perda das referências usuais pelas quais nós nos comunicamos, como as relações de espaço e a percepção de tempo, que são grandemente distorcidas. Os efeitos da ingestão do peiote e da mescalina pura são um pouco diferentes. Ambos produzem efeitos iniciais desagradáveis como desconforto físico, depressão e ansiedade seguidos de visões brilhantemente coloridas e muitos outros efeitos sensoriais. Mas o impacto do peiote tende a ser mais complexo, variável e imprevisível.


O sistema nervoso central humano é afetado significativamente pela planta, e o modo como ela altera o processo metabólico do corpo para produzir seus efeitos psíquicos e somáticos é uma das questões que intrigam os pesquisadores há mais de um século. Sabe-se atualmente que as drogas psicodélicas ativam receptores de serotonina no cérebro, acionando um conjunto de processos que levam à alterações do estado de consciência que são particulares para cada indivíduo e cujo mecanismo ainda é desconhecido.

No Brasil, tanto o peiote quanto a mescalina têm o seu uso proibido (incluindo cultivo e comercialização da planta) através da portaria no 28, de 13 de novembro de 1986, da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária.


Bibliografia

Anderson, E. F. Peyote, the divine cactus. 2nd ed. The Universe of Arizona Press. Tucson. 1996. Sangirardi Jr. O índio e as plantas alucinógenas. Ed. Tecnoprint S.A. Rio de Janeiro. 1989.
Hollis, H. B & Scheinvar, L. El interessante mundo de las cactáceas. Fondo de Cultura Económica. México. 1995.
Jacobs, B. L. How hallucinogenic drugs work. American Scientist 75:386-392, 1987.

2 comentários:

Projeto Vem Ser! disse...

Olá, onde consigo adquirir sementes para plantio? Algum produtor no brasil? Higorh56@hotmail.com

Unknown disse...

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